03/11/2013

ENTREVISTA: Neiton Oliveira comenta como enfrentou o cancêr de mama

Em 2011, este empresário nogueirense descobriu que tinha câncer de mama. Ele ergueu a cabeça e não deixou se dar por vencido. Lutou de frente com a doença. Após dois anos, ele nos conta como foi o tratamento e como está se sentindo atualmente

Neiton“Você tem que acabar com a doença, não deixar a doença acabar com você” (Neiton Oliveira)

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Alex Bússulo

A campanha Outubro Rosa marcou o último mês com mobilizações em várias partes do mundo. Com o objetivo de conscientizar a população e alertar sobre a importância do diagnóstico precoce a imprensa, escolas, unidades de saúde, igrejas e comunidades se organizaram e debateram o tema.

Porém, engana-se quem pensa que apenas as mulheres devem se preocupar com o câncer de mama. Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia, em cada 100 casos em mulheres existe pelo menos um homem com o diagnóstico da doença.

Em Artur Nogueira, um respeitado empresário descobriu que tinha a doença. O proprietário da Bike Mania, Neiton Pedro Pinto de Oliveira, de 50 anos, descobriu o câncer de mama após um diagnóstico em agosto de 2011.

Muito popular no município, Neiton nasceu em Araras, mas sempre morou em Artur Nogueira. Fez Economia e trabalhou como bancário, no Banespa. Ao lado da esposa, Gislaine Faitarone, construiu o magazine que é referência em bicicletas, artigos esportivos e brinquedos na região.

O empresário conta que descobriu que tinha câncer em um momento de muita agitação e que foi Deus quem lhe deu forças para vencer cada batalha. Na entrevista a seguir, Neiton fala sobre o diagnóstico, o tratamento e como está hoje. Confira:

Como foi que você descobriu que tinha câncer? Foi em agosto de 2011, por obra de Deus. Eu estava passando por uma grande mudança em minha loja. Estávamos ampliando o tamanho da Bike Mania em mais de cinquenta por cento. A empreiteira havia prometido que entregaria a obra até o final de agosto, para aproveitarmos as vendas do Dia das Crianças. Por isso estávamos a todo vapor na organização e compra das bicicletas e brinquedos. Mas a empreiteira acabou atrasando a entrega. E como já havíamos comprado boa parte dos produtos, eles começaram a chegar e não tínhamos onde colocar, afinal a loja ainda estava em reforma. Por isso decidimos levar todos os produtos para a minha casa, que acabou virando um verdadeiro depósito. Tinha produtos no meu quarto, corredor, garagem, por onde nós íamos, tinha bicicletas e brinquedos. Pois bem, nesta correria, durante o começo de uma noite, eu estacionei o carro na garagem e, com as mãos ocupadas, desci do veículo empurrando a porta com o meu cotovelo. Nisso, a porta bateu em uma das caixas dos produtos que estavam no local, retornou e bateu em meu peito. Com a batida, ficou um pequeno hematoma no meu mamilo.

E depois? O hematoma doeu um pouco. Passados uns 15 dias, apareceu um pequeno caroço em meu peito. Procurei uma dermatologista aqui, em Artur Nogueira, e ela disse que o carocinho poderia ser o resultado de um sangramento e me indicou um cirurgião plástico. No começo de setembro, passei por uma cirurgia, em Campinas, para retirar o carocinho, que era do tamanho de um grão de feijão. O médico mandou o caroço para a biópsia e, depois de 15 dias, veio o diagnóstico…Era câncer de mama.

O que sentiu neste momento? A notícia caiu como uma bomba. No momento, eu pensei nas pessoas que eu amo, minha filha, minha esposa, minha mãe, meus irmãos e amigos. A minha geração cresceu com medo de tocar na palavra ‘câncer’. O termo sempre foi muito preocupante. Significava fim da vida. Eu estava no consultório, sozinho, por volta das 4 horas da tarde. O cirurgião me chamou e deu a notícia. Quando saí do consultório liguei para a minha esposa e disse que eu estava doente e que precisaria ser tratado. Cheguei na casa da minha mãe e encontrei todos chorando, se questionando, o porquê que aquilo estava acontecendo comigo.

Neiton

Como a família lidou com a situação? Eu falei para eles que, se de fato, eles queriam me ajudar a vencer aquela doença eles deveriam fazer tudo naquele dia, podiam chorar, gritar, se questionar, mas a partir daquele momento eu não queria mais ver ninguém triste, chorando, perto de mim. E foi o que aconteceu. Eles sempre sorriam, me davam palavras de conforto e motivação. É claro que todos sofreram. Mas, perto de mim eu só via um ar de confiança, não vi desespero em nenhum momento.

Imaginou que um dia teria câncer, ainda mais de mama? Nunca na minha vida, mas eu sempre tive medo de câncer. Mesmo nunca tendo ninguém na minha família com esta doença. Eu não fumo, nunca usei drogas, sempre pratiquei esportes. Comecei a me questionar por que estava com câncer. Eu nunca tinha ouvido falar que câncer de mama poderia atingir os homens. É raro, por isso ele é mais perigoso do que nas mulheres.

Teve medo da morte? Não. Por incrível que pareça, em momento algum eu me senti doente. Eu tinha certeza de que da forma em que Deus colocou para eu descobrir, sabia que Ele não me abandonaria. Antes de eu descobrir que estava doente, uma frase sempre tocou o meu coração.

Qual? “Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos”. Eu me sentia um cara escolhido e capacitado por Deus. Foi Ele quem me deu forças para lutar essa guerra.

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Como foi o tratamento? Com o diagnóstico em mãos todos saíram a procura de um médico especialista no assunto. Eu não sabia que essa é uma área muito carregada. A agenda de um médico é muito concorrida. Eu não tinha referência, então comecei a marcar consultas para 30, 40 dias. Não conseguia nenhuma data próxima. Foi quando me indicaram um médico, o Dr. Cezar Cabelo, de Campinas. Tentei marcar com a secretária uma consulta, mas ele tinha uma convenção. Expliquei meu caso e disse que eu não podia esperar um mês. Por telefone, passei algumas informações sobre o câncer. Era uma quarta-feira e a secretária perguntou se eu poderia ir naquele mesmo dia, às seis horas da tarde. Aceitei na hora. Quando cheguei, a clínica estava lotada, muitos pacientes, do Brasil todo. Era dez horas da noite e eu ainda não tinha sido atendido. Fiquei sabendo que o médico que ia me atender estava trabalhando desde às seis horas da manhã, já tinha feito duas cirurgias e ainda estava se preparando para uma convenção. Me coloquei no lugar do médico, achei que ele ia me atender rapidamente, pedir alguns exames e me mandar embora. Às dez e meia ele me chamou. Quando eu entrei no consultório encontrei um homem iluminado. Na conversa, ele me passou todas as informações. Me deixou tranquilo. Ele mostrou muitos homens que tinham passado pela mesma situação, e que tiveram a cura. Ele pediu os exames, fiz uma bateria absurda de exames. Uma semana depois eu estava com todos os resultados em mãos.

O próximo passo foi a cirurgia? Sim. Fiz a cirurgia em um sábado. No domingo já estava em casa. Depois parti para o tratamento, que foi a parte mais complicada. Radioterapia e quimioterapia mexe com a pessoa. Essa é a parte mais complicada e difícil daqueles que tem câncer. O tratamento abala fisicamente. A gente sente o câncer no tratamento, a pele muda, cai cabelo, pelos. Foram seis meses de tratamento, que é o prazo da quimioterapia.

O que você acha que fez a diferença em seu tratamento? Sabe, eu vi muita gente morrer se tratando. Toda semana eu ia para Campinas e via que algumas pessoas não obtinham a mesma reposta. Eu via muita gente desacompanhada, sozinha. Alguns pacientes não tinham o apoio familiar, saiam do tratamento, que em alguns casos chegavam até 8 horas de aplicação, e pegavam ônibus sozinhos para ir embora, não tinha ninguém da família dando apoio. No meu caso, sempre tive o apoio da minha esposa, Gislaine, e da minha família. Toda vez que eu voltava para Artur Nogueira, eu me sentia como um herói retornando de uma guerra, que tinha vencido uma batalha.

O que mais lhe marcou neste momento em sua vida? A médica disse que meu cabelo ia começar a cair. Então, eu decidi raspar de vez todo o meu cabelo. Quando meu primo Marcos Sia e meu irmão Neirival ficaram sabendo que eu tinha raspado correram e também rasparam a cabeça. Tudo isso em solidariedade a mim. Hoje, vendo tudo o que passei posso falar que esse gesto fez toda a diferença naquele momento para mim. Me fez um bem danado. Jamais irei esquecer. Jamais.

Neiton

Como você está hoje? Eu estou muito bem. A doença não me diminuiu em nada. Eu estou vencendo etapas. Me sinto hoje uma pessoa melhor, pois enxergo a vida de uma maneira diferente. Daqui há três anos eu retorno para o grupo de risco de uma pessoa normal. Agora, passarei a fazer exames de ano em ano. A única coisa que eu tenho hoje são as cicatrizes da cirurgia.

O que você diria para alguém que passa pelo o que você enfrentou? Tenha vontade de superar, tenha Deus no coração. O câncer é uma batalha pessoal, a família é essencial, mas a força está dentro de cada um. Depois disso, tenha tranquilidade, por mais difícil que seja. Serenidade. Porque desespero não vai ajudar em nada. O desespero é o combustível da doença. Você tem que acabar com a doença, não deixar a doença acabar com você. Às vezes, a pessoa que tem câncer se desanima e entrega o jogo. Eu continuei minha vida, continuei vindo trabalhar. Não me abalei.

E o que você diria para alguém que nunca passou por essa situação e que vive reclamando dos pequenos problemas da vida? Faça uma visita ao Boldrini, em Campinas, um hospital que é referência mundial no tratamento de câncer infantil. Eu tive que passar por lá e encontrei crianças de 7, 8, 9 anos de idade brigando contra o câncer e tentando ganhar essa luta. Comecei a me questionar: eu, um adulto, com o apoio da família, já era difícil brigar, o que dizer de uma criança, que está começando a vida? Lá no Boldrini eu encontrei muitos sorrisos. Mesmo com toda a situação, vi muitas crianças sorrindo. Se tem gente que acha que a vida está ruim, que está insatisfeito com o carro, com casa, com bens materiais, eu aconselho visitar o Boldrini. É uma lição de vida maravilhosa.

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Caricatura: Tomás de Aquino


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