16/08/2014

ENTREVISTA: Laine Queiroz comemora os 10 anos do Brincantti

Fundadora fala sobre o aniversário do Movimento Cultural Brincantti, relembra peças teatrais que fizeram sucesso e do momento em que quase desistiu do grupo

Laine 
“A arte transforma o ser humano e muda a sociedade” (Laine Queiroz)

……………………….

Alex Bússulo

Tudo começou com uma festa. Amigos, amantes da arte, que se reuniram e decidiram movimentar a cultura de Artur Nogueira. Há exatos 10 anos nascia o Movimento Cultural Brincantti, um forte grupo artístico que desde então vem presenteando o público com grandes espetáculos.

“O Brincantti surgiu com uma balada em 2004. Precisávamos de dinheiro para pagar algumas contas, então criamos a festa ‘Brincante’, escrita na época desta forma. Um grupo amante de cultura se reuniu e fizemos uma balada com performances artísticas. Foi um sucesso tão grande que nos motivou a continuar”, conta a diretora e idealizadora do Movimento, Laine Queiroz.

Declaradamente apaixonada pela arte cênica, esta nogueirense confessa que por pouco o Brincantti não acabou este ano. “Comemorar 10 anos é uma conquista que nos fez refletir muito. Ok. Vamos fazer 10 anos. Mas e daí? O que de fato conquistamos para a cultura local? Foi esse o questionamento que fiz no início do ano. Estava desanimada. Desmotivada”, relembra a diretora.

Laine

Laine conta que até marcou uma reunião para discutir o futuro do grupo. “Em janeiro deste ano tivemos uma reunião para saber se o Brincantti iria continuar. Reunimos todos que participam do nosso movimento e refletimos. Confesso que eu, talvez, naquele momento, fosse a mais desmotivada a continuar. Mas, como sempre, meus amigos estavam confiantes. Sabiam e defendiam o nosso ideal. E, acima de tudo, declaravam que o Brincantti tinha que brilhar. Naquele mesmo encontro decidimos que deveríamos sim levantar a cabeça e ir a diante. Conversamos, discutimos e planejamos. Saí da reunião diferente da maneira como havia entrado. Com amigos a minha volta e um projeto na mente: iriamos fazer uma grande comemoração ao aniversário do Brincantti”, afirma.

E essa comemoração não poderia ser simples. Afinal são 10 anos de desafios, lágrimas e alegrias. Para a data tão especial, o grupo decidiu produzir um vídeo-documentário para resgatar a história do Brincantti. “Eu e a Aline Regla fizemos um curso de vídeo-documentário, o que foi muito útil para a concretização do projeto. Entrevistamos muitas pessoas, de diversas áreas, que ao decorrer dos anos foram contribuindo e se envolvendo com o nosso movimento. Deram longas horas de gravação. Foi difícil editar tudo e fazer um filme de pouco mais de uma hora”, revela Laine.

Durante as entrevistas para a produção do vídeo, Laine ouviu depoimentos fortes, muitos deles retratando conquistas que ela mesma não se recordava mais. Em 10 anos, o Brincantti apresentou muitas peças. E também conquistou diversos prêmios regionais. Em 2011, conquistou o primeiro lugar na modalidade infantil na fase regional no Mapa Cultural Paulista, em Serra Negra, com a peça ‘Um Certo Dom Quixote’, além das menções honrosas em melhor Direção, Trilha Sonora e Interpretação. Já em São José do Rio Pardo, conquistou o segundo lugar e as menções de trabalho junto à comunidade e melhor ator.

Durante a gravação do vídeo-documentário, cada entrevistado foi convidado a resumir o Brincantti em uma só palavra. “A minha foi Amor. Talvez porque eu tenha o Brincantti como um amante. Assim como em um casamento, que tem todo o romantismo e carinho, também tem as dificuldades da convivência com o outro. Às vezes eu digo: ‘vou desistir disso tudo’. Mas depois que passa alguns minutos percebo que não consigo viver sem ele. O Brincantti é a minha vida. Sempre acreditei na arte. Eu acredito que a arte transforma o ser humano e muda uma sociedade”, afirma Laine.

Entre as peças apresentadas pelo Brincantti, algumas marcaram e fizeram história. ‘O avarento’, ‘Irma Vap’, ‘Um Certo Dom Quixote’, ‘O Castelo de Mulumi’, ‘La Identidad’, ‘Setes’, ‘Amigo’, ‘Sua Excelência, o Candidato’, entre muitas outras fizeram sucesso em Artur Nogueira e região.

Laine

Quando questionada sobre qual peça foi a mais especial, Laine confessa: “É difícil falar, pois todas são marcantes. Cada uma teve o seu momento de ser explorada. O ‘Avarento’ foi a descoberta. ‘Irma Vap’ foi atrevimento. ‘Dom Quixote’ foi o divisor de águas. Depois de ‘Dom Quixote’ as peças fluíram com mais maturidade. As descobertas que vamos tendo com cada peça faz com que a última sempre seja a mais especial, mais marcante, pois traz impregnado o repertório de todas as passadas”.

Laine conta que não é fácil fazer e viver de arte. “Nem em Artur Nogueira, nem em qualquer outro lugar. Infelizmente, as pessoas não acreditam em cultura. Minha decepção não é tanto com o poder público, mas sim com as pessoas. É uma minoria que valoriza, que prestigia. É bem complicado”, revela.

Não é segredo para ninguém que a Laine e o pessoal do Brincantti guardam um sentimento muito especial pelo Teatro Municipal Renê Marcos Posi, desativado desde 2012 por vários problemas de infraestrutura. No ano passado, o Brincantti criou um grupo no Facebook intitulado ‘SOS Renezinho’, com o objetivo de chamar a atenção das pessoas para uma solução para o prédio. “Desde a última administração, houve uma promessa de reforma, não é de agora. Criamos a página em um momento que eu estava de saco cheio de tudo. Achei que aquele lugar ia ficar como o Castro Mendes ficou por muitos anos, lá jogado às traças. Eu estava em uma fase difícil. E mais uma vez reforço, não é só com o poder público. Todo mundo usava aquele espaço. O comércio usava. Escolas públicas e particulares usavam. O lugar era usado quase todo dia para palestras, desfiles, shows, encontros, formaturas. E agora que está fechado ninguém liga. Isso é muito triste. Revoltante. Aquele é um prédio histórico e tem gente que passa do lado e nem se quer comenta nada”, desabafa.

Laine conta ainda que no ano passado planejava fazer algo para mobilizar a sociedade: “Eu ia fazer uma intervenção cultural em frente ao teatro. Ia me vestir de luto, com vela na mão. Ia para frente do teatro para que as pessoas voltassem a se interessar pelo espaço. Já estava tudo certo. Mas na data combinada, 27 de março, Dia do Teatro, minha tia faleceu. Fiquei traumatizada e perdi totalmente a motivação”.

Fora o Teatro Renê Marcos Posi, Laine acredita que a cultura esteja caminhando para um bom rumo em Artur Nogueira. “Não podemos reclamar das atrações em nosso município. Afinal, todo final de semana tem algo pra se fazer aqui. Diferente de muitas cidades de nossa região. Temos o Carnaval mais forte. Temos o Cultura Rock, a Corporação Musical 24 de Junho, festival de balé da Michele Pedroso, entre muitos outros. Sem contar do Festival de Inverno, realizado neste mês e que foi um sucesso total. Ainda tem os festivais e saraus das entidades. Ah, tem também as oficinas culturais que envolvem várias modalidades artísticas. Tudo isso movimenta a cultura da cidade”, afirma.

Laine

O Brincantti continua. Os planos continuam. Em outubro, o Movimento promete estrear uma nova peça teatral, bem diferente das anteriores já apresentadas. “Estamos desenvolvendo um espetáculo que será apresentado na rua. Ele ainda não tem um nome, mas será bem interessante. É uma peça que conta a história de uma menina que cansa da sua torre e vai em busca do abraço. Mostraremos a invisibilidade que existe nas ruas. Essa peça é bem ingênua, sensível e poética, toda musicada, de autoria nossa. Estamos bem confiantes de que o público vai interagir e gostar”, garante.

Agora, na fase da adolescência, o Brincantti deve percorrer por novos caminhos, fazer novas escolhas e descobertas. Sempre movimentando e fomentando a cultura nogueirense.


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.