05/11/2019

Luiz de Faveri manda recado a Vicensotti sobre Saean

Ex-prefeito foi criador da autarquia que o atual Governo Municipal quer colocar sob concessão

Da redação

Em participação no Portal ao Vivo desta segunda-feira (4), o ex-prefeito de Artur Nogueira, Luiz de Faveri, esteve nos estúdios do Portal Nogueirense falando sobre o trabalho desempenhado há 17 anos pelo Serviço de Água e Esgoto de Artur Nogueira (Saean). Faveri foi quem trouxe o modelo de autarquia do serviço para o município, sendo ele contra a iniciativa de concessão do setor pelo atual Governo Municipal.

Luiz de Faveri foi vice-prefeito de Artur Nogueira de 1996 há 2000, depois como candidato foi eleito prefeito do município de 2000 há 2004. Ele relata que, na época, a cidade sofria com a falta de aparatos para o Serviço de Água e Esgoto, pois as instalações já deterioradas pelo tempo e a pouca mão de obra da Prefeitura para sanar toda a demanda que existia, eram fatores que contribuíam para que esse serviço fosse algo tão complicado de ser administrado.

Como estratégia, Faveri relata que a contratação de uma empresa para terceirizar a distribuição de água, o tratamento de esgoto e toda a manutenção, foi a saída encontrada. Mesmo frente à essa medida, ele pontua que a ação ocorreu em regime de contratação, e não de concessão como o atual governo de Artur Nogueira busca fazer hoje. “No meu mandato assumimos a responsabilidade da Prefeitura e encontramos dificuldade no departamento de Água e Esgoto. Como vice-prefeito que eu era, já enxergava essas dificuldades. Os encanamentos já eram instalados há 60 anos, então criamos a expectativa que resolver o problema de um bem necessário, que é a água de Artur Nogueira. Com a equipe que tinha, não era suficiente para resolver. Então foi feito um contrato com uma empresa (Novacom) – e isso não era concessão – ela iria melhorar o tratamento de esgoto e a distribuição de água do nosso município. Em reunião com os nossos funcionários, com o Jurídico inclusive, eu decidi que só aceitaria que a empresa assumisse, desde que ela assinasse um contrato que, no momento em que eu não estivesse satisfeito com a empresa, poderia dispensar ela. Concordaram com aquilo e só usufruíam do capital daquilo que arrecadavam”, explicou.

No caso da contratação de uma empresa para administrar o Serviço de Água e Esgoto, Faveri observa que é possível haver a quebra de contrato quando necessário, já com a concessão, o Saean deverá permanecer sob a administração de uma empresa por décadas, sem ter a possibilidade da Prefeitura rever a autonomia sobre a autarquia. “A Novacom se ofereceu para fazer o tratamento de esgoto e colocar água em todas as casas. Ela iria arrecadar e investir, mas quando vi que não estava dando certo, eu dispensei a empresa e continuamos com aquela equipe que tínhamos antes. Fiz um contrato para administração, não cumpriu, mandei embora. Agora com a concessão, vamos ter que engolir isso por anos”, relatou.

A adoção de um sistema de autarquia para o Serviço de Água e Esgoto em Artur Nogueira, ou seja, empresa que visa independência financeira, que atua apenas com as próprias atividades e que não necessita da atuação externa, foi integrado ao município por Luiz de Faveri no intuito de alcançar independência e melhorar o serviço prestado na cidade. “Tive a felicidade de encontrar com o Geraldo Mantovani, de Lindoia (SP), que me chamou para ir até lá com meus secretários ver a autarquia que ele tinha criado. Então trouxemos o modelo e o aperfeiçoamos aqui no município. Isso para mim foi uma satisfação. Quando criamos e assumimos o Saean, 40% das casas tinham hidrômetros, 60% não tinha. Na minha época o Saean não existia, estava começando. Se arrecadava R$40 mil e gastava R$70 mil por mês. No segundo ou terceiro mês a gente já informatizou tudo, colocamos hidrômetro em toda a cidade e se começou a gerar lucro”, lembrou.

De março de 2002 para frente, momento de início dos trabalhos exercidos pelo Saean, Luiz de Faveri diz que muitas melhorias puderam ser feitas no quesito de Água e Esgoto da cidade. “Através do Saean nós ampliamos o tratamento de esgoto, iniciamos os 17km de troca de encanamentos, colocamos caixa d´água em todos os pontos altos da cidade, fizemos alguma coisa. Se fez o que foi feito, lutamos e isso vem sendo feito através de todos os prefeitos, mas hoje está se desfazendo. Todo mundo sabe que o Saean dá lucro e que a população contribui, não sei porque tem que precisa terceirizar isso. Será que o prefeito não é competente para arrumar alguém que administre bem o Saean? Qual é o motivo que justifique um vereador votar a favor dessa concessão? Não sou contra a concessão, mas se realmente fosse necessário, só que não estou vendo benefício nisso”, expôs.

Faveri ainda expressa que o processo de concessão do Saean não é o que mais lhe preocupa nesse momento, mas sim, os resultados posteriores que isso poderá trazer para a população nogueirense. “O que me preocupa não é o que está acontecendo hoje, mas o que pode acontecer amanhã. Será que precisa mesmo dessa concessão? A população diz que não precisa, só para o prefeito e para alguns vereadores que sim. Essa empresa que poderá administrar, pode acontecer com ela o que aconteceu na época comigo, só que no meu caso não fiz uma concessão, fiz um contrato. Sou contra a concessão devido à experiência que eu tenho. Isso é muito delicado e a população tem que saber, não está bem esclarecido”, acrescenta.

Para finalizar a entrevista, ao ser questionando sobre o que diria para Ivan Vicensotti (PSB) sobre a intenção de concessão, o ex-prefeito responde que diria para que ele tivesse cautela. “Diria que ele deveria tomar cuidado, repeitar a população e andar pela cidade para ver a realidade. Com problemas, nós buscamos resultados para resolver o problema, agora ele que não está enfrentando os mesmos problemas que enfrentamos na época, quer a concessão. É algo delicado, os preços da conta de água vão subir, os poços de água vão ser lacrados, será que compensa tudo isso? O Saean é a única empresa que dá lucro para o município. Esse prefeito que está aí já emprestou dinheiro mais de uma vez do Saean para os benefícios do município, como o tratamento da Prainha e para estações de tratamento. Não estou criticando isso, foi necessário, mas deixe ao Saean trabalhar, mas não sei para que fazer essa concessão. A população paga para ter uma empresa funcionando”, finaliza.

O projeto de iniciativa popular protocolado junto à Câmara de Vereadores contra a medida de concessão do Saean deverá estar em pauta para votação durante a sessão da Casa Legislativa nesta terça-feira (5). Para que seja aceito, é necessário pelo menos sete votos a favor da medida. Vale ressaltar que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), realizada na última quinta-feira (31), julgou legal a iniciativa.

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