02/07/2011

O lado de Luiz de Faveri

Em entrevista exclusiva, ex-prefeito de Artur Nogueira, fala sobre seu mandato, acusações e a possível volta ao governo nogueirense

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Alex Bússulo

Era por volta das 20 horas, quando saí da cidade junto com o fotógrafo e fomos sentido a zona rural de Artur Nogueira. Em meio ao frio da noite da última terça-feira, dia 28, chegamos ao sítio de Luiz de Faveri, localizado no bairro da Parada. Batemos palma e do lado de fora avistamos o ex-prefeito junto com sua esposa, Sônia Bonatti, que nos convidaram a entrar a residência. Fizemos um curto cumprimento e nos acomodamos na sala da casa.

Faveri entrou para a política nogueirense no ano de 1997, como vice-prefeito de Nelson Stein. Quatro anos depois tornou-se prefeito de Artur Nogueira, pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), sendo eleito com quase oito mil votos.

Antes de chegarmos, Faveri assistia televisão, descansando depois do dia de trabalho na roça. Após sete anos longe do cargo público e com 60 anos de idade, o ex-prefeito continua trabalhando na agricultura e pecuária, profissão que sempre teve orgulho. No começo, o entrevistado se demonstrou um pouco preso, mas depois de algumas perguntas provocativas, Luiz de Faveri desabafou o que gostaria de ter dito há anos. A conversa durou cerca de duas horas.  Acompanhe:

DO QUE VOCÊ MAIS SE ORGULHA EM TER CONTRIBUÍDO PARA ARTUR NOGUEIRA? Antes de qualquer coisa gostaria de dizer que eu fui o primeiro prefeito da Lei de Responsabilidade Fiscal. Antes de mim, todos os prefeitos administravam o dinheiro e aplicavam as verbas onde bem entendiam. Quando eu assumi a prefeitura de Artur Nogueira tive que me adaptar a uma legislação que até hoje muita gente não conhece.

EXPLIQUE-ME SOBRE ESSA LEI. A Lei de Responsabilidade Fiscal foi implantada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, dando ao administrador público regulamentos de onde investir o PIB do município. Desde então, a verba passou a ser dividida percentualmente em setores, como na Saúde, Educação, Folha de Pagamento de Funcionários, Câmara, entre outros. Foi uma regra que veio do Governo Federal e que impôs uma nova forma de governar. Lembro até hoje que muitos advogados, assessores dos prefeitos da época, não sabiam como agir perante essa nova lei. Eu tive muita dificuldade para entender e trabalhar dentro de uma lei que poucos entendiam como funcionava. Quando você me pergunta do que eu mais me orgulho em ter contribuído para Artur Nogueira, minha resposta é essa, mesmo com todas as dificuldades, mesmo não sabendo direito como funcionava, eu cumpri a lei.

E COMO VICE-PREFEITO? Um vice-prefeito não tem poder de decisão como muitos acham que tem. Eu pelo menos não tive. Enquanto fui vice do Nelson, em poucas ocasiões eu assumi a prefeitura. Sempre deixei o prefeito fazer as coisas como ele julgava certo. Eu apenas acompanhava. Agora, veja bem, eu tinha como visão de governo que um prefeito podia aplicar a verba no município como ele bem quisesse. Quando eu assumi, isso mudou completamente. Antes da Lei de Responsabilidade Fiscal o município gerava muita dívida. Em quatro anos eu tive muita dificuldade para colocar a casa em dia e fazer as benfeitorias que eu fiz.

 

QUAL É O MAIOR PROBLEMA DE ARTUR NOGUEIRA ATUALMENTE? É a Saúde. Eu queria ter contribuído mais pelo setor enquanto estava no governo, mas sei que é complicado. Me dediquei muito para que Artur Nogueira tivesse uma maternidade. Queria ver nascer nogueirenses. Lembro que durante a construção do prédio tivemos o acompanhamento da Direção Regional de Saúde de Campinas (DIR), que entre os anos de 2000 e 2004 considerou a minha realização a única coisa concreta da Região Metropolitana de Campinas. Fui para Brasília falar com o então ministro da Saúde, José Serra, solicitar os equipamentos para a maternidade. Foi nesta conversa que conseguimos equipar todo o prédio. No final das contas, consegui realizar minha meta. Entregamos aos nogueirenses uma maternidade excelente e totalmente dentro da lei, que funcionou até o último dia do meu mandato. Me pergunto até hoje porque o atual prefeito a desativou e não deu continuidade a esse ideal, que é tão importante para todos nós.

É FÁCIL SER PREFEITO? Não é fácil. Para ser um administrador público, o homem deve ter muita disposição, muita saúde física e mental, ter o apoio e a compreensão da família e o principal, tem que gostar de estar no meio do povo. Um homem público tem que estar no meio do público. Agora quando o prefeito não gosta de ficar no meio do povo, ouvir as necessidades das pessoas, é muito complicado. Se você me perguntar quem administra Artur Nogueira, francamente, eu não vou saber responder. Não sei se é o prefeito ou se é o PT.

POR QUÊ? Veja bem, quando o atual prefeito estava em campanha política ele vivia dizendo que teria uma administração participativa. Hoje, se você fizer uma pesquisa, tanto com a população quanto no funcionalismo público, vai perceber que há pessoas que não encontram o atual prefeito há meses. Vou além, aposto que tem muita gente que nem conhece ele. A maior mentira do PT em Artur Nogueira foi falar que eles iriam fazer uma administração participativa.

A SUA ADMINISTRAÇÃO FOI PARTICIPATIVA? A minha administração foi aberta. A porta do meu gabinete sempre ficava aberta, eu só a fechava quando estava em alguma reunião. Sempre atendi a população. Sempre estive ao lado dela.

QUE NOTA VOCÊ ATRIBUI AO SEU GOVERNO? Pelas dificuldades que tive, de um a dez, acredito que o Governo Faveri mereça nota sete. Não dou dez porque não fiz tudo o que queria ter feito pelo município, devido à falta de recursos. Dou sete porque sei que fiz algo de bom para a cidade. Quando eu assumi a prefeitura, ela tinha um ano de dívida atrasada, quando eu saí essa divida não diminuiu, mas a arrecadação do município aumentou. Então, quem entende do assunto sabe que na verdade eu fiz o débito diminuir. Eu fiz muita coisa boa pelo município…

O QUE, POR EXEMPLO? Você se lembra da situação da água de Artur Nogueira? Ela era motivo de discurso em época de eleição. Nossa água era muito ruim, ninguém estava satisfeito com ela na cidade. Lembro que os candidatos a prefeito levavam garrafas cheias nos palanques e gritavam, dizendo que iriam melhorar aquela situação. Depois que assumi, me dediquei nesse setor. Fui até Águas de Lindóia conhecer um projeto que havia dado certo por lá, depois disso criamos o Saean [Serviço de Água e Esgoto de Artur Nogueira]. Hoje, sabemos que existem alguns problemas, mas comparado há uma década, a água de Artur Nogueira melhorou muito. Outra coisa que eu tenho orgulho de falar é que resolvi foi o problema de alagamento do bairro São Vicente.

MAS AINDA HÁ ALAGAMENTOS NESSE BAIRRO. Alaga porque a prefeitura não faz a limpeza, diariamente, das ruas que ficam acima do São Vicente. Tem que limpar todos os dias. Se a população joga lixo, a prefeitura tem a obrigação de coletar. Não pode ter nenhuma sujeirinha, porque se não elas vão para os bueiros, entopem e acaba sobrecarregando o São Vicente.

COMO VOCÊ SE SENTIU AO FINAL DA ELEIÇÃO DE 2003, QUANDO DE UMA HORA PARA OUTRA AQUELA CIDADE QUE ESTAVA TODA AZUL FICOU VERMELHA? O que aconteceu naquele dia foi uma expressão da democracia brasileira. O povo nogueirense teve o direito de escolher o que achou melhor para o município. Mas tiveram algumas coisas que vão além do entendimento popular…

COMO ASSIM? Enquanto estava na prefeitura eu solicitei aos vereadores que atualizassem o Código de Postura do município, que estava desatualizado há anos. Disse à Câmara que era para eles elaborarem e que eu aprovaria do jeito que chegasse as minhas mãos. Com as mudanças do novo código, algumas regras permitiam a instalação de mais postos de gasolina na cidade. Decisão que deixou um ex-prefeito e dono de postos irritadíssimo, pois ele teria mais concorrência. Lembro que este mesmo cidadão veio até meu gabinete solicitar ajuda, mas eu disse que quem resolveria a situação seriam os vereadores. No final das contas, ele acabou se revoltando e para me atingir se uniu a um adversário. Durante a campanha, eles me atacaram tanto que acabaram me afetando, pois falavam um punhado de inverdades. A população ficou confusa e sem opção votou no PT. No partido, não no atual prefeito. Depois de algum tempo, muitos me procuraram e me pediram desculpas, dizendo que haviam errado na escolha.

 

VOCÊ SE SENTIU TRAÍDO POR AQUELES QUE DISSERAM QUE VOTARIAM NO 14,  MAS ACABARAM VOTANDO NO 13 OU NO 25? Sinceramente, não. Acho que quem mais foi traído, se essa é a palavra certa a ser colocada, foi o meu vice na época, o Antonio Baiano, por muitos de seus compatriotas. Ele sim ficou muito decepcionado com o resultado da eleição.

VOCÊ PRETENDE VOLTAR PARA A POLÍTICA? Não, porque minha mulher não deixa [risos]. Eu posso concorrer nas eleições, que nada me impede legalmente. Aliás, recentemente eu recebi uma proposta de um amigo para me apoiar em toda a campanha para prefeito. Este empresário da cidade se dispôs a ceder uma equipe de marketing, jurídico e contábil para me auxiliar, sem me cobrar nada. Mas eu tenho mais de um ano para me decidir se serei candidato ou não. Fato é que os meus adversários políticos estão fazendo o que podem para tentar me prejudicar, mas não vão conseguir.

VOCÊ PERDEU AMIGOS DEPOIS QUE VOCÊ PERDEU A ELEIÇÃO? Na verdade, os quais eu perdi nunca foram meus amigos. Amizades verdadeiras são poucas. Qualquer pessoa que ocupe um cargo de prestígio na sociedade vai estar rodeada de pessoas interesseiras, na política não é diferente. Quando eu perdi a eleição muita gente que eu considerava se afastou de mim, é triste perceber isso, mas é a verdade. Na última eleição, o PSDB, que sempre foi meu companheiro, pediu para eu não participar e apoiar o candidato escolhido pelo partido. Eu apoiei. Mas não concordei com a situação. Todos têm direito em participar de uma campanha, isso é democracia. Até porque o candidato do partido nunca fez nada para o município, se ele é conhecido na cidade é por causa da família dele e por causa de mim, que dei um cargo de confiança no meu governo. Tenho certeza absoluta de que boa parte dos votos que ele recebeu foi por minha causa. Se alguém me mandar apoiar algum partido e quiser que eu fique dormindo em casa, eu garanto para você que eu saio como candidato a prefeito,  posso até não ganhar a eleição, mas que eu vou dar trabalho para os adversários, isso eu garanto.

VOCÊ ROUBOU ENQUANTO FOI PREFEITO? Nunca. Isso eu posso te falar com a consciência tranquila. Nunca peguei nada que não fosse meu de direito. Vários processos contra mim já foram arquivados. Ainda respondo alguns, mas sei que eles não levarão a lugar nenhum. Eu confio na justiça e se a justiça for feita eu não serei condenado a nada, pois eu só fiz o que era correto. A oposição me acusa a mais de sete anos de ter roubado, mas até hoje ninguém conseguiu comprovar absolutamente nada e nem vão conseguir. Eles querem que eu seja condenado por improbidade administrativa, pois somente assim eu não poderia concorrer novamente. Muitos me acusaram injustamente, levantaram falso testemunho, mas a justiça é certa. Tenho muita fé em Deus que em breve a verdade virá, e todas as acusações serão motivos de risadas. Quem não deve, não teme.

E AS DÍVIDAS DE ARTUR NOGUEIRA? O município sempre teve dívidas. Não adianta vim com essa conversa de que eu deixei a prefeitura endividada e que o atual prefeito está pagando até hoje. Durante os quatro anos que fiquei no governo, eu também tive que pagar contas atrasadas, mas isso não fazia parte do meu discurso. Tudo isso que a gente vê hoje é pura demagogia. Tem gente que pensa que eu fiquei rico depois que saí da prefeitura, pura bobagem. Continuo morando na mesma casa e, detalhe, com o mesmo carrinho de quando eu era prefeito. Tenho orgulho disso.

MAS A ATUAL ADMINISTRAÇÃO TAMBÉM REALIZOU BENFEITORIAS AO MUNICÍPIO. O PT não fez nada por Artur Nogueira. Nada! A única coisa que eles estão fazendo há sete anos é aquela bendita escola modelo, que não termina nunca. Tenho certeza absoluta que o próximo homem que entrar lá na prefeitura vai acabar com o atual prefeito. Não posso provar, porque não estou no governo, mas tenho certeza absoluta das irregularidades dessa escola. Mas eu estou tranquilo, pois sei que o PT não ganha mais em Artur Nogueira. Outro dia eu estava no Velório Municipal e o prefeito estava lá. O cemitério da cidade está tão abandonado que nem a porta abre direito. Até brinquei com o atual chefe de gabinete, que também estava lá, pra ele mandar o prefeito abrir a porta. Enquanto eu fui prefeito eu dupliquei o tamanho do cemitério. Eu sim fiz coisas boas para a cidade, como a criação do Fundo de Previdência, a revitalização da XV de Novembro, o Saean, as galerias do São Vicente, comprei a Base da Guarda Municipal, trouxe o Posto da Caixa Federal, abri mais de 50 km de estradas rurais com bacias de contenção de assoreamento, pavimentei com guia e asfalto o bairro Nosso Chão sem cobrar nada dos moradores, construí a maternidade, construí duas grandes escolas, ampliei as creches, coloquei aulas de informática aos alunos do ensino fundamental, tudo isso dentro da lei. Na minha época, não havia nenhuma criança na fila de espera para vagas em escolas. Hoje, eu tenho certeza que existem mais de mil pessoas nessa fila. É isso.

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