03/08/2013

ENTREVISTA: Marcela Strassa conquista ouro no Sul-Americano de Kung Fu

“Poder representar meu país no esporte é fantástico!” (Marcela Chiste Strassa) ………………………. Alex Bússulo Nascida e criada em Artur Nogueira, Marcela Chiste Strassa, de apenas 21 anos de idade, é lutadora de Kung Fu e já coleciona vários títulos conquistados em campeonatos. A nogueirense começou a competir pela Federação Paulista no ano passado. Em julho […]

Marcela Strassa“Poder representar meu país no esporte é fantástico!” (Marcela Chiste Strassa)

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Alex Bússulo

Nascida e criada em Artur Nogueira, Marcela Chiste Strassa, de apenas 21 anos de idade, é lutadora de Kung Fu e já coleciona vários títulos conquistados em campeonatos. A nogueirense começou a competir pela Federação Paulista no ano passado.

Em julho de 2012 foi campeã paulista, conseguindo classificação para o Campeonato Brasileiro, onde em novembro do ano passado, conquistou o bronze. Este ano nas seletivas paulistas conquistou três medalhas de ouro e três de bronze.

Em julho, Marcela participou da quinta edição do Campeonato Sul-Americano de Kung Fu em Buenos Aires, na Argentina, onde trouxe duas medalhas de ouro para o Brasil.

Na entrevista desta semana, a atleta nogueirense, que também participa da Seleção Brasileira de Kung Fu, fala sobre a aceitação da modalidade no país, os desafios enfrentados e os planos para as próximas competições. Confira:

Quando surgiu essa paixão pelo Kung Fu? Foi um pouco depois que o grupo de Ginástica Artística do colégio Montessori, o qual eu fazia parte, acabou. Fiquei bastante arrasada, mas sabia que precisava praticar alguma outra atividade física. Foi aí que meu pai teve a ideia de procurar uma academia de Kung Fu, pois sabia que desde criança eu adorava filmes de luta. Isso aconteceu em 2006 e foi amor ao primeiro treino. Lembro que tinha somente um ano de treino quando um colega comentou “Nossa, Marcela! Parece que você até respira Kung Fu!”. Não acho que ele estava errado.

Você pretende seguir outra profissão ou levar a diante a vida no esporte? Não pretendo abandonar a vida de atleta tão cedo, mas quero conciliar as duas coisas. Estou terminando o curso de Educação Física, o qual comecei com o principal intuito de atuar na área de preparação física para atletas. Também sou instrutora formada no Kung Fu Tradicional e pretendo dar aulas muito em breve.

O Kung Fu é valorizado no Brasil como em outros países? Não, mas deveria.

Por quê? A Confederação Brasileira estima que haja 100 mil praticantes de Kung Fu no país. Como modalidade competitiva, temos uma Seleção muito forte e que obteve ótimos resultados no Campeonato Sul-Americano. A modalidade também está crescendo muito. Graças ao trabalho da Federação Paulista ela entrará nos Jogos Abertos Regionais deste ano, e a Confederação Brasileira está realizando o primeiro Campeonato Internacional no país. Nossa Confederação está devidamente vinculada ao Comitê Olímpico Brasileiro e a IWF (International Wushu Federation). Infelizmente parece que isso não tem reconhecimento, o que prejudica os atletas de competição e impede uma maior popularização do Kung Fu no país.

Como você entrou na Seleção Brasileira de Kung Fu? Consegui a terceira colocação no Campeonato Brasileiro em novembro do ano passado. Precisaria ter sido campeã da categoria para ser convocada, porém existe o índice técnico. Lembro que o diretor do departamento técnico da Seleção Brasileira estava acompanhando a mesa de arbitragem da minha categoria. Mesmo com o bronze, eu tinha esperanças de conseguir a convocação para a Seleção pelo índice. No início de dezembro saiu a primeira lista dos convocados, e meu nome estava nela. Foi uma das melhores sensações da minha vida!

delegação brasileira

Por que o Kung Fu não é uma modalidade Olímpica? O Wushu (Kung Fu) Moderno foi criado com o intuito de tornar-se modalidade olímpica. Até este ano estava concorrendo vaga para os Jogos Olímpicos de 2020, porém concorreu com outros esportes também bastante fortes. Acredito que a modalidade tem muita capacidade para entrar em uma competição deste nível, porém há outros fatores envolvidos, como o político, por exemplo. Não conseguimos a vaga para 2020, mas a luta continua.

Quais são seus próximos objetivos nesse esporte? Assim que voltei para o Brasil já iniciei o ciclo de treinamento visando o Campeonato Brasileiro, que acontecerá em outubro. Este é o objetivo mais próximo. No ano que vem, teremos o Campeonato Mundial, na China. Será um grande desafio! Pensando mais adiante, um dos meus planos é dar aulas na cidade e realizar um programa de iniciação esportiva para jovens atletas.

Seu último título conquistado foi no 5º Campeonato Sul-Americano de Kung Fu em Buenos Aires, na Argentina. Como foi essa competição? O campeonato estava bem estruturado e bastante disputado, pois todas as delegações entraram com força na competição. Posso dizer que o Sul-Americano atingiu minhas expectativas. Eu estava bem preparada para a disputa, e consegui controlar muito bem o lado psicológico, o que muitas vezes torna-se algo desafiador. Treinei muito para aquele momento e dei o meu melhor, o que me deixou mais do que satisfeita, independente da colocação.

Marcela Strassa

Os atletas de outros países tem um nível maior que os atletas brasileiros? O treinamento dos atletas brasileiros é muito bom, o que nos coloca a altura dos atletas de qualquer outro país. A Seleção Brasileira obteve ótimos resultados no campeonato, o que comprova o nível de igualdade. Se continuarmos neste ritmo teremos resultados ainda mais expressivos nas próximas competições. Aproveito para parabenizar e agradecer aos diretores técnicos da Seleção Brasileira, pelo nível de treinamento empregado.

Você realiza os seus treinamentos na cidade de Limeira. Por quê? Quando fui procurar um professor, queria alguém experiente e que fosse formado pelo Grão Mestre Chan Kowk Wai, que trouxe o Kung Fu para o Brasil. Além disso, precisava de uma academia que fosse filiada à Federação Paulista, para então poder participar dos campeonatos oficiais de Kung Fu, reconhecidos pela Federação Internacional. Na época eu treinava musculação na academia Ádias, e o Bill, o proprietário, me indicou o presidente da Federação Paulista, Jairo Figueiredo, meu atual professor. Pensando por este lado, Limeira é bem próxima.

Marcela Strassa

Como é a sua rotina? A rotina de treinamento é bem intensa, treino no mínimo cinco vezes por semana, sigo uma dieta regrada, tenho hora certa para dormir e para acordar. Por conta dos horários da faculdade, não posso tirar nem o domingo para descansar: os treinos mais pesados são nos finais de semana. Como faço por prazer, isso não me incomoda nem um pouco!

Normalmente um esporte que envolve algum tipo de luta tem uma aceitação maior entre o público masculino, talvez pelo fato de ser um pouco mais violento. Você acha que esse estereótipo ainda existe? O que as pessoas falam de você praticar o Kung Fu? O estereótipo patriarcal ainda existe, infelizmente. É normal as pessoas me falarem “Mas você é tão magrinha, tão delicada!”. Grande parte das pessoas ainda pensa que para uma mulher ser uma lutadora ela tem obrigatoriamente que ser musculosa e abandonar sua feminilidade. O fato de uma mulher praticar uma arte marcial afirma e aceita sua força, e não o contrário.

O Kung Fu mudou a sua vida? Graças aos meus pais sempre fui muito ativa, pratico esportes desde os 4 anos de idade. Antes do Kung Fu eu praticava Ginástica Artística, com uma rotina de treinamento levada muito a sério também. A disciplina que tenho em minha modalidade acredito que adquiri nessa época, treinando de segunda a sexta, sem faltar em treinos. Agradeço muito às professoras Neusa Gusikuda e Renata de Oliveira por terem sido bastante exigentes sempre. Ainda sou apaixonada por Ginástica, confesso, porém o Kung Fu com certeza mudou minha vida, desde a filosofia da arte marcial até meu cardápio diário.

Imaginava em algum dia chegar onde você está hoje? Posso dizer que sonhava. Desde que praticava a Ginástica Artística tinha o desejo de participar de algo grande e significativo. Poder representar meu país no esporte é fantástico! Estou na realização de um sonho e já sonhando ainda mais alto.  Sei que continuarei procurando evoluir, seja como atleta, como instrutora ou principalmente, como pessoa.

Marcela Strassa

Qual é a importância do apoio dos seus pais? É essencial! Só eu sei o quanto eles já se dedicaram a mim neste percurso todo. Se cheguei até aqui, é porque eles estão comigo. Sempre que conquisto um título penso em como será chegar em casa para comemorar com minha família. Este ano o Campeonato Brasileiro será em São Paulo e eles poderão estar presentes. Independentemente do resultado, será o melhor campeonato!

Artur Nogueira tem condições de investir, apoiar e incentivar o Kung Fu? Com certeza, já que a modalidade não exige altos investimentos. Se houver interesse em apoiá-la, penso que terá bom interesse por parte da população. Outras artes marciais já contam com o apoio do município, então montar uma equipe de Kung Fu e divulgá-la não será difícil.

O que diria para quem está começando um esporte agora e pretende ter sucesso como você? Treine muito! Se é o que realmente quer, não irá se importar em mudar completamente seu estilo de vida e batalhar para superar-se a cada dia.

Fotos: Renan Bussulo

Marcela Strassa

Marcela

Caricatura: Tomás de Aquino


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