04/10/2014

ENTREVISTA: Russo comemora os 20 anos da banda de Jazz

Músico de Artur Nogueira comemora as duas décadas da criação da Russo Jazz Band, uma banda que viaja pelo Brasil levando o melhor do Jazz

capa3“Tocamos com muito humor, improvisação e principalmente interação com o público” 

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Alex Bússulo

Neste mês de outubro, a Russo Jazz Band completa 20 anos de história. Idealizada por um músico nogueirense, esta banda leva muita alegria e animação por onde passa. Criada em 1994 por Orlando Russo Filho, a banda já tocou em quase todas as cidades do Estado de São Paulo, além de municípios em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Maranhão, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, entre outros.

Russo tem 69 anos e uma energia que contagia por onde passa. Nascido em São Paulo, ele aprendeu muito cedo a arte da música. Aos 8 anos de idade já fazia parte de uma banda que tocava na TV Record.

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Na década de 70, o músico conheceu a Corporação Musical 24 de Junho – e foi um amor à primeira vista. Mesmo morando em Paulínia, Russo sempre dava um jeito e vinha para Artur Nogueira para tocar com a tradicional banda do município. Ele chegou a ser presidente da instituição por alguns anos. Depois que se aposentou decidiu morar de vez em Artur Nogueira e criar a Russo Jazz Band, que completa agora duas décadas de sucesso.

Na entrevista desta semana conversamos com Russo, que relembrou histórias e falou sobre as apresentações que já fez em todo o Brasil. Confira:

Como surgiu a Russo Jazz Band? Estávamos tocando com um quarteto na Expoflora em setembro de 1994 quando conhecemos uma banda de Jazz chamada All That Jazz Band. Meu amigo e ex-sócio Sérgio Demutti estava tocando teclado na mesma festa e comentou comigo o porquê d’eu não colocar mais dois músicos e fazer uma banda como àquela, já que o quarteto tinha qualidade. A partir daí criamos a Street Jazz Band que ficou com esse nome até 1999. Foi só depois que mudamos para a Russo Jazz Band – Uma Antiga Novidade – tendo sua marca registrada.

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Como podemos definir a Russo Jazz Band? Como uma banda que prima pela qualidade, profissionalismo, respeito ao público e leva ao pé da letra a definição do que é Música. “Música é a Arte de expressar os sentimentos d’alma através dos sons”. E só tocamos com alegria independentemente da situação.

Quantas apresentações o senhor já acredita ter feito? Começamos em outubro de 1994 e estamos tocando até hoje. São 20 anos! Hoje reduzimos o número de apresentações, tendo em média 6 shows por mês. Até 2011, fazíamos a média de 8 shows por mês. Acredito que estamos beirando as 2 mil apresentações.

Qual foi a apresentação mais marcante? Foi a primeira que fizemos fora do Estado. Mais precisamente em Belo Horizonte/MG no Festival da Cachaça – no Parque das Mangabeiras. Estávamos no começo e chegamos no evento como uma bandinha de São Paulo, desconhecida. Logo na primeira apresentação de 30 minutos, já que normalmente nosso show é de uma hora e meia dividido em três partes, o público foi ao delírio. E nós mesmos ficamos até surpresos com o resultado. O restante do show foi loucura. Tanto que nos tornamos a Banda Oficial do Festival da Cachaça por 12 anos.

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Qual é o estilo da banda? Tocamos Dixieland, Blues e Jazz. Porém, com a nossa “cara”. Não somos cover de nenhuma banda. Damos àquele molho brasileiro com muito humor, improvisação e principalmente interação/integração com o público.

Em todos esses anos já devem ter acontecido várias coisas inusitadas e até engraçadas durante as apresentações. Se lembra de alguma? Tem várias. Podemos dizer que pelo menos em 70% das apresentações acontecem coisas engraçadas, já que o público participa ativamente e sem nenhuma preparação ou combinação. Uma delas aconteceu em Tiradentes/MG, onde tocando na praça, um cachorro de rua se aproximou de mim e ficou olhando. Quando a banda parava de tocar ele latia. Ele ficou até o final do show junto com a banda, inclusive quando estávamos andando. No final do show acabei ficando com ele um tempinho até convencê-lo a nos deixar. Foi demais. O Jornal da Cidade tirou foto e publicou no dia seguinte.

A música sempre esteve presente em sua vida. Tem uma antiga foto, da década de 50, na qual o senhor aparece como integrante de uma banda em um programa de TV. O que se recorda dessa época? Essa foto foi tirada no dia 10 de maio de 1954 na TV Record, Canal 7, de São Paulo durante o programa Circo do Arrelia. Meu pai era maestro e tinha uma banda de música. Naquela época fomos contratados pelo senhor Waldemar Seyssel – o Palhaço Arrelia – para ser a banda oficial e permanente do programa dele na TV. Começamos em 1951 na TV Paulista Canal 5 – hoje TV Globo – onde ficamos até 1953. Em 1954 fomos com o Circo do Arrelia para a TV Record, onde ficamos até junho de 1959, pois meu pai faleceu em março daquele ano.

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Podemos dizer que o seu pai foi uma grande inspiração. Ele morreu muito cedo, quando o senhor tinha apenas 14 anos de idade. Ele deixou sua mãe e mais duas irmãs, sendo que a mais nova tinha apenas 4 anos de idade. Do dia para a noite o senhor se transformou no homem da casa. Como foi isso? Foi duro demais. Até hoje choro a perda dele. Eu vivia diuturnamente com ele, pois tocava nas bandinhas dele. Mas, graças à Deus, ele nos deixou um legado de trabalho, honestidade, perseverança e alegria para trabalhar.

Em 1964, o senhor foi diretor artístico de um programa de TV. Como era esse trabalho? Foi na TV Tupi, Canal 4. Era no Programa Júlio Rosenberg que ia ao ar aos sábados à tarde na época da Jovem Guarda. Eu e meu amigo Sérgio Demutti selecionávamos o pessoal para se apresentar, além do nosso conjunto que chamava-se Samba Boys. Pela TV Tupi viajávamos pelo interior do Estado com as caravanas que existiam na época com alguns artistas da TV e também pegávamos artistas das cidades onde íamos.

Teve também uma época em que o senhor montou uma escola de música em São Paulo. Como se saiu como professor? Eu e o Sérgio Demutti montamos essa escola. O Sérgio era concertista de Acordeon, tocava Erudito e eu fiz ele ir para o popular. Ele já tocava Órgão, que hoje chamam de teclado (risos). Era um Diatron e depois compramos um Farfisa (Italiano) ele dava aula de guitarra, baixo, sopros e eu de bateria e instrumentos de ritmo. Montamos vários grupos de alunos que criaram seus conjuntos, que hoje chamam de banda (risos).

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O senhor estudou e se formou em Contabilidade. Mas a música sempre esteve presente em sua vida. Como conciliou essas duas profissões? Meu sonho era ser músico. Costumo dizer que sou músico, mas para ganhar dinheiro cheguei a ser até diretor de empresa. Trabalhei nove anos em uma metalúrgica, onde entrei lavando banheiro e servindo café e sai sub-contador. Depois trabalhei no Grupo IBEC (Rockfeller) como gerente de Contabilidade, depois fui diretor de uma Empresa Nacional e por fim trabalhei na ICI (da Rainha Elizabeth) de 1975 até 1991 onde assumi oito gerências em promoções e me aposentei para viver exclusivamente de música – meu sonho realizado.

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Na década de 70, o senhor conheceu a Corporação Musical 24 de Junho, a famosa ‘banda’ de Artur Nogueira. Como era essa instituição naquela época? Eu morava em Paulínia e o Antonio Martinelli me convidou para vir tocar aqui, já que ele tinha me conhecido tocando na banda de Paulínia do Maestro Marcelino Pietrobon. A banda era composta pelo pessoal da cidade e por alguns músicos de Cosmópolis. Era uma família. O pessoal tinha orgulho de tocar na banda. Era uma banda modesta, sem dinheiro, mas com muito amor. Era uma realização cada apresentação nossa tanto aqui na cidade como nas cidades vizinhas. Tenho orgulho e um amor muito grande pela banda.

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Por que decidiu se tornar presidente da Corporação? Porque na época ninguém queria assumir, pois não tínhamos dinheiro, eram poucos músicos e nenhum apoio. Para ela não morrer eu me prontifiquei e com a ajuda de todos os músicos mantivemos ela e pudemos deixá-la para que os outros pudessem dar continuidade.

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Mesmo como presidente da banda, o senhor ainda morava em Paulínia. Por que decidiu se mudar para Artur Nogueira? Porque, me aposentando, queria estar num lugar mais tranquilo, onde eu e minha família nos sentíssemos bem e para estar ao lado da banda.

Neste mês de outubro, a Russo Jazz Band completa 20 anos de existência. Qual o diferencial desta banda? O que a faz ser o sucesso que é? O diferencial é que aqui nós formamos não só músicos, mas pessoas. O primeiro requisito para tocar na Russo é ser gente. Músicos, nós estudamos e chegamos lá. A amizade, o companheirismo, o profissionalismo, o amor pelo que fazemos e o respeito entre nós e com o público é o que faz termos sucesso por tanto tempo mesmo sendo uma banda do interior de São Paulo, tocando acusticamente, sem palco, iluminação, gelo seco, fumaça, luzes, etc. etc. (risos).

Quais são seus planos? Que os músicos assumam a Russo Jazz Band para que quando eu parar, e acho que não vai demorar muito pois vou fazer 70 anos de idade, eles possam dar continuidade ao nosso trabalho. Curtir um pouco mais a vida com minha esposa, filhos, netos e amigos e morrer tocando.

Fotos: Isadora Stentzler

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