31/12/2019

“Não posso parar a obra porque cinco pessoas querem”, exclama padre Edson

Pároco de Artur Nogueira rebate e pede anulação do relatório feito a pedido da Diocese de Limeira, que teceu diversas críticas às obras da Igreja Matriz

Michael Harteman

A reportagem do Portal Nogueirense foi ouvir a versão do padre Edson Tagliaferro sobre os apontamentos feitos por uma comissão referente a reforma da Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores. Além de falar sobre isso, o pároco também comentou sobre o Movimento Pró-Matriz, que vem há mais de um ano questionando as obras. Além do padre, estavam presentes Adolpho Schwarz Junior, do Conselho de Assuntos Econômicos, Igor Malchi e Fábio Moreira, pertencentes do Conselho de Pastoral Paroquial.


Comissão da própria Igreja aponta irregularidades na reforma da Matriz de Artur Nogueira


Perguntado se há algum problema com a obra e se há motivos para pará-la, Pe Edson é enfático. “Pra parar a obra nós temos que ter algo muito concreto da Justiça ou da Igreja. A Justiça já disse que não tem nada de errado, a Igreja também não impediu a obra. Eu não posso parar uma obra, já tendo feito o que fizemos, só porque cinco pessoas querem que pare a obra”, exclama Pe Edson.

As cinco pessoas citadas pelo religioso integram o Movimento Pró-Matriz. Segundo ele, a motivação do grupo não está relacionada à igreja. “Eles não estão contra a reforma da Matriz, eles estão contra o padre, é ciúmes contra o padre”, afirma.

Perguntado sobre qual seria o motivo dos ciúmes, o padre responde rapidamente. “O problema deles não é com a reforma, e sim com o padre, com a maneira que estamos conduzindo as coisas”, pontua.

Sobre o parecer da Comissão de Bens Culturais Eclesiásticos, Pe Edson afirma que há diversos erros. “Fizeram uma análise superficial. Eles não entrevistaram o arquiteto e nem o engenheiro. Esse relatório tem vários erros por eles não conhecerem o projeto”, exclama. “Esse é um grupo que não conhece a realidade, vieram um dia só aqui. Esse relatório foge ao propósito da comissão, que seria uma avaliação técnica, mas eles entraram em questões pastorais e éticas, que não tem nada a ver”, completa Pe Edson.

Após receber o relatório da comissão, Pe Edson enviou uma carta a Dom Orlando, contestando cada item do relatório feito pela Comissão de Bens Culturais Eclesiásticos. Seguem alguns itens da carta que tem como objetivo explicar apontamentos feitos pela comissão:

Sobre a fonte batismal

Por total desconhecimento do projeto e não terem tido o cuidado de aprofundar no conhecimento com questionamentos, eles colocaram que a fonte batismal está inacessível. No projeto original não havia sido colocado a rampa de acesso que, uma vez questionado por mim, o arquiteto já entrou em contato com o engenheiro que o visitou e juntos já resolveram o problema. A rampa de acesso será feita para que qualquer pessoa possa estar junto a fonte batismal ou mesmo no presbitério. Nos primórdios da Igreja a fonte batismal era colocada na entrada das igrejas, para simbolizar que pelo batismo as pessoas eram admitidas na comunidade eclesial. Contudo isso hoje tem sido um desafio para nós. Como disse, tenho entre 20 e 25 batizados por mês. Com todos os membros das famílias a igreja tem recebido muitos fiéis. O batismo numa capela na entrada acaba ficando para os poucos que ela pode comportar. Em Iracemápolis, quando do restauro da Igreja, a capela continuou na entrada, mas o tumulto era inevitável. Quando Padre Vladimir assumiu a paróquia em 2002 mandou fazer uma pia batismal móvel para utilizar no presbitério, como é feito até hoje. Na paróquia Nossa Senhora das Dores, a fonte batismal foi retirada da entrada e a capela do batismo foi fechada para se fazer uma secretaria. A pia batismal foi então colocada ao lado do presbitério, na parte de baixo, onde permanece até hoje. Ao pensarmos em elevar a Fonte Batismal, a intenção era justamente o contrário do que diz a comissão sobre exclusão, mas justamente a participação dos fiéis pela visibilidade, particularmente no Sábado Santo, onde temos entre 10 e 20 batizados de adultos todos os anos. É uma alegria para a comunidade a participação contemplando na celebração o Mistério.

Sobre o Altar Eucarístico

Falam sobre inacessibilidade também do altar. Como dito acima, a mesma rampa de acesso à fonte batismal, será utilizada para o Altar Eucarístico e Altar da Palavra. O equívoco que cometem se refere ao desconhecimento total do projeto e das reais intenções da comunidade.

Sobre a Capela do Santíssimo

Neste item, a comissão mostrou o total desconhecimento com relação ao projeto. O Tabernáculo colocado hoje atrás da Sédia está a três degraus da altura da nave da igreja, junto ao presbitério. No novo projeto ele vai ficar exatamente na mesma altura. A diferença é que uma Capela foi feita no nível da nave central para que as pessoas possam se colocar em oração voltadas para o Tabernáculo. Não há mudança alguma de 11 altura de degraus de que a comissão fala. Aos ministros que precisarem ter acesso ao mesmo o farão pela mesma rampa que agora existirá e dará acesso ao presbitério e à fonte batismal.

Sobre a Capela de Reconciliação

O desconhecimento desta comissão sobre a vida pastoral da Igreja é assustador. Podem ser “especialista” nas áreas de formação que tiveram, mas fazem julgamentos totalmente desconexos com a pastoral. Neste item eles afirmam que a “baixa procura pelo Sacramento [da confissão]…podem ocorrer por diversos fatores, sendo um deles a ausência de um local específico e adequadamente ambientado para a celebração do sacramento” ( página 9). Chega a ser cômico, não fosse trágico! Fosse isso apenas seria fácil de resolver. Não farei comentário sobre o tempo pós-moderno que vivemos e que afasta as pessoas da confissão porque não é o objetivo aqui. As pessoas não procuram um lugar! Elas procuram alguém! Alguém que as ouça, que as entendam, que as amem! Nunca alguém sai de um confessionário dizendo que o lugar era bonito, mas se foi ou não bem recebido. Eu não tenho problemas com atendimento porque a procura tem sido enorme, com pessoas de minha paróquia e de outras comunidades também. Nesta paróquia como está hoje, as pessoas são atendidas numa sala atrás do altar, com vários degraus onde já houve quatro acidentes de deficientes e idosos que foram confessar. Uma senhora que utiliza bengala ao cair cortou os lábios ocorrendo um sangramento. Ela me olhou sorrindo com sangue entre os dentes e disse: “Já estou acostumada padre, não tem problema”. Naquele momento eu tive certeza absoluta de que a reforma era o que Deus queria. A maioria dos padres atendem confissão num local onde realizam os outros trabalhos também. Na paróquia Nossa Senhora Aparecida de Iracemápolis, quando concluí a obra daquela igreja, eu fiz a Capela da Reconciliação. Hoje é depósito de alimentos do dispensário! Porque? Simplesmente porque não vamos a uma sala atender as várias procuras que os fiéis fazem e a cada momento de confissão ir para a capela da reconciliação para atender uma confissão. Volto a insistir, as pessoas procuram uma atitude de amor na Igreja, isso sim deveria ser trabalhado, mas no coração dos sacerdotes.

Sobre o Local do Dízimo

Hoje em dia temos tido esta necessidade nas igrejas, um espaço para o trabalho do dízimo no momento das celebrações para as pessoas que não dispõem de tempo para ir à igreja no horário de atendimento. Algumas paróquias tem colocado um balcão para isso, geralmente dentro da igreja (no espaço sagrado). Algumas têm uma sala específica. Aqui temos utilizado uma mesa na entrada (átrio) da igreja. Pensando em melhorar isso e facilitar também o trabalho pensamos em uma sala específica. Porque voltar sua entrada para o espaço sagrado? Simples para que as pessoas plantonistas do dízimo participem das celebrações. Embora a intenção é de não exercer o trabalho do dízimo durante as celebrações, mas os plantonistas estarão aí, dentro dela no início ou no término das celebrações. Como foi lembrado pela comissão, o documento 106 da CNBB fala de uma “sala própria para isso”. Assim foi pensado, mas no meu entender, o átrio com a pia de água benta, aonde o povo chega e é acolhido pela pastoral da acolhida e, persignando-se com a água lembra seu batismo, não seria o local adequado para ter um balcão.

Sobre o Coral

O projeto contempla um local adequado para o coro, com os locais para ligar os instrumentos na rede elétrica e também junto à mesa de som. A comissão fala de dois degraus para colocar o coral, o que é mentira. Foi pensado apenas um degrau para que um pouco mais elevados pudessem se “comunicar” com o presidente da celebração. O arquiteto não havia contemplado isso. Foi um pedido meu pela larga experiência de vinte e cinco anos de ministério.

Conclusão do Padre Edson

Antes de assinar a carta, Pe Edson faz uma conclusão geral sobre o desgaste gerado com a Comissão. Segue a conclusão, na íntegra:

A título de conclusão, não me resta senão dizer que esta comissão mostrou-se totalmente incapaz de atuar em nossa diocese, pois não conseguirão ajudar as comunidades, fomentarão intrigas e desentendimentos acirrando ânimos e prejudicando os padres nos seus trabalhos. Um projeto já iniciado em 2015 ao receber tantas críticas (e somente críticas) desqualifica tal comissão e seu assessor para este trabalho em nossa diocese. Ao não ouvir as pessoas que realmente participam das comunidades, ao se basearem em redes sociais, onde o ódio tem sido a marca de todas as reflexões para fazerem sua análise, ao faltarem com a ética em analisar um projeto de um profissional e do trabalho de um sacerdote jubilando, esta equipe não mostrou dignidade para apresentar tal relatório. Peço ao senhor Dom Orlando Brandes, nosso Administrador Diocesano, que anule esta inverídica e incoerente avaliação feita por esta subcomissão dos bens culturais de nossa diocese. Sem mais para o momento, despeço-me suplicando vossa bênção.

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