Nova diretoria da RPAA cobra apoio financeiro em Artur Nogueira
Em 2018, organização buscará maior parceria com Poder Público Municipal e população
Alysson Huf
“O voluntariado é muito difícil. As pessoas acham bonito o trabalho de entidades como a RPAA e a Apae, mas não querem o comprometimento de assumir uma função”, comenta Sílvio Conservani, vice-presidente da Rede de Proteção Animal e Ambiental de Artur Nogueira (RPAA). Ele e outros cinco membros da diretoria da ONG estiveram nesta quinta-feira (11) no Portal Nogueirense, onde anunciaram mudanças na feira de adoção e ressaltaram os desafios enfrentados pelo grupo.
O comentário de Conservani se refere à eleição da nova diretoria da entidade, que ocorreu há pouco mais de uma semana. Apesar de ser uma eleição aberta, nenhuma chapa chegou a ser formada para concorrer ao pleito. Por isso, a diretoria teve que ser escolhida entre os membros do grupo e antigos voluntários que retornaram às atividades. E aí, já se revela o primeiro desafio da entidade!
Engajar voluntários não é uma tarefa fácil. Um membro da RPAA (também conhecido como protetor) não recebe salário pela função e precisa encontrar tempo para se dedicar ao trabalho na organização. Ter um horário livre, fora do expediente de trabalho e que não conflite com os interesses familiares, é um desafio diário para os voluntários. Assim como a falta de verba.
Como se não bastasse a dificuldade de engajar novos protetores, os que já estão em atividade precisam, muitas vezes, tirar dinheiro do próprio bolso para custear as despesas dos cuidados com animais. “O que fez o grupo se juntar foi o amor aos animais. Todo mundo fazia algo separadamente, e nos unimos para tentar algo mais. Porém, quando tentamos fazer esse algo a mais, esbarramos na questão do dinheiro”, conta Lúcia Miron, 1ª secretária do grupo.
De acordo com Liana Maia, uma das suplentes da diretoria, a RPAA recebe mensalmente R$ 5.811,00 de subvenção da Prefeitura. A diretoria explica que o valor não é suficiente. “O subsídio não acrescenta um real à ONG e seus membro, é tudo investido em serviços. Inclusive há encargos sociais da entidade que não podem ser retirados desse subsídio. E quem paga esses encargos são os voluntários”, comenta Liana.
Ela conta que já chegou a negar atendimentos porque não havia dinheiro. “Eu tenho aqui a mensagem de uma mulher que me pediu para marcar duas castrações, mas eu tive que responder ‘estamos sem subsídio’”, relata. “E esse valor é só para castração. E os casos de animais doentes ou atropelados e maltratados? Sai tudo do nosso bolso”, emenda Lúcia.
Mais apoio
Por isso, uma das metas da entidade em 2018 é buscar mais apoio, principalmente financeiro, a começar pelo Poder Executivo municipal. “A prefeitura precisa entender que o dinheiro enviado para a RPAA não é para benefício dos membros da entidade, esse dinheiro é para o benefício da população”, enfatiza Liana, que possui 18 cães em casa – todos retirados das ruas de Artur Nogueira.
“A visão que a gente tem é que estamos progredindo, mas com muita dificuldade, porque não temos apoio suficiente de quem era para ter”, destaca Erasmo Oliveira, 2º secretário da entidade. Conservani explica que não é por receber uma subvenção de R$ 5.811,00 que a RPAA tem que dar conta de cuidar de todos os milhares de animais abandonados e maltratados da cidade. “Não é assim que funciona”, contesta.
“O que acontece naturalmente em cidades que possuem boas entidades – e Artur Nogueira tem várias boas entidades – é que o Poder Público vai se afastando e empurrando a responsabilidade apenas para essas organizações”, elabora Conservani. “E a entidade acaba recebendo da população toda a cobrança que cabe à prefeitura. Então, a RPAA é uma parceria da prefeitura, mas o que acaba sendo feito é que muitas vezes a prefeitura tira o corpo totalmente e empurra a responsabilidade para cima da ONG”, complementa.
Segundo ele, essa é uma das principais lutas da entidade em 2018. “Queremos tentar desconfigurar isso, nem que seja preciso ir em escolas fazer palestras. Queremos criar mecanismos para dizer que somos parceiros, não detentores de toda responsabilidade [com os animais]” declara o vice-presidente. “Se fora para ajudar todos os animais da forma que tem que ajudar, precisaríamos receber pelos menos uns R$ 40 mil por mês”.
O novo presidente eleito, Flávio Almeida, que também é diretor da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Artur Nogueira, afirma que a prefeitura possui um setor de zoonoses que recebe verbas justamente para o trabalho com animais da cidade, inclusive para castração e tratamento dos que sofrem maus-tratos. “Mas parece que não tem esse setor. Então eles acham que a ONG é a zoonose, e a ONG não é. Daí as pessoas colocam a culpa e a responsabilidade na entidade, sem saber que isso não procede”, afirma.
“A ONG é uma amiga de prefeitura e dos animais, não a responsável por tudo o que acontece com animais no município”, assevera. Ele adianta que buscará parcerias com a iniciativa privada a fim de captar mais recursos para a RPAA – algo que tem feito com sucesso na Apae. “Seria interessantes fecharmos parcerias com pessoas e empresas que queiram colaborar com o nosso trabalho, tanto no aspecto financeiro quanto educacional”, afirma.
Lei desregulamentada
Apesar das dificuldades financeiras, a principal luta da RPAA em 2018 será a regulamentação da Lei 3.247, que estabelece sanções e penalidades administrativas para aqueles que praticarem maus-tratos a animais em Artur Nogueira. A lei foi aprovada em 2015, mas até hoje não foi regulamentada pelo Poder Executivo. Segundo a ONG, colocar em vigor a legislação facilitaria o serviço da entidade e otimizaria o combate aos maus-tratos em Artur Nogueira.
O trabalho da ONG apresenta riscos aos voluntários, riscos de violência física, inclusive. Muitos deles já sofreram ameaças em diversos momentos. “Sem o apoio da prefeitura e dos órgãos responsáveis, como que eu vou chegar numa casa de uma pessoa e falar para ela que está maltratando animais?”, indaga Oliveira. “Se for uma pessoa perigosa, é capaz de me matar ali mesmo, na frente da casa. Então tem muitos casos que a gente não consegue atender sem o apoio da Polícia Municipal ou outro órgão competente”, explica.
De acordo com Conservani, a lei prevê que a Polícia Municipal, a Vigilância Sanitária e a Secretaria de Meio Ambiente fiscalizem a cidade e punam os transgressores da lei, dando à RPAA a oportunidade de ajudar nessa fiscalização. “Então essa lei precisa ser regulamentada, e isso é um grande desafio”, reconhece.
Ele relembra que, quando era vereador e ajudou a criar a Lei 3.247, foi duramente criticado por alguns munícipes. “Falavam coisa como ‘vereador, toma vergonha na cara e lembra que tem ser humano para cuidar, e não animais’. Olha a mentalidade!”, ressalta. “O cara não entende que um animal pode trazer doenças a seres humanos ou que um cavalo abandonado pode se chocar com o carro dele e matar sua família inteira”, alerta o vice-presidente da entidade.
Segundo Liana, a meta da ONG é diminuir a população de animais abandonados. “E fazemos isso por meio da castração”, ressalta. Além disso, o grupo busca a conscientização das pessoas, a fim de que a população se eduque a não maltratar ou abandonar animais. E, para isso, a RPAA acredita na força de lei para criar uma cultura de mais cuidado com cães, gatos e demais pets.
Falso glamour
Oliveira demonstra a importância da conscientização contando que há muitos nogueirenses que adotam animais na feirinha da RPAA apenas pelo status proporcionado pela ação. “O que acontece muito é de pessoas que tem animais abandonados na frente de casa irem até a feirinha adotar um animal e bater foto, mas não cuidar dos animais perto da casa deles”, relata. “Eles veem isso como uma espécie de glamour, e não é”.
“Seria muito mais bacana eles cuidarem de um desses cães ou gatos da rua deles”, continua. “Mas não, bonito para eles é vir na ONG, pegar um cachorrinho fofinho e bater uma foto. E depois de alguns meses, muitos desses animais acabam voltando para a rua”, lamenta inconformado.
Mudança na feira
Para 2018, a RPAA anunciou uma mudança nos horários de realização da feira de adoção. Agora, em vez de acontecer todos os domingos, junto à feira livre municipal, a ONG estará com os animais no local apenas no segundo e no quarto domingo de cada mês. Caso um desses domingos coincida com um feriado ou festividade importante, os voluntários estarão na feira no domingo seguinte.
Nova diretoria
A nova diretoria da RPAA ficou configurada da seguinte maneira:
- Diretoria:
Flávio Almeida
Silvio Conservani
Lucia Helena Miron
Erasmo Oliveira
Irene Rodrigues
Penha Caressato
- Conselho Deliberativo:
Carlos Caressato
Silmara Jordão
Stella Campos
- Suplentes:
Liana Maia
Mauro Miron
Regina Cheida Vieites
Procurada, a Prefeitura de Artur Nogueira não quis comentar o assunto.
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