14/12/2013

ENTREVISTA: Marcelo Menezes recebe homenagem em Festival de Paulínia

Depois de ganhar quatro estatuetas no Festival de Cinema de Paulínia em 2008, o cineasta nogueirense foi novamente homenageado na noite da última sexta-feira em Paulínia. Agora, ele planeja realizar outros filmes e até lançar um livro

Marcelo Menezes“O curta-metragem fez sucesso em vários festivais de cinema do país” (Marcelo Menezes)

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Alex Bússulo

O nogueirense Marcelo Reginaldo de Menezes foi homenageado na noite da última sexta-feira (13), durante a quinta edição do Festival de Cinema de Paulínia. A homenagem aconteceu devido ao sucesso do cineasta no ano de 2008 quando venceu quatro prêmios com o curta-metragem ‘A Vaca’.

Há cinco anos, Menezes foi aplaudido por conceituados críticos de cinema. O curta de Marcelo faturou os prêmios de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Curta Regional. O Festival de Paulínia foi interrompido em 2012 e retornou neste mês com apresentações de filmes, sem competições, e homenagens para aqueles que já ganharam prêmios.

Depois de 2008, o cineasta nogueirense produziu outros dois filmes e ainda possui três roteiros que, futuramente, pretende gravar. Além dos curtas, Menezes também publicará um livro com aproximadamente 70 histórias e causos de moradores de Artur Nogueira e região. Na entrevista desta semana, ele fala sobre o sucesso do curta-metragem e os projetos. Confira:

Como nasceu o desejo em produzir filmes? Sempre gostei de cinema. Tenho uma foto de infância de quando eu tinha uns cinco ou seis anos, que mostra um duelo de bang bang, como se fosse uma cena de cinema. Na adolescência marcava os filmes que assistia numa agenda. Naquela época eu já tinha cerca de duzentos nomes de filmes. Em 1990 comecei a trabalhar com filmes e representei a Califórnia Filmes aqui no interior, onde fiquei até 1998, e então fui convidado para trabalhar na Paris filmes. A partir daí eu comecei a pegar gosto por filmes bons e de qualidade, devido à Paris adquirir filmes que foram indicados ao Oscar, como ‘A vida é bela’ e também filmes comerciais como ‘Pânico 2’ e ‘American Pie’. Depois fui para a Europa Filmes, em maio de 2003, e nas aquisições da empresa tinham muitos filmes nacionais e documentários, e era obrigado a assistir a todos para ter argumento e conhecimento na hora da venda. Então, acredito que o desejo veio de tanto assistir filmes, tanto os bons como os ruins, pois era obrigado [risos]. Além disso, também achava o negócio lucrativo. Por isso decidi fazer um curso.

De cinema? Sim. Fiz o curso de roteiro, produção e direção na Funarte, em São Paulo, em 2003. Li na Folha de São Paulo que ia ter um workshop de cinema na Funarte e fui fazer. Gostei da apresentação e me matriculei. Naquela época, até os filmes “D” vendiam [risos]. O mercado estava aquecido, por isso encarei a ida à São Paulo todos os sábados e domingos por três meses. Foi naquele período que ocorreu a transição do VHS para o DVD.

Marcelo Menezes

Por que você decidiu fazer um filme sobre o Bloco da Vaca? Eu sempre achei um argumento legal, um roteiro diferente. Mas, para falar a verdade eu quis preservar essa história que é a maior tradição da nossa cidade e também provar que eu era capaz de produzir um filme.

O que você descobriu sobre ‘A Vaca’ durante a produção do curta-metragem? No filme eu deixo vago e sem definição a data exata que começou essa tradição em Artur Nogueira. Vou tentar explicar. O Reinaldinho Stein tem uma foto dos seus antepassados que o Carnaval é de 1929. No filme, eu coloquei uma foto de uma vaca dourada que completou 50 anos em 1981, lá diz: ‘Vaca 81, 50 anos’, quer dizer que pode ser de 1931. O Tito Montoya disse nas entrevistas que a vaca começou em 1944. A irmã do Tito, Maria Montoya, acredito que esteja com 85 anos e mais lúcida que eu [risos] disse que lembra quando começou fazer a primeira vaca de pano na sua adolescência. Posteriormente, mostrei aquela foto de 1930 para ela, que disse: ‘calcula a idade do meu pai, ele está muito novo pela idade da foto’. Queria ter pesquisado muito tempo antes para esclarecer isso. Na minha opinião, o primeiro registro oficial do Carnaval é de 1929, 1930. Mas a “Vaca” começou na década de 40.

Como foi o processo de produção e gravação? Foi um processo demorado no sentido da transformação da tecnologia. Iniciei o projeto em 2002 com uma filmadora sem qualidade. Em 2003 comprei uma filmadora Sony Hi8, uma qualidade um pouco melhor, mas não utilizei nenhuma imagem no filme. E finalmente, em 2006, adquiri uma Sony digital, no qual captei as imagens do filme. Quando ia filmar alguma cena, o pessoal da confecção da Vaca já tinha começado e eu tinha perdido as melhores cenas, acho que aproveitei pouca coisa de 2006. O grosso da produção é do ano de 2007 e 2008. A época contribuiu para as imagens já que nesse período colocaram holofotes na rua, o que nos trouxe uma boa iluminação.

Marcelo Menezes

Como ficou sabendo do Festival de Paulínia? Vi uma propaganda do Festival na revista Ver Vídeo e me interessei. Isso foi em dezembro de 2007 e a inscrição era para maio. Como tinha muitas imagens captadas resolvi me inscrever. A partir daí, captei mais algumas imagens da confecção da Vaca e comprei o computador e o programa de edição. Fui aprendendo editar aos poucos, colocava a imagem que eu queria até chegar no ponto em que deveria estar. Depois levei para um editor em São Paulo fazer a edição final.  Depois de pronto e inscrito, fui selecionado para o festival. O curta-metragem fez sucesso não apenas em Paulínia, mas também em mostras e festivais de cinema do país inteiro.

Imaginava que receberia tantos prêmios? Sinceramente, não. Achava que ia sobrar um prêmio, mas como o filme foi bem produzido, vieram mais. A noite de entrega dos prêmios foi maravilhosa. Tapete vermelho, teatro lotado e os diretores e artistas consagrados, todos próximos. Os apresentadores naquela noite foram o Miguel Falabela e a Cláudia Raia. Foi uma emoção muito grande, quando veio o quarto prêmio não sabia mais o que falar, fiquei calado, o escritor do jornal Diário do Povo, publicou que eu fiquei sem graça de tanto subir ao palco [risos].

Marcelo MenezesFoto: Divulgação

Depois de cinco anos, você foi novamente convidado e recebeu na noite de ontem, sexta-feira (13), uma homenagem pela produção de 2008. O que esse reconhecimento representa para você? É o reconhecimento da arte! Eu achava que essa homenagem não viria agora, viria mais pra frente, mas o Festival de Paulínia voltou com tudo. Para mim, é um incentivo para não parar de produzir filmes.

marcelo menezesFoto: Divulgação

Além de ‘A Vaca’, você também produziu outros dois filmes: ‘Contando Histórias’ e ‘Contando Lorotas’. De onde surgiu a ideia para essas produções? O ‘Contando Histórias’ é baseado em causos reais, um filme divertido, bem humorado que conta a história do Zé Bobrinha e do Zé do Lago, personagens que ficaram famosos em contar os mais incríveis causos, sendo que um quer contar mais lorotas que o outro. A ideia desse filme foi tida depois de ganhar os prêmios em Paulínia. Ele não fez o sucesso que a Vaca fez, mas eu gosto muito dele.

E o outro? O ‘Contando Lorotas’ é um filme maior, de 46 minutos, selecionado pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Ele mostra um grupo de contadores de causos e histórias. Tem vários contadores de histórias da cidade e também da região. Quem quiser assisti-lo tem duas cópias na Dynamic Vídeo para alugar.

Marcelo Menezes

Você acabou de escrever um livro sobre lorotas de moradores de Artur Nogueira. Quando pretende publicá-lo? O livro está escrito e espero publicá-lo no ano que vem. O título dele é ‘Causos, lorotas, histórias de pescadores, caçadores e outros mentirosos’. Como o próprio nome diz, ele reúne histórias de pescadores, caçadores, lorotas, causos e histórias acontecidas não só aqui na cidade, mas na região também. São causos que estão se perdendo ao longo do tempo e como gosto de preservar essas histórias, resolvi registrá-las. Aproveito a oportunidade para pedir apoio e patrocínio para o livro que está aprovado na lei de incentivo (Proac-ICMS), ou seja, ao invés do empresário pagar 100% de imposto do ICMS para o Estado, pode reduzir 3% para o projeto cultural e em contrapartida, ganha espaço no livro e incentiva a produção de novos projetos culturais.

Pretende fazer outro filme? Na retomada do Festival de Paulínia vão abrir novos editais, eu já tinha um roteiro no edital de 2010, mas foi cancelado. Quando abrir, vou inscrever o filme “Ladrão de Galinha”, baseado em fatos reais. O filme vai mostrar os roubos de pick-ups que sucederam nos anos 80 e que tem como pano de fundo o dia de roubar galinhas na Sexta-Feira Santa. Para o próximo ano, pretendo produzir o filme ‘Mas será o Benedito’, que é baseado no dito popular. Tem um longa-metragem que eu pretendo produzir e já enviei o roteiro para o diretor da Paris filmes e também para o dono da Europa filmes, talvez se chame ‘Baseado em Sexo Real’, que de sexo não tem nada. O longa é uma comédia teen suave, na linha de American Pie. São meus projetos.

Fotos: Renan Bússulo


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