12/04/2014

ENTREVISTA: Colecionador de artigos históricos, Reynaldo Alberto Stein, relembra fatos da cidade

Ele tem um rico acervo sobre a história de Artur Nogueira. Filho de um dos emancipadores do município, sonha em realizar um museu itinerante com os documentos, fotos e equipamentos históricos que possui

Reynaldo Stein“Tenho vontade de realizar um Museu Itinerante nas escolas” (Reynaldo Alberto Stein)

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Alex Bússulo

Filho de um dos emancipadores de Artur Nogueira, o nogueirense Reynaldo Alberto Stein coleciona um grande acervo de fotos e documentos históricos do município. Ele nasceu pelas mãos de um famoso médico que residiu aqui por alguns anos, o Dr. Daniel Marun. Na infância adorava brincar e passear no extinto trem que cortava a cidade.

Hoje, aos 59 anos de idade, casado com Suely Aparecida Mantovani Stein, com quem tem os filhos Reynaldo e Letícia, o empresário divide o tempo na administração da Mikrão, que foi a primeira escola de informática de Artur Nogueira.

Na entrevista deste sábado, Reynaldo nos conta um pouco sobre o acervo que possui, relembra casos que marcaram a infância e fala sobre a vontade em montar um museu itinerante na cidade. Confira:

Ninguém melhor do que o senhor para responder a pergunta: Quem foi Reynaldo Germano Stein? Meu pai! Um homem que sempre foi empreendedor, nascido aqui em Artur Nogueira, no sítio dos Steckelberg, próximo ao Green Camp, cuja propriedade na época (1904) veio a ser de meu avô, também Reinaldo. Desde criança era agitado, trabalhador e interessado na solução das atividades. Saiu de casa aos 25 anos, quando comprou uma gleba de terras, que pertenceu mais anteriormente ao meu avô materno Alberto Labs, terra essa que foi adquirida de Fernando Árens Júnior no Sítio Novo. Minha mãe, Helena, nasceu nesse sítio em agosto de 1913. Em 1929, meu pai montou um engenho para produção de pinga e fornecia para Mogi Mirim, Campinas e região. Casou-se em 1935 e minha mãe sempre cuidou dos filhos, morando no sítio. Quando eu nasci, meus pais já residiam na cidade, ele já tinha 50 anos, ele de 1904 e eu 1954, ano que o Corinthians foi campeão, aniversário de quarto centenário da cidade de São Paulo, ano que morreu, suicidou-se, Getúlio Vargas. Ele foi enérgico, mas também muito prático, educou-nos para a vida, a mim e meus quatro irmãos: Ignês, Ilse, Leonardo e Gilberto. Foi um dos onze emancipacionistas do município, suplente de vereador na primeira legislatura, ajudou no que pode a primeira administração de Severino Tagliari trabalhando e cuidando das estradas, com os poucos recursos que se tinha na época, deixando seus afazeres para se dedicar ao bem público. Em administrações posteriores voltou para ajudar o prefeito Jacob Stein, seu irmão, durante 2 mandatos e também Atílio Arrivabene Jr e ao início de Rubens da Silva Barros.

emancipacionistasReynaldo Germano Stein (pai de nosso entrevistado) e os outros dez emancipadores de Artur Nogueira

O que seu pai lhe contava sobre a época da emancipação político-administrativo de Artur Nogueira? Genericamente, contava das dificuldades de “convencimento” das pessoas para ajudar na formação de grupo de apoio da comissão, que tratou dos procedimentos a serem cumpridos, pois havia os que eram contra, mesmo o plebiscito tendo sido favorável à emancipação do município. Fizeram muitas viagens até São Paulo para tratar da emancipação, e somente no último dia é que se formou a chapa para concorrer à eleição, com a aceitação do Sr. Severino Tagliari em concorrer para prefeito, pois era o único mais qualificado e com condições de exercer o mandato, pois imagine, sem recursos, sem instalações. Daí é que ele contou com o apoio, entre outros, de meu pai e foram bem sucedidos. Falo isso, porque a instalação da prefeitura se deu em imóvel cedido pelo meu pai, que somente tempos depois foi ressarcido, além de trabalhar durante toda administração do Sr. Severino. Tem uma foto tradicional, que mostra Fernando Árens Júnior e pessoas de outras famílias na frente do imóvel, ainda em construção.

O senhor nasceu há 59 anos em uma casa que ainda existe na Rua Primeiro de Janeiro, ao lado da Churrascaria Andrettas, no centro. Como foi sua infância? Esta casa, construída pela família Andrade, ficou pronta em 1932, tendo sido ocupada inicialmente pela tropa paulista da Revolução Constitucionalista, que se alojaram aqui, para esperar os opositores mineiros. Meu pai comprou a casa na década de 40, mudando-se do Sítio Novo. A casa tinha sua escritura registrada em Campinas, pois a Rua Dona Maria, era o caminho da divisa de município. Do outro lado, era Mogi Mirim, Comarca ao qual viemos a pertencer. Nasci em 28 de agosto de 1954, com 5,4 Kg. Quem fez o parto foi o Dr. Daniel Marun, médico apaixonado por Artur Nogueira, juntamente com Dona Laura Miranda, exímia parteira e o farmacêutico Mário de Oliveira, pois tratava-se de parto de risco, imagine? Fui uma criança feliz, acho que embora com simplicidade, não me faltou nada. Brincava na rua e na linha do trem. Corria da minha casa até o final da Rua 13 de maio, onde passava o trem, que ouvia apitar lá nas proximidades da algodoeira Caio. Viajei muitas vezes nele, com destino a Campinas, onde minha mãe fazia tratamento. Várias vezes tivemos as roupas salpicadas de fagulhas de brasas. Íamos às 7 horas e voltávamos às 11 ou à tardezinha. Na volta usávamos outras vezes, ônibus da Viação Cosmópolis, dirigido pelo Paulo Rodrigues, que foi depois pipoqueiro e fiscal de alunos no Ginásio Estadual de Artur Nogueira, depois passou a chamar-se Colégio Estadual José Amaro Rodrigues. Esses ônibus ficavam guardados debaixo dos pés de manga no quintal da minha casa na Rua 1º de Janeiro. Aos 7 anos vendia manga e jabuticaba do nosso quintal e levava os trocadinhos no banco. Meu pai abriu uma poupança na agência bancária existente na mesma rua, esquina com Av. Fernando Arens, era o Banco Segurança S/A, antecessor do Bradesco, onde vim a trabalhar, no ano de 1972, especializando-me na Carteira Agrícola e conheci muita gente de nosso município. Pelo Banco sempre fiz cursos de especialização em diversas áreas. Fui transferido em 1975, estava cursando Administração de Empresas em Limeira, no ISCA. O 3º, e 4º ano fiz na PUCC, formado em 1977. Ainda fui corretor de imóveis, agente de investimentos pelo Bacen. Candidato a vereador 2 vezes, mas não consegui me eleger.

Revolução de 32
[ACIMA] Residência na Rua 1º de janeiro, na época chamava-se Rua Dona Maria. Esta rua era divisa de município – sendo a casa construída do lado de Campinas. Do outro lado da rua era Mogi Mirim. [ABAIXO] Foto atualRevolução de 32

O seu avô foi proprietário de um sítio nas proximidades de onde hoje está localizado o Bairro São Vicente. Como era esse local há décadas passadas? Exatamente onde hoje é o Parque Orlando Correa Barbosa, tendo o Sr. Orlando Correa Barbosa, morador nesse sítio. Do meu tempo, era café e mandioca o que se cultivava lá, e pela proximidade, mas parecia longe, tinha a Olaria no Bairro São Vicente, cuja baixada ficou mais acidentada ainda pela extração de argila. Com a construção de muitas residências no local, a urbanização subestimou as consequências do acúmulo de água, devidos as chuvas no local, que continuam gerando problemas até hoje. O São Vicente também era conhecido como Vila da Mandioca, pela concentração de fábricas de raspa de mandioca e outros derivados.

Na infância, o senhor também foi um bom vendedor de garapa. O que se recorda dessa época? Eu era criança, e acompanhava meu pai e meus irmãos, que tinham grande diferença de idade. Então eles resolveram, nos fins de semana inovar novamente e, colocaram uma moenda de cana movida por um trator, através de uma correia e polia acoplada, facilitando o serviço. Esses pés de manga estavam próximos de onde hoje está o Coreto. Portanto, era só atravessar a rua e já estava na estação ferroviária, onde hoje é a fonte luminosa.

Também foi um frequentador assíduo do Cine Marajó, o cinema que marcou década em Artur Nogueira… Sim, desde que o Marajó era onde hoje é a Drogal, na Av. Fernando Arens. Fui levado pelas duas irmãs. Lembro-me que uma vez sentei na cadeira de assento reclinável e vazei por traz da cadeira. No prédio novo, ia aos sábados e domingos assistir Mazzaropi, Tarzan e outros. Um filme que me marcou bastante pela beleza e inovação, foi Barbarella, com Jane Fonda, filme de 1968, imaginem. Ela era um show.

Reynaldo Stein

É verdade que os Trapalhões já vieram para Artur Nogueira? Vieram, mas com outra formação, era o tempo que as lutas livre estavam no auge, na extinta TV Excelsior. Lembro-me do Dedé, sargento Pincel e o Ted Boy Marino (falecido) exímio lutador e bastante famoso.

O senhor se recorda de como era a Lagoa dos Pássaros antigamente? Sim. Além dos eucaliptos que permanecem até hoje, tinha muito mato, nascentes, buracos perigosos e pequenas lagoas, onde morreram colegas de infância. Tinha a saída da água, através de um canal, que era excelente para pegar pequenos peixes e enguias. Normalmente usávamos peneiras. Tinha um lado no espaço da lagoa que havia urtiga, que dava muita coceira. Jogávamos bola no pasto, um pouco pra traz da lagoa, nas terras dos Duzzi, onde o Rieli tinha um time de futebol. A saída pra Holambra era por aqui, através da Rua Tiradentes e saía nos Tagliari.

O senhor sabe me responder por qual motivo a avenida Dr. Fernando Árens é torta bem no trecho com a Rua Primeiro de Janeiro? Acredito que o loteamento feito pelo Eng. Fernando Árens Júnior foi planejado só dentro do município de Mogi Mirim, do lado da escola Francisco Cardona. Do outro lado, pertencente a Campinas, com certeza fizeram construções obedecendo outro gabarito. Detalhe, na esquina, do lado de Campinas, já teve bomba de combustíveis. A quadra da Avenida Dr. Fernando Arens foi cortada pela 7 de Setembro devido a desapropriações, por questão de estética e melhor circulação, pois esta rua terminava na avenida. Observe, ainda hoje, que a “independência” da 7 de setembro não ocorreu no final dela. Dá uma bela história, ou novela.

Reynaldo Stein

O Netinho Pipoqueiro disse que o seu pai foi um dos responsáveis pela permanência dele aqui em Artur Nogueira. Como é essa história? Verdade. Meu pai era gerente da Mecânica Oriente, fabricante de máquinas injetoras e extrusoras de plástico, e no início, quando estavam construindo os galpões, o Netinho veio trabalhar aqui, trazido por uma empreiteira de São Paulo. Como ele era sozinho, meu pai deu abrigo, trabalho, conselhos e incentivo para ele tocar a vida aqui, e ele se tornou um grande amigo nosso. Gosta de meus filhos, que viu crescer e está sempre conosco.

O senhor é um apaixonado por história. Gosta de resgatar fotos e documento antigos. Como surgiu essa paixão? Alex, eu chamaria de fotos e documentos históricos. Foi engraçado. Com a morte de meu avô, Reinaldo Stein, em 1968, meu pai ficou com a guarda do que sobrou dos pertences do meu avô, em latas e caixas. Coisas que supostamente havia sido descartadas pelos herdeiros. Depois de muitos anos tínhamos que desocupar um rancho pra fazer o que chamei de estúdio para ensaio de um “conjunto”, ou banda, como chamam hoje. Era o SOM-MOS 6, que decidimos formar no dia 2 de novembro de 1972 (finados), no Cemitério. Olha a composição: Langrei Capatto, Amauri Bertini, João Luiz Montoya, eu, Milton Rossetti e Antônio Olandini (in memorian). Na organização das caixas e latas fui achando os “elos históricos” junto com os documentos, pois papai me contava todas as passagens e acrescentava o que ele já tinha guardado da história de vida dele. Gosto muito de cronologia e de numerologia.

Há alguns anos, o senhor comentou de realizar um museu itinerante em Artur Nogueira. Qual era o objetivo dessa exposição? Venho comentando e buscando apoio, não conseguido até agora. Tenho vontade de um dia realizar exposições itinerantes nas escolas, através do Museu Itinerante, focado na apresentação das mudanças tecnológicas no decorrer do século XX e atual, nas áreas de informática e comunicações, que abrange telefonia, jornais, revistas, TV, naturalmente Internet. Isso seria feito com peças e instrumentos e exemplares originais e reais, para os jovens avaliarem as diferenças. Parte do acervo que possuo está começando a se deteriorar por falta de espaço para guardar. Estão ficando em desuso, até para exposição.

Reynaldo SteinAparelho de Telex, considerado o antecessor do Fax

O senhor possui em seu acervo vários documentos históricos. Qual o mais importante? Considero todos importantes. São documentos que remetem à história da família e do município. Tem um valor pessoal imenso e gosto de compartilhar isso com pessoas que tem afinidade. Um deles é um livro de Atas para tornar em vigor o novo quatro territorial da República, fixado para o Estado, referente a circunscrição do município de Artur Nogueira – sessão inaugural do quadro territorial da nova unidade da federação. Ata lida e assinada por grande parte dos munícipes e familiares em primeiro de janeiro de 1949, antes da posse do primeiro prefeito, inclusive antes da eleição. Estou tentando fazer um pequeno audiovisual desse documento.

ata

O que foi ‘A Guilhotina’? Criamos em 1972, no terceiro ano do Curso de Técnico em Contabilidade, um folhetim mensal para criar entre os alunos do Colégio uma integração crítica do que se passava na época e passar mensagens educativas e culturais, chamado “A Guilhotina”, na condição de solicitar melhorias e “cortar”, guilhotinar, os argumentos evasivos e falta de solução por parte da escola, a mesma que voltei alguns anos depois, monitorando aulas.

Reynaldo Stein

O senhor chegou a trabalhar por alguns anos como bilheteiro. Como era isso? Na minha adolescência e início da juventude tive necessidade de fazer algo e não tinha emprego na cidade, em escritório, no comércio, nas oficinas. Então decidi aceitar a indicação de meu pai pra vender bilhetes de loteria. À pé, ou de bicicleta “novinha”, comprada na loja Rossetti, e roubada na semana seguinte, percorria a cidade toda oferecendo e vendendo as tais frações de bilhete e digo mais, que deu pra pagar meus estudos entre 1969 e 1972, quando entrei no Banco e meses depois me formei.

Teve uma época em que o senhor passou a confeccionar embalagens de madeira para latas e garrafas de bebidas. Como eram essas caixas? Fabricava caixas para acondicionar latinhas de cerveja importada. Uma febre na época. Fiz uma consultoria pelo SEBRAE, que estava no início e, em estruturação. Idealizamos um folder para divulgação e a embalagem foi descoberta por uma revista especializada em embalagens e fui premiado no quesito novidades em madeira, com exposição espontânea do produto no Stand da revista, na FISPAL, no Anhembi – feira tradicional do ramo de alimentos, depois expus também na Feira de Brindes e Presentes no Center Norte e as portas se abriram, com grandes empresas fazendo pedidos. Também tive ajuda de uma grande pessoa, o Vagner Mion, que me introduziu no ramo das floriculturas, excelente mercado para embalagens de madeiras; uma inovação.

Reynaldo Stein

O senhor também é membro fundador da Comunidade da Igreja Evangélica de Confissão Luterana, em Artur Nogueira. O que essa igreja prega? A Igreja Luterana está fundamentada na vida e ensino de Jesus Cristo. Tem a Sagrada Escritura, como revelação do Próprio Deus. Prega um Deus misericordioso que, em Jesus Cristo, assume a condição humana e no sacrifício na cruz Revela seu amor incondicional. Que perante Deus e através do batismo, todas as pessoas são iguais (gênero, raça, idade). Prega um Deus presente na vida das pessoas, age pelo Espírito Santo (trindade) para edificação comunitária e serviço ao próximo. Temos templo e atividade comunitária todo final de semana. A Igreja Luterana surgiu depois que Martin Lutero fixou as 95 teses na Catedral de Witemberg, na Alemanha em 1517. Portanto estamos nos preparando para comemoração dos 500 anos da Reforma. Ele era Bispo Católico Agostiniano. A comunidade luterana em Artur Nogueira foi fundada em 21 de março de 1982, tinha me casado com Suely Aparecida Mantovani Stein, minha mulher, 2 meses antes em bênção ecumênica dadas pelo pastor da minha igreja e o padre da igreja católica, religião professada por minha mulher, na cidade de Engenheiro Coelho. O templo está localizado na Rua Roberto do Amaral Green, 430 Jardim Môdolo, próximo ao Choppana.

O senhor é dono da primeira escola de informática de Artur Nogueira. Como foi início? Alex, minha mulher é Analista de Sistemas e formada também pela PUCC. Desde que nos casamos ela me ajudou nas minhas atividades comerciais, depois de ter saído do Banco, onde trabalhava com grandes computadores até 1984 e quando nasceu nosso primeiro filho, morávamos em Campinas. Com o uso da micro informática se popularizando, uma firma de Nova Odessa fez uma parceria com a Associação Comercial de Artur Nogueira e começou a dar aulas no final de 1989. Para se atualizar, ela foi “aprender” essa tecnologia voltada para os novos tempos, sendo que em poucos meses estava dando aulas e resolvemos comprar a empresa, instalada naquela época na Rua Santo Antônio, atrás da Igreja Matriz, desvinculada da associação comercial. Pelo empenho e dedicação já se passaram 24 anos servindo a população unindo esforços dela e meu.

Reynaldo Stein


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