25/12/2016

“Guardarei com grande carinho os nogueirenses”, despede-se Padre José Antônio

Após dois anos em Artur Nogueira, padre José Antônio será transferido

Alex Bússulo / Daniela Fernandes

Em fevereiro de 2015, o padre José Antônio Alves dos Santos assumiu a Paróquia Santa Rita, no Jardim Planalto. Atualmente com 39 anos, o pároco comemora 5 anos de ordenação e confessa que sempre sonhou em carregar essa responsabilidade. Natural de Diamantina (MG), ele deixará a Paróquia de Santa Rita de Cássia, em Artur Nogueira, e será transferido para Pirassununga (SP). A mudança foi confirmada pela Diocese de Limeira, responsável pelas igrejas católicas de Artur Nogueira.

Em entrevista ao Portal Nogueirense, o simpático padre José conta sobre sua experiência no município, os novos desafios e deixa uma mensagem de Natal aos nogueirenses. Confira:

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Como ficou sabendo que seria transferido para Pirassununga (SP)? Fiquei sabendo há mais ou menos duas semanas. O vigário, padre Robson, veio até a minha casa me dar a notícia. Ele me ligou antes e confesso que fiquei um pouco apreensivo, pois não adiantou o assunto por telefone. Mesmo com alguma indiretas durante a ligação nunca imaginaria que eu iria embora, pois quando cheguei aqui em Artur Nogueira fui notificado que permaneceria no município por no mínimo cinco anos. Ao longo da reunião, o Robson disse que meu nome foi cotado pelo bispo para iniciar um novo trabalho em Pirassununga, a criação de uma paróquia.

Qual foi a sua reação? Na hora fiquei em silêncio. Pensei no possível choque que geraria na comunidade e, também, em mim. Mas acredito que reagi com tranquilidade. Tenho meus projetos em desenvolvimento, mas tenho certeza que meu sucessor dará continuidade, eu rezo por isso, afinal o padre que vem é muito bom. Não imaginava que isso aconteceria, fiquei surpreso e triste. Quando eu cheguei ao município foi um choque, contudo com o tempo acabei ganhando a confiança do povo e eles a minha. Não cheguei a questionar, aceitei o novo desafio, pois em tudo há um propósito de Deus.

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Qual foi a justificativa dada pelo bispo para a sua transferência? Vai ser criada uma quase paróquia – setor independente ainda ligado a paróquia mãe. Ali encontrarei várias comunidades que estão se fortalecendo e se preparando para se tornar uma paróquia.Vou atuar na comunidade de Nossa Senhora Aparecida em Pirassununga que futuramente se tornará paróquia. A justificativa então tem a ver com esse desafio. Segundo eles, meu perfil condiz com a realidade rural do interior. Assim, fui chamado para ser transferido. Criei carinho pelas pessoas de Artur Nogueira e fiquei emocionado ao dar a notícia para a comunidade. Afinal passou um filme na minha cabeça, desde a minha chegada.

Nestes dois anos que o senhor ficou aqui, como avalia os fiéis e a comunidade da Paróquia Santa Rita de Cássia? Um povo muito bom! Um povo que tem fé e que só precisa expressá-la mais; isso eu falo desde que eu cheguei aqui. Os fiéis daqui têm medo de expressar sua fé, eu sinto como mineiro e como padre novo. Quero ver os membros rezarem com garra, principalmente em casa. Eu sou brincalhão e tenho um jeito extrovertido de falar, esse fato causou um certo espanto nos nogueirenses e me causou uma certa tristeza…

Como assim? O povo queria me mudar. Chorei várias vezes por saber que queriam me moldar de um jeito que eu não sou, triste. Sofri demais no início porque eu brincava muito e o povo não gostava dessa minha forma de cativar o ser humano. Mas essas coisas foram superadas. Hoje, creio que os fiéis entendam que nem Deus é uma pessoa truncada e fechada. Mas ainda há pessoas fechadas na cidade, entretanto, tudo é um processo.


“Chorei muito por saber que queriam me moldar”


O senhor já conhece a igreja de Nossa Senhora de Aparecida, em Pirassununga (SP)? Não. Conheço uma comunidade de lá, pois ela fazia parte da minha antiga paróquia, a qual já trabalhei. Não sei como é a igreja e nunca imaginei que eu iria para Pirassununga. Acho até melhor não conhecer, nem mesmo por fotos. Quero conhecer ao vivo a realidade daquela comunidade. Se eu buscar muitas informações vou criar em mim algum tipo de resistência. Quando vim para Artur Nogueira também não procurei dados, vim totalmente desarmado.

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Lá é uma quase-paróquia. Quais desafios espera encontrar por lá? Esses serão enormes. Até porque me depararei, segundo o bispo e seu conselho, com uma realidade fragilizada, que precisa criar uma certa comunhão e uma identidade paroquial. Será um processo demorado, muitas comunidades e muita gente para lidar. Deus vai conduzir tudo, tenho certeza. Vou trabalhar bastante ainda mais estando amparado pela Virgem Mãe.

Quem assumirá a Paróquia de Santa Rita de Cássia será o Padre Lázaro, que retornará para Artur Nogueira após 18 anos. O senhor já conversou com ele após o anúncio dos remanejamentos dos padres? Sim, no dia da nossa última reunião do ano, onde aconteceu os anúncios das transferências. Já conversei e ele está na expectativa assim como eu. Ele está feliz e disse que espera encontrar receptividade do povo para trabalhar junto com os fiéis. O padre Lázaro tem um estilo diferenciado, que não nega suas raízes. O pessoal até comenta que ele gosta de celebrar uma missa afro. Penso que ele está certo. Se ele fugir do que acredita e de suas essências, estará mascarando sua autenticidade.


“Deus vai conduzir tudo, tenho certeza”


Estamos no Natal. Qual a importância desta data para os católicos? Principalmente, creio que seja um momento de encontro. Da confraternização, da alegria e de reavivar tudo. Não é um dia de comilança, mas sim um dia para coroar aquilo que vivemos o ano todo. A cultura inverteu todo esse processo espiritual, com ajuda da mídia e da indústria que interferem o jeito das pessoas pensarem. O povo se deixa moldar e perde o essencial que é ficar com a família.

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No Natal, muitas pessoas festejam e se reúnem com a família. Trocam presentes entre si, bebem e comem a vontade. O que percebemos é que a celebração muitas vezes é a única festa de aniversário em que o aniversariante, no caso Jesus, não está presente. Por que isso acontece? As pessoas levam mais para o lado do emocionalismo e do consumismo exagerado. Só pensam em presentes e esquecem da partilha das ideias e do encontro. Além disso, não lembrar que aquele momento é proporcionado por Jesus Cristo. Deixamos até um cantinho para ele, mas quase ninguém passa para ver como está o presépio. Há quem passe direto e já se dirige para a área de churrasco. Assim, o Cristo deixa de ser o centro.


“Guardarei com grande carinho os nogueirenses”


Qual é a essência do Natal? O amor, o perdão e a alegria. Isso já resumi tudo, pois não tem como viver um Natal se nem conseguimos perdoar um irmão no dia-a-dia ou se não soubermos partilhar no cotidiano. Eu sempre digo, o amor, o perdão, a partilha e a verdade são alguns ingredientes essenciais para essa data especial.

Quando será a sua última missa em Artur Nogueira? No dia 29 de janeiro. Quando o bispo transfere ele deixa claro que no dia 1º de fevereiro todos os padres devem estar em sua paróquia. Como a turma já está sabendo, creio a missa não terá muito choro. Claro que a tristeza sempre fica, mas não gosto de muito choro. Meu trabalho é levar alegria às pessoas também. Fiquei apenas dois anos aqui, contudo criei raízes. Guardarei com grande carinho os nogueirenses e lembrarei desse lugar calmo e gostoso que é Artur Nogueira.


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