22/06/2013

ENTREVISTA: Ricardo Michelino

Maestro fala sobre aniversário e projetos da Corporação Musical

Ricardo Michelino
“A boa música é aquela que vem de dentro da pessoa” (Ricardo Michelino)

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Alex Bússulo

Na próxima segunda-feira (24), a Corporação Musical 24 de Junho comemora 89 anos de existência. É quase um século de histórias e conquistas que se misturam com o desenvolvimento de Artur Nogueira.

Carinhosamente chamada de ‘Banda’, a Corporação é a mais antiga instituição do município, sendo mais velha do que a própria emancipação político administrativo de Artur Nogueira, hoje com 64 anos.

Ela foi fundada no dia 24 de junho de 1924, por Daniel Cezário de Andrade, que presidiu a ‘Banda’ até 1935. Por não possuir um espaço físico no início, a Corporação realizava as reuniões e os ensaios na Praça do Coreto, no centro da cidade. Em 1950, a instituição ganhou um prédio próprio.

Em 2001, Ricardo Michelino recebeu e aceitou o convite para ser o maestro responsável pela Corporação. Desde então não mede esforços para movimentar a importante instituição nogueirense.

Em 2011 criou o Projeto Retreta, que já atendeu mais de 700 alunos nogueirenses. O projeto incentiva o início e a prática da musicalização entre pessoas de todas as idades, tendo como prioridade alunos da Rede Municipal de Ensino.

Amanhã, domingo (23), o maestro Ricardo conduzirá uma belíssima festa que promete reunir amantes da música, nogueirenses de todas as idades, além de autoridades municipais e de todo o Brasil. O evento acontecerá às 20 horas, no Teatro ‘O Fingidor’ do Cemeb Monteiro Lobato (Escola Modelo). Aberto gratuitamente a toda a população, o maestro garante que todos se surpreenderão com a apresentação.

Sobre o aniversário da Corporação e dos projetos musicais que prometem agitar a Cultura nogueirense, Michelino nos concedeu uma entrevista exclusiva, que você é convidado a prestigiar logo abaixo. Confira:

Na próxima segunda-feira, a Corporação Musical faz aniversário. O que temos à comemorar? Em realidade, a Corporação em si trata-se tão somente de mais uma edificação no município, o ponto em questão é o empenho de pessoas de boa vontade que ao longo destes oitenta e nove anos decidiram oferecer ao nosso município, um dos maiores legados que Deus nos deu: a música. Por aqui passaram muitos músicos, muitos talentos, cada qual com a sua importância e história. Temos sim que celebrar a cultura musical impingida no município de Artur Nogueira pelos seus antepassados, que cada um ao seu tempo contribuíram para que esta instituição transcendesse ao longo dos anos.

Quais atividades e ações são desenvolvidas atualmente pela Corporação? Por muitos anos não só a Corporação Musical 24 de Junho mas a maioria das entidades com este formato no Brasil, mantiveram em funcionamento uma banda de música e de forma empírica algumas aulas ministradas quase sempre pelo então maestro, com o avanço da tecnologia tudo avançou, com a Banda não poderia ser diferente. Assim sendo, há cerca de três anos, a Corporação Musical 24 de Junho desenvolve o Projeto Retreta, que tem por objetivo descentralizar a Corporação pelo município através do ensino de música. A partir do Projeto Retreta foi possível além de revitalizar o quadro de músicos da Banda Sinfônica Jovem, descobrir novos talentos e formar vários grupos artísticos, como: Camerata de Cordas Sinfônicas, um grupo de Sax, Percussão Corporal e Percussão Sinfônica.

Qualquer pessoa pode participar da Corporação? O principal mantenedor do Projeto Retreta é o Governo Municipal, evidentemente o acesso é imediato a todos os interessados, independente de credo, raça, idade ou time de futebol… Claro que se for corintiano ajuda [risos]. É preciso salientar que com a retomada do Projeto Retreta pelo prefeito Celso Capato em 2013 a procura tem sido muito grande, com isso é preciso que a população verifique o período de inscrições junto à Corporação e ao Centro Cultural Tom Jobim.

Ricardo Michelino

Além do apoio da prefeitura, existe alguma outra forma de arrecadação da ‘Banda’? A Corporação conta com o apoio irrestrito do Governo Municipal através de subvenção, logística e assessoria, um aluguel de imóvel e algumas ações complementares como montagem de barracas em festas populares e a atuação no Cultura Rock, onde a Corporação monta um bar mensalmente com o intuito de complementar a receita mensal.

Quais são os planos? Nos próximos dias estaremos nos reunindo com o prefeito Capato onde apresentaremos o “Projeto Retreta nas escolas da rede pública de Artur Nogueira”. O Projeto tem por finalidade, além de cumprir a lei federal de implantação de música nas escolas, formar alguns polos de ensino de instrumento dentro do ambiente escolar.

Qual a diferença de uma Orquestra Sinfônica para uma Orquestra Filarmônica? Em primeiro lugar, o que temos hoje na Corporação é uma Banda Sinfônica Jovem e ocasionalmente realizamos concertos juntamente com o nosso grupo de Cordas. O que caracteriza o termo “Sinfônico” é o conjunto de instrumentos que compõe o grupo bem como o tipo de arranjo musical. Quanto o termo “Filarmônica” refere-se -aos grupos que são mantidos integralmente pela iniciativa privada. É preciso afirmar que: Orquestra Sinfônica, Orquestra Filarmônica, Banda Filarmônica, Banda Sinfônica, Banda Marcial ou Banda de Coreto são meros rótulos. O que realmente define um grupo está intrinsecamente ligado a sua qualidade.

Você é uma pessoa que defende com unhas e dentes o ensino musical dentro do meio escolar. Por que isso é importante? Sou um Educador Musical. Estou em fase de conclusão de um Mestrado em Educação. Acredito que a música é capaz de contribuir em vários aspectos sociais do indivíduo. Parafraseando Paulo Freire: “Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. É isso.

Ricardo Michelino

No início, os músicos da Corporação se reuniam na Praça do Coreto, aonde aconteciam apresentações. De um tempo para cá, a Corporação retornou com essas apresentações ao ar livre. Qual é o seu propósito? O espaço físico do Coreto é inviável para o efetivo atual da Corporação bem como os seus instrumentos e equipamentos, como citei acima um grupo com o caráter sinfônico tem a necessidade de tocar em ambientes fechados inclusive por conta do seu repertório. Além dos projetos implantados, nós tínhamos um desejo antigo de formar uma pequena Banda de Coreto que tivesse excelência musical, não poderíamos formar este grupo escolhendo apenas alguns alunos, pois o objetivo do Projeto Retreta é justamente a inclusão. Refleti à respeito, juntamente com a diretoria e os professores, e a cerca de um mês ensaiamos uma Banda de Coreto com os professores e monitores do projeto, além de alguns ilustres convidados e tivemos a grata surpresa de realizar uma boa e velha Retreta em nosso lindo Coreto. A experiência foi mais do que positiva sendo que no próximo semestre faremos mais algumas, queremos sim enaltecer o passado com o olhar no futuro. Sou fruto de uma Banda de Coreto, filho de um maestro militar, tenho profundo amor pela Banda de Coreto, e espero na próxima Retreta além de eu reger poder também tocar em nosso Coreto. Em tempo, o repertório desenvolvido hoje com os jovens é escolhido pensando na realidade dos mesmos, pois se focarmos apenas o chamado repertório de ouro das bandas do Brasil, infelizmente não teríamos conseguido atingir a tantos jovens.

Hoje, a Corporação possui vários instrumentos musicais. Qual é o mais difícil de se aprender? Todos são fáceis de aprender [risos], o difícil é tocar bem! Alex, a prática musical é 10% inspiração e 90% transpiração [risos]. Quero reforçar ainda que a boa música é aquela que vem de dentro da pessoa e isso não se aprende.

O senhor está programando um espetáculo para acontecer amanhã, domingo (23), no Teatro ‘O Fingidor’ da Escola Modelo, em comemoração ao aniversário da Corporação. O que o público poderá prestigiar neste evento? Seria muita pretensão eu dizer “eu” estou preparando um espetáculo, o programa está sendo produzido por um conjunto de esforços de pessoas que são imprescindíveis para a nossa entidade, as quais eu cito com muito orgulho a nossa presidente sra. Ieda Ribeiro, o vice-presidente sr. Fabrício Greter, nossos diretores Gilberto L. Ribeiro, Wesley Dhiego C. de Aguiar, Vanderlei Ferreira, Juliana Barbosa Menezes e Elaine Virginia, além de todos os professores e monitores, sem deixar de fora os nossos queridos alunos e pais. Também gostaria de agradecer o apoio e a parceria dos amigos Delei dos Santos e Geso Oliveira, que estão resgatando todo o acervo fotográfico e documental da Corporação. Teremos ilustres amigos, músicos profissionais, um músico da Escola de Cadetes do Exército, um Maestro do Unasp, um trompetista profissional recém chegado da Alemanha, a cantora Ieda Ribeiro, alunos do curso de violão, alunos do curso de viola caipira, um clarinetista da Orquestra Sinfônica de Campinas, o Maestro da Banda Sinfônica de Mogi Guaçu. Enfim, muitos e muitos amigos! Mas o principal são os nossos alunos. O público poderá prestigiar alunos de várias faixas etárias, dando o seu melhor e isso não tem preço. Sou grato a Deus por cada um deles, cada amigo, cada pessoa que torce por esse Projeto e sobretudo para que a nossa Corporação viva mais centenas de anos.

Fotos: Renan Bussulo

Ricardo Michelino

 

Michelino

 

Caricatura: Tomás de Aquino


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