12/03/2016

Moradora de Artur Nogueira fala sobre experiência como Miss Terceira Idade de SP

Maria Angela Pinto Cerqueira relata expectativas, anseios e a doce maneira que encontrou de conquistar seus sonhos.

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Por Rui do Amaral

“O sonho pareceu muito real. Era o meu nome que escutei ser falado em frente aquela multidão. Eu era a Miss São Paulo. Após acordar, peguei uma folha de papel e escrevi meu discurso, agradecendo todos que de alguma forma me transmitiram a confiança necessária. Ao embarcar no ônibus para a capital, contei sobre o sonho para as pessoas ao meu redor. Eles também acreditaram.”

Comendador Venâncio é terra fértil. É a terra de Maria Angela Pinto Cerqueira. De seus oito irmãos, seis estão vivos e quase todos moram na pequena cidade, no noroeste do Rio de Janeiro, a não ser por um que vive em Ubatuba. “Minha família toda é de lá, sempre que posso visito eles. Se tem algo de que sinto saudade é a minha família”, revela com os olhos cerrados e a mão em um dos cotovelos.

A atual Miss Terceira Idade de São Paulo nasceu em 1950, num mês de novembro. Em 1970, seu pai foi trabalhar em Niterói (RJ) e com ele morou até meados da mesma década. Na hora do pai voltar à fazenda, Vanja (como é conhecida pela família) ficou. “Meus pais voltaram para minha terra e eu fiquei em Niterói com meu irmão mais novo na Praia de Itaipu. Morava com minhas amigas e fui trabalhar no Rio de Janeiro. Em outubro de 1979 iniciei uma das melhores fases da minha vida”, diz, um pouco mais à vontade, como quem entra em uma memória e não quer sair. “Meu irmão gostava de ir na sede da Varig para ler algumas revistas internacionais, e de vez em quando ia com ele. Um dia ele me perguntou se eu não queria fazer um teste para comissária de bordo, falei que aquilo não era pra mim, eu era do interior, como que poderia virar aeromoça?”, conta incrédula, provavelmente da mesma maneira com que falou para o irmão. “Não sei por quê, mas resolvi ir. Eram 109 mulheres e eu passei”, relembra calma, claramente enxergando a mesma cena de 37 anos atrás. “No começo não falei pra ninguém, muito menos para meu pai. Naquela época era complicado ser comissária, o pessoal não sabia muito bem como era e havia um certo preconceito. Só contei quando já estava lá dentro, pois ninguém me tirava mais”, contou sorrindo, orgulhosa dos 25 anos na companhia.

Dentro da empresa, conheceu um técnico de simuladores, com quem foi casada por 30 anos. “Depois que me aposentei, em 2004, vim morar em Campinas com meu esposo, pois ele era de lá e queria voltar às origens. Depois de um tempo nos separamos, mas continuei vivendo na cidade”.

A caminho de Artur Nogueira

A convite de uma amiga, Maria Angela foi a um baile em Cosmópolis e lá conheceu quem seria seu atual companheiro. “Ele morava em Artur Nogueira mas estava lá naquela noite. Estamos juntos a sete anos”. Foi o primeiro contato que teve com a cidade, vindo morar com o “namorado”, como chama carinhosamente o marido, José Mendes.

Em Artur Nogueira, entrou para o grupo da terceira idade, sendo logo notada por sua beleza e juventude, que transbordam de dentro pra fora. “O pessoal vivia me chamando para participar do concurso de Miss Terceira Idade, mas eu sempre recusava, mesmo tendo realizado trabalhos e comerciais como modelo para diversas lojas em Campinas, até na televisão eu apareci”. Maria Angela, embora nascida no estado do Rio de Janeiro, diz se sentir em casa vivendo no município. “Parece que estou aqui a vida toda. Amo Artur Nogueira”.

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Desde menina

Os trabalhos como modelo podem ser considerados traços de um sonho maior, daqueles que são formados no início da juventude e que, geralmente, se fazem presentes até o dia em que são realizados. No caso de Vanja, o sonho era ser Miss Brasil. “Fui Rainha do Arroz aos 15 anos e, na época em que era comissária, nutria o sonho de ser Miss. Nunca falei pra ninguém, meu pai nunca iria deixar. Não queria uma filha comissária, imagina uma filha Miss Brasil”, revela com um sorriso de menina. “Mas o sonho nunca saiu de mim e, no fundo, eu nunca desisti”.

No ano passado, o diretor da Terceira Idade do município não aceitou uma resposta negativa, e realizou a inscrição de Maria Angela. “Eu achava que para se candidatar era necessário ter nascido em Artur Nogueira. Quando me disseram que bastava morar aqui, aceitei participar.” Mas Maria Angela tinha uma condição: “Só participaria se meu esposo fosse comigo e concorresse a Mister Terceira Idade. Ele aceitou na mesma hora”, comenta orgulhosa do companheiro.

Para Maria Angela, uma das melhores sensações foi a da preparação. “Foi tudo maravilhoso, a vida inteira eu me maquiava e agora estava fazendo isso para me preparar para o concurso. A escolha do vestido, que ficou lindo, a decisão de qual maquiagem usar, tudo foi ótimo”, lembra Maria Angela, ressaltando que o trabalho na confecção do vestido ficou ainda melhor do que imaginara. Quando chegou o dia do evento, Vanja não mostrou nervosismo. Era a chance. Era o sonho. “Quando você entra para desfilar, sabendo que quer aquilo, é uma coisa que vem de dentro pra fora. Você já está pronta, está iluminada. A Edna, que foi quem me ajudou na escolha do vestido, me disse que tinha certeza que eu iria ganhar. Cada um que estava envolvido me transmitia mais força e confiança. Eu sabia que sairia vencedora”, enfatiza confiante, como se estivesse pronta para participar de outro concurso, na mesma hora. “É algo que não tem explicação, uma felicidade tão grande, uma coisa que já estava pronta pra sair a vida inteira e de repente acontece. Realmente não tem como explicar”.

Estadual

Com o discurso pronto, escrito após o sonho de ter sido coroada Miss São Paulo Terceira Idade, Maria Angela embarcou no ônibus cedido pela prefeitura, rumo a São Paulo. Ela e os integrantes do grupo da terceira idade Vida Nova, saíram às 9 horas rumo à capital. “O concurso de Miss Estadual foi diferente. Eram 34 cidades participando e eu ali no meio, era muito competitivo e eu sabia disso. Mas fui para ganhar, para trazer o título para Artur Nogueira.” A expressão de Maria Angela agora é de missão cumprida.

O vestido vermelho, usado na hora do desfile, é guardado com carinho. “Era lindo, me senti como uma rainha. Quando entrei na passarela, vi todas as pessoas de Artur Nogueira que tinham ido prestigiar o concurso. Minha filha que mora em São Paulo também estava lá. Ela sempre me apoiou e diz ter muito orgulho de mim. Meus netos, torcendo e vibrando por mim. As faixas que os amigos do grupo da terceira idade levaram, todos em pé, me aplaudindo. Foi muita emoção. Olhei tudo isso ainda antes de iniciar a caminhada na passarela, arrumei a postura, respirei fundo e comecei a andar”.

Miss São Paulo

Maria Angela acompanha cada uma de suas frases com um meigo sorriso, como se quisesse confirmar e ressaltar que a emoção vivida nos breves momentos do concurso se faz presente ainda hoje, ao repartir as memórias. Mas chegou o momento. Dentre as cinco finalistas, lá estava ela. Firme, decidida, era o momento de sua vida. Momento o qual já havia sonhado, e que poderia se tornar real e palpável. E tornou-se.

Momentos antes do anúncio, outra candidata, posicionada ao seu lado, a encarou com olhos vidrados e disparou: “Eu quero ganhar”. Maria Angela, portada de toda elegância que cultivara durante sua vida, respondeu sem titubear: “Só de estar aqui, já me sinto muito feliz”. A frase, claro, acompanhava um sorriso – dessa vez não tão meigo, mas fino e fugaz. “Claro que eu queria ganhar, mas mantive a pose. Faz parte da experiência”, ressaltou gesticulando, segura de ter agido da melhor maneira.

Ao revelarem a vencedora, Maria Angela se consagrou Miss São Paulo Terceira Idade. Ao descer do palco, fotos, lágrimas de quem torceu, abraços calorosos em quem se acreditou, mais fotos. Emoção. Eram os sonhos. Aquele construído ao longo de sua juventude e o outro, mais recente, noites antes de embarcar para o concurso. Não era sonho, era real. “Quando você quer muito uma coisa e tem a oportunidade de realizar, é maravilhoso. Você já sonhou com tudo aquilo e de repente você está ali, vivendo o sonho”.

Na chegada a Artur Nogueira, recepção e festa. “O prefeito me falou que organizaria uma festa se eu ganhasse, e eu tive a sorte de ficar com o vestido a viagem toda. Quando cheguei, tinham fogos de artifício e churrasco, tudo muito bom. Nem imaginei que aquilo tudo era para mim, só mais tarde que foi cair a ficha”, reitera dando uma risada solta. Perguntada sobre como a cidade trata a atual Miss São Paulo Terceira Idade, Maria Angela garante que as pessoas a reconhecem na rua e que, para ela, a sensação é maravilhosa. “Agradeço muito a todos que de alguma forma se envolveram nessa jornada. Meus pais, minha família, minha filha, meu esposo. Cada um deles foi fundamental, me dando força e acreditando em mim, incluindo o pessoal da Terceira Idade que tornou tudo isso possível”.

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Legado

Ainda não está definida a data para o concurso de Miss Brasil Terceira Idade, mas Maria Angela mostra que está animada para representar a cidade e trazer mais uma coroa para Artur Nogueira. Maria Angela quer, acima de tudo, contagiar todos que a cercam. Para ela, cada um está no mundo para ser feliz, e acreditar nos seus sonhos é o caminho certo para alcançar tal objetivo. “Quando encontro alguma pessoa que me diz ter medo de não conseguir realizar seus sonhos, eu sempre digo para ela ter atitude e traçar uma meta, indo em frente sempre. Os sonhos nos dão esse brilho nos olhos, e é esse brilho que nos dá a energia pra seguir nosso caminho. Não adianta viver de passado, a melhor época da vida precisa ser hoje, precisa ser agora. Viver de passado nos tira a possibilidade de sermos felizes. Não podemos perder essa energia, não podemos perder o brilho nos olhos”.


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