13/06/2015

ENTREVISTA: Rodolpho Lavoura Neto

Professor de Judô fala do maior projeto esportivo já realizado em Artur Nogueira e a participação de 17 nogueirenses no Campeonato da Argentina

capa2“A maior importância do projeto é o legado de valores sociais implícito no esporte” (Rodolpho Lavoura Neto)

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Alex Bússulo

O Judô em Artur Nogueira é um sucesso – e isso ninguém contesta. Um esporte que integra pais e alunos e que tem rendido ótimos frutos. O Projeto Judô Esporte Social foi criado em 2011 e desde então vem colecionando grandes conquistas.

Na próxima semana, 17 judocas – frutos do projeto – viajam para a Argentina, onde participarão do 25º Torneio Tierra Del Sol, uma importante competição que reunirá os melhores atletas da América do Sul.

A frente do projeto está Rodolpho da Silva Lavoura Neto, um limeirense que descobriu cedo a paixão pelo Judô. É graças a ele que o projeto nasceu e existe até hoje. Rodolpho graduou-se em Faixa Preta pela Confederação Brasileira de Judô e em Licenciatura Plena em Ed. Física pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Em 2010, ele passou no concurso público para Professor de Ed. Física na Prefeitura de Artur Nogueira e começou a desenvolver o Projeto Judô Esporte Social, que ensina a prática do esporte gratuitamente para crianças, jovens e adultos do município.

Na entrevista desta semana, Rodolpho fala sobre os frutos colhidos e a participação no campeonato na Argentina. Confira:

Quando iniciou o projeto em Artur Nogueira imaginou que ele atingiria o sucesso que está hoje? Sim e não (risos). O projeto foi criado para atender um grande público. O sucesso em número de participantes foi devidamente planejado e, por isso, esperado. O sucesso que não esperávamos é referente aos ótimos resultados competitivos que acumulamos. Não esperávamos porque o Judô foi implantando por sua raiz educacional. Com isso, a conquista de títulos e medalhas não fazia parte de nosso planejamento. Pelo menos não tão cedo assim. Podemos resumir a receita de todos nossos resultados positivos, competitivos e não competitivos, em duas palavras: envolvimento e continuidade. O envolvimento dos pilares família, Prefeitura e alunos, associado a continuidade possibilitada pela Prefeitura Municipal e Secretaria de Esportes, fez com que conseguíssemos começar a colher os frutos das sementes plantadas.

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Quantas pessoas já passaram pelo projeto? Temos em nosso banco de dados mais de mil alunos cadastrados. Efetivos, ou seja, alunos com frequência regular são 410. Isso dividido em três núcleos: Central, Caic e Blumenau. Nosso maior público pertence à faixa etária de seis a 16 anos. Mas temos alunos de dois a 40 anos. Nossa equipe de competição é formada por 50 alunos, com idade de oito a 35 anos. Destes, dez alunos estão sempre entre os três melhores de sua categoria, em campeonatos e festivais no Estado de São Paulo. Um deles, o faixa roxa Heitor da Silva Prado, devido a seu desempenho e resultados passou a fazer parte da forte equipe Marcos Mercadante, da cidade de Araras.

Qual a importância deste projeto para o município? Acreditamos que a maior importância do projeto é o legado de valores sociais implícito no esporte. Claro que títulos e medalhas também são importantes, principalmente no que se diz respeito à representatividade do município no cenário esportivo nacional. Contudo, a cada cem alunos que participam do projeto, cerca de dois ou três apenas se tornarão atletas de ponta ou profissional. Essa estatística seria frustrante, não fosse à certeza de que os demais alunos utilizarão dos aprendizados do Judô para se tornarem cidadãos de bem, com valores sociais como cooperação, responsabilidade, respeito, autonomia e disciplina bem desenvolvidos.

Quais frutos o projeto já colheu? Para poder responder essa pergunta, temos que analisar o projeto em três diferentes esferas: Educacional, Social e de Lazer. O fruto que gera maior repercussão e direciona maior destaque na mídia são as medalhas e títulos. Em 2014 conquistamos 14 medalhas nas finais do Campeonato Paulista da Federação Paulista de Judô. Também conseguimos 16 medalhas em Campeonatos Internacionais (quatro na Argentina e 12 em Presidente Prudente). Em campeonatos regionais e inter-regionais foram centenas. Em 2015 já temos a atleta Lauren Millk classificada para a final Paulista, no final desse mês. Os demais atletas buscarão suas vagas já no início do 2º semestre. Contudo, o fruto mais importante e que ocorre quase que diariamente, são relatos de alunos que apresentavam algum déficit de desenvolvimento motor, cognitivo ou social, que apresentaram grande evolução após ingressarem no Judô. Ainda não conseguimos implantar métodos para mensurar, qualificar e quantificar esses relatos. Mais se trata de um dos nossos objetivos futuros.

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Qual história mais te marcou? Em quatro anos e com tantas histórias acumuladas é impossível escolher apenas uma. Ver uma criança de nove anos despejar R$ 150 em moedinhas sobre a mesa, com o intuito de comprar um kimono igual ao do professor. Isso me abriu os olhos pra ver a importância que todos (até os pequenos) dão ao Judô. O normal seria ele ganhar um kimono simples e barato e utilizar de suas economias para gastar em outras coisas. Quando argumentei isso com a criança ele me disse: “Quero o melhor kimono para ser o melhor judoca”. Isso me marcou muito. Assim como ver o atleta Lucas Vieira correr chorando para me abraçar, após vencer a última das sete lutas que o tornou Campeão da Copa São Paulo 2014, também me marcou. Ver o aluno Kauan Cabrini receber a faixa preta, conferida pela Confederação Brasileira de Judô também me marcou. São historias que me fazem lembrar que trabalhamos com os sonhos dos alunos.

Quais características formam um bom judoca? Não basta colocar um kimono e subir no tatame. O bom judoca é aquele que apresenta respeito ao próximo, as regras e a si próprio, flexibilidade e autocrítica para viver e conviver em sociedade e humildade para aprender com todos e em todas as situações.

Na próxima semana alguns judocas de Artur Nogueira participarão de um campeonato na Argentina. Como será esta competição? Esse será o segundo ano que viajaremos 1.500 km até a cidade de Formosa, na Argentina, onde participaremos do 25º Torneio Tierra Del Sol. Trata-se de um torneio aberto, que contará com a participação de judocas do Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, além dos estados de São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Rondônia. Em 2014 participamos com 12 atletas e conquistamos quatro medalhas. Esses anos participarão 17 atletas nogueirenses.

Qual a importância desta competição? Viajar para competir em outro país gera um know how muito importante ao atleta com pretensões de títulos. A troca de experiência com atletas estrangeiros e de seleções de outros países possibilita uma analise técnica para uma posterior evolução. Além disso, através desse evento conseguimos proporcionar um intercambio cultural ao qual o aluno dificilmente conseguiria por outros meios. Esse é o nosso maior objetivo: gerar uma vivencia competitiva e cultural internacional.

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Como serão pagos os gastos da viagem? A Prefeitura Municipal fará nosso translado de ida e volta até a cidade de Presidente Prudente. Lá nos encontraremos com outras equipes do estado de São Paulo. Dividiremos um ônibus fretado com essas equipes, que nos levará até a Argentina. Os gastos com alimentação, hospedagem e inscrição serão custeados pelas famílias ou por patrocinadores individuais.

Como avalia a evolução dos judocas nogueirenses? A evolução dos judocas de Artur Nogueira se deu de forma efetiva e muito mais rápida do que esperava. Atribuo essa evolução ao fato de amarem o Judô. Aliás, até mesmo em nossa sequência pedagógica esse é o nosso primeiro objetivo: “ensinar” a gostar do Judô. Outro fator importante que consolidou a evolução de nosso Judô foi o número de participação em eventos e competições. A Prefeitura Municipal nos apoia muito e nos possibilita estar nos melhores eventos da Federação Paulista. Não posso deixar de citar também que grande parte dessa evolução é oriunda do envolvimento de grandes judocas que adotaram a equipe nogueirense e estão sempre interagindo com nossos alunos. Caso de Paulo Saldanha e Vanessa Shimosako, ambos colecionadores de diversos títulos nacionais e internacionais. Também o sensei Leandro Takada, Ricardo Santos e Leonidas Machado. São ícones do Judô que criaram um vinculo fantástico com nossos alunos e estão sempre nos acompanhando em visitas, treinos ou competições.

Quais são seus planos para o Projeto Judô em Artur Nogueira? Sou muito a favor de transformar o Judô em matéria curricular das Escolas Municipais. A pedagogia do Judô, aplicada com conhecimento, é uma potente ferramenta educacional, o que justifica a ideia. Cidades como São José dos Campos e Sorocaba já aderiram a ideia e colecionam relatos positivos dessa experiência. Também estamos construindo uma equipe de trabalho, formada pelos próprios alunos do Projeto. Essa ideia já foi colocada em prática há algum tempo e vem evoluindo a passos largos. Hoje conseguimos realizar grandes eventos, organizados por essa equipe de trabalho de alunos. A evolução dessa proposta deverá chegar muito mais longe. Gostaria de formar e capacitar nossos alunos para que pudessem assumir as aulas e nortear, cada um em sua área de formação e interesse, a continuidade do projeto. Para isso, estamos realizando um trabalho à base de bate papo, vivencias e pedagogia do exemplo, a qual pretendemos fomentar a formação universitária dentro dessa equipe.

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Qual o maior desafio que o projeto enfrenta hoje em Artur Nogueira? No primeiro ano de Judô em Artur Nogueira atendemos 80 crianças. Hoje atendemos mais de 400. A Prefeitura Municipal gerou a estrutura que necessitávamos para criar mais núcleos de Judô e atender mais pessoas. O maior desafio é manter a qualidade oferecida desde o início, mesmo com a enorme demanda que atendemos hoje. São muitos alunos, cada qual com sua especificidade que necessita de uma atenção especial para que obtenha evolução. Não obstante, ainda pretendemos democratizar mais o Judô, criando mais núcleos e oportunizando a prática a mais crianças e jovens. Para isso, acredito que a solução seria criar convênios com os Governos Estadual e Federal. Existem programas, como o “Mais Educação”, que são bem interessantes de se adotar. Já iniciamos contato com a Secretaria de Esportes do Estado de São Paulo. O secretário Jean Madeira também é judoca e entende como ninguém a diferença que o Judô pode fazer na vida de uma pessoa.


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