Falta de verbas ameaça fechar Jovem Aprendiz de Artur Nogueira
Associação atende 300 jovens da cidade e não paga funcionários há seis meses
Da redação
A Associação Jovem Aprendiz (AJA) de Artur Nogueira corre o risco de ser fechada por falta de verba. Desde dezembro de 2016, quando foi encerrado um convênio de dois anos com a Petrobrás, a entidade enfrenta problemas financeiros, tendo, inclusive, perdido quase metade do seu corpo de funcionários. Agora, por causa da situação financeira delicada, alunos da AJA cobram da Prefeitura uma promessa de apoio financeiro feita no primeiro mês de gestão da atual administração municipal.
A associação opera em Artur Nogueira desde 2004. Atualmente, cerca de 300 jovens, com idades entre 14 e 23 anos, são atendidos na entidade. Eles recebem cursos de Informática Básica (para jovens de 14 anos) e Administração e Informática (de 15 anos em diante). Cursos de Excel Avançado, Corel Draw e Photoshop também são oferecidos para alguns alunos que já possuem conhecimentos prévios.
A entidade também trabalha com capacitação dos jovens para mercado de trabalho, realiza acompanhamento familiar e escolar, e, quando a empresa solicita um aprendiz, é feito um encaminhamento baseado no perfil requisitado pela empresa. Hoje, há 33 jovens empregados em oito empresas do município que são parceiras da AJA.
Contudo, a associação está à beira de encerrar as atividades. Sem psicóloga, sem pedagoga, sem faxineira e com uma assistente social que só pode ir algumas vezes por semana, a AJA tem mantido, com muita dificuldade, apenas a coordenadora e dois professores. Até o café da manhã e a janta, que sempre são oferecidos pela entidade aos 300 beneficiados, têm sido afetados pela falta de recursos.
Fim de convênio
As dificuldades financeiras tiveram início em dezembro de 2016. Naquele mês, um convênio de dois anos da AJA com o Programa Jovem Aprendiz, da Petrobrás, foi encerrado. Devido a diversos fatores, a estatal não incluiu Artur Nogueira no rol de cidades beneficiadas pela iniciativa. Como consequência, a AJA perdeu metade de seu financiamento. A outra metade, segundo a coordenação da entidade, vem por meio de uma subvenção da Prefeitura de Artur Nogueira.
“Não dá para seguir só com isso”, afirma Karina Ytoga, coordenadora da AJA. Segundo ela, a Prefeitura paga o aluguel da sede da associação e dá o valor de cinco salários mínimos mensalmente para ajudar a entidade. “Esse valor paga dois professores, [contas de] água, energia, internet, telefone e alimentação”, explica.
Karina conta que, quando havia o convênio, a Petrobrás custeava todos os profissionais e as despesas dos jovens que eram participantes do programa da empresa. Sem o convênio, não há pagamento de funcionários. Sem pagamento, os profissionais não trabalham – como já citado acima. E sem profissionais, a entidade pode ficar irregular, pois precisa de todos eles para ter amparo legal e continuar funcionando. Por isso, a AJA corre grande risco de fechar as portas em breve.
Quem mais perde com isso são os alunos, como Jair Santana, de 18 anos. “Aqui os alunos têm uma oportunidade de se preparar para o mercado de trabalho em um lugar com estrutura muito boa e ótimos profissionais. Seria muito triste se isso acabasse”, destaca o aluno, que está em fase de processo seletivo para admissão em uma empresa da cidade.
Quem também lamenta a situação pela qual a associação passa é Ana Júlia Campos, de 16 anos. A adolescente está há três na AJA e expressa sua opinião sobre a associação. “É a única instituição que prepara a gente para o mercado de trabalho”, afirma. “Tudo o que tenho de preparo para a carreira adquiri aqui”, conta a estudante de Informática e Administração. “Aqui a gente vê os resultados do trabalho, não é algo que fica só na teoria”, garante.
Promessa
Alguns estudantes da AJA se manifestaram recentemente nas redes sociais, cobrando do prefeito Ivan Vicensotti (PSDB) o cumprimento de uma promessa de apoio financeiro feita à entidade em janeiro de 2017. Segundo uma das postagens, publicada nessa segunda-feira (22), o chefe do Executivo municipal não deu nenhuma resposta quanto à demora no envio de ajuda à entidade. “Senhor prefeito, onde ficam nossos valores? Onde está a tal ajuda que a Prefeitura iria nos dar?”, indaga a publicação.
Karina corrobora a afirmação dos alunos e conta que Vicensotti (PSDB) foi à AJA em janeiro deste ano. “Ele disse que a associação não ia fechar e prometeu aos alunos que poderiam contar com ele, que a Prefeitura estava de portas abertas para recebê-los”, relembra. “Estamos esperando uma posição desde então”, afirma.
A Prefeitura mandou alguns alimentos e produtos de limpeza em abril para a entidade. Os itens, porém, foram suficientes para apenas dois dias, de acordo com a coordenação. Karina relata que teve uma reunião com o assessor do prefeito e que recebeu deste a promessa de ter uma resposta concreta até a última sexta-feira (19). Cinco dias depois, o retorno ainda é aguardado.
Prefeitura
Nessa terça-feira (23), a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Artur Nogueira enviou uma nota à Imprensa, respondendo às cobranças feitas por alunos da AJA nas redes sociais. De acordo com o órgão, as entidades do terceiro setor “são agregações privadas de utilidade pública que são mantidas, normalmente, por meio de doações de empresas e particulares”.
A Prefeitura salienta que a AJA “recebia subvenção da Petrobrás até dezembro do ano passado”, mas que o recurso foi cortado. Contudo, de acordo com a nota, “outras empresas teriam continuado o repasse”.
“Somente na AJA, a Prefeitura de Artur Nogueira repassa anualmente R$ 91.427,88. Além da quantia repassada, também foi disponibilizado alimentação para os alunos, aguardando apenas os detalhes do pedido da instituição, conforme acordo realizado anteriormente”, continua a nota.
A Prefeitura ainda afirma que, conforme o novo Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil, “é também de responsabilidade da diretoria da instituição buscar recursos junto a empresas que se disponham a contribuir com os custos necessários”.
“Salientamos a importância desta e de outras instituições da cidade e lembramos que a Prefeitura se colocou à disposição desde janeiro, durante visita às instalações do AJA e, na medida possível juridicamente, estamos contribuindo com a instituição com recursos públicos”, ameniza a publicação.
AJA responde
Ao ler a nota da Prefeitura, Karina reafirmou que não recebia nenhuma subvenção da Petrobrás, mas que a verba depositada pela estatal era parte do convênio com o Programa Jovem Aprendiz. “Eles [Prefeitura] falam que não entramos em contato. Em nenhum momento fomos orientados que é na Secretaria de Educação que devemos buscar alimentos. Ontem (dia 22) que a Elaine [Vicensotti Boer, secretária de Educação] me ligou para falar isso”, conta a coordenadora da associação. Ela também nega que a Associação tenha recebido qualquer verba de outra empresa, como afirma a nota.
Karina lamenta a situação. “Mas nós estamos atendendo jovens do município. Então quem tem que se responsabilizar por eles?”, indaga. Segundo ela, há má distribuição de renda para as entidades sociais de Artur Nogueira. Uma revisão nesses repasses poderia solucionar os problemas da AJA.
Dividido por 12, o montante que a Prefeitura afirma destinar anualmente à associação equivale a R$ 7.618,99 – aluguel e cinco salários mínimos. No entanto, segundo Karina, o valor necessário para que a AJA opere plenamente é de 20 salários mínimos – R$ 20.740 por mês. “Se a verba não vier, teremos que fechar a unidade”, finaliza.
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