12/03/2017

“Falta profissionais especializados em Artur Nogueira” – diz obstetra Marcos Santos

Marcos Santos já chegou a realizar 12 partos em um único dia

Daniela Fernandes / Leonardo Saimon

O nascimento de uma criança é um momento marcante para toda a família. As grávidas de Artur Nogueira contam com o médico obstetra Marcos Santos para realizar os partos, e ele é muito respeitado na cidade pelo trabalho que realiza.

Formado pela Universidade de Montemorelos, no México, o médico de 51 anos trabalha no Hospital Bom Samaritano e conta que já realizou 12 partos em um único dia. Nesta entrevista concedida ao Portal Nogueirense, Santos comenta sobre a realidade da saúde em Artur Nogueira e explica os principais cuidados que as futuras mamães precisam tomar para que tenham uma gestação tranquila e saudável. Confira:

Dr. Marcos 6-1489069109

Quais os principais exames que devem ser feitos durante a gestação? São necessários os exames de rotina. Já temos um protocolo pré-estabelecido pela Organização de Saúde, então é preciso fazer exame de urina, fezes, sangue, HIV, enfim, essa rotina do Ministério da Saúde. Lembrando que todas tem a obrigatoriedade de fazer.

Quais os mais recentes avanços com relação ao Pré-Natal, já que a medicina está em constante evolução? Sempre há novidades na medicina. Esses avanços estão “aí”. Em termos de Pré-Natal, se preconiza prevenção, cada vez melhor, o que é de extrema importância. Por isso, foi diagnosticada? Está grávida? Se sim, então, procure por um médico em uma unidade de saúde mais próxima, imediatamente, para que desde o início a gestante possa ser atendida evitando e sanando qualquer dúvida sobre a gravidez.

Dr. Marcos 4-1489069106

O senhor já chegou a realizar 12 partos em um único dia. Há falta de profissionais especializados na cidade? Sim, há falta de profissionais especializados na cidade, afinal estou sozinho hoje na cidade. Quanto mais profissionais tiverem, até para ter uma rotina melhor de trabalho, seria interessante.

Muitas mulheres entraram em contato com o Portal Nogueirense questionando e lamentando a sua saída do Espaço Mãe e Filho. O senhor sabia desse grande carinho da população para contigo? Eu não sei se é um dom. Dizem que eu sou meio amanteigado, choro à toa. Tenho 23 anos de profissão e já vi muita coisa, boa e ruim. Eu, se estivesse na condição de paciente, gostaria de ser tratado como eu trato as minhas gestantes. Não me imagino chegando em um local e alguém me atender mal, porque isso é horrível. Eu procuro no possível atender à todos muito bem.


“Há falta de profissionais especializados na cidade”


Por que o senhor saiu do posto de atendimento? Minha saída do posto foi difícil. Eu não queria sair de lá, fui pego de surpresa. No posto, eu interagia com as gestantes, além de ser uma forma de detectar algumas coisas que auxiliariam no acompanhamento. Eu estou muito cansado, mas eu não me permito cometer erros por causa do meu cansaço. Ocorrem alguns episódios e eu procuro sempre esclarecer. Há determinadas coisas que não dependem de mim, por isso, foge ao controle, se não ninguém iria morrer no mundo. Se nós médicos fossemos deuses, o mundo seria perfeito e a mortalidade não existia. Enfim, quando acontece algum fato que suscita uma dúvida, eu peço que venham até mim para que eu possa esclarecer. Estou na linha de frente e acabo levando a culpa. Meu trabalho é auxiliar, estou aqui e amo o que eu faço. A maior glória que há é ver um neném nascendo, junto à sua mão… a vida é tudo.

Dr. Marcos 7-1489069324

Há mulheres que preferem ter um parto com o mínimo de intervenção possível. Quem deve de fato decidir entre o parto normal ou não? O Ministério da Saúde preconiza o parto normal. A operação cesariana é uma segunda opção. Opta-se pelo parto normal até o limite que ele não é possível. Não é a gestante que decide, mas sim a evolução do processo de parto que indica qual é o procedimento que deve ser feito. Às vezes, tem-se tudo para realizar um parto normal, no entanto, ao longo da gestação podem acontecer intercorrências, as quais obrigam a mudança para a cesárea. Intercorrências como a posição do feto, pressão alta, idade da paciente como fator influenciador, etc.

Qual sua opinião sobre o parto humanizado? O parto normal é algo de Deus. Não que a cesárea não seja, afinal Deus deu ao homem conhecimento suficiente para que houvesse uma segunda opção. Parto humanizado é um tipo de parto que a paciente deve ser bem acolhida, bem instruída. Ela tem que ter consciência do que é o parto, pois há muitas que chegam leigas no assunto e não querem sentir dor, e se desesperam. Então, deve ser uma coisa conjunta, pacientes com o sistema de saúde, para que se chegue em um bom resultado final. O parto humanizado aumenta o vínculo entre a mãe e seu bebê. Se nasce e tem esse contato direto com a mãe é sinônimo de acolhimento.

A gestante em Artur Nogueira possui condições de tratamento adequadas? Dentro daquilo que se pode proporcionar, as gestantes possuem condições de tratamento adequadas. Não vamos comparar com uma Unicamp, pois ali é outro nível. Acho que o que a Prefeitura tentou fazer é não deixar uma cidade perder sua identidade. Cosmópolis, por exemplo, não possui uma maternidade, ou seja, não há mais nascimento naquela cidade. É importante dizer onde se nasce, é uma identidade. Eu gostaria que todo município tivesse uma maternidade, infelizmente o Estado não viabiliza isso, pois é muito caro. Tem que haver uma equipe muito disciplinada com obstetra, pediatra, anestesista, porém tudo isso tem um custo. Quem irá arcar com os gastos? Prefeitura tem bancado de uma certa forma, mas é muita gente para atender. Chegamos a ter 70 partos por mês, em uma população de cerca de 50 mil habitantes. É alto o índice, pois pacientes de Cosmópolis (SP) e outras cidades estão vindo para cá. O ideal seria cerca de 40 partos por mês para essa população. Estou há dois anos na cidade, já foram mais de 1 mil partos. As pessoas não têm conhecimento disso.

Dr. Marcos 5-1489069108

Depressão pós-parto. Como lidar com essa circunstância? Não é uma situação comum, mas quando a paciente manifesta alguns sintomas, ela deve ser devidamente acompanhada. A depressão é causada por algum tipo de desequilíbrio emocional muito grande, um atendimento com psicólogo e assistente social é importantíssimo para que a mulher encontre seu caminho de volta. Fatores genéticos, externos, e uma série de contextos podem levá-la a doença. Não adianta um acompanhamento preventivo, porque como o nome já diz, a depressão é pós o parto; o ideal, então é o tratamento posterior.

Depois do nascimento do bebê, quais medidas precisam ser tomadas para a saúde da mulher? Será analisado o quadro médico que ela se encontra após o parto, as medidas de aleitamento serão feitas pelo pediatra e, assim, ela seguirá no período de recuperação.


“Chegamos a ter 70 partos por mês. O índice é alto”


O aborto é um tema polêmico. Como o senhor vê esse tipo de escolha? É um tema contraditório, as opiniões são muito pessoais. Eu particularmente respeito a opinião das pessoas. Cada um faz a escolha que acha devida. Eu não faço, não fiz e não vou fazer, mas respeito. Sobre a legalização, penso que se for para evitar mortes maternas, que se chegue em um consenso. Porque a mulher não pode achar que chegando em uma clínica clandestina tudo vai se resolver. Pelo contrário, ela chega ao hospital com o abdome perfurado e outras complicações. Se for para chegar a esse ponto, que se chegue a um consenso logo.

O que o senhor acha que deve melhorar na política pública nessa área de obstetrícia? Maiores investimentos, maior humanização dos profissionais. Por que só se humaniza os pacientes? E os profissionais que cuidam deles, como ficam? O profissional sofre, chora, tem problemas, tem contas para pagar, família para criar…E, às vezes, se demoniza esse profissional como se ele fosse o único culpado de tudo o que acontece. Isso acontece pois ele é – e eu sou – a linha de frente, contudo nem sempre a culpa do sistema ser assim é minha, ou quase nunca. Assim, a valorização dos profissionais, o aperfeiçoamento e o investimento neles reflete no atendimento e acolhimento aos pacientes. Mas, além das políticas públicas, deve haver uma contrapartida da população para entender o que acontece na cidade.

Dr. Marcos 8-1489069326

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