17/08/2014

MEMÓRIA: O sonho de Munhoz

Ele foi secretário de Educação do município em 1989 e deixou um grande legado. Conheça a história de José Apparecido Munhoz

Por Isadora Stentzler

Ainda era um senhor de bigodes no inverno de 1986 quando, de mãos dadas com a esposa, caminhou pela Adhemar de Barros. Era a primeira vez que fazia aquilo. Das praças, das ruas, das fontes, do clima, Munhoz tirou percepções que formaram na sua íris uma cidade paraíso.

Este senhor de bigodes se chama José. José Apparecido Munhoz. Mesmo nome da escola que fica no Jardim Conservani. Na verdade, a escola foi batizada assim devido a esse homem.

munhoz

Munhoz nasceu em Rio Claro da união do primeiro José Munhoz com a dona Áurea Rocha Munhoz. Era 12 de dezembro de 1937. Verão. Trinta anos mais tarde – pulando os cordéis da infância dos quais não se tem registro – o Munhoz da escola do Conservani se formou no Magistério e em Pedagogia. Depois fez Serviço Social, em Americana.

Muito ligado à educação e às pessoas, o filho mais novo do educador, Paulo Roberto Munhoz, de 46 anos, também conhecido como Paulinho, relembra o pai. “Ele estava sempre muito preocupado com os outros. Era uma pessoa muito humana, muito brincalhona, muito alegre”, descreve. Das memórias do caçula, fica exaltada a simplicidade do patriarca. “Era uma pessoa totalmente sem preconceitos. Ele tinha acesso à pessoa mais simples e ao político mais influente, sem fazer alguma distinção.” Pela caridade e amor, era Munhoz um Chico Xavier nogueirense, mas sem as visões e os passes.

Ele veio ao município após ser aprovado em um concurso público do Estado de São Paulo. Chegou para ser diretor da escola EEPG José Amaro Rodrigues. “Ele chegou cheio de ideias”, relembra o filho. “E como meu pai sempre gostou muito de eventos, ele queria instituir um dia do folclore no Amaro e me chamou para ajudar, porque eu já tinha feito alguns trabalhos como artista plástico em Rio Claro.” Além disso, Munhoz trouxe à escola o Miss Amaro e excursões com os alunos. Paulinho também frisa que envolver a família nas atividades era uma característica do pai que, sempre que era chamado para algo novo, colocava toda a família para trabalhar.

Toda a galera do Amaro. Essa foto deve ser de 1986, 1987, achoCom alunos da Escola Amaro em partida para uma excursão

De 1986 a 1989, Munhoz foi diretor das escolas EEPG José Amaro Rodrigues, José Marciliano da Costa Junior, em Limeira, e Magdalena Sanseverino Grosso, em Artur. “Eu já ouvi aluno falando: ‘Nossa! Seu Munhoz que era um diretor nota 10! Eu gostava de levar bronca da professora e ir para a direção só pra conversar com ele’”, complementa Paulinho.

Prof. Munhoz e Prof. CanellasProf. Munhoz e Prof. Canellas

É que Munhoz era um homem bom. Feliz. De mangas sempre erguidas. Características que o levaram, em 1989, a se tornar o novo secretário de Educação do município. Cargo para o qual foi convidado pelo então prefeito Ederaldo Rossetti e que ocupou por um ano.

Como secretário, teve 30 grandes conquistas. Vem do Chico Xavier nogueirense, por exemplo, a criação do curso supletivo municipal em Artur Nogueira, Holambra e Engenheiro Coelho; a criação do estatuto do magistério; a distribuição de auxílio transporte para alunos do 2° e 3° graus que estudam fora do município; construção, reforma e/ou implantação de três creches, cinco pré-escolas e quatro EEPG.

Recebendo a diplomação como vereador suplenteRecebendo a diplomação como vereador suplente

Mas ele sonhava mais. Nas andanças pela cidade à noite e naquelas em que via a cor da alvorada refletida nos vidros da avenida principal, imaginava mais por Artur Nogueira. Pensava no que já havia feito e nas futuras projeções. “E se eu fosse prefeito?”, almejava. “Colocaria um bondinho que cortaria o meio da cidade para fazer de Artur uma verdadeira cidade turística.”

Porém, no dia 17 de junho de 1992, despediu-se da cidade paraíso. Morreu. Vítima de um infarto, Munhoz não teve tempo para tentar virar prefeito. Não conseguiu escrever o projeto do bondinho. Nem o da revitalização das praças. Ficou vivo na escola que hoje leva o seu nome e no mantra impetrado na velha agenda que lhe servia de diário e de rascunho. Aquela primeira lição aprendida, para se viver melhor:

“Viva de acordo com as leis da Natureza, e com o espírito voltado para Deus.
Não se deixe abater pelo desânimo!
Se pensa que, fugindo, se sentirá aliviado, engana-se.
Não se vingue dos outros, estarás fazendo mal a si mesmo!
Reaja com todas as suas forças, e não se deixe esmagar pela incompreensão alheia.
Mantenha elevado seu otimismo na vida!
Procure amar a todos e a tudo, mesmo àqueles que o fazem sofrer.
Não alimente inimizades!
Aproveite a oportunidade de estar ao lado de seus adversários, para fazer-lhes bem, em troca do mal que lhe fizeram.
Não perca sua serenidade!
Tenha equilíbrio e alegria.
Não se julgue diminuído quando o ajudarem.
Saiba agradecer. O pior defeito é a ingratidão.
Busque na simplicidade a solução de todos os seus problemas.
Se observar tristeza ou preocupação procure ajudar.
Se não puder agir, fale.
Se não puder falar, ao menos pense firmemente, desejando a felicidade e está atingirá o seu objetivo.
Mas ajude sempre!
A terra é uma escola sagrada.” – José Apparecido Munhoz.


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