28/09/2013

Geso fala da Casa da Memória e sobre a arte de resgatar fotos antigas

“Quando a história não fecha é porque alguém ocultou partes dela” (Geso) ……………………….. Alex Bússulo Para o nogueirense Geso Franco de Oliveira, resgatar a história de Artur Nogueira através de fotos e vídeos é mais do que um hobby, mas um assunto para se levar a sério. Nascido e criado no município ‘Berço da Amizade’ […]

Geso“Quando a história não fecha é porque alguém ocultou partes dela” (Geso)

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Alex Bússulo

Para o nogueirense Geso Franco de Oliveira, resgatar a história de Artur Nogueira através de fotos e vídeos é mais do que um hobby, mas um assunto para se levar a sério. Nascido e criado no município ‘Berço da Amizade’ ele sempre gostou de ouvir e contar histórias que marcaram época.

Há mais de um ano, motivado por amigos, criou um grupo dentro da rede social Facebook com o objetivo de ampliar seu acervo de fotos antigas. O grupo fez tanto sucesso e atraiu inúmeras pessoas que ganhou uma nova proposta.

Em agosto deste ano, com o apoio da Prefeitura, Geso deu um passo a mais e idealizou a Casa da Memória – um projeto que, assim como o grupo na internet, pretende resgatar histórias de nossa cidade.

Na entrevista desta semana, Geso fala como idealizou o projeto, fotos que marcaram época e quem são, na opinião dele, os nogueirenses do século. Confira:

Como surgiu a ideia de montar um grupo de fotos no Facebook? Há tempos eu, ao lado de meu irmão Harley, com os amigos Deley e Melinho, trocávamos fotos antigas por e-mail. Em 29 de maio de 2012 formei o Grupo “Fotos Antigas”, com a intenção de facilitar as trocas das fotos. Na primeira semana nós éramos os únicos membros, mas com o sucesso do grupo um foi adicionando outro e mais outro e hoje somos 640 membros. A maioria dos membros são nogueirenses natos, e muitos residem pelos estados do Brasil e também nos Estados Unidos, Itália, Portugal, Japão, etc. É algo contagiante e as pessoas me falam que todos os dias tem que entrar um pouquinho para ver o que há de novo e fazer comentários.

Qual é a foto mais rara? A foto mais rara é aquela que existe, mas ainda não apareceu. Há muitas raridades guardadas e outras se perdendo por aí. Muitas pessoas não dão importância para as fotos que tem, mas com o tempo elas aparecem.

Mas do arquivo do grupo, qual a foto mais curiosa? Não é uma foto, mas sim um vídeo que conseguimos através do ex-vereador Melinho. É um filme mudo de 1928 sobre a cidade de Mogi Mirim onde aparece o “Distrito de Paz de Artur Nogueira” por 58 segundos, tempo suficiente para vermos a capela de São Sebastião, atual Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores, e os casarões ao seu redor, também aparece a sede da Prefeitura, partes da avenida Dr. Fernando Arens e da rua Dona Maria, atual 1º de Janeiro, que era a divisa de Mogi Mirim e Campinas.

Você sempre foi apaixonado por fotografia? Gosto de fotos, mas sou apaixonado pela história de nossa cidade e com as fotos antigas é mais fácil de entender e imaginar. As fotos de família são as que eu mais aprecio por ter oportunidade de lembrar ou conhecer pessoas de nossa história.

Quantas fotos o grupo já possui? Hoje, o grupo tem 4.100 fotos publicadas. No início era tudo misturado: fotos de família, casamentos, carnaval, viagens, desfiles cívicos, formatura, banda 24 de junho, noivas, etc. Recentemente criei o grupo “Amigos Anos 80”. Com o tempo, mais pessoas passaram a gostar da ideia e foram criados outros grupos. A Marlene de Sousa Carlstron criou o Grupo “Os mais belos vestidos de noivas da Ica”, em homenagem à conhecida costureira Adélia Caetano (Ica), já falecida. O Deley dos Santos criou o grupo “Fotos Históricas” e “Banda 24 de Junho”, e aí as postagens foram se dividindo por assunto.

Existe alguma foto que você ainda está à procura? Tem algumas fotos que procuramos muito, mas também não sabemos se elas existem. Por exemplo, fotos das bombas de gasolina que existiam antigamente, uma na rua 1º de Janeiro, que pertencia à família “Berni”, e outra na rua 7 de Setembro, que pertencia a família “Amaro Rodrigues”. Outra situação que gostaríamos de encontrar alguma foto foi quando o expedicionário Acrisio Arrivabene voltou da guerra em 1945, sei que fizeram uma grande festa na estação para recepcioná-lo, a banda tocou e a estação e o trem que o trazia estavam decorados em verde e amarelo. Será que alguém registrou esse momento?

Tem alguma foto que você conseguiu, mas por algum motivo não publicou? Sim, muitas. As pessoas disponibilizam seu acervo pessoal e familiar, mas muitos não gostam que suas fotos sejam publicadas. Estamos falando de fotos e pessoas antigas. Foto não era comum naquela época. Tem fotos em que as pessoas estão na praia, em trajes de banho, ou com algum namorado(a) da época, coisas desse tipo, sabe como é [risos].

Geso

Aconteceu algum fato em Artur Nogueira que se não tivesse sido fotografado ninguém acreditaria? Olha, tenho conhecimento de um grande tremor que abalou o município em 1918. Foi durante a madrugada do dia 15 de janeiro, há 95 anos, quando o tremor estremeceu casas e deixou em pavor os nogueirenses, que chegaram a pensar que o mundo estava acabando. Sei disso devido a um registro de um diário que foi autenticado e assinado por várias pessoas daquela época. Se não fosse esse documento, provavelmente seria difícil acreditar neste fato.

Diário autenticado

O que você pretende fazer futuramente com o grupo Fotos Antigas? Acredito que o grupo vai existir por muito tempo. Além das fotos publicadas, é uma excelente ferramenta para o encontro das pessoas. Essa semana uma foto publicada no ano passado voltou ao topo devido a 40 comentários gerados, vi várias pessoas que estão na foto se comunicando, contando histórias da foto, pessoas de diferentes partes do Brasil. Por esses e outros motivos sempre peço fotos e para as pessoas continuarem publicando, mantendo essa gostosa forma de lembrar e rever amigos.

Em agosto, você lançou o projeto ‘Casa da Memória’, que tem como objetivo resgatar a história de Artur Nogueira. Como você teve essa ideia? A ideia da “Casa da Memória” partiu da união dos grupos de fotos antigas do Facebook. Durante este ano esse movimento ganhou força com o apoio da Prefeitura, através da Secretaria de Cultura. Com o intuito de dar continuidade ao maravilhoso projeto dos irmãos Sergio e Mano Fromberg, que resgatou através de estudos e pesquisas boa parte de tudo o que sabemos sobre nossa cidade, elaborando os livros Berço da Amizade e Janela Aberta, que pelo que sei é a única literatura que temos sobre nossa cidade. Toda história tem início, meio e fim. O Projeto Casulo (2001) do Mano Fromberg será aberto em 2100, ou seja, daqui há 87 anos, precisamos contar o meio dessa história, pois o fim muitos não estarão aqui para ver. Sabemos que lá se encontram fotos, documentos, vídeos, reportagens e história de nossa cidade, porém temos que coletar mais documentos, imagens, vídeos e depoimentos de pessoas que estão vivendo nesse tempo e que daqui há 40/50 anos já serão história também, ou seja, tentar contar para as pessoas o que tem no Projeto Casulo.

Como está sendo produzir a Casa da Memória? Com a união dos grupos temos um grande acervo de fotos, documentos e vídeos, mas continuamos a coletar material. Atualmente estamos gravando depoimentos de pessoas idosas que pertencem às famílias pioneiras de nossa cidade, pessoas que ajudaram no desenvolvimento de Artur Nogueira. Isso é muito prazeroso de se fazer, gravamos um depoimento por semana, combinamos antes com os familiares e deixamos uma relação com sugestões de assuntos a serem abordados, orientamos um familiar para que alguns dias antes converse com o entrevistado sobre os assuntos. Como são pessoas idosas e com disponibilidade de tempo elas ficam lembrando muito do passado nos dias que antecedem a gravação. No dia da gravação, o depoimento é espontâneo, nós ficamos atrás da câmera, eles falam naturalmente, às vezes um familiar ajuda quando nota que há alguma dificuldade em lembrar algo. Quando um assunto acaba perguntamos algo sobre outro assunto e assim sucessivamente, cada depoimento dura em média 70 minutos. Quando falo que é prazeroso fazer isso, falo porque descobrimos histórias fantásticas e também ficamos sabendo de muitas perguntas sem respostas que a história ocultou, quando a história não fecha é porque alguém ocultou partes dela, isso nos intriga e às vezes, em outros depoimentos, a parte ocultada aparece e ficamos radiantes com a montagem do quebra-cabeça, tem cada uma [risos]. Depois de pronto o vídeo, a família recebe uma cópia e outra fica para a Casa da Memória, que será usada no futuro, queremos em um futuro próximo conseguir um espaço físico que abrigue esse material que conte nossa história, e que os descendentes dessas famílias possam ver através de imagens, vídeos e documentos a história de sua família e que todos também tenham acesso. A Casa da Memória é um patrimônio público e está aberta a todos que queiram contribuir e participar. Lembrando que somos voluntários e geralmente nos reunimos a cada 15 dias, às quintas-feiras às 19 horas na Réplica da Estação Ferroviária.

Geso

Por que é importante relembrarmos a história? Como diz aquele ditado: “Povo sem memória é povo sem história”! Essa semana, em reportagem sobre o Projeto Casulo, vi vocês do Portal Nogueirense perguntando às pessoas se elas conheciam o Projeto Casulo que está enterrado na praça, e notei que a maioria não sabia do que se tratava e olha que isso ocorreu há pouco mais de 10 anos. Estive também essa semana na escola do CAIC que tem como patrono o ex-prefeito Ederaldo Rossetti. A diretora Katia fez uma linda homenagem na data em que o Ederaldo, se estivesse vivo, completaria 64 anos. Os alunos viram vídeos e leram material preparado sobre o ex-prefeito, sendo que a maioria das crianças não teve oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, uma bela iniciativa. Para você ter uma ideia, fiz uma pesquisa com pessoas antigas da cidade, perguntando: você sabe quem foi Ângela Peciferrari? Uma grande maioria não sabia, todos conheciam e sabiam quem foi Dona Angelina Peciferrari Rezek, e é a mesma pessoa. Estou fazendo um estudo sobre as denominações dos nomes das ruas e praças, levantando leis, decretos e indicações, assim descobriremos quem denominou, porque e quem foi o cidadão que deu o nome a rua ou praça de nossa cidade.

E o que fez essa Ângela Peciferrari? Ela doou ao município, em abril de 1965, um terreno de 5 mil metros para ser construído um grupo escolar, consignado ao município autorização para denominar a praça com o nome de Jorge Rezek, esposo falecido da doadora, como também indicar à Assembleia Legislativa para designar o mesmo nome como patrono do futuro grupo escolar a ser construído na mesma praça.

Geso

Então era para termos uma escola chamada Jorge Rezek? Então, era para ter! O município passou em doação o terreno ao estado para construção do Ginásio Estadual. Quando pronto, em 1971, o ginásio, que na época funcionava no Educandário foi transferido para o novo prédio, e o mesmo já veio denominado Ginásio Estadual José Amaro Rodrigues. Eu não encontrei, mas acredito amparado por uma lei estadual. Com o falecimento da doadora, a rua lateral do ginásio foi denominada Ângela Peciferrari. Em 1984, o então prefeito Claudio Alves de Menezes denominou, no Jardim Rezek, praças com nomes de Jorge Rezek e Ângela Peciferrari Rezek.

Para você, quem são os nogueirenses do século? Com certeza esquecerei de muita gente que mereceria esta honraria, mas vamos lá: o Major Artur Nogueira – que era proprietário das terras de nossa região, Fernando Arens Junior – que projetou o município, Daniel Cesário de Andrade – que foi o fundador da banda e os 11 emancipacionistas: Atílio Arrivabene, Raul Grosso, Elysio Quinteiro, Rodolfo Rossetti, Jose Amaro Rodrigues Filho, Reinaldo Germano Stein, Roberto Amaral Green, Santiago Calvo, Humberto Rossetti, Severino Tagliari e Jacob Stein.

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Caricatura: Tomás de Aquino

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