10/03/2013

OPINIÃO: Padre Élcio Medeiros comenta sobre a renúncia do Papa Bento XVI

Por Padre Élcio Roberto Medeiros Me recordo, que em 2002, ano que entrei no Seminário Diocesano em Limeira, quando ia até a ‘sala de jornal’, abrindo a Folha de São Paulo, me deparava com muitas matérias especulativas sobre possível renúncia de João Paulo II, pois foi o ano em que o Papa iniciou um quadro […]

Por Padre Élcio Roberto Medeiros

Me recordo, que em 2002, ano que entrei no Seminário Diocesano em Limeira, quando ia até a ‘sala de jornal’, abrindo a Folha de São Paulo, me deparava com muitas matérias especulativas sobre possível renúncia de João Paulo II, pois foi o ano em que o Papa iniciou um quadro clínico de mal de Parkinson. Trago comigo ainda hoje, a memória de críticas desejosas que renúncia de João Paulo II, segundo os jornalistas da época: “estava doente e velho demais para conduzir a Igreja, que precisa de mudanças com urgência”. No entanto, o Papa da minha geração, continuou corajosamente até o último suspiro de sua vida, que foi acontecer em 02 de abril de 2005, três anos depois do início das especulações desejosas de sua renúncia.

Agora, em 2013, com Bento XVI, que reconheceu a fragilidade própria de sua idade e a inclinação de sua saúde, renunciando corajosamente ao papado, a mesma imprensa crítica que o papa “não aguentou como João Paulo II”.

Com João Paulo II, a imprensa insatisfeita porque não renunciava devido a sua pouca saúde, agora, com Bento XVI, a insatisfação porque renunciou devido a sua pouca saúde. Com esta renúncia, parece que a imprensa, de modo geral, reflete um desagradável fenômeno muito comum: a constante insatisfação humana.

De modo muito particular, confesso que recebi a notícia da renúncia com espanto, assim como a maioria dos cristãos católicos, até mesmo, muitos bispos e cardeais, também receberam com espanto tal comunicado, afinal, o espanto é fruto daquilo que não é esperado. Contudo, lendo os comunicados, refletindo sobre o assunto e assimilando o contexto, vejo o ato de Bento XVI como de um homem de muita humildade e coragem! E vou explicar o porquê assim percebo:

Primeiro que o papado, dentro da fé cristã católica, é um ministério que atribui grande responsabilidade, afinal, o Papa para nós católicos é a continuidade representativa da liderança de Pedro sobre todos os discípulos. Segundo porque o Papa é sinal da unidade na Igreja. Pois, na falta da unidade, uma Igreja começa e subdividir-se e desfacelar-se em outras tantas igrejas.

Como é triste perceber as tantas subdivisões de outras igrejas, nisto a católica tem credibilidade, pois não é uma Igreja nova que nasceu ontem na esquina de seu quarteirão de alguém que inventa teologias para ganhar adeptos, mas é uma Igreja histórica, que caminha a dois mil anos, desde os primeiros discípulos, por isso a importância da representatividade e sucessoriedade apostólica de Pedro, no ministério papal e a unidade entre os fiéis que o Papa representa.

Não é difícil perceber o cansaço físico de Bento XVI, basta comparar uma foto de quando assumiu o papado em 2005 com uma foto atual: as limitações próprias de seus 85 anos são nítidas no seu olhar e nas expressões de seu semblante.

É um ato de humildade reconhecer o cansaço por sua idade, a fragilidade de sua saúde e sua pouca disposição física. É um ato de coragem renunciar ao ministério papal, reconhecendo que melhor serviria a Igreja, renunciando que continuando, confiando os ministérios e atribuições próprias do papado, para um próximo sucessor de Pedro, com mais saúde e disposição para conduzir a Igreja.

Em muitas paróquias, vejo padres santos, de uma vida toda de doação e serviço ao povo, mas como párocos, não gostam muito de renunciar a administração da paróquia para um outro padre com mais disposição e saúde física. A paróquia fica anos com o mesmo ‘rosto’, sem muitas dinamizações na evangelização, os fiéis logo começam a reclamar a estagnação da paróquia. Neste caso, Bento XVI é um grande exemplo!! Não foi egoísta, não pensou o melhor para ele, pensou o melhor para sua Igreja, reconheceu que, como Papa, já havia dado sua contribuição. Que bom seria se os párocos idosos também reconhecem seu momento de parar e de passar o bastão da condução da paróquia a outro.

Termino, rogando ao Espírito Santo por nosso novo Papa, que seja um grande Teólogo e também seja um grande Pastor, atento aos clamores e as necessidades dos cristãos neste novo milênio. Assim como Jesus de Nazaré, que nosso novo Papa possa dosar a firmeza e a autoridade com a ternura e a misericórdia.

Ah… também rogo por São Longuinho, que me ajude a recordar do bonito exemplo de Bento XVI e deste texto que estou escrevendo quando um dia estiver na terceira idade, que também possa aprender a servir a Igreja de outro modo, com a vida de oração e contemplação.

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Elcio
Padre Élcio Roberto Medeiros é o pároco
responsável pela Paróquia Santa Rita de Cássia


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