07/03/2019

Integrantes de bloco relatam assédio e agressões durante Carnartur

Uma das vítimas teve um dos braços quebrado e outra recebeu socos durante a confusão; Conforme denúncia, casos não teriam sido acatados pela organização do evento

Diego Faria

Integrantes do bloco carnavalesco As Pilocas, de Artur Nogueira, relatam terem sido assediadas e agredidas durante as festividades do Carnartur. Os casos envolvendo as foliãs ocorreram na segunda-feira (4), quarto dia de Carnaval. De acordo com as denunciantes, as solicitações de ajuda feitas pelas integrantes do bloco à organização do evento foram em vão, pois os acusados continuaram no recinto do evento.

Por receio de sofrerem represarias, as mulheres serão identificadas com pseudônimos nesta matéria. O Portal Nogueirense teve contato com duas das integrantes do bloco As Pilocas, que relataram alguns dos casos de assédio e agressão que sofreram. O primeiro relato explica como tudo teria começado. As garotas desciam a Avenida Dr. Fernando Arens com o bloco e dançavam no local. Foi quando dois rapazes iniciaram uma filmagem delas pelo aparelho celular.

De acordo com a testemunha Renata Silva, os garotos começaram a filmar a parte íntima deles e, em seguida, filmavam elas dançando. Em determinado momento, um deles passou a mão na genitália de uma das garotas. Renata presenciou o fato e então se dirigiu ao acusado para questioná-lo sobre o ocorrido, mas ele disse que tinha o direito de filmar as partes íntimas delas, pois elas estavam lá para serem mesmo “expostas”.

Renata alega que procurou a organização do evento para relatar o problema, mas não foi acatada. “Eles me disseram simplesmente que essas coisas acontecem, que é normal e que era para eu me acalmar. Que nós estávamos fazendo tempestade em copo d’água”, afirmou. A foliã disse ainda que também presenciou cenas de assédio em outros blocos, quando um homem acariciou uma porta-bandeiras, o que resultou em uma briga.

O relato de Renata continua especificando outro momento de tensão ainda maior vivenciado pelas garotas do bloco. “Devido ao ocorrido de assédio, eu tentei impedir que outros homens se aproximassem das garotas do bloco e assediassem elas. Em certo momento, um cara tentou me bater, então uma amiga foi me defender e acabou tendo o braço quebrado na confusão”, finaliza.

A garota que teve o braço quebrado será identificada aqui como Ana Clara Souza. A vítima comenta que ela e as demais garotas sofreram um ato de machismo em um evento onde só queriam se divertir entre amigas. “Estávamos descendo a avenida dançando, quando começaram os assédios. Eu fui tentar separar uma discussão e fui atingida, cai no chão e meu braço começou a doer muito. Na hora eu só queria apaziguar a situação, mas depois fui ao hospital e soube que eu tinha quebrado o braço. Pedimos para a organização e para a polícia retirarem aqueles caras de lá, mas não tiraram e eles continuaram no evento, como se o problema fosse a gente”, pontua.

Outro caso de assédio que resultou em agressão física também foi mencionado no relato de Renata Silva. Uma integrante do As Pilocas foi violentada com socos por um homem que tentou beijá-la. “Um cara tentou beijar minha amiga, como ela disse não, ele então pegou ela pelos cabelos e a jogou no chão, e deu socos nela. Ela teve que ir para o hospital. Ao gritarmos que assédio é crime, alguns homens que estavam pela rua ainda começaram a rir da nossa cara. Entravam no meio do bloco e a gente pedia ajuda, e o pessoal da organização não fazia nada, foi horrível, estávamos ali para se divertir”, finaliza Renata.

Os acusados pelos atos de assédio e pelas agressões não foram detidos ou abordados pela polícia durante o evento. Na noite do último dia da festividade, a organização promoveu um momento de reflexão para tentar coibir o assédio. Apresentou o ocorrido com as representantes do As Pilocas ao público e reafirmou a frase “não é não”. Uma das bandeiras defendidas, por meio de campanha publicitária, no Carnartur 2019 é referente ao “abuso da alegria”.

Nota da prefeitura

“A organização do CARNARTUR 2019 vem por meio desta desmentir as informações citadas pelas representantes do bloco “As Pilocas” em relação a não prestação de socorro por parte da equipe. No mesmo momento em que ficamos sabendo do ocorrido, a direção da organização saiu de imediato para resolver os problemas relatados pelas participantes do bloco, levantando todas as informações possíveis para localizar os suspeitos.

Sobre o Primeiro caso fomos informados que o namorado da vítima havia localizado o celular dos indivíduos, apagado o vídeo e liberado os suspeitos. Mediante as características passadas para a equipe de organização, todas as equipes de segurança foram acionadas e de pronto encontraram os dois rapazes, que foram trazidos para prestar esclarecimentos; quando informado que todos iriam para a delegacia para apresentar boletim de ocorrência, o namorado da vítima alegou que não era necessário, que o mesmo já havia apagado o vídeo e que a alegação de que haviam passado a mão na vítima era mentirosa; mediante a negativa em apresentar queixa formal na delegacia, os dois suspeitos foram expulsos da festa.

Sobre o segundo caso, as informações passadas para a equipe de organização era de que o suspeito era moreno e portava camisa cinza e boné vermelho, de imediato todas as equipes de segurança foram alertadas para localizar o mesmo, porém devido às poucas características apresentadas, ninguém foi localizado. A equipe de organização do CARNARTUR 2019 ressalta ainda que no dia seguinte ao ocorrido, se reuniu com a coordenadora Kiara Sartori e se colocou à disposição para auxiliar as meninas em qualquer situação que fosse necessária.

A Direção do CARNARTUR 2019 lamenta e repudia veementemente qualquer atitude de assédio contra qualquer pessoa e continuará trabalhando intensamente para que esse tipo de situação não ocorra novamente”.

Crime

De acordo com o Artigo 216 do Código Penal Brasileiro – Lei 2848/40 – “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual”, é crime, “podendo resultar em detenção de um a dois anos. A pena é aumentada em até um terço se a vítima for menor de 18 anos”.

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