05/10/2013

Zezé Rodrigues fala sobre criação e treinamento de cavalos

Ele é proprietário de um Centro de Treinamento de cavalos em Artur Nogueira. Já treinou animais de artistas famosos e foi o primeiro brasileiro a ganhar uma competição de cavalos árabes nos Estados Unidos

Zezé“O cavalo que compete é igual a um atleta. Ele precisa estar em forma e treinar todos os dias” (Zezé Rodrigues)

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Texto: Alex Bússulo / Produção: Rafaela Martins / Fotos: Gregory Pereira

No próximo final de semana, Artur Nogueira sediará a 8ª edição da Expo Árabe e a 6ª etapa da Copa Brasil de Criadores, uma exposição com competição de cavalos árabes, que acontecerá no Balneário Municipal Guilherme Carlini. O evento será realizado nos dias 11, 12 e 13 de outubro, com entrada franca.

Quem está à frente desta iniciativa é o treinador e criador de cavalos José Alcides Rodrigues, o conhecido Zezé Rodrigues. Ele mora no município ‘Berço da Amizade’ há 13 anos e é proprietário de um Centro de Treinamento de cavalos localizado no bairro Muniz, em Artur Nogueira.

Na entrevista desta semana nossa equipe foi até o haras conhecer um pouco mais da história de vida deste nogueirense, as competições internacionais das quais ele já participou e sobre o evento que acontece daqui há alguns dias.

Engana-se quem pensa que Zezé Rodrigues está neste meio a pouco tempo. Ele nasceu em Dourado/SP e aprendeu à montar com apenas cinco anos de idade. “Meu pai era fazendeiro, sempre lidou com cavalos. Quando era criança vivia no meio dos cavalos. Quando fiquei mais velho transformei a paixão em profissão, que levo até os dias de hoje”, afirma Zezé.

O treinador conta que se mudou para Jaú, na Fazenda Morro Vermelho, onde havia criação de cavalos árabes. “Depois desta fase me mudei para Jaguariúna, onde trabalhei como gerente e treinador no Haras Capim Fino. No ano de 2000, devido ao fraco movimento da empresa, eu saí a procura de uma nova área. Procurava um lugar, um haras, que oferecesse para mim tudo aquilo que eu estava precisando. Esse haras já existia e, através de amigos, fiquei sabendo sobre a existência dele. Quando eu tive acesso ao local, o haras estava desativado e então, ao comprar, comecei a colocar em prática o Centro de Treinamento”, relembra.

A propriedade rural no Muniz possui 12 alqueires. “Aqui, nós temos as cocheiras, que ao todo são 48, uma arena, um redondel (espaço para treinamento), um caminhador (local onde os cavalos andam), e cerca de 55 animais. Deste número, 33 cavalos são de clientes que trazem seus animais para serem treinados. O restante dos animais são para procriação”, afirma Zezé.

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O nogueirense conta que treina hoje cavalos de clientes que valem de 10 mil a 100 mil dólares. “Por meu trabalho ser muito conhecido no meio, muitas pessoas entram em contato comigo para que eu treine os cavalos delas. Já cuidei de muitos animais, inclusive de pessoas famosas, tais como dos cantores Fábio Júnior e Maurício Matar”, afirma.

Segundo Zezé, o que determina o valor de um cavalo é a qualidade. “Assim como outros animais, como o cachorro por exemplo, o cavalo tem que ter um padrão, que deve se aproximar da perfeição da raça. Eu tive contato com a raça árabe no ano de 1975. É do cavalo árabe que sai todas as outras raças. Ele é o fundador das raças”, conta o treinador.

Zezé Rodrigues foi o primeiro brasileiro a ganhar uma competição de cavalos árabes nos Estados Unidos. “Foi em 1991. Eu era gerente do Haras Capim Fino, em Jaguariúna. O cavalo que levamos para os Estados Unidos já tinha ganhado tudo aqui no Brasil. A ideia surgiu através de um amigo que sugeriu levar o cavalo para competir no exterior. Aceitando a ideia, colocamos o animal no avião, em Viracopos, e fomos para o Arizona. A competição fazia parte de uma exposição com mais de quatro mil cavalos. Competindo na categoria do meu cavalo tinha 220 animais. Nós participamos de três provas. A primeira eu ganhei unânime, a segunda também, e a terceira eu fui reservado campeão, em segundo lugar. No final conquistamos a vitória”, relembra o treinador, que até hoje participa de competições no exterior, marcando presença em países como Argentina, Uruguai, Chile, entre outros.

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Muito antes de ter o Centro de Treinamento aqui em Artur Nogueira, Zezé Rodrigues tinha uma Tropa de Rodeio, que viajava o país promovendo competições. “Trabalhei com a tropa de 1990 a 2005. Cheguei a ter 200 cavalos de rodeio. Com estes animais eu participava de festas pelo Brasil inteiro. Durante cinco anos eu fui eleito o melhor tropeiro de Barretos. Em 2005 eu vendi a tropa e resolvi parar com essa atividade. Parei porque o rodeio estava dando uma caída, principalmente no meu ramo, o rodeio cutiano. A partir daí eu investi apenas na parte de treinamento de cavalos”, conta.

Embora a maioria dos animais treinados por Zezé seja da raça árabe ele afirma que pode treinar qualquer cavalo. “Eu pego um cavalo xucro e treino o animal. Para domar e deixá-lo bom, o processo pode levar até seis meses. Um cavalo domado, se resume em um animal que você pode montar, passear, usar na cavalaria. Já os valores para a doma varia de local para local. Hoje, nós cobramos uma faixa de 35 reais por dia. Posso dizer que o nosso Centro de Treinamento funciona como se fosse um spa para o cavalo. Aqui ele recebe todos os cuidados, incluindo tratamento com veterinário. Nossos animais tem como alimentação as rações granuladas, feitas especialmente para o cavalo, além de feno, alfafa e aveia. O cavalo que compete é igual a um atleta. Ele precisa estar em forma e treinar todos os dias”, afirma Zezé.

O treinador conta que o cavalo aprende por reflexo condicional. “Ou seja, tudo que você ensina para ele, de forma repetitiva, vai ficar gravado. Aqui, no haras, o animal passa por uma rotina. Ele treina por cerca de uma hora e toma banho todos os dias. Um cavalo vive em média 30 anos. Em Centros de Treinamento, quando é bem tratado, pode chegar aos 35 anos”, afirma.

Zezé

Como especialista em cavalos, Zezé afirma que os animais que vão para rodeios, exposições e competições não sofrem maus tratos. “Eu vejo que há um certo exagero das pessoas que não entendem o que se passa em um rodeio. Inclusive já estive em debates mostrando e provando que não há esse mau trato. Os cavalos de rodeio, por exemplo, são castrados, e a maioria são éguas. Outra coisa, o touro também não tem seus testículos apertados, porque o sedém é colocado na frente dos testículos. O mecanismo só serve para estimular o animal, fazer uma cócega. As pessoas deveriam se informar e entender quais são as partes sensíveis do cavalo, sendo elas a virilha e a palheta. Esses são os locais onde o sedém e a espora são usados. Sendo assim a pessoa vai estimulando o animal, que naturalmente já tem uma índole de pular, e então ele passa a pular mais”, comenta.

O treinador também explica sobre as esporas. “Eu ainda utilizo a espora, mas ela não machuca, não tem ponta afiada, como muitos pensam. Este material não corta e nem fere o animal. Hoje, quem fala que os animais sobrem maus tratos são pessoas que não tem conhecimento sobre o assunto. Uma coisa que as pessoas tem que ver é que nós, seres humanos, não conseguimos fazer nada com dor. É a mesma coisa com o cavalo. O animal tem que estar feliz, porque se ele não estiver bem, ele não vai fazer nada corretamente. Como já disse, um cavalo que participa das competições chega a valer 100 mil dólares e viver mais do que outro, que vive fora do Centro de Treinamento. Judiar e machucar um animal seria loucura”, afirma Zezé.

Agora, o treinador está se preparando para realizar a Expo Árabe em Artur Nogueira. “Essa é a penúltima exposição de cavalo árabe do ano, em circuito nacional. Para participar da final do campeonato nacional, os animais tem que ter pontos suficientes para competir. Por ser a penúltima do ano, os cavalos que vem de fora ou estão a pouco na competição, precisam ser pontuados. Essa vai ser a oportunidade deles para chegarem ao campeonato nacional. Aqui, no Brasil, nós temos vários centros de treinamentos, não apenas o meu. Então, os outros haras vão trazer os seus cavalos para competir aqui, em Artur Nogueira. Na exposição o público vai ver os cavalos na pista, andando de um lado para o outro, além de ver três juízes julgando esses cavalos. Depois desta fase, os juízes vão classificar em 1º, 2º, 3º e assim por diante”, explica Zezé.

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A exposição acontecerá em três dias. Na sexta-feira (11) acontecerá a Copa de Criadores, uma modalidade de, apenas, cavalos nacionais e performance. No sábado (12) acontecerá o julgamento dos animais de circuito nacional. No domingo (13) é o dia em que acontece a prova dos tambores. “Montaremos uma arena no Balneário e cada cavalo estará em uma cocheira. O público poderá ficar à vontade no espaço, já que a entrada é franca. Eu acredito que, em média, vão participar cerca de 80 cavalos árabes. O prêmio total da prova dos tambores será de 10 mil reais”, afirma Zezé.

O evento também contará com a presença de várias entidades nogueirenses, que foram convidadas a participar da exposição montando barracas de alimentação e bebidas. Como o próprio Zezé já disse, o evento terá entrada franca e é destinado a toda a família. “Quero agradecer a todos aqueles que apoiam o nosso evento, como a Prefeitura Municipal de Artur Nogueira, o pessoal do Sicredi, os amigos da Agro Center Agropecuária, as entidades que vão participar e a todos os competidores e nogueirenses que passarão por lá. Muito obrigado”, conclui Zezé.

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ZezéCaricatura: Tomás de Aquino

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