24/06/2018

Corporação Musical de Artur Nogueira completa 94 anos

Instituição se aproxima do centenário como exemplo de sucesso socioeducacional e cultural

Da redação

Em maio de 2018, a Orquestra Jovem da Corporação Musical 24 de Junho realizou uma apresentação histórica no Theatro Municipal de Paulínia (SP). Com cerca de três horas de duração, o show reuniu 1.200 pessoas e contou com a participação de mais de 60 instrumentistas nogueirenses. A programação foi gravada e virou notícia até na EPTV, afiliada da TV Globo, além de ter arrecadados milhares de peças de roupas para a Campanha do Agasalho local.

O grande evento, liderado pelo maestro Ricardo Michelino, foi um dos mais marcantes dos 94 anos de história da Corporação Musical, comemorados neste domingo (24). E, como não poderia deixar de ser, é fruto de um trabalho progressivo de quase um século, que transformou a instituição num exemplo socioeducacional e cultural estudado por diversos outros municípios.

A frente da corporação há quase 20 anos, Michelino é um dos principais idealizadores da iniciativa responsável pela maior expansão da instituição: o Projeto Retreta. A implantação do projeto foi fundamental para a continuidade e a solidez da Corporação, que corria o risco de seguir o caminho da maioria das corporações musicais do país, que é o fechamento. Felizmente, a de Artur Nogueira vai na contramão da tendência.

“A corporação musical sempre existiu de uma maneira muito empírica, sempre encarada como um clube ou associação em que se passa de pai para filho ou para indicados. Sempre foi assim, em todo o país, e em Artur Nogueira não foi diferente”, explica o maestro e diretor da Corporação. Michelino, contudo, enxergava as coisas de uma maneira diferente.

“No meu ponto de vista, toda instituição que recebe verba pública tem que ser aberta. Lógico que precisamos pôr um limite de vagas, pois não suporta todo mundo, mas todos, sem distinção, podem se inscrever e ter direito a participar. Afinal de contas, a verba é do povo”, afirma. Por isso, em 2010, após alguns anos de estudo e negociação, a Corporação, juntamente com a administração municipal, implantou o Projeto Retreta.

“O Projeto Retreta é um projeto sociomusical que tem o intuito de descentralizar o ensino de música e o distribuir por todo o município”, explica Michelino. “A parceria da instituição sem fins lucrativos com o poder público é uma parceria gloriosa. Isso é exemplo para muitas cidades”, conta o maestro, que já apresentou o projeto para delegações de outros municípios, interessados em implantar a ideia em seus territórios.

Dessa forma, em 2010, tiveram início as aulas de instrumentos por toda a cidade, e gratuitamente. “Alguns meses depois, quando o projeto ainda era um embrião, havia muita procura por instrumentos de cordas, como violão e violino. Até então não havia aula de violino, flauta transversal e instrumentos sinfônicos na cidade”, conta o maestro. “Eu pensei: esta é a instituição mais antiga do município, essa prática tem que se iniciar aqui”.

Um dos propósitos da implantação do projeto e a abertura de portas da instituição para toda a população foi dar à Corporação o escopo a que ela se propõe, que é muito maior que o de uma única banda. “As pessoas falam corporação musical e confundem isso com banda de música. Por quê? Porque quase sempre, no país, as corporações têm dentro dela uma banda de música. Mas dentro dessa instituição você pode ter várias coisas, e não apenas uma banda de música”, comenta.

“É lógico que a banda de música vai ser sempre a menina dos olhos e o carro-chefe. Isso não vai se perder, mas pode ser ampliado”, argumenta o maestro. Hoje, a corporação conta com a banda clássica, uma orquestra sinfônica e alguns outros grupos. “A gente só não tem mais coisas, porque os recursos ainda são limitados. À medida que a gente avançar um pouco, a gente amplia isso tudo”, declara Michelino.

Agora, regendo uma instituição mais antiga que o próprio município, Michelino olha para o futuro na esperança de que pessoas ainda mais comprometidas com o sucesso do projeto se engajem na Corporação. “A minha ambição é que a Corporação tenha cada vez mais solidez, que os nossos sucessores deem continuidade de uma maneira inclusive muito melhor do que a nossa”, salienta.

Indagado sobre como enxerga a instituição daqui a vários anos, ele se volta para o passado. “Eu fico imaginando o que uma pessoa lá em 1925 estaria respondendo a essa pergunta”, pondera. “O que não tenho duvida é que cada pessoa que passou pela Corporação fez o melhor que podia. E eu espero que o futuro traga pessoas que tomem melhores decisões que as nossas, e que não abram mão do projeto educacional, que o ampliem, que isso se espalhe e se solidifique, inclusive em outras cidades, até o dia em o Retreta deixe de ser um projeto”, finaliza.

O começo

Abaixo, você confere a história da fundação da Corporação Musica 24 de Junho contada pelo historiador nogueirense Geso Franco de Oliveira:

Para falar da Corporação Musical 24 de Junho (Banda) ou do seu início é necessário falar do fundador desta instituição, Daniel Cesário de Andrade, imigrante português da Ilha da Madeira, que chegou aqui, em Artur Nogueira, em 1910, com 19 anos de idade.

Ele veio atrás do irmão mais velho, João da Cruz Andrade, que aqui já havia desembarcado anos antes. Comprou terras, constituiu família com a também portuguesa Isabel de Sá, com que teve duas filhas: Lucia e Magdalena. Abriu um armazém de secos e molhados, pessoa dinâmica que logo prosperou. Daniel Cesário foi sempre participativo na comunidade e na igreja. Foi presidente da União dos Moços Católicos da Igreja de São Sebastião.

Familia

Em 1916, lutou, juntamente com Fernando Arens Júnior, entre outros, em prol da criação do distrito de Paz de Artur Nogueira, como também fez parte da comissão para construção da Igreja de São Sebastião.

Na inauguração da Igreja de São Sebastião para as festividades, isso em julho de 1917, foi requisitada uma banda de músicos de Mogi Mirim, e em todas as festas, inclusive a da criação do distrito, eram músicos de fora que abrilhantavam as comemorações.

foto igreja

Nos anos 20, havia dois grupos musicais que animavam os bailes e shows que aconteciam no distrito, um formado pelos irmãos Gazotto e outro por Frederico Perez, Pedro Cabrino, Frederico Pulz e outros.

Daniel Cesário de Andrade, apreciador de música, logo viu a necessidade da criação de uma banda, reuniu alguns músicos, comprou novos instrumentos e, em 24 de junho de 1924, fundou a nossa querida Banda.

Foto 1

Foi presidente dela por 11 anos. A Banda fazia os ensaios em espaços emprestados como salas, garagens, mas sempre era requisitada para tocar no Coreto, nas festividades religiosas e cívicas.

Daniel Cesário também foi responsável pela vinda do primeiro médico para o distrito, Dr. Daniel Marun.

No início dos anos 40, Daniel Cesário de Andrade mudou-se com a família para Campinas, onde por vários anos foi presidente e diretor do Hospital Real Sociedade Beneficência Portuguesa.

Ele faleceu em Campinas em 15 de abril de 1949, aos 58 anos. No final de 1949, Alduino Tagliari, então presidente da Banda, foi até Campinas, na casa da viúva de Daniel Cesário, solicitar a doação de um lote de terra, para a construção da sede da Banda. Senhora Isabel, em memória do marido, acatou o pedido e doou o terreno, e quando a sede ficou pronta esteve nas festividades de inauguração.

Inauguração 1

Por isso e por tantas outras coisas mais é que na sede da Banda está estampado em relevo: Sede Daniel C. de Andrade, um homem que fez e marcou a história de Artur Nogueira.

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