23/11/2013

ENTREVISTA: Edna Sarpa fala sobre trajes, elegância e relembra vida em Artur Nogueira

Ela é uma das mais tradicionais costureiras do município. Aprendeu o ofício com a mãe quando ainda era adolescente. Também está à frente da loja Sonho das Noivas há 25 anos. Na entrevista desta semana, Edna relembra situações e histórias que marcaram sua vida

capa 2“Ser elegante e estar na moda é ser educado, honesto e carinhoso com os outros” (Edna Sarpa)

………………………………….

Alex Bússulo

Quando alguém pensa em trajes para casamento em Artur Nogueira um nome logo vem à mente: Edna Sarpa. Uma costureira e empreendedora que tem a admiração e o respeito de muitos nogueirenses. Há 25 anos ela está à frente da loja Sonho das Noivas, no centro, alugando e vendendo vestimentas sociais para noivos e debutantes.

O sorrido carismático desta nogueirense de 59 anos de idade contagia e encanta a todos. De jeito humilde e atencioso, Edna dá uma verdadeira lição de vida, trabalho e família. Ela nasceu e foi criada no bairro da Parada. Seu pai, Plácido Boer, era dono de uma venda, que servia de ponto de encontro na época.

Ao lado do comércio da família também havia a escola, que atendia crianças da redondeza. “Me recordo que a professora tinha que ficar na casa de meus pais, pois ela vinha de longe, vinha para o bairro e passava a semana toda”, relembra Edna.

A nogueirense conta que a Igreja da Parada foi construída por sua própria bisavó, Dona Maria da Rocha. “Todo terceiro domingo do mês tinha, como ainda tem, uma missa. Ali, o bairro todo se reunia e as pessoas se saudavam. Eram realizadas aulas de catecismo todas as manhãs de domingo. Naquela época difícil, a primeira televisão do bairro foi na venda de meu pai. Muitas pessoas se reuniam para assistir jornal, novelas, filmes, futebol, luta livre. Eu eu achava tudo aquilo muito divertido. Aos domingos também era dia de paquera e todos os jovens se encontravam ali. Quantos namoros e quantos casais se formaram naquele lugar. Momentos calorosos de se lembrar e que a gente nunca esquece”, afirma.

No dia 22 de junho de 1974, Edna casou-se com o próprio primo, João Sarpa. “Nos conhecemos desde que nascemos. Como primos, crescemos juntos, sempre fomos vizinhos e nossa divisa era a estrada. Namoramos por três anos e hoje já são quase 40 anos de uma vida conjugal feliz, com uma história baseada no amor e no companheirismo. Agradecemos a Deus todos os dias por nos permitir viver em paz e harmonia”, conta Edna.

IMG_9610Edna e o marido João Sarpa: 40 anos de união Sem Título-1

O casamento do casal foi realizado na Igreja Matriz nossa Senhora das Dores e a recepção no Clube Recreativo Floresta. “Tudo foi muito lindo na época. O som foi feito pelo Toninho Baldasso. No dia de nosso casamento o Humberto Rossetti, que tinha uma loja de móveis e eletrodomésticos, levou uma televisão e instalou no pátio do clube, pois o Brasil jogaria contra o Zaire. Para aumentar ainda mais a nossa alegria, o Brasil ganhou o jogo”, relembra.

IMG_9612Os convidados da festa também puderam assistir ao jogo do Brasil; olhem a TV da época

O vestido de noiva que Edna usou no casamento foi comprado em outra cidade. “Na época fui para Campinas com meu pai para comprar o vestido, pois não se alugava roupa. O vestido não era exatamente o que eu queria, mas era o que meu pai podia comprar. Era simples, mas me senti realizada e linda nele”, diz Edna.

IMG_9613

O casal teve três filhos: Ana Andréia, André Francisco e Juninho, todos já casados. Aliás, Edna conta um fato inusitado que marcou o casamento do caçula. Mesmo tendo uma mãe que poderia lhe oferecer praticamente todo tipo de traje, Juninho casou usando um tênis. “Ele usou um All Star! Foi uma luta para tentar fazê-lo mudar de ideia. Na verdade, eu logo aceitei o estilo proposto por ele, que é um tanto diferente [risos], mas o João foi até o último dia tentando convencê-lo. Até foi feito a proposta de comprar o tênis, porém tudo em vão. Sem contar que a dama de honra dele também estava de All Star. Só notamos na porta da igreja [risos]”.

248808_212629578769927_2892524_nO caçula de Edna casou usando um tênis / Foto: Arquivo pessoal

Edna afirma que aprendeu a arte da costura com a própria família. “Minha mãe, Doracy Mantovani Boer, sempre foi costureira. Ela costurava para uma turma de 12 irmãos e mais a vizinhança. Cresci vendo ela costurar. Com 15 anos eu também já ajudava na costura. Minha mãe fez muitos vestidos de noiva. Ela também acompanhava as noivas até Cosmópolis, pois na época todos tiravam foto da confeccionista do vestido. Tenho fotos até de minha mãe junto com os pais do João Vicenssotti, quando foram para Cosmópolis, de charrete, tirar fotos numa segunda-feira, depois do casamento. Na época, em Artur Nogueira, não tinha fotografo”, relembra.

IMG_9607Como responsável pelos trajes, a mãe de Edna posa ao lado do casal; na época isso era comum  

No começo, Edna costurava na própria casa. “Numa situação, apareceu alguém me pedindo que eu fizesse um vestido de noiva. Como ela não poderia me pagar deixaria o vestido comigo depois de usá-lo. Algum tempo depois, essa mesma pessoa mandou outra colega alugar o vestido, como eu já tinha alguns blazers que já não serviam no meu esposo aluguei também para o noivo da moça. Foi assim que começou a procura por trajes para alugar. Como em casa o espaço era pequeno resolvi montar a loja Sonho das Noivas. Quis alugar o prédio do Ambé para montar a loja e ele, bem sincero, disse na época: ‘Eu até tenho o prédio para locação, mas será que alugar roupas aqui em Artur Nogueira vai virar?’ – disse ele. E graças ao nosso bom Deus virou e deu certo. Fiquei ali ao lado do colégio Amaro alguns anos e depois resolvi ir para o meu próprio espaço, onde estou até os dias de hoje”.

Em décadas de trabalho, a costureira acredita ter vestido mais de mil noivas. “Deveria ter marcado, mas não sei ao certo, garanto que foram muitas, umas mil talvez ou um pouco mais. Teve um vestido diferente que marcou bastante. A noiva pediu um vestido vermelho. Ela era de Cosmópolis e, por sinal, a composição ficou linda, um vestido maravilhoso”.

3

A costureira afirma ainda que cada noiva possui um estilo próprio na hora da escolha do vestido. “Os modelos são bem diversificados, cada um com seu estilo e personalidade. Fazemos muitos vestidos evasês, sereia, mas os tradicionais nunca deixaram de ser procurados. O vestido perfeito para a noiva é aquele que ela se identifica, se sente bem e bonita”.

Para Edna, não existe contraindicação quando o assunto é traje de noiva, mas sempre deve haver bom senso entre as partes em escolher o que melhor combina. “A idade da noiva não importa. Vai depender do corpo e estado de espírito dela. Para disfarçar as gordurinhas temos truques e modelos que se adéquam melhor a cada tipo de corpo e orientamos sempre as noivas na escolha. Eu nunca tento mudar o estilo e opinião das pessoas, tento adequar o que tenho aqui com o que elas procuram”.

Quem conhece a Edna sabe o quanto ela é uma mulher especial. Sua felicidade contagia as pessoas a sua volta. Mulher de fé que revela que sua maior alegria está na família. “A felicidade sempre me acompanha graças a Deus, todos os dias. Tenho uma linda família: filhos, netos, genro e noras que são um presente de Deus para alegrar meu lar. E isso não tem preço. Minha maior felicidade é nos finais de semanas que estamos todos juntos e reunidos em casa. Meu lar está sempre cheio de amigos e isso faz a diferença. Fico feliz também quando, nas segundas-feiras, as pessoas vêm na loja devolver as roupas alugadas e nos elogiam e agradecem pelo trabalho. Além disso, também me sinto feliz por contar com minhas colaboradoras, pessoas maravilhosas que me ajudam todos os dias”.

Edna conta que elegância vai além dos trajes. “Ser elegante é ser educado, respeitar as pessoas e a partir daí vem o restante por consequência. De nada vale ser todo etiquetado com as melhores grifes, inteiramente na moda, se passa pelas pessoas e nem sequer diz um ‘Bom dia’. Logicamente que devemos ter bom senso para nos vestirmos. Ser elegante e estar na moda é ser educado, honesto e carinhoso com os outros. E as palavras mágicas nunca saem da moda, faz bem a quem recebe e mais bem a quem usa. Bom dia, boa tarde, obrigado e por favor – tudo isso faz o mundo viver com mais amor”, conclui Edna.

1Fotos: Schermen Dias


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.