06/04/2015

OPINIÃO: Sai do armário!

Eu demorei a me aceitar, eu demorei a ver que tudo o que eu sentia era normal, que não existe gênero no amor, me repreendi por conta de religião, pelo medo de não ser aceito pela sociedade.

Por Raoni Zopolato

“Sair do armário” é um termo utilizado por muitas pessoas, mas o que é sair do armário? Basicamente aceitar-se gay e ou assumir-se para a família e sociedade.

O que não é, de forma alguma, algo fácil de fazer, pois nós vivemos em uma sociedade machista e preconceituosa, que ao mesmo tempo é demagoga e hipócrita. Ver um beijo gay na televisão, por exemplo, é um absurdo, um pai que mata um filho na mesma situação é normal.

Nascemos gay, e crescemos sabendo que somos gay, e a sociedade com seu conservadorismo de fachada esfregando na nossa cara que é errado, que é pecado, e de repente você se depara com tudo isto, geralmente adolescente, quando está descobrindo sua sexualidade. Você mal deu um beijo e já sofre preconceito na escola, já é excluído de certos grupos, este é o momento onde sua mente e seu lado emocional fervilham, um furacão passando sobre você, e você está ali, perdido, sem saber para onde correr.

Começam as perguntas que parecem que nunca irão ter resposta, os medos, é meio que o “o fim do mundo”. O que será de mim? O que irão falar de mim? Minha família, irá me colocar na rua? Eu vou para o inferno? E por ai vai. A sociedade hetero não sabe o sofrimento e a angústia que um gay no armário vive.

Eu demorei a me aceitar, eu demorei a ver que tudo o que eu sentia era normal, que não existe gênero no amor, eu me repreendi por conta de religião, pelo medo de não ser aceito pela sociedade, e vivi por anos assim, até que aos 20 anos eu finalmente enxerguei, eu sou normal, eu tenho todas as capacidades que qualquer outro ser humano tem, mas eu gosto de homens e, aos 22 anos me assumi para minha família, o que não foi fácil. A reação deles foi ótima, no geral “foi nós já sabíamos, queríamos apenas que você se aceitasse, vai ser feliz”. A partir deste momento você para de viver uma vida dupla, tira um peso inacreditável das suas costas, tendo o apoio da família é mais fácil enfrentar a sociedade, enfrentar as barreiras e preconceitos que você sabe que irá sofrer, mas somos fortes, e nos colocamos na linha de ataque.

Infelizmente algumas famílias não aceitam, e o não aceitar acaba gerando um problema maior, o que será deste jovem, para onde ele irá? Que rumo ele irá tomar na vida? Por isto a informação é importante, amar os filhos incondicionalmente é importante; é da família que vem o afeto, o alicerce da vida; é na infância e adolescência que se formam o caráter. Buscar ajuda para compreensão, não repreender seu filho, para que ele possa ser um adulto saudável.

Abaixo seguem alguns depoimentos, dentre eles dois anônimos:

A.S”, 28 anos, administrador de empresas:” Sem mais agradar ninguém, eu pensei em mim, no meu bem… Decidi que era hora de me encontrar comigo mesmo, nunca tinha sido eu. Enfrentei meus medos, enfrentei meu horror particular, não me arrependo. Foi como renascer. Não há uma escolha como parece, há somente uma única opção: lutar por si mesmo. Com 21 anos me assumi, minha mãe na época brigou, xingou e depois ela entendeu, o começo é sempre difícil, meu pai não sabe até hoje”.

P.F.T, 26 anos, arquiteto: “Não aguentava mais viver uma vida que não era a minha, de mentiras e que não demonstrava o que realmente eu sentia. Comecei a contar para os mais próximos e a partir daí minha vida se tornou muito mais leve e feliz por não ter que usar uma máscara. Hoje me aceito muito mais como sou, mas ainda tenho problemas com os paradigmas da sociedade, não tenho coragem de contar para o meu pai, que é uma das pessoas que mais amo e que mais gostaria que soubesse, por medo de machucá-lo, e sinto que só serei quem realmente sou quando ele também souber!”

Paula Oliveira, 21 anos, estudante de Fisioterapia: “O começo nunca é fácil. Você sente medo, aflição e acha que o mundo vai cair sobre você. A não aceitação da família é uma consequência que não dá pra driblar, quando você “se descobre e assume” você quebra os padrões que a sua mãe imaginou desde que você nasceu. A descoberta não foi das melhores, minha mãe passou meses sem falar comigo e disse àquela frase que a gente tem tanto medo de escutar: ” Eu prefiro ver você morta! “. Sair de casa, enfrentar os dragões da vida e assumir entre tantos padrões que são impostos, é uma sensação de alívio, você tira um peso das costas e sabe que pode ser quem você quiser, aonde você quiser. Hoje, aceita pela família, sou lésbica e FELIZ!

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Raphael Felipine, 27 anos, hoteleiro: “Eu sai do armário quando fui fazer meu intercâmbio em Londres. É até engraçado, porque eu vivia em conflito comigo mesmo em relação a minha sexualidade e este conflito foi rompido rapidamente após minha mudança de país. Ver a forma como as pessoas não estão preocupadas com quem você se relaciona e lidam com isso naturalmente, me fez perceber que não havia nada de errado comigo em relação a minha condição sexual. Com isso, comecei a postar fotos no orkut em baladas GLS, com amigos que conheci ao longo do tempo e então veio a questão familiar. Recebi uma ligação da minha mãe questionando minhas fotos postadas. Dai ao decorrer da conversa contei pra ela que era gay. Minha mãe não me rejeitou ou em momento algum expressou qualquer sentimento negativo. Após três anos quando voltei ao Brasil minha família me recebeu de braços abertos. Hoje faz quase cinco anos que moro com minha mãe em São Paulo e temos uma relação comum, meu namorado frequenta minha casa e somos todos felizes”.

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Allan Oliveira, 30 anos,  Designer de Interiores e Sócio Proprietário do Studio 3: “Ao me assumir em casa, meus pais e irmãos sabiam já….. E no meu caso foi algo tão simples e calmo me assumir gay para família, pois sempre me dei o respeito e sempre fui respeitado tanto dentro de casa como na sociedade. Garanto que o amor – acima de tudo o amor dentro de casa – me ajuda a ser completo na sociedade. Sou um homem comum igual a qualquer outro, porém gosto de homem. Não acordei um dia de manhã e escolhi ser gay. Afinal, quem quer escolher o modo mais difícil de viver? Ser gay não é escolha e sim, estado natural de viver “.

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Segue abaixo o link de um vídeo que vale a pena ser visto:
https://www.youtube.com/watch?v=A3uq-nW1avk
https://www.youtube.com/watch?v=JfLFn345Cm0

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Raoni Zopolato é professor de inglês e organizador do Encontro LGBT de Artur Nogueira.


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