Escola ocupada em Artur Nogueira recebe debate sobre reorganização do ensino

A ocupação da escola José Apparecido Munhoz recebeu no final da tarde de domingo (29) o Chá Filosófico “Até quando Brasil Colônia” e discutiu na ocasião a reorganização de ensino proposta pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). A atividade foi conduzida pelo Coletivo ModTrip e contou com a participação de representantes da comunidade. Cerca de 100 pessoas entre pais e alunos participaram do debate. No sábado, uma conversa sobre feminismo foi promovida pelos próprios estudantes. Uma série de oficinas estão previstas para os próximos dias.

No Chá Filosófico a mesa foi composta pelo presidente da Associação de Moradores do bairro Jardim Carolina, Advigues Santana – um dos participantes de um projeto premiado na ONU em 2014 – ; presidente da Pastoral da Juventude de Artur Nogueira, Vânia Silva; aluna aprovada em projeto de Hardvard, Rute Hellen; a estudante Camila Mariosa e o estudante Yan Gustavo, ambos da escola José Apparecido Munhoz. O vereador Amarildo Boer também participou do debate.

Segundo a jornalista Isadora Stentzler, que mediou a conversa, o debate foi aberto e apartidário, permitindo que todos na roda participassem e opinassem. “O objetivo não foi mostrar verdades absolutas, mas muitas opiniões sobre a pauta que é importantíssima para o momento”, apontou.

Durante a discussão os convidados argumentaram sobre os possíveis impactos da reorganização nas escolas José Apparecido Munhoz e Professor João Gazzola (Carolina), afetadas com a medida. De acordo com a proposta estadual estas escolas devem trabalhar em ciclos únicos, sendo a escola Munhoz, 1 e 2 – até o nono ano –, e o Carolina apenas com o Ensino Médio.

A medida foi tomada com base em um estudo encomendando pela Secretaria de Educação à Fundação Saede sobre as matrículas na rede estadual e não ouviu professores e alunos.

De acordo com a pesquisa, entre 1998 e 2015 a rede estadual de ensino perdeu 2 milhões de matrículas, o que se somou a queda das taxas de fecundidade no período, o que teria ocasionado uma diminuição no número de inscritos nas escolas. “A redução de nascimentos e, assim, do número de crianças e jovens em idade escolar no estado é o principal fator para a queda de matrículas, seguido pela municipalização do ensino fundamental (ainda em andamento no Estado) e pela migração para a rede privada”, aponta a assessoria de imprensa sobre o estudo.

Yan Gustavo apontou que, embora no primeiro momento a medida pareça satisfatória, perde-se muito com a separação de ciclos. “Nós, alunos do Ensino Médio, somos espelho para os do Fundamental. Ele veem a gente e muitos querem ser como nós. Chegar aonde chegamos. Por isso, de forma alguma, isso pode ser benéfico”, enfatizou sendo ovacionado pelos participantes do debate.

Ruth acrescentou na fala de Yan que, como aluna do Unasp, o convívio com estudantes do Ensino Médio e da graduação a permitem ter vivências mais aprofundadas, que incluem palestras e atividades conduzidas pelos próprios acadêmicos.

A conversa ainda pautou a precarização do ensino e qual o modelo ideal de educação. Segundo os próprios estudantes, o método engessado com apostilas pré-determinadas e a falta da valorização das liberdades individuais é uma das problemáticas do ensino.

As atividades na ocupação devem seguir pelas próximas semanas e, de acordo com estudantes, não há previsão de encerramento.

Final de semana

A ocupação que começou na quinta-feira (26) é organizada pelos próprios alunos e conta com um revezamento do espaço da ocupação.

Uma série de atividades também foram planejadas para que não haja tempo ocioso. Além das atividades obrigatórias como limpeza, segurança, comunicação e refeição, os alunos têm recebido voluntários que oferecem oficinas. Algumas delas são conduzidas por eles mesmos.

No sábado (28), cerca de 50 estudantes participaram de um debate sobre feminismo. A mediação foi feita entre eles e apontou a importância da igualdade de gêneros na sociedade.

A estudante do segundo ano do Ensino Médio do Munhoz, Aline Maeda, de 17 anos, tomou à frente do debate. Segundo ela o assunto entrou em pauta devido aos graves problemas enfrentados pelas mulheres do dia a dia. “Fomos criados com o machismo desde pequenos, mas nossa geração pode mudar, repensar as atitudes… como por exemplo colocar esporte para os dois gêneros. Por que só garoto joga futebol? Existem garotas com a mesma capacidade”, reflete.

Dentro da ocupação as medidas e divisão de serviços foram adotadas para não discriminar gênero.

Como a escola está em recesso os alunos pedem que interessados em dar aulas e oficinas os procurem.

Mais

“Vamos pedir reintegração de posse”, afirma dirigente sobre ocupação em Artur Nogueira

Estudantes de Artur Nogueira falam sobre ocupação e reorganização do ensino