11/07/2015

ENTREVISTA: Edson Roberto Mauro

Presidente da Associação dos Feirantes e Ambulantes de Artur Nogueira (Afaan) fala sobre a feira no meio da semana e revela detalhes do projeto que começa na próxima quarta-feira.

Capa 2“A feira é uma união! Por ela eu faço, peço e brigo!” (Edson Roberto Mauro)

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Isadora Stentzler

Edson Roberto Mauro é o atual presidente da Associação de Feirantes e Ambulantes de Artur Nogueira (Afaan).  Ele está animado, pois na próxima semana começam as feiras no meio da semana e haviam acabado de chegar as últimas barracas.  Disse que serão doadas aos cerca de 30 feirantes que participarão da nova edição. “Essa é só para os produtores. Não são muito resistentes, mas devem durar até dezembro. Assim deixamos padronizado.”

Ele também é produtor, vive em Artur Nogueira há 61 anos, salvo quatro em que foi ao Paraná e conheceu Marli Garcia de Lima Mauro, com quem esse mês comemora 33 anos de casado e os três filhos que tiveram.

Muito político, fala da história da associação e do quanto se importa com o trabalho realizado ali. Também acha que o assunto é coisa séria, mas nega que tenha partido e que um dia se candidatará a algum cargo político. “Agora não.”

Em entrevista ao Portal Nogueirense ele se mostra descontraído, frisa o trabalho realizado e também a importância da Feira para os produtores locais. Nega atritos com a Casa da Agricultura, mas é feroz ao falar dos produtos orgânicos. “Terão que me provar que Artur Nogueira tem produto 100% orgânico!” Ainda fala da crise hídrica e aponta que se as chuvas não vierem a qualidade do produto vai cair. “O que eu vejo é que tudo o que acontece no mundo acontece em Artur Nogueira”, conspira. “Já reparou? Eu tenho notado isso lá no fundinho.”

Nesta conversa realizada na quarta-feira, dia 8, no Estúdio do Portal Nogueirense, Edson se abriu e contou em detalhes os projetos da Feira para o município e produtores.

Como foi a movimentação para começar a feira de domingo? Gostaria que falasse do início.
Ela iniciou lá pelo Itamaraty à fora, mas isso a muito tempo atrás. Alguns feirantes, sitiantes, né, foram montando as barraquinhas. Aqui no Cardona teve algumas barraquinhas. Depois um entra, outro sai, aí passou pra cá na época do Luiz de Faveri que era prefeito, na [avenida] XV de novembro. Aí tiraram da XV pra colocar onde é hoje [Rua Duque de Caxias], porque lá ia modificar. Mas no modificar, não sei se foi erro de projeto, fizeram ela estreita. E não tem como colocar uma feira assim. Ela não comportava as barracas. No fim das coisas ficou melhor aqui [Rua Duque de Caxias] do que lá, e a turma não quer sair.

Então desde quando ela está na Duque de Caxias?
Na época do Capelini. Bem menos de dez anos. De cabeça assim você me pega. Male mal lembro a data do dia que eu nasci [risos]. Mas acho que foi na época do Marcelo Capelini. E na época que ela veio para cá houve algumas divergências e aí foram adequando. Na época não era eu que estava na presidência da Associação.

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E como foi que você chegou na presidência da Afaan?
Na época estávamos vendo que não havia ninguém que nos representava. Tinha a Associação mas não tinha ninguém representando a nós. Aí nós se juntamos entre nós, fizemos uma chapa. Na época que deu a eleição não teve concorrência, não teve nada. Foi assim unânime. Então a gente assumiu a associação. Agora está fazendo dois anos. E a gente já fez muita coisa por essa Feira nesses dois anos que estamos aí. Inclusive daqui seis meses haverá uma nova eleição, mas a turma não quer nem saber. Porque quando a gente chegou na Associação foi muito difícil, porque a Associação vive de arrecadação mensal dos feirantes e dos ambulantes também. Agora estamos querendo organizar a entidade. Porque o outro que estava lá [na presidência] arrecadava e não fazia nada. Por isso quem contribuía parou de contribuir. Mas uma coisa eu digo, quando é algo para os feirantes, para os ambulantes, eu vou em qualquer lugar. Eu peço, eu vou de joelho, eu me arrasto! Faço tudo pelo coletivo. A Feira é uma união! Por ela eu faço, peço e brigo!

Quanto é cobrado de cada associado?
É uma fortuna que você nem imagina – ironiza –: catorze reais por mês… e metade não paga! Bom, por causa desse presidente. E eles [produtores] estão certos! Estou de acordo com eles. Como você vai pagar R$ 14 todo mês se você não está vendo retorno? No estatuto fala que hoje a quantia seria de R$ 17, no caso, né. Mas já está difícil de receber os R$ 14, se eu subir fica pior ainda.

O que é feito com esses valores?
Pelo menos uma vez por mês a gente coloca algodão doce gratuito na feira e um carrinho de pipoca. Inclusive teve domingo. E todo mês tem pipoca pro povo pra chamar a atenção, pro povo vir. Sabe aquela coisa de: ‘Ó, vamos passar na feira, lá tem um pipoquinha! E cada feirante que contribui eu passo de manhã cedo, antes de ir para minha barraca, e dou dez valinhos de algodão doce. Ou o camarada vai lá e come, ou ele troca. Entendeu? É uma forma de incentivar. Essa foi uma forma que eu achei de aumentar um pouco mais a venda de quem contribui. Agora, quem não contribui está a Deus dará. Só não está sozinho porque eu não deixo. Mas indiretamente está.

Então a falta de contribuição é um dos maiores empecilhos para o trabalho da Afaan?
Pra aumentar o trabalho da Associação sim. Porque não tem verba! Nesse primeiro ano foi apertado, porque até dinheiro do bolso eu tirei. E quem quiser saber aonde é gasto é só chegar e perguntar para mim que eu mostro tudo para ele. Eu não chamo todo mundo e falo: ‘Ó! Nós gastamos isso’. Não. Mas se você está interessado em saber onde está indo o dinheiro: ‘Ó, ta no banco. Aqui está o extrato do último mês’. Do que foi arrecadado do carnaval ano passado, por exemplo, comprei aquelas sainhas que põe em baixo da barraca. Não sei se você já reparou, mas agora a feira é verdinha de fora a fora. Antes parecia uma favela. E isso foi a Associação que fez, no primeiro ano. Para quem contribuía eu dei de graça e para quem não contribuía eu dei de graça também. A Associação deu para deixar a Feira um pouco mais animada. E ela ficou. Mais bonitinha, mais arrumada, né.  Aí o pessoal da administração viu que está sendo feito alguma coisa e passou a dar mais apoio. Agora só precisamos arrumar o estilo da feira em cima. Mas o secretário da Agricultura disse que vai mudar o estilo da Feira.

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Isso em relação as barracas, como vai acontecer na de quarta-feira?
O negócio foi assim: Eu cheguei pro Celso [Capato] e falei Celso, nós precisamos montar uma Feira de meio de semana porque toda cidade tem e nós não tem. Aí o Celso autorizou desde que fosse com a Casa da Agricultura organizando. Então dei uma entrada junto com o Ambé. Quando nós íamos marcar uma reunião para marcar o chão e fazer tudo certinho, o Ambé morreu.  Aí entrou o Renato. E nisso foram meses até se encaixar de novo. Quando deu foi o seguinte: o Renato foi junto com o Alcir para ver onde podia ser. Eu ia fazer no Sacilotto. Lá em baixo. Mas aí por causa de segurança, de ter banheiro, ter tudo… falaram no Santa Rita. E tudo mundo aprovou. ‘Melhor no Santa Rita!’ Eu queria no Sacilotto porque ia abranger todo o pessoal de lá. Mas o Santa Rita também abrange. Então foi tudo bem. Organizei um pessoal. Só que o Renato, com outra ideia, achou que o feirante teria dinheiro para comprar uma barraca toda padronizada. Falei não. Vamos fazer assim: a Associação tem dinheiro para comprar 33 barracas. Eu vou dar pro pessoal. É um padrão só. São tendas. Aquelas tendinhas brancas que nem as do carnaval. Vamos iniciar com elas e a partir de janeiro a gente tem tempo de juntar dinheiro e comprar essas outras padronizadas.

E como será essa feira de quarta?
Serão 12 produtores. Mas tem coisa que o produtor de Artur Nogueira não produz, como maçã, pera. Então alguns produtos virão de fora. Por que como você vai chegar numa feira só para comprar verdura? Tem que ter fruta. Ao todo serão 33 barracas, porque terá também  pastel, caldo de cana, yakisoba e acarajé. E essa será uma feira noturna, vão começar a montar as 15h para começar as 16h e vai até as 21 horas. Você vai sair do serviço e já pode passar lá e levar uma verdura fresquinha. Porque o que você compra domingo, passa segunda, terça e chega quarta já não tem mais. O que eu combinei com eles também é que o preço seja mais acessível para o povo que vai. A intenção é incentivar o produtor a produzir cada vez mais e eliminar o atravessador.

Há previsão de expandi-la?
Conforme for aumentando a movimentação, nós vamos expandindo a feira. Porque não podemos começar com 100 barracas. Com 30 já é bastante. Se for aumentando o fluxo, e se Deus quiser vai aumentar, aí a gente vai expandindo. Se não couber mais aí vamos de novo buscar um novo lugar.

Existem produtos orgânicos na feira de domingo que também vão aparecer na feira de quarta?
Olha, até agora produto orgânico em Artur Nogueira não existe. Quem está falando que é orgânico eu acho que é mentira. Porque você precisa estar no mínimo a 30 quilômetros longe de qualquer poluição para sair orgânico. E aqui nós temos poluição. Estão tentando produzir orgânico aqui. Mas é mentira que tenha na nossa região. Que me prove! Existe assim, só no fundo de quintal de casa, longe. Porque você não vai passar veneno para você comer. O problema é que está muito contaminado o solo.  O ar está contaminado.

Estudos falam que os produtos orgânicos são melhores para a saúde. O que falta para eles serem produzidos aqui? Você já citou alguns fatores como a poluição e o solo contaminado…
É muito difícil produzir produto orgânico aqui. A não ser que se esteja bem afastado do centro. E é um processo muito caro. A semente tem que ser orgânica, o que é uma fortuna!  Ninguém vai comprar. Em casa eu tento, mas não consigo.

Mas em relação aos venenos, como glifosato, não trazem perigos à saúde do produtor?
O glifosato auxilia o produtor! Nós não temos mão de obra, não temos nada. Então você passa o glifosato e eu não sei qual o grau de contaminação dele, mas ele auxilia o produtor em tudo. Porque mata o mato.

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Existe atritos entre a Associação com a Casa da Agricultura e a Copafran?
Não, não existe. Inclusive são todos colaboradores. Um colabora com o outro. A Associação precisa da Casa da Agricultura. Tanto deles quanto da Secretaria de Segurança. Pode não parecer, mas a feira precisa de tudo.

Você se demonstra uma pessoa muito política. Você tem afinidade por algum partido e pensa se candidatar a algum cargo eletivo um dia?
Não. Partido eu não tenho nenhum. Meu negócio é mexer com o povão. Gosto de mexer com o povão toda a vida. Eu gosto de estar no meio da coisa. Mas política por enquanto não. Eu sou antipolítica. Se entrar um vereador, um político no meio da Feira, eu saio fora. Existe a administração, mas sem nenhum político.

No ano passado o sudeste do país passou por uma crise hídrica que afetou os produtores. Esse ano as previsões indicam um inverno seco com poucas chuvas. Como isso afeta a Feira em relação aos produtos e aos preços?
Tudo o que acontece no estado e no país parece que repercute em Artur Nogueira. Pode ver, quando chove no Brasil inteiro em Artur Nogueira não está chovendo. Já reparou? Eu tenho notado isso lá no fundinho. Mas quanto à crise hídrica, se ver que vai ter seca, diminui um pouco a plantação. Não expande, diminui. Se retrai. E vai preparando outras coisas que podem ser manuseáveis na seca. Porque é bem difícil. Diminui o custo e o lucro [para o produtor].

Em relação aos resíduos que sobram da Feira. Para onde são destinados?
Não sobra muito resíduo na feira porque o pessoal está trazendo pouco [produto]. E o pouco que traz não sobra. Então eles diminuíram, trazendo só o necessário. Porque primeiro vinha um montão e sobrava. E não sei o que eles faziam. Agora eles foram se conscientizando. Se antes traziam cinco caixas de tomate e só vendiam duas, três tinham que jogar fora. Então agora só trazem duas, porque ele sabe que as duas ele vai vender e não vai ter perda.


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