04/05/2013

ENTREVISTA: Jéssica Florêncio conta como se classificou como uma das melhores skatistas do mundo

“Tive que vender brigadeiros e entregar panfletos para comprar meu primeiro skate” (Jéssica Florêncio) ………………………….. Alex Bússulo Esta nogueirense tem apenas 21 anos de idade e já é considerada como uma das melhores skatistas do mundo. Jéssica Florêncio Ferreira sempre morou em Artur Nogueira e há oito anos vem praticando a modalidade do skate. Já […]

Jéssica Florêncio“Tive que vender brigadeiros e entregar panfletos para comprar meu primeiro skate” (Jéssica Florêncio)

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Alex Bússulo

Esta nogueirense tem apenas 21 anos de idade e já é considerada como uma das melhores skatistas do mundo. Jéssica Florêncio Ferreira sempre morou em Artur Nogueira e há oito anos vem praticando a modalidade do skate.

Já participou de muitos campeonatos em vários estados brasileiros, além de ter participado de competições nos Estados Unidos, República Tcheca, Inglaterra e Itália.

Jéssica é tricampeã do interior paulista, bicampeã paulista de Skate, bicampeã nacional, campeã sul-americana e terceiro lugar no ranking mundial.

No último mês, a nogueirense conseguiu uma ótima colocação em Foz do Iguaçu-PR. Jéssica conquistou medalha de bronze no X Games, um campeonato que já é considerado como o maior evento de esportes de ação do planeta.

Agora, a skatista se prepara para mais um grande desafio, desta vez na França. Na entrevista especial desta semana, Jéssica fala sobre as competições, a paixão pelo skate e os próximos desafios. Confira:

Você subiu ao pódio do X Games que já é considerado como o maior evento de esportes de ação do planeta. Imaginou que isso aconteceria algum dia? Olha, eu até que imaginava, mas não tão cedo assim. Sempre foi meu sonho ficar no pódio, mas achava até meio impossível por enquanto, pois tenho apenas dois anos de profissional. Disputei com meninas que competem há anos e são bem mais experientes em X Games.

Jéssica Florêncio

Como você se preparou para essa competição? Depois de ter me machucado ano passado em Los Angeles tive que correr para me recuperar. Fiz fisioterapia e, quando já estava boa, treinava com uma certa cautela. Meus treinos são de segunda a sexta-feira na pista bem de manhãzinha, pois não gosto de treinar quando tem muita gente na pista e, às vezes, à tarde nos obstáculos aqui em frente de casa, como corrimão, caixote e rampa. Também faço musculação à noite no clube e me alimento muito bem. Sou bem caseira, não gosto de sair muito à noite. Enfim, tento levar uma vida de atleta.

O que a primeira colocada tem que faltou em você? A Letícia Bufoni [vencedora da categoria no X Games 2013] é extremamente profissional, já é tricampeã mundial. Ela é da cidade de São Paulo, mas mora há um bom tempo nos Estados Unidos. Ela se mudou para Los Angeles quando tinha apenas 13 anos de idade. Ou seja, ela foi para uma cidade onde o skate tem um enorme reconhecimento e que tem pistas de manobras em todos os cantos. Ela também teve contato com pessoas experientes, que a auxiliaram a entrar neste mundo de competições.

Você já viajou para várias partes do mundo para competir em diversos campeonatos. Como consegue pagar as viagens e cobrir os gastos? Em 2010, me chamaram para competir em Los Angeles e eu não tinha um centavo. Pedi ajuda para minha avó e ela fez um empréstimo para mim. Graças a Deus termino de pagá-la agora em agosto. Em 2011, a Prefeitura me ajudou com as passagens para EUA. Para ir para a Europa, a alimentação, hospedagem e passagem meu pai me emprestou, pois ele tinha recebido um dinheiro da sua aposentadoria. Graças a Deus, com os meus resultados nas competições, eu consegui pagar tudo no mesmo ano. No ano passado tive ajuda dos meus patrocínios, a Mad Rats, e apoios das outras marcas e também da Prefeitura, que pagou a ida para Los Angeles e a minha volta às pressas da Europa, onde me machuquei e não pude ficar lá para competir. Esse ano, o prefeito Celso Capato disse que eu vou ter todo apoio da Prefeitura para as competições de fora do país e que ele vai pedir ajuda em empresas aqui de Artur Nogueira. Espero conseguir bons resultados e trazer mais medalhas esse ano ainda para o Brasil.

Seu próximo desafio será um campeonato que acontece no final deste mês em Paris, na França. Como avalia essa competição? Esse campeonato pertence a uma das etapas do Circuito Mundial. Já recebi convite e espero representar bem o Brasil, vou ficar lá por uma semana e já vou voltar para treinar mais, pois no final de junho tem a próxima etapa do Circuito Mundial na República Tcheca e na Inglaterra.

Eu fiquei sabendo que para conseguir comprar o seu primeiro skate você teve que trabalhar entregando panfletos, vendendo brigadeiro e fazendo faxina. Como foi isso? Sim. Eu queria comprar um skate novo e naquela época custava R$ 80. Pedi para minha mãe e, como eu sempre deixava os meus brinquedos no quintal, ela disse que era mais uma coisa que eu deixaria na chuva, no sol, e estragaria rápido e que ela não ia me dar o dinheiro, mas que teria que ralar para conseguir. Foi aí que tivemos a ideia de vender brigadeiros na avenida, entregar panfletos e, como faltava pouco para inteirar essa grana, minha mãe dispensou a faxineira da semana e me pagou para limpar a casa. Foi assim que consegui meu primeiro skate novo.

Jéssica Florêncio

Para quem teve que comprar seu próprio skate, hoje você já é dona de uma loja de artigos e assessórios da modalidade. É seu objetivo seguir como empresária? Por eu ter escolhido o skate como minha profissão, assim como todo esporte, estamos sujeitos a sofrer lesões durante a sua prática e justo no ano passado sofri uma lesão no ligamento do tornozelo e praticamente perdi toda a temporada de campeonatos da Europa. Nessa mesma época meu pai encontrava-se desempregado e foi aí que tivemos a ideia de abrir nossa loja e, graças a Deus, está indo muito bem, trabalham eu de manhã, meu irmão à tarde e minha mãe administra. Nossa loja, hoje, é uma loja de skatistas e de família, por isso acredito que está indo tão bem, pois nada melhor que trabalhar em família.

Jéssica Florêncio

Qual a importância do apoio familiar? Nossa, o apoio da família é fundamental. A família estar sempre ao lado, acompanhando, se familiarizando com o esporte que o filho pratica, tipo falar a mesma língua, é bom demais. Graças a Deus eu e meu irmão sempre tivemos esse apoio.

O que você acha do desenvolvimento do skate e de outros esportes de ação no Brasil? O skate só perde para o futebol! Ele está no ranking como segundo maior esporte radical praticado no mundo e está se desenvolvendo muito. Vejo por Artur Nogueira, que antes eram poucos skatistas e hoje a pista está sempre lotada. Também tem várias cidades apoiando os esportes radicais realizando campeonatos e um deles foi o grande evento do X Games, em Foz do Iguaçu deste ano. O skate sempre foi e sempre será febre da criançada.

Qual a diferença entre o esporte e as competições aqui e em outros países? A diferença é sempre a estrutura dos eventos, que geralmente lá fora são bem maiores. As premiações também são diferentes, lá fora são sempre dadas em dinheiro e aqui, no Brasil, em peças e mercadorias de skate.

Você pratica outros esportes? Ah, gosto de tudo que é esporte ainda mais se for radical, mas por enquanto só o skate mesmo.

Para você, existe manobra impossível? Tem muita manobra que ainda quero aprender. São manobras que os skatistas já realizaram, então não seria impossível. Basta treinar bastante que uma hora ela sai com certeza. Gostaria muito de aprender um ‘hard flip board de back’, uma manobra onde o skatista salta e faz com que o skate faça vários movimentos em um corrimão.

Jéssica Florêncio

Você disse que já sofreu algumas lesões praticando o esporte. Qual foi a mais grave? Já quebrei o dedo, já torci o pé, mas o mais grave de todos aconteceu no ano passado, quando tive uma lesão séria. Sofri um estiramento do ligamento do tornozelo e tive que voltar às pressas para o Brasil para o tratamento que durou cerca de seis meses e não pude participar das competições da Europa de 2012.

Você já enfrentou algum tipo de discriminação por ser skatista, principalmente por ser uma mulher? O preconceito sempre existe. Enfrentei e ainda enfrento essa discriminação, mas as pessoas que me conhecem mudam essa ideia. Acho que não dou a impressão do skatista que as pessoas estão acostumadas a ver. Acabo conseguindo uma abertura para mudar o conceito dessas pessoas sobre o tema em geral. A maior parte do preconceito vem de pessoas de dentro do meio do skate, que não dão ao esporte o valor que ele merece. É triste. Sempre tento ver o lado bom das coisas, além de normalmente acabar me sentindo motivada e desafiada, o que é bom para mim.

Como você avalia a cidade de Artur Nogueira para a prática esportiva do skate? O que poderia ser melhorado quando nos referimos em apoio e infraestrutura? A pista aqui é muito boa para treinar, mas seria melhor se tivesse uma pista bem street, o que é bom para treinamentos e subir o nível das manobras. Como exemplo aqui, no Brasil, tem a Skate Plaza de São João da Boa Vista, que é bem diferente do padrão normal das pistas brasileiras. E também seria interessante cobrir a pista de skate, no caso isso ajuda muito quando tem eventos como campeonato e para realização da escolinha de skate, que já tem como planos para o futuro aqui em Artur Nogueira. Também fazer banheiros, bebedouros e colocar uma arquibancada no local ajudaria e muito.

Jéssica Florêncio

Você comentou algo sobre uma escolinha de skate em Artur Nogueira… Sim. Na verdade é um projeto que gostaria que fosse desenvolvido em nosso município. Assim como já temos escolinhas de futebol e vôlei acho que poderíamos oferecer aos nogueirenses uma escolinha de skate, onde poderíamos ensinar as manobras e a história da modalidade. Levei a proposta para a Secretaria de Esportes e eles gostaram da ideia. Falei com o secretário Sandro Sacilotto e ele disse que pretende montar um projeto e apresentar para o prefeito. Estou disposta a ensinar e desenvolver um trabalho voluntário aqui. Estou confiante que dará certo.

Seu irmão, Yean Florêncio, também está seguindo seus passos. Você acredita que em breve poderemos ter mais um nogueirense subindo em pódios mundiais? Sim, com certeza. O Yean é muito dedicado aos treinos e compete bastante aqui no Brasil, no final de junho ele irá comigo para a Europa, pois terá competição para a categoria dele, que é amador. Quem sabe ele consegue alguma medalha lá também. A competição no skate para os homens é mais difícil, pois o público de skatistas é bem maior que a minha categoria do feminino. Mas não é impossível, acredito muito no potencial dele.

O que diria para os jovens nogueirenses que te admiram e que gostariam de conquistar uma vitória no skate? Ande de skate para se divertir e a consequência disso vem com o tempo. O uso de equipamentos de segurança é muito importante também, principalmente no começo. E siga seus sonhos e objetivos. Nunca desista deles.

Fotos: Renan BussuloJéssica Florêncio

Jéssica FlorêncioCaricatura: Tomás de Aquino


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