11/01/2014

ENTREVISTA: Ronaldo Berni relembra bandas e histórias da Loja da Música

Empresário e músico nogueirense relembra passagens em bandas e fala da Loja da Música, que hoje é referência na região com clientes famosos

ronaldo “Alguns instrumentos musicais são verdadeiras obras de arte” (Ronaldo Berni)

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Alex Bússulo

Em 1999, o nogueirense Ronaldo Berni abriu uma pequena loja de venda de CDs no centro de Artur Nogueira. Depois de alguns anos, a Loja da Música se tornou uma das mais tradicionais em venda de instrumentos da região.

Em 15 anos, ela já atendeu milhares de clientes, incluindo artistas famosos como Edson & Hudson, o grupo Falamansa, o cantor Mazinho Quevedo, entre outros.

Antes de atuar como empresário, Berni tocou nas bandas Califórnia e Aphocalipsy. Hoje, ele concilia a loja com a Radio Machine, uma banda que vem ganhando destaque na região.

Na entrevista desta semana, o empresário e músico recorda o surgimento e desafios da Loja da Música, fala sobre o mercado musical e sobre os clientes ilustres. Confira.

Como você descobriu a paixão pela música? Difícil achar alguém que não goste de música. Eu desde pequeno cantarolava as músicas do Roberto Carlos. Mas foi vendo o pessoal que tocava no antigo Tabatem (onde hoje é a Cybelar), principalmente a banda Phormasson, que me motivou a aprender a tocar um instrumento. Também aconteciam grandes bailes no Clube Floresta, e como eu morava praticamente na frente, quando chegava os ônibus das bandas, eu e meu amigo Rodrigo Carlstron corríamos lá pra ver (risos). Em 1987, de tanto “infernizar” meus pais, eles compraram uma bateria, aí foi o ponto de partida. Inclusive essa bateria me ajudou em um momento muito difícil, tive síndrome do pânico e depressão aos 13/14 anos, tive até de parar os estudos antes de terminar a 8ª série. Foi muito difícil, não conseguia nem sair de casa. Era a única coisa que me animava: tocar. Até montei uma banda com o João Carlos Fernandes, Marcello Gallo, Paulo Faveri, Leandro Capatto e o Rodrigo Carlstron. Tocamos em uma despedida de solteiro, no bar do Zé Pordotti e também no Tabatem, eu fiquei tão nervoso que quase não consegui ir (risos). Depois conheci uma pessoa incrível que me influenciou demais, que foi o Carlos Antônio “Kal”, que vive desde 1988 em Portugal. O Kal tocava guitarra e cantava, tinha composições boas. Eu e ele montamos um duo somente com MPB e composições dele. Acho que nunca tocamos, só ensaiamos. Que fase incrível, a gente só pensava em música, em ser artista. Aquele tempo era na raça, tínhamos apenas os livrinhos de músicas que eram vendidos nas bancas de jornal para aprender as letras, nem afinar o instrumento direito sabíamos. Outra coisa que me fez pirar, foi quando meu primo, Magrão “o Original”, me deu de presente um vinil do Pink Floyd, “pirei” no som dessa banda e decidi que ia ser músico mesmo (risos).

Ronaldo

Quais bandas você já participou? Depois de inúmeras bandinhas de garagem, eu fui convidado a tocar bateria com a dupla Gil & Gerson, que era meio que um cover do Chitãozinho & Chororó e se apresentava na região. De repente, o guitarrista saiu e eu estava aprendendo a tocar guitarra. Foi quando mudei de instrumento e virei guitarrista. Algum tempo depois o João da JAP e o Carlinhos Delgado, da Banda Califórnia, me chamaram para ser o guitarrista da banda. Aí a coisa mudou! Fazíamos muitos bailes, festas de peão, viajamos muito, morávamos no ônibus metade da semana. Mas, ainda tinha um sonho de tocar na Banda Aphocalipsy, que realizei em 1994, toquei nas grandes festas de peão, inclusive em Cajamar, para mais de 30 mil pessoas. Acabei retornando à Banda Califórnia, onde fiquei até 1999.

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Como surgiu a ideia de criar a Loja da Música? Foi o meu cunhado, o Gilson Duzzi, que teve a ideia. Um dia ele me disse que eu deveria montar a loja, porque o pessoal vinha comprar meus instrumentos e eu sempre tinha de ir a São Paulo buscar outros. Fizemos um teste na Casa de Móveis Popular para ver se existia algum mercado para instrumentos musicais na cidade. Nessa época eu era sócio com o Adriano Sia da Galleria Vídeo, e tinha também uma pequena lojinha que tinha montado junto com minha mãe, que vendia CDs na avenida Dr. Fernando Arens. E como as vendas na loja de CDs estavam em decadência, decidi também vender minha parte da locadora para meu sócio e com o dinheiro comprei os instrumentos para a nova loja.

loja da musica

Quem teve a ideia de colocar essa guitarra gigante na fachada da loja? Em 2005, o Biju Correa acabou entrando no negócio comigo e essa ideia foi dele. Foi um sucesso, virou meio que ponto turístico da cidade (risos). Apesar do tamanho, ela é muito leve, pesa menos de 90 quilos, mas deu um trabalho enorme para instalá-la. Em 2008, devido a outros projetos, o Biju acabou saindo do negócio, foi uma ótima parceria.

loja da musicaloja da musica

Como surgiu a banda Radio Machine? Essa banda é uma realização pessoal, que nasceu graças a amizade minha e com o Renato Carlini, dois roqueiros desde criança. Montamos em 2012, logo que o Renato começou a aprender a tocar contrabaixo. Para esse cara, eu tiro o chapéu, em poucos anos de estudo virou um dos melhores baixistas que conheço, o cara é determinado. Sempre tive vontade de tocar o tipo de música que gosto, mas sempre foi muito difícil, devido ao mercado para música boa que é bem restrito. Falo música boa porque a música que vende hoje em dia é a que tem sacanagem nas letras e arranjos musicais repetitivos e até medíocres. O povo, devido os meios de comunicação que propagam esse modelo, perdeu a referência musical. Com a Radio Machine conseguimos montar um “time” de primeira, grandes músicos e um repertório baseado no rock dos anos 60, 70 e 80 e estamos divulgando o bom e velho rock n roll! Muitas pessoas nos agradecem depois dos shows! Elas dizem: “Não acredito que tocaram aquela música, nem me lembrava mais dela” Tocamos Beatles, Rolling Stones, Roy Orbinson, Elvis, Pink Floyd, Eagles, Dire Straits, entre muitas outras. Para 2014, estamos preparando uma seleção de rock nacional para o repertório. Apesar das dificuldades, altos custos de ensaios e equipamentos, além de uma logística complicada. Pois temos integrantes de Mogi Guaçu, Paulínia, Conchal e Cosmópolis.

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A Loja da Música também comercializa instrumentos através da internet. Você acredita que o mercado online poderá um dia acabar com a loja física? Acredito que não, porque geralmente as pessoas gostam de testar ou ver o produto antes da compra. Trabalhamos com vendas pela internet desde 2005 e é um mercado que cresce a cada ano, inclusive a concorrência é bem mais acirrada. Temos um site que tem 30 mil visitas por mês, e muitas pessoas consultam nossa página, mas acabam vindo pessoalmente fazer a compra.

Como empresário, você já deve ter passado por dificuldades. Quais foram os principais desafios que a Loja da Música passou? Nos primeiros anos é sempre mais difícil, acabei comprando demais, fazendo empréstimos, pagando juros altos, tudo por falta de experiência. Montei também uma filial em Barão Geraldo, que não foi bem, e acabei fechando em pouco tempo. Nunca pensei em fechar a Loja da Musica, mas foi uma luta incrível manter a loja aberta nos primeiros anos. Quem está no comércio sabe que é difícil manter um negócio, ainda mais no meu ramo. Como se trata de produtos “supérfluos”, quando chega uma crise, as vendas caem muito. Hoje, graças a Deus, nossa loja é referência na região, temos a confiança de nossos fornecedores, uma carteira grande de clientes, que é nosso maior patrimônio.

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Falando em clientes, a Loja da Música possui uma clientela que inclui cantores famosos, como a dupla Edson & Hudson, o grupo Falamansa, o cantor Mazinho Quevedo, entre outros. Como conquistou estes clientes? Edson e Hudson vieram visitar a loja antes da fama. Eu os conhecia desde os tempos em que eu tocava na Banda Aphocalypse. Pessoas simples e que mantivemos uma amizade nesses anos. Eles ajudaram a divulgar a Loja da Música no Brasil inteiro. O Hudson, inclusive, é um grande guitarrista, um dos melhores que conheço e adquiriu a maioria de seus instrumentos aqui. O Grupo Falamansa usa a correia com o nome da Loja até hoje! Mazinho Quevedo se tornou um grande amigo, sempre vem nos visitar, e com certeza é um dos grandes violeiros do país. A dupla Zé Henrique e Gabriel também é nossa cliente, o violeiro Joãozinho, do programa Viola Minha Viola, também usa nossa marca na correia. Muita gente famosa já passou aqui, Zé Rico, Liu e Léu, Roger Franco (guitarrista gospel), Faiska (um dos melhores guitarristas do Brasil), Eduardo Ardanuy, enfim… Mas, a gente trata todo mundo igual, tem muitas pessoas não famosas que nos visitam, mas que são grandes artistas, fiz muitos amigos. Posso dizer que acordo todos os dias e venho me divertir aqui na loja, nem parece um trabalho!

Você possui algum instrumento raro? Tenho uma Fender Modelo Eric Clapton feita à mão na custom shop da marca, inclusive é a mesma que o Clapton usa nos shows, é minha favorita! Consegui há algum tempo uma telecaster 1978, modelo que o Keith Richards usa, muito rara, talvez não exista mais que 5 originais no Brasil. A última que adquiri foi uma Grestch, mesmo modelo que o George Harrisson usou nos Beatles. Tenho muita coisa antiga e rara, que fui garimpando nesses anos de música, daria pra fazer um museu!

Ronaldo

Qual é o instrumento mais caro que você possui? Já comercializamos vários instrumentos que custavam o preço de um carro 0 km. Esses dias mesmos chegou uma Guitarra Gibson Les Paul Custom Shop 1959, que é a guitarra mais famosa e valiosa da história, que durou menos de uma semana na loja. O valor é devido a raridade e história do instrumento, materiais de primeira, acabamento. Alguns instrumentos musicais são verdadeiras obras de arte.

Hoje é possível comprar um violão por R$ 150. Como competir com este mercado? Não competimos com esse mercado, nossa política desde o começo da loja era fugir desse tipo de produto. O instrumento precisa ter um mínimo de qualidade e afinação para que a pessoa consiga aprender corretamente. Escolhemos a dedo as marcas que trabalhamos, desde o modelo mais em conta, queremos oferecer qualidade para nossos cliente.


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