30/11/2013

ENTREVISTA: José Adolfo Queiroz fala sobre sucesso da Torcida Baby

Conheça a história do empresário que construiu em Artur Nogueira a Torcida Baby, empresa que confecciona vestimentas de times para bebês e é a única licenciada no Brasil pela NIKE para confeccionar roupas e acessórios para os pequenos com cores e o escudo da CBF

Adolfo“A Nike queria um fabricante que tivesse um nome, bons produtos e boa distribuição e acabou chegando até nós” (José Adolfo Queiroz)

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Alex Bússulo

José Adolfo Queiroz nasceu em Cosmópolis e aprendeu cedo a comercializar roupas observando a própria mãe trabalhar. Abriu uma confecção que produzia roupas acima do manequim 52, mas percebeu que o negócio poderia melhorar se confeccionasse para os mais pequenos. Em 1995, com o apoio da esposa Sueli e dos filhos Juliana, Jorge e Pedro, o empresário abriu em Artur Nogueira a Torcida Baby.

Confeccionando sapatinhos e roupas com emblemas de times de futebol, a empresa conquistou o mercado nacional, chegando a exportar para outros países. Atualmente, a Torcida Baby possui a licença de mais de 50 clubes e é a única licenciada no Brasil pela NIKE para a confecção de roupas e acessórios para bebês, de até dois anos de idade, com cores e o escudo da Confederação Brasileira de Futebol.

Devido a realização da Copa do Mundo no próximo ano, Adolfo está construindo um segundo prédio para atender a demanda esperada. Na entrevista desta semana, o empresário nogueirense fala sobre os desafios enfrentados no início da Torcida Baby, sobre os produtos confeccionados atualmente e sobre a paixão por aviões. Confira:

Como você entrou para o ramo de confecção? Desde menino já trabalhava com venda de confecções. Minha mãe revendia roupas e eu era “mascate”, que é como se chamava o vendedor que vendia de porta em porta. Hoje, o termo usado é revendedora ou sacoleira. Depois, minha mãe montou uma loja na Vila Nova, em Cosmópolis, e eu trabalhei com ela por muitos anos. Depois disto, montei minha própria loja.

E a confecção para bebês, como surgiu? Morava em Campinas e atuava no ramo imobiliário, mas as coisas não andavam bem, então resolvemos vender o apartamento e construir em Artur Nogueira. Sofri um acidente na própria obra (onde hoje funciona o PAT). Então, quando me mudei para Artur, meu meio de transporte era um par de muletas. Comecei a fabricar roupas para senhoras “fortinhas”, manequim acima do 52, mas descobri que era muito pano para roupa para uma pessoa só. Pensei em roupas que usassem pouco pano e poderia cobrar bem, dentre todas as possibilidades resolvi fabricar sapatinhos para bebês.

Adolfo

Como foi a aceitação de seus clientes? Os sapatinhos eram de tecido com uma espuminha por dentro, eram lindos e bem feitos, mas quando fui vender descobri que muitos já fabricavam sapatinhos lindos e bem feitos. Eu tinha que encontrar uma ideia que desse um diferencial ao produto. Ficava lembrando de um “slogan” da Globo “invente, tente, faça diferente”, mas não conseguia achar como seria este diferencial. Mas tinha muita fé que a ideia iria surgir no momento certo.

Quando surgiu a ideia de confeccionar com emblemas dos times de futebol? A minha esposa comprou na loja da Neli uma pulseirinha de tecido do São Paulo Futebol Clube e, chegando em casa, ela me falou: “Por que você não coloca estes emblemas nos sapatinhos?” Então, fiz alguns sapatinhos do Corinthians, do Palmeiras e do São Paulo.

Eu sei que assim que você fabricou os primeiros sapatinhos de times mostrou a um amigo que imediatamente reprovou a ideia, chegando a dizer que aquilo nunca daria certo e que ninguém compraria. Como foi isso? Eu mostrei os sapatinhos para um amigo que me desanimou, dizendo que ninguém iria vestir um bebê com sapatinhos com cores escuras, tipo o preto do Corinthians. Fiquei tão desanimado que deixei de lado estes sapatinhos, mas eles ficaram visíveis na minha sala do escritório. Continuei vendendo os sapatinhos coloridos, mas de vez em quando olhava os sapatinhos de times e eles olhavam também para mim, até que um dia percebi uma coisa: havia errado na pesquisa de mercado. Perguntei só para uma pessoa que, no caso, era um solteirão e que não gostava de futebol. Percebendo este meu erro, comecei a fabricar os sapatinhos e saí para vender em pacotes de 12, por R$ 50. Depois disso, acabei fazendo uma grande coleção de cheques de cinquenta reais [risos].

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É verdade que a Xuxa já ganhou um kit da Torcida Baby? Sim. Minha esposa Sueli é grande fã da Xuxa. A apresentadora fez um jantar de 10 anos de programa lá no Rio de Janeiro e a Sueli foi uma das convidadas. Nós sabíamos que a Xuxa queria um filho mesmo se fosse de produção independente, só depois ela encontrou o Zafir [risos]. Descobrimos que ela é flamenguista, então resolvemos presenteá-la com um macacão, um boné, um par de sapatinhos e um babador. Todos do Flamengo. Foi quando descobrimos que era difícil fazer um pacote. Improvisamos uma caixa e ficou bonito. Então, percebemos a necessidade de uma embalagem especial para colocarmos as nossas peças. Descobrimos que era um kit e desenhamos uma caixa, patenteamos a ideia, mandamos fazer o molde em “vacum forming”, que utiliza um material parecido com o de garrafa de Coca-Cola.

No começo, a Torcida Baby fabricava produtos de times, mas não tinha licença. Isso fez com que um oficial de Justiça batesse em sua porta. Como você lidou com essa situação? Nossos produtos estavam vendendo muito bem, principalmente para lojistas do Rio de Janeiro. Como estávamos em maio de 1998, com a aproximação da Copa do Mundo, o que mais vendia era o verde-amarelo com o símbolo da CBF. Um diretor da CBF viu os produtos e mandou apreendê-los aqui em Artur Nogueira. Não sabíamos que teríamos que ter as licenças dos clubes e da CBF. Os produtos foram apreendidos. No caso do Brasil tiramos o logo da CBF e colocamos Brasil. Depois da Copa negociamos com os clubes de São Paulo e do Rio de Janeiro. Depois disto, os negócios foram muito melhores.

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Hoje, todos os produtos da Torcida Baby são licenciados. Como você conseguiu essas licenças? Isto foi muito difícil, e ainda é, mas conseguimos convencê-los que tínhamos produtos inéditos. Os bebês, daquela época, usavam camisa de menino de 2 anos. Nossa empresa é bem conhecida em todo o Brasil e agora temos a licença de mais de 50 clubes e, na maioria, são eles que nos procuram. Nosso forte é tamanho para bebês, mas de alguns clubes temos a licença para fabricamos até o número 12.

A Torcida Baby é a única empresa licenciada no Brasil pela NIKE para a confecção de roupas e acessórios para bebês até 24 meses, com cores e o escudo da Confederação Brasileira de Futebol. Depois de tantos desafios, como você vê essa conquista? Vejo isto como uma vitória, pois em 1998, nossa fábrica foi praticamente fechada por fabricarmos CBF sem licença e, agora, com a copa de 2014, a Nike queria um fabricante que tivesse um nome, bons produtos e boa distribuição e acabou chegando até nós. Acho que isto vem coroar todo o esforço de nossa equipe que sempre faz o melhor que pode. Funcionamos em prédio próprio com 1.200 m2 e visando a copa de 2014, estamos construindo outro prédio de 1.000 m2.

Torcida baby Torcida baby

Vocês exportam produtos para outros países? Já participamos de um consórcio de exportação com grande apoio técnico e financeiro do Governo Federal. Fizemos várias missões comerciais para EUA e Europa e lá aprendemos muita coisa, principalmente, sobre qualidade dos produtos. Hoje, os produtos da Torcida Baby não ficam a dever nada para os produtos fabricados em outras partes do mundo. Como o consórcio tinha prazo determinado suas atividades foram encerradas, mas vendemos para Alemanha, Itália, Bélgica, Japão e até para a Grécia. Hoje, nossas exportações representam muito pouco em nosso faturamento, mas o que aprendemos nesta época fez crescer muito as vendas para o Brasil.

Vocês produzem os próprios tecidos? Sim, produzimos nossos principais tecidos, pois tínhamos muitos problemas com os fornecedores que não mantinham a mesma qualidade e os mesmos padrões de cores. Demoramos para aprender, mas está indo bem, compramos os fios, mandamos tecer e tingir lá em Santa Catarina e recebemos os produtos prontos em nossa fábrica. Também compramos modernas máquinas de estampar, melhorando muito a qualidade, designer de nossos produtos e o sistema de trabalho.

Adolfo

Quantas peças são fabricadas atualmente? Fabricamos mais de 120 modelos, de mais de 50 clubes. Isto dá no total de 50 mil peças por mês.

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Qual é o seu time? Com certeza o Corinthians [risos], mas sou como artista de televisão, para ficar de bem com a maioria, aqui sou corintiano e, no Rio, sou flamenguista.

Embora tenha progredido e contratado dezenas de funcionários, sua empresa continua sendo familiar. Qual foi a importância da sua família na construção da Torcida Baby? Tem muita importância. No início você não tem faturamento suficiente para pagar salários para bons profissionais, o que resta é nos treinarmos e aprendermos entre nós mesmo. Daí, a gente vai aprendendo e descobre que dá certo, muito embora algumas vezes sem querer a gente mistura as coisas.

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Não podemos deixar essa entrevista sem falar sobre a sua paixão por aviões. Você sempre teve o sonho de voar? Eu nasci em uma colônia da Usina Ester, em Cosmópolis. Lá passava um aviãozinho e o piloto fazia tchau para nós, como a dizer “eu voo, vocês não voam”. Isto foi gravando na minha mente, mas como era de uma família sem muitos recursos quando jovem, nem fui atrás deste sonho, que inclusive até hoje é um sonho muito caro.

O que foi preciso fazer para realizar esse sonho? Em 1986 eu morava em Campinas e, após o famigerado plano econômico batizado de “Cruzado”, comecei a fazer o curso teórico no aeroporto de Amarais. Depois de aprovado nesta fase comecei as aulas praticas, mas depois de 3 aulas veio o plano Cruzado 2 e acabou com meu sonho. Só em 2007, depois dos filhos criados e a situação econômica estabilizada voltei para finalmente realizar meu sonho de menino.

Você comprou uma aeronave monomotor Bonanza A-36 pela internet e a buscou nos Estados Unidos. Foi uma verdadeira aventura, não é mesmo? Uma vez respondendo a uma pesquisa sobre o que já tinha comprado pela internet, respondi: comprei um avião lá nos EUA.  Com certeza, a entrevistadora não acreditou, mas foi verdade. Compramos o avião no final de 2009. Contratamos um piloto brasileiro que mora nos EUA para trazer o avião, eu, minha esposa e meu filho Jorge. No meio do caminho o piloto, por problemas familiares, nos deixou. Mais precisamente na ilha se San Marteen, no Caribe. Eu, sem saber pilotar aquele avião e sem carteira internacional. A Sueli, no primeiro momento, começou a chorar. Era véspera de Natal e fomos procurar um hotel.  Só achamos vaga no hotel mais caro do Caribe mas não tinha jeito. O negócio foi curtir, pois eu, em sã consciência, jamais pagaria uma diária tão cara. Depois, um outro piloto pilotou nosso avião até Trinidad Tobago. Depois de uns 5 dias chegou outro piloto do Brasil para nos “resgatar”. Trouxe-nos até Campinas, em nosso próprio avião. Com certeza essa foi a maior aventura de nossas vidas.

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Você, como piloto de avião, já passou por alguma situação “lá em cima” que te deu medo? Sim, quando inadvertidamente entrei em uma nuvem muito perigosa, com muitas correntes convectivas, ventos que sopram de baixo para cima e de cima para baixo, você dá comando para o avião subir, mas ele continua descendo, daí a pouco você dá comando para descer e ele continua subindo. É um pouco assustador, mas deu tudo certinho e os passageiros nem perceberam o risco que corremos. Para finalizar, quero dizer que a vida tem sido muito generosa comigo. Consegui, em 1973, encontrar uma verdadeira princesa aqui em Artur Nogueira. Casei-me com a Sueli em Janeiro de 1979 e ela vem cuidando de mim nestes últimos 35 anos. Me deu três filhos maravilhosos e formamos uma bela família. Também sei que tivemos a inspiração divina para construir a Torcida Baby e Deus tem colocado em nossos caminhos pessoas boas e colaboradoras, principalmente, todo o pessoal que trabalha conosco na Torcida Baby.

AdolfoFotos: Schermen Dias


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