07/07/2015

Morador de Artur Nogueira ‘zera’ conta de luz após instalar sistema de energia solar

“Aqui em casa o relógio gira ao contrário” afirma o engenheiro elétrico Marcelo Morais. Ele também implantou sistema em empresa do município, que já apresenta redução de 25% na conta de energia.

por Norton Rocha

Apesar de o Brasil ter hoje quatro vezes mais condições de produzir energia solar do que a Alemanha, o país europeu é referência número um no mundo em investimentos neste tipo de alternativa energética. No entanto, muitos brasileiros já se deram conta do alto potencial presente nas energias renováveis, um deles é o engenheiro elétrico Marcelo Morais, que instalou em sua residência, em Artur Nogueira, um sistema capaz de garantir com que toda a energia consumida na casa seja alimentada por meio da radiação solar. Tudo começou com uma experiência na faculdade e, de tanto insistir, o engenheiro adquiriu patente de um equipamento móvel capaz de gerar energia onde estiver, claro, desde que tenha luz solar.

Em 15 anos atuando na área, o engenheiro acredita que nos últimos sete ou oito anos tem ouvido a sociedade falar mais sobre o tema “energia solar”, no entanto, o sistema ainda não é muito difundido no país. “Já participei de diversos congressos e reuniões sobre energia solar e sempre era questionado sobre quando daríamos este salto”. Bom, parece que o momento se aproxima, já que estes sucessivos aumentos na conta de energia pressionam os brasileiros a buscarem novas alternativas para gerar economia em meio à crise.

De acordo com o engenheiro, um dos grandes motivos para o aumento na conta de energia – que no último mês subiu 17%, o terceiro aumento consecutivo em São Paulo – além da seca que atinge o país, é a falta de estratégias capazes de reduzir gastos com combustíveis de altos preços utilizados em usinas. “No nosso país nunca se pensou em alternativas de energias renováveis. Com a falta de água e outros recursos a crise veio à tona, pois o Brasil é um país com uma matriz energética de hidrelétrica, se não tem água, não tem energia”, lamenta Morais. O engenheiro explica que “estamos pagando uma diferença de alíquota baseado na geração de termoelétrica”. Conforme Morais, o Brasil está “queimando combustíveis fósseis para poder complementar o que a geração hidrelétrica não está conseguindo fazer devido as questões de chuva”.

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Painéis solares fotovoltaicos instalados no telhado da casa do engenheiro.

Ou seja, o cenário tem se tornado cada vez mais propício ao desenvolvimento de iniciativas que reduzam os custos com energia, e a ferramenta considerada a mais eficiente para substituir nossas energias convencionais, de acordo com o especialista, são as placas solares fotovoltaicas. “Há aproximadamente duas décadas já se tem no Brasil as placas térmicas de água para chuveiro e outros dispositivos”, agora, porém, os painéis fotovoltaicos, com funções mais complexas, concentram não apenas temperatura, mas um sistema de energia capaz de abastecer completamente uma residência. “Minha casa tem energia térmica para o chuveiro, para a pia da cozinha e lavanderia, mas também tem o sistema elétrico, que fornece energia para todos os equipamentos: ar-condicionado, televisão e geladeira. Aqui em casa o relógio gira ao contrário”, diz sorrindo.

Mais surpreendente que a declaração foi o complemento: “Ainda vendo para a Elektro em torno de metade do que arrecado”. Isto mesmo. Morais ainda vende para a concessionária metade de tudo o que gera de energia. Ele explica que montou o sistema “com a ideia de gerar créditos para abater uma outra conta”. No último verão, por exemplo, a família de Morais começou a utilizar os ares-condicionados em outubro e os aparelhos funcionaram normalmente até final de março.

O engenheiro ressalta ainda que o que se produz através do sistema, “além de ser uma energia limpa, é cem por cento dentro das normas elétricas. Não se vê lâmpadas oscilando; se tiver um no break ele não fica dando picos de tensão” explica.

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Engenheiro elétrico Marcelo Morais junto ao equipamento criado por ele durante a faculdade. Experiência lhe permitiu levar adiante a ideia.

De acordo com o especialista, devido à distância entre as fontes produtoras de energia e as residências, é natural que parte substancial da potência do que é produzido se perca no caminho. “As usinas hidrelétricas estão sempre em locais muito distantes, então para que essa energia chegue até nós, ela tem que passar por diversas etapas, e uma delas é a rede de transmissão. Então, quando nós recebemos a energia das redes de transmissão nós não temos a mesma qualidade no qual ela foi gerada no início do processo”. Ou seja, a energia produzida por meio dos painéis solares é considerada de melhor qualidade, o que acaba promovendo maior desempenho e durabilidade dos eletrodomésticos ligados ao sistema de eletricidade da casa.

Na residência da família Morais há sete anos já é utilizado o sistema off grid, que funciona de forma isolada, acumulando energia por meio de baterias recarregáveis e distribuindo conforme a demanda. Sobre o sistema off grid o engenheiro explica que “tem um painel solar e um sistema entre o painel e a bateria que faz o controle de carga. Durante o dia quando estiver usando a energia, o excedente é armazenado em baterias e a noite pode-se utilizar a carga acumulada”.

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Sistemas on grid e off grid funcionam também de forma integrada.

Há pelo menos dois anos, o engenheiro passou a integrar em sua residência o sistema on grid, que permite a realização dessa distribuição de energia à concessionária. “De dois anos para cá uma resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) permitiu a implantação do sistema on grid no Brasil. Isto é novidade no país”, explica Morais sobre o sistema que possibilita a venda de energia para concessionárias.

Incentivos

O engenheiro critica a falta de incentivos por parte do poder público para quem adere ao sistema. Ele cita países em que o modelo deu certo, como Alemanha e Japão, onde existe grande incentivo dos governos para quem busca converter o sistema de abastecimento de energia. “A matriz energética da Alemanha é fotovoltaica, cada família, cada instituição, cada edificação recebe um sistema fotovoltaico e todos eles entram numa rede. Diferente do Brasil a Alemanha não produz energia hidráulica, então, ou queima combustível fóssil ou trabalha com sistema renovável. Portanto, isto é uma realidade há duas ou três décadas por lá”, detalha Morais.

A Agência de Desenvolvimento Paulista começou este ano um processo que favorece a instalação de sistemas fotovoltaicos a partir de juros mais baixos e um prazo para pagamento maior. “Ainda tem algumas burocracias mas isto já está acontecendo”, afirma o especialista. Além disto, painéis fotovoltaicos são hoje isentos de alguns impostos como IPI e ICMS em todo o país.

E as empresas?

IMG_9807Placas solares fotovoltaicas instaladas no telhado de fábrica de cosméticos em Artur Nogueira.

Ainda em Artur Nogueira, uma importante fábrica de cosméticos aderiu parcialmente ao sistema fotovoltaico e já comemora os resultados logo nos primeiros meses. A conta de energia, que costumava chegar em média R$ 3.200, caiu cerca de 25%. Isto graças a implantação dos painéis solares fotovoltaicos que atendem aproximadamente um terço da fábrica. Os números são tão impressionantes que o gerente da empresa, Rodrigo Pinheiro, já trabalha com a ideia de implementar o sistema em toda a empresa. “Já sentimos uma mudança de aproximadamente 25% e visamos uma boa perspectiva para o futuro, pois com a falta de água, a gente não vai ficar dependendo muito destes sistemas convencionais”, afirma Pinheiro.


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