07/02/2015

ENTREVISTA: Raphael Parros relembra como se tornou um dos maiores vendedores da internet

Conheça a história do morador de Artur Nogueira considerado um dos maiores vendedores da internet do Brasil

capa2“Eu vendo até quando estou dormindo” (Raphael Parros)

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Alex Bússulo

Vender produtos na internet é comum hoje em dia. Além de prático, a web proporciona segurança, diversidade e bom preço. Difícil encontrar alguém que nunca tenha vendido ou adquirido alguma coisa em sites de compras. Mas nem sempre foi assim.

Há 10 anos as coisas eram bem diferentes. Poucos se aventuravam neste mercado quase inexplorado até então. Aqui em Artur Nogueira um jovem decidiu arriscar e acertou.

Em meados de 2004, o nogueirense Raphael Parros, na época com 17 anos, decidiu vender um alto-falante de som automotivo no Mercado Livre, famoso site onde pessoas vendem e compram produtos.

Hoje, uma década depois, ele se tornou um dos maiores vendedores do Mercado Livre, vendendo mais de 4 mil produtos por mês. Em 2008, Parros foi capa da revista Pequenas Empresas Grandes Negócios, uma publicação que o colocou em destaque em todo o Brasil.

Na entrevista desta semana, ele fala como teve a iniciativa de vender na internet e como se tornou o sucesso que é hoje. Confira:

Antes de tudo, quem é o Raphael Parros? Sou uma pessoa muito humilde, que começou do nada. Desde pequenininho eu já tinha o dom de vender. Vendia geladinhos na escola em frente à minha casa para comprar minhas coisas de criança, pois meus pais não tinham condições financeiras, isso com 6 a 7 anos de idade. Minha educação foi sempre correr atrás das minhas coisas, não tinha nada de mão beijada. Caí de paraquedas no negócio. Não tive ajuda financeira e nem a instrução de ninguém. Não nasci em berço de ouro e tudo que tenho hoje foi resultado da minha persistência.

Você sempre morou em Artur Nogueira? Sempre. Nasci em Cosmópolis porque Artur Nogueira não tinha maternidade. Morei minha infância e adolescência com meus pais em uma casa no Itamaraty, mesmo lugar onde meu pai tinha uma tapeçaria para carros. Sempre estudei na escola Amaro, um lugar que aprendi muita coisa e fiz grandes amigos.

Como você teve contato com equipamentos de som? Som automotivo é uma coisa que me acompanha desde que meu pai começou o negócio dele, como tapeceiro de carros. Posso dizer que comecei a me apaixonar pelo assunto com 10 anos de idade. Gostava de ajudar meu pai e sempre estava por perto. Com 14 anos montei uma prateleira para revender alto-falantes. Como meu pai mexia com a tapeçaria, era uma boa ideia oferecer aos clientes dele também os equipamentos de som. Foi assim que o negócio começou a dar certo. Vendi as primeiras peças e com o dinheiro comprei novos produtos. E foi girando. Eu pensava diferente dos jovens daquela época, enquanto os jovens queriam se divertir, claro, coisas de adolescentes, eu já pensava em fazer minha vida desde cedo.

E as vendas na internet como começaram? Eu estava no início da faculdade. Fazia o curso de Ciência da Computação. As vendas na tapeçaria continuavam boas, mas tinha peças que já estavam no estoque há algum tempo. Foi quando decidi colocar um alto-falante para vender no Mercado Livre. Ele custava uns R$ 300, um preço meio caro na época, mesmo assim decidi anunciar e, para minha surpresa, depois de algumas horas já tinha uma pessoa interessada. Ela morava em Fortaleza e estava empolgada com o produto. Me fez algumas perguntas sobre o alto-falante e o preço do frete. Eu estava esperançoso com a venda, mesmo com ninguém da minha casa acreditando que eu ia vender o produto. E no final deu certo. Minha primeira venda tinha sido concretizada. Foi quando pensei que aquele negócio poderia ser muito bom.

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Depois disso as vendas prosperaram… Sim! Comecei a colocar os produtos que estavam nas prateleiras da tapeçaria no ar. Desde a época que eu trabalhava na loja física o meu diferencial era o preço. Porque geralmente o pessoal colocava uma margem alta. Eu não. Eu gostava de vender. Não importava se eu ganhava R$ 20 ou R$ 30 no produto. E foi isso que fez a diferença na internet: o preço aliado a entrega rápida.

O que você ouvia no começo, inclusive de seus pais e amigos? Muita crítica. Porque eu não tinha lazer. Deixava meu lazer de lado pra ficar trabalhando. O pessoal saia e eu ficava em casa na frente do computador. Ficava buscando novos produtos, planejando estratégias e, claro, vendendo.

Hoje, qual é o seu carro-chefe? São o xenon e os amplificadores.

Quantos produtos diferentes você oferece? Hoje eu trabalho com 350 itens, um diferente do outro. O meu preço é de fábrica. Sempre trabalhei com fábricas. No início, para ter preço, eu usava muito a lábia com as fábricas. Dizia: ‘vou divulgar vocês na internet e tal’. Foi assim que eu ganhei as fábricas, divulgando o trabalho deles na internet. Aí acabei conquistando várias empresas que são parceiras até hoje. Mas eu tive que correr atrás e até o presente momento só compro direto de fábrica.

Como é sua rotina? A minha rotina hoje é estar no computador. O dia todo. Desde os 17 anos até hoje. Se eu falar pra você que fiquei um dia sem olhar para o computador mentiria. Minha empresa, a RP Comércio de Som, tem sede aqui em Artur Nogueira. Trabalho com minha irmã, a Rayane. Somos só nós dois e é muita correria. Segunda-feira é o pior dia, porque acumula muitos pedidos do final de semana e no dia seguinte já tem que acordar, geralmente ali pelas 5 horas da manhã para responder os pedidos. E fico nisso até umas 8 horas. É um horário que eu consigo responder os e-mails, as perguntas. Geralmente são quase 400 perguntas por dia! E-mails, uns 50, 60 por dia também. Sempre perguntas relacionadas ao produto e prazo de entrega. Eu respondo todos os clientes. Porque cliente quer atenção e rapidez. Por exemplo: se eu ficar um dia sem responder eu perco muitas vendas. Então eu gosto de fazer o quanto antes para poder efetuar a venda. Depois de responder os e-mails eu recolho os pedidos que foram aprovados, faço a impressão de todos, separo no estoque o que vai, embalo tudo e minha irmã faz o faturamento e despacho. É um horário todo programado e certinho. É uma rotina comercial.

Você vende fora da internet, fisicamente? Até vendo, mas é difícil.

Pensa em abrir uma loja física? Não digo jamais, mas eu prevaleceria com o comércio eletrônico. Até acredito que a loja física vai se extinguir daqui há alguns anos. Porque o pessoal vai se voltar para a internet, para a comodidade e facilidade que ela oferece. Muitas lojas físicas já estão migrando para o comércio eletrônico.

Quais são as vantagens de se ter um comércio eletrônico? A loja online é 24 horas. Eu vendo até quando estou dormindo. As vendas não param nunca.

A internet tem muita concorrência. Como se diferenciar nela? Realmente ela tem muita concorrência. Para se diferenciar tem que buscar estratégias novas. Eu vivo inovando, criando situações que atraiam mais clientes. Costumo dar brindes, sedex grátis, entre outras coisas. O mercado está muito competitivo e quem não inova fica para trás.

A negociação na internet é 100% segura? Totalmente. Tanto para quem está vendendo quanto para quem está comprando. O dinheiro do cliente só é liberado quando ele recebe a mercadoria. Se ele não receber eu não recebo. Utilizo o Mercado Pago, do próprio Mercado Livre, que é o maior intermediador de pagamentos do mundo. Ele é o que mais processa pagamentos.

Se você pudesse voltar no tempo e encontrar o Raphael Parros, qual conselho você daria para si mesmo? Um conselho? Essa pergunta é meio difícil [risos]. Não tenho como dar um conselho pra mim mesmo, pois tudo que fiz, fiz com muita determinação, com amor, com carinho, e não me arrependo de nada. Faria tudo novamente!

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Quais são seus planos? Pra falar a verdade hoje eu não tenho mais planos. Na minha vida tudo o que eu queria já conquistei. Não pretendo expandir minha empresa. Eu prefiro que ela fique do jeito que está. Colocar mais alguns produtos e tal.

Você costuma vender para fora do país? É muito raro. Mas já vendi para fora do Brasil. Certa vez mandei um produto para a Espanha e a negociação aconteceu normalmente. Quase 100% das vendas é em território nacional.

Quantas vendas você faz mensalmente? Em agosto do ano passado eu realizei 11 mil vendas. Foi um pico. A média hoje é de cerca de 4 a 5 mil produtos por mês. Tem muitas empresas que compram direto de mim para revender aos seus clientes. Como meu preço é de fábrica para elas acaba sendo um ótimo negócio.

Você tem clientes em Artur Nogueira? Tenho! E na hora que chega na casa as pessoas falam: ‘não acredito que é de Artur Nogueira!’. Teve um que foi esses dias lá e disse: ‘Meu, a hora que eu comprei não tinha visto’. O cliente compra hoje e só olha que o vendedor é 100% seguro. Não quer nem saber aonde ele está localizado. Tem muita gente que compra produtos meus e que moram aqui mesmo em Artur e nem imaginam que eu também sou daqui.

Em 2008 você saiu na capa da revista Pequenas Empresas Grandes Negócios, da editora Globo. Como foi isso? Eles estavam à procura de um jovem empreendedor. Na época meu perfil encaixou certinho. Eles vieram até Artur Nogueira, montaram uma estrutura dentro da loja para fazer umas fotos. Foi bem bacana mesmo. Mas na época eu não imaginava que ia sair na capa. Achei que era uma simples reportagem. Algo pequeno. Eu lembro que um amigo me ligou e disse: ‘Raphael, você sabe o que aconteceu?’ Eu falei que não. Não sabia de nada. E ele: ‘Cara, vai na banca agora. Tem uma revista sua lá’. Achei que era uma brincadeira, mas na hora que eu vi comecei a chorar de emoção. Nunca achei que sairia numa capa. Foi uma coisa grandiosa, que gerou uma grande repercussão. Depois acabei achando que a reportagem acabou sendo um tiro no próprio pé, porque surgiram muitos concorrentes. O povo viu e montou também. Agora, eu vou sair também no Livro do Mercado Livre, que está programado para ser lançado ainda neste ano.

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Qual é o segredo do seu sucesso? Persistência. Não desistir jamais.  Se você tem um sonho, acredite nele, corra atrás. Faça com amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá!

Mas, certamente, você já teve momentos em que pensou em desistir… Olha, eu tive muitos momentos difíceis. Mas jamais pensei em desistir. Tiveram momentos que as coisas não estavam indo bem, mesmo assim pensei que tudo ainda podia dar certo. Fazia as coisas com muito amor, determinação e muita fé em Deus. Então, a palavra desistir não cabia em meu vocabulário.


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