31/01/2019

Ministério Público investiga bispo responsável por igrejas de Artur Nogueira

Recaem sobre Dom Vilson acusações referentes ao acobertamento de denúncias de abuso sexual contra um padre que ministrava uma das igrejas da qual o religioso dirige

Letícia Leme

O Ministério Público (MP) de São Paulo, determinou à Polícia Civil de Limeira (SP), que iniciasse uma investigação contra o bispo diocesano Dom Vilson Dias de Oliveira, suspeito de extorsão de dinheiro e perseguição a padres que não compactuassem com seus interesses particulares. O sacerdote católico também teria acobertado denúncias de abuso sexual contra um padre que ministrava uma das igrejas da qual ele dirige. Dom Vilson é responsável pelas igrejas católicas de 16 cidades, incluindo Artur Nogueira.

O bispo publicou, neste domingo (27), um decreto afastando, por tempo indeterminado, o padre Pedro Leandro Ricardo de suas funções eclesiásticas. Ele atuava como reitor da Basílica de Santo Antônio de Pádua, em Americana (SP). A ação foi em virtude de um inquérito que tramita contra o pároco, acusado de cometer abuso sexual, durante anos, contra rapazes menores de idade.

Bispo diocesano Dom Vilson Dias de Oliveira

“Diante dos fatos envolvendo o padre Pedro Leandro Ricardo, tendo consultado o Conselho Episcopal, mesmo o padre em questão, tendo pedido afastamento de seu ofício, venho por meio deste decretar: Fica, o padre citado (…) suspenso do uso de ordens “ad cautelam”, por tempo indeterminado, dentro e fora dos limites da diocese, até ulteriores ordens da competente autoridade”, diz a nota publicada no site oficial da diocese.

No entanto, as acusações não recaem somente ao padre suspeito de assédio. A deputada estadual Leci Brandão da Silva (PC do B), recebeu em seu gabinete, em outubro do ano passado (2018), um dossiê com denúncias envolvendo o padre Pedro Leandro e o Dom Vilson. De acordo com o documento, o bispo teria sido complacente ao caso que pesa sobre o pároco. O líder religioso também é acusado de remover padres que não estiverem dispostos a compactuar com seus pedidos de dinheiro para causas próprias, o que implica aos delitos de perseguição, extorsão e enriquecimento ilícito.

Em 2010, assim como consta no documento, um balancete de gastos gerais da diocese levantou questionamentos de padres. Em uma reunião realizada para discutir os valores supostamente abusivos apresentados pelo bispo, a quantia de R$ 360 mil foi a pauta principal, já que a mesma havia sido classificada como “outras despesas”, sem discriminação do que foi realmente gasto. Dom Vilson teria recebido os questionamentos com muita indignação.

Padre Pedro Leandro Ricardo acusado de abusar sexualmente de menores

No dossiê, é mencionado 10 imóveis que estariam no nome do bispo. “Cinco em cidades litorâneas e cinco em sua cidade natal (…) é incompatível com seus rendimentos de clérigo, bem como para com sua condição de religioso”. Os escritos também remetem ao fato do bispo extorquir dinheiro de padres sob a responsabilidade dele, alegando que “é prática comum de Dom Vilson obrigar os padres a dar-lhe dinheiro para fins particulares. Ele também negocia paróquias nesses mesmos moldes de obrigação/extorsão: os padres que são enviados para paróquias ricas em grandes centros têm que contribuir dando dinheiro ao bispo. Quem se nega é designado a paróquias de periferia”.

É  citado no documento o caso de um pároco que teria sido obrigado a dar o valor de R$ 3,5 mil ao bispo. O mesmo teria dito que o dinheiro seria para o corrimão de uma das casas de praia dele. Os relatos indicam que uma vez negado os pedidos abusivos do bispo, os padres eram destinados a lugares contra vontade deles. “Dom Vilson lhe exigiu R$ 15 mil (que geralmente alegava ser para investir em sua casa de praia” (…) o padre negou dar o dinheiro ao bispo. Coincidência ou não, alguns meses depois ele foi enviado em missão à uma comunidade indígena”.

Já em uma carta aberta, protocolada na cúria diocesana na última quarta-feira (16), fiéis insatisfeitos expressam indignação quanto as atitudes do bispo e especulações de desvio de dinheiro que norteiam a igreja. “Diante de tantos escândalos na área da política do país, pelo uso indevido dos bens públicos, esta obscuridade nas contas diocesanas nos levam a um questionamento do uso do dinheiro dos fiéis, que mesmo em tempos de crise no país, não deixam de contribuir fielmente com suas paróquias”, relatam na carta.

Bispo nega qualquer ato ilícito apresentado em denúncias contra ele

A parlamentar do PC do B encaminhou toda a documentação recebida à Procuradoria Geral de Justiça (PGJ), que comanda o Ministério Público em São Paulo. Diante das acusações, por determinação do MP, a Polícia Civil de Limeira (SP) e de Americana (SP), deu início as investigações contra o padre Pedro Leandro e o bispo Dom Vilson. As mesmas seguem sob sigilo judicial. De acordo com o MPSP, somente após relatórios serem encaminhados, com todas as informações coletadas por meio das investigações policiais, é que poderá arquivar as denúncias se houver insuficiência de provas, ou denunciar os suspeitos à Justiça.

Em nota à imprensa, o bispo nega qualquer ato ilícito apresentado em denúncias contra ele. “São apontamentos que não condizem com a verdade e todas as questões já estão sendo esclarecidas ao Ministério Público do Estado de São Paulo”, declara o padre. “Informa, ainda, que não medirá esforços para que todas as verificações sejam conduzidas em relação as referidas denúncias”, comunica a nota.

Em pronunciamento concedido ao Jornal Folha de S. Paulo, o advogado da Diocese de Limeira (SP), Vigílio Ribeiro, alega que as acusações são falsas. Quando questionado sobre os bens de dom Vilson, o advogado se limitou a dizer que estão declarados no Imposto de Renda. “Uma simples matemática”, diz, “mostraria que seu patrimônio é fruto do seu trabalho junto à Igreja”. Bispo há mais de uma década, ele não tem gastos com alimentação e moradia —e já possuía imóveis anteriormente, afirma seu defensor. O mesmo não respondeu se o bispo de fato possui 10 imóveis.

“O bispo de Limeira jamais pactuou ou pactuaria com qualquer ato que confronta as leis que regem a Igreja (…) a igreja possui mais de 110 padres e que, num rol de tantos padres, há descontentamentos, mas uma suposição temerária de um padre que afirma ter sofrido extorsão não merece guarida”, destaca Virgílio em reportagem à folha.

O Portal Nogueirense solicitou um posicionamento da diocese, por meio da assessoria de imprensa,  com relação as atribuições do bispo na instituição, em virtude das investigações que tramitam contra ele. Visto que, após ser aberto um inquérito contra o padre Pedro Leandro, o mesmo foi afastado de suas atividades. A assessoria por sua vez respondeu que “não há nenhum posicionamento de instâncias superiores da Igreja para afastamento de Dom Vilson, até o momento”.

Confira a nota divulgada pela assessoria da diocese disponibilizada à imprensa

“Enquanto as investigações são conduzidas pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, que tramitam em segredo de justiça, Dom Vilson já suspendeu de Ordem o padre Leandro, no dia 27 de janeiro, através do Decreto de Suspensão de Ordens (AD CAUTELAM), estando o referido religioso temporariamente afastado da função de reitor e pároco da Basílica Santo Antônio de Pádua, de Americana, até que todas as denúncias sejam esclarecidas, conforme observância do Código de Direito Canônico. Já existe uma investigação interna na Diocese de Limeira para apuração de qualquer denúncia, seja jurídica ou canônica.

Sobre as acusações que recaem sobre sua pessoa, Dom Vilson diz que são apontamentos que não condizem com a verdade e que todas as questões já estão sendo esclarecidas ao Ministério Público do Estado de São Paulo; Dom Vilson reitera sua posição de colaboração com a Justiça e informa, ainda, que não medirá esforços para que todas as verificações sejam conduzidas em relação as referidas denúncias;

O bispo de Limeira conclama todos os fiéis a se unirem em oração pelo bem da vida e da missão a Igreja que peregrina em Limeira”.

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