11/06/2011

Quanto dura um amor?

Conheça a emocionante história do casal que está junto há quase 70 anos e da senhora que fez seu amor durar mesmo após muitos anos a morte do marido

Alex Bússulo

Amor… Como fazer uma entrevista com este tema? Foi com esta pergunta que nossa equipe se deparou no início da última semana. Precisávamos de uma história de amor que realmente merecesse ser lida. Um conto de fadas real, com pessoas daqui de nossa cidade, que inspirasse a verdadeira essência desse sentimento tão profundo e ao mesmo tempo tão confundido e banalizado nos dias de hoje. Tínhamos menos de uma semana para encontrar os personagens da entrevista. No final, encontramos duas histórias que valem a pena conhecer.

A primeira é a de Antonia dos Santos Bússulo. Sei que você deve estar pensando que já ouviu esse sobrenome em algum lugar, pois bem, ela é a minha avó, mãe do meu pai. Sua história de amor começa em uma noite fria do dia 24 de junho de 1957, em uma festa de São João, na pequena cidade de Arceburgo, Minas Gerais. “Lembro como se fosse hoje, eu estava sentada em um banco quando percebi um homem bonito me olhando, naquele momento senti que tinha encontrado o amor da minha vida”, afirma Antonia, falando de Sérgio Bússulo, que dentre um prazo de um ano se tornaria seu esposo. “Meu pai era muito bravo, mesmo assim o Sérgio foi pedir minha mão pra ele”, diz.

Ela casou-se aos 16 anos de idade e começou a construir sua vida junto ao marido. Em seis anos de casamento tiveram três filhos. A vida era difícil, mas nada impedia a felicidade daquele casal que se amava de uma maneira única. Aos 24 anos, Antonia ficou grávida novamente. Era seu quarto filho a caminho.

Quando estava de oito meses de gravidez, uma desgraça marcou sua história. Em um acidente enquanto trabalhava na roça, Sérgio veio a falecer.

Eu fico imaginando o que tenha passado na cabeça da minha avó naquele momento. Desespero, angústia, solidão? Não sei, e talvez nem ela consiga me explicar. Viúva aos 24 anos, grávida e com três filhos pequenos, o mais velho tendo apenas seis anos, Antonia teve que continuar sua vida.

O motivo pelo qual decidi retratar esta história é que ela nunca mais se relacionou com mais nenhum homem. Criou com todas as dificuldades imagináveis os quatro filhos, mudando-se para Artur Nogueira no ano de 1976. Hoje, aos 70 anos de idade, depois de 46 anos sozinha, ela faz questão de dizer: “É um amor tão forte que continuou comigo depois de todos esses anos. Confesso que na época tiveram alguns que me procuraram, mas nenhum fazia sentido. Eu amei de uma maneira tão profunda que ele está comigo até hoje”, afirma.

Não conheci meu avô. Mas sei que ele foi um grande homem, que conseguiu amar e criar um amor tão forte e verdadeiro, que permanece vivo em sua amada até mesmo depois de tanto tempo ter partido.

Hoje, enquanto muitos acham que se casar com 24 anos é muito cedo, minha avó já tinha quatro filhos. Para criar sozinha. Ela sim teve muitos motivos para querer procurar outros, até mesmo por uma questão de necessidade financeira, mas preferiu lutar contra tudo e todos para colocar o alimento para os filhos. “Hoje são eles que eu tenho, quando olho para meus filhos consigo ver um pouquinho do Sérgio em cada um deles”, diz emocionada.


Depois de uma história como essa confesso que a equipe precisava encontrar uma que tivesse um final feliz. Pois bem, saímos atrás e encontramos!

Na última terça-feira, 07, fomos conhecer um casal que está junto há quase 70 anos. O senhor Sebastião Cardoso de Oliveira Filho e a dona Ida Luzia Benatti, ambos de 86 anos, tiveram 12 filhos e uma história de dar inveja a todos nós.

Existem pessoas que dizem que quando uma coisa tem que acontecer não adianta fugir, que ela acontece mesmo. Tanto Sebastião quanto Ida nasceram em Mogi Mirim, mas foram se conhecer bem longe daqui. Primeiro foi à família dele que se mudou para um sítio em Sertanópolis, interior do Paraná, depois sem nenhum tipo de conhecimento ou combinado a família de Ida foi para o mesmo lugar.

Ficaram vizinhos de sítio. Apenas vizinhos, pois o pai de Ida era um homem muito rigoroso, que não permitia que as filhas sequer conversassem com homens. “Ele era um italiano bravo, que não gostava de brasileiros”, lembra a senhora. Mesmo não tendo a permissão do pai, Ida namorava um rapaz escondido, que era amigo de Sebastião. “Não era como o namoro de hoje, naquela época não tinha esse negócio de ficar beijando não, havia muito respeito”, afirma Ida.

Sebastião já tinha segundas intenções. “Sempre gostei dela, mas não tinha como me aproximar, primeiro porque o pai dela era muito bravo, segundo porque eu achava que ela gostava de outro”, afirma Sebastião.

Mesmo com esse cenário totalmente contra, o destino fez seu papel e ajustou os eixos da vida desses dois. A primeira coisa que aconteceu, para a felicidade de Sebastião, foi a mudança do namorado de Ida para São Paulo. “Ele teve que se mudar para resolver umas coisas, mas deixou bem claro que ia voltar e se casar comigo”, diz Ida.

Mas não voltou a tempo. Nesta época aconteceu algo que definitivamente marcaria a vida de Ida e Sebastião para sempre. A família da moça decide também mudar-se para São Paulo.

Na noite da mudança, com todas as malas e pertences em cima do caminhão, Sebastião chega escondido a Ida, revela seu amor e pede para que ela fuja com ele. Ela aceita.

Os dois fogem na mesma noite para a casa de uma das irmãs de Sebastião e ficam lá escondidos. A família na procura da moça decide chamar a polícia, que acaba encontrando o casal. Sebastião vai preso e Ida vai para a casa da família de amigos, para se proteger do pai, que decidi deixá-la e ir para São Paulo. “Se meu sogro nos encontrasse era bem capaz dele nos matar”, afirma Sebastião.

O casal casou no dia 20 de julho de 1943, há 68 anos. Casaram na igreja, mas o casamento não teve festa, até porque a família da noiva não estava presente, talvez nem soubesse que a filha se casava. “No começo foi muito difícil, não tínhamos nem casa para morar. Trabalhávamos todos os dias, podia fazer chuva ou sol”, afirma Ida.

Sebastião e Ida viveram no Paraná por mais 16 anos, depois mudaram para um sítio em Mogi Mirim, depois para Conchal e somente depois para Artur Nogueira, onde esta até os dias de hoje.

Durante a conversa, que aconteceu na sala da casa do casal, Ida fala da aliança que ganhou do marido. “Ele mesmo a fez!”, afirma. Imaginem duas alianças de ouro normais, perfeitas, com o brilho que somente uma original pode ter, mas que foram confeccionadas artesanalmente pelo marido. “Peguei moedas de ouro que tinha e fui batendo com o martelo até elas ganharem a forma de anel, demorou bastante para chegar à perfeição”, afirma o marido.

Para descontrair um pouco o ambiente, pergunto ao senhor se ele ainda acha dona Ida uma mulher bonita. A senhora muda de expressão e se atenta ao que o marido vai responder. “Sempre achei minha esposa linda, mas existem mais bonitas que ela, assim como existem homens mais bonitos do que eu. Para mim é ela. Perfeita para mim. É isso que importa. Esta mulher que está aqui é a única que eu tive em toda minha vida”, afirma Sebastião. Dona Ida sorri, como quem diz aliviada e ao mesmo tempo orgulhosa pela resposta do marido.

A pergunta que me levou até o casal e que talvez esteja na cabeça de cada um dos leitores neste momento é o que faz um relacionamento durar tanto tempo? Ida faz questão de responder: “É o respeito! Amar é querer bem o outro. É se preocupar e estar sempre presente”, diz.

Depois de quase 70 anos de união, dividindo o mesmo lar, Sebastião diz que o casal nunca brigou, nunca tiveram nenhuma discussão. “Não ficamos um sem o outro. Em todo esse tempo, a única vez que fiquei longe dela foi em uma ocasião em que tive que ficar internado no hospital. Mas foi só por quatro dias”, diz.

Antes de ir embora, dona Ida faz questão de dizer, em tom de agradecimento ao esposo: “Ele sempre fez tudo por mim. Hoje, ele lava a louça, arruma a casa, faz a comida, me ajuda em tudo”, diz a senhora.

Sebastião diz que tem muito medo de perder a mulher, mas diz que Deus sabe muito bem o que faz. “Se Deus levar ela primeiro, peço a Ele que me conforte e se me levar, que dê forças para que ela continue sua vida”, diz emocionado.

Terminamos a entrevista e nos despedimos desse casal tão iluminado e abençoado por Deus. Mas ficamos com uma lição que deve ser transmitida a todos. Não importa o que você faça, não importar as dores que você carrega, se você tem amor, você tem tudo.

Decidimos contar essas duas histórias, a de Antonia e Sérgio e a de Sebastião e Ida. Dois casais com finais totalmente diferentes, mas que mostram a mesma essência, porque no mundo em que vivemos muitas vezes o que mais importa é o ‘que’ temos, ao invés de valorizarmos ‘quem’ temos.

Na bíblia podemos encontrar uma explicação para esse sentimento. Ela diz que “o amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”, 1 Coríntios 13.

Feliz dia dos namorados a todos que conhecem e compartilham o verdadeiro amor.

 


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