26/10/2013

Dra. Liliana fala sobre prevenção e tratamento do câncer de mama

Dentro da campanha ‘Outubro Rosa’, médica mastologista afirma que 1 em cada 12 mulheres terá câncer de mama até os 90 anos de idade. A boa notícia é que se detectado precocemente as chances de cura são grandes

Drª. Liliana“O câncer de mama tem cura quando detectado precocemente” (Dra. Liliana Deucher Dutra)

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Alex Bússulo

Com o objetivo de chamar a atenção para a realidade atual do câncer de mama e a importância do diagnóstico precoce está acontecendo o ‘Outubro Rosa’, uma campanha que tem movimentado homens e mulheres em vários países.

O município de Artur Nogueira também aderiu à campanha mundial. Várias Unidade de Saúde da Família (USFs) promoveram palestras, encontros e caminhadas com o objetivo de chamar a atenção sobre os perigos da doença.

Dra. Liliana Deucher Dutra é uma médica residente em Artur Nogueira especialista em Mastologia, uma área que se dedica ao estudo das glândulas mamárias. Como mastologista, a médica vem se dedicando há anos na prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças da mama. Ela também tem mestrado em Saúde Materno Infantil com tese em câncer de mama.

Em 2001, junto com o esposo, Dr. Sidney Dutra, e o pai, Dr. Zildomar Deucher, criou e implantou o Hospital Bom Samaritano, localizado no Jardim Blumenau. Na entrevista desta semana, Dra. Liliana responde as principais perguntas a respeito do câncer de mama, destacando a importância do diagnóstico precoce. Confira:

O termo “câncer” ainda continua causando pavor entre as pessoas? A própria palavra em si é assustadora, pois tem como definição ser uma doença caracterizada por uma população de células que cresce e se divide desordenadamente, sem respeitar os limites normais. Com isso, geralmente invadem e destroem tecidos ao redor e, se não bastasse este tipo de estrago local, ainda podem se espalhar para lugares mais distantes do seu ponto de início, que correspondem as metástases, comprometendo ainda mais o tratamento para a doença. Para piorar um pouco, muito desse crescimento ocorre sem nenhuma percepção por algum tempo, literalmente dormindo com o inimigo. Quando lemos essa definição entendemos o porquê de estar relacionada a malignidade.

Afinal, o que é o câncer de mama? Como vimos a definição, o câncer de mama é quando as células da mama se dividem de forma desordenada em uma das estruturas que compõe a mama. Sendo uma glândula responsável pela produção de leite, ela é constituída por lóbulos, onde ocorre a produção, e pequenos canais que escoam este leite, denominados ductos. Este complexo glandular é sustentado por tecido gorduroso. São mais comuns os tumores nos ductos (canais) do que nos lóbulos.

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“Cerca de 1 em cada 12 mulheres terá
câncer de mama até os 90 anos de idade”

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Drª. Liliana

O câncer de mama também afeta aos homens? Qual a diferença do câncer nas mulheres? Sim, infelizmente ninguém e poupado. A constituição da mama masculina, guardando as devidas características de função e de hormônios que a regem, tem as mesmas possibilidades de vir a desenvolver câncer de mama. Temos uma porcentagem de incidência bem menor. As pesquisas apontam que para cada 100 casos de câncer de mama em mulheres, existe 1 caso de mama em homens, sendo portanto bem mais raro, mas presente. Estudos ainda mostram que a média de idade para o surgimento da doença está entre os 50 a 70 anos. Por não ser muito divulgado, geralmente a descoberta é mais tardia agravando assim o tratamento. Entre as principais causas da doença em homens estão as alterações genéticas e hormonais, alimentação rica em gorduras, excesso de ingestão alcoólica, além do uso de anabolizantes ou outros hormônios – segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia. Assim, homens, todo nódulo ou lesão em mama, deve ser vista por um médico, que solicitará exames como US, mamografia e biopsia do tumor. Dos resultados dependerá o tratamento a ser estabelecido, sendo estes, cirúrgicos, com a associação da Quimioterapia e/ou Radioterapia.

Quais são os riscos da mulher desenvolver um câncer de mama ao longo da vida? Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia, cerca de 1 em cada 12 mulheres terá câncer de mama até os 90 anos de idade. Esclarecendo, se pudessem ser acompanhadas ao longo dos anos de vida, e estes fossem até os 90 anos, 1 em cada 12 mulheres apresentaria a doença em alguma época da vida.

Quais os sintomas do câncer de mama? Os sintomas… temos aqui um problema, como vimos na definição, o crescimento dos tumores são celulares, e quando se descobre um tumor, ele já está em crescimento por um tempo e na maioria das vezes sem sinais ou sintomas presentes… lamentavelmente o câncer de mama é um dos tumores que só são palpáveis quando atingem cerca de 1 cm. Temos no Brasil índices de descoberta de lesões já localmente avançadas, com tumores maiores e com algumas lesões de pele ou a distância já presentes, o que é lamentável.

Existe uma idade em que a doença se manifesta com mais frequência? Conhecida e descrita como doença desde o antigo Egito, com referência nos estudos de observação de Hipócrates, o pai da Medicina na antiga Grécia, o câncer de mama tinha suas manifestações a partir da parada da menstruação-menopausa. Hoje, as principais vítimas desta doença estão com idade entre 40 a 69 anos, embora estejam sendo vistos tumores em mulheres bem mais jovens do que as observações de então e idades já mencionadas.

Qual é a maneira de se fazer um diagnóstico mais eficiente? Diferente do câncer de colo de útero que se faz prevenção, o câncer de mama se faz com detecção precoce, assim é que todo e qualquer esclarecimento à população é essencial para chamar a atenção sobre o tema, fazendo a divulgação de técnicas como o auto exame das mamas uma vez por mês, logo após a menstruação, ou se escolhendo uma data quando ela já não se faz mais como marco, fazendo visitas regulares ao ginecologista (primeiro contato), ou a um mastologista, que dependendo da idade e dos fatores de risco de cada paciente solicitará os exames após exame físico, que são os exames de imagem, US das mamas, mamografia. A idade em que a atenção às mamas deve começar, sem dúvida quando começa a menstruação, pois pelas grandes mudanças hormonais podem surgir nódulos, na sua maioria de origem benignas, que devem ser acompanhados pelo médico, que deve prestar todas as demais orientações para que esta mulher possa ter um conhecimento de si mesma e de seu corpo.

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“De cada 100 casos de doença em
mulheres temos 1 caso para os homens”

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Drª. Liliana

Existem fatores de risco para o câncer de mama? Sim, o principal deles é ser mulher, afinal de cada 100 casos de doença em mulheres temos 1 caso para os homens. Além desta, temos outros que citaremos a seguir. Cabe porém, um esclarecimento do que é um fator de risco. Fator de risco não é certeza de que vai ocorrer, e sim que se observa com mais frequência que determinados fatores estão mais ligados ao surgimento da doença. Assim, ter mãe ou irmã, ou tia, do lado materno com câncer de mama é um fator de risco. Mas, isso não quer dizer que toda mulher que tem mãe com câncer de mama terá um câncer de mama. Espero que tenha ficado claro. São fatores de risco, como já mencionamos, a questão genética, o uso prolongado de hormônios, o adiamento da idade para a primeira gravidez, a vida sedentária, hábitos alimentares não saudáveis, o fumo, etc.

Então, se uma mulher tem um familiar com câncer de mama ela deve ficar mais atenta? Sim, lembrando que não deve ficar inerte pelo medo, e sim procurar conversar com o seu médico que a esclarecerá sobre o assunto. Risco não quer dizer que acontecerá, é um alerta, de que mais cuidado deve ser desprendido em busca de sua saúde. Fique claro que não é qualquer familiar, há critérios, para os fatores de risco ligados a genética. Entre eles, o familiar ser de origem materna, de proximidade como primeiro grau, ter tido a doença antes dos 45 anos ou da menopausa. Estas são algumas, entre tantas informações, que deverão ser esclarecidas e tratadas individualmente com o seu médico.

A obesidade estaria entre os fatores de risco? Não só a obesidade como a um sobrepeso se atribui como fator de risco. É na gordura que ocorre parte da síntese do hormônio feminino, estrogênio. Se há abundância de gordura, facilitamos a produção. Estudos demonstram que a diminuição de cerca de 5% do sobrepeso, já reduz o fator de risco, sem contar o benefício para a circulação, função pulmonar, além da estética tão buscada pelas mulheres, entre outros benefícios.

Houve um aumento do câncer de mama ou os diagnósticos estão ocorrendo mais precocemente? Ao longo de alguns anos houve sim o crescimento do número de novos casos, e os diagnósticos tem ajudado para que as descobertas sejam mais precoces. Infelizmente não em todos os locais, pelo mundo afora. Sendo o câncer que mais acomete mulheres em todo o mundo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima em 1,38 milhões de novos casos, que levarão a morte cerca de 458 mil mulheres em um ano. No Brasil, o Ministério da Saúde (MS) prevê cerca de 52.680 novos casos ao ano.

Alguns médicos costumam afirmar que o estresse e a depressão são as doenças do século. Essas doenças podem causar câncer de mama? Tem sido estudado estes itens como fatores de risco. Como é uma interação de fatores muito complexa fica difícil afirmar, já que a faixa etária de maior incidência da doença também é faixa etária de maior incidência dos transtornos psiquiátricos em questão. É claro que uma vida equilibrada, saudável, e alegre, trazem forças e bem estar a saúde da mulher como um todo. Bom e prudente é buscar este equilíbrio.

Drª. Liliana

Existe cura? Sim, existe. Todos os esforços tem sido feitos para que se possa detectar precocemente o câncer de mama, para que assim as possibilidades de cura existam e ainda com a menor mutilação possível. Desde a mastectomia (extirpação cirúrgica da mama), tem sofrido reduções e técnicas como quadrantectomias (retirada parcial de um dos quadrantes da mama) tem sido possíveis, quando se tem tumores pequenos. A Radioterapia e a Quimioterapia tem buscado continuamente o uso de novas técnicas e drogas para minimizarem os efeitos intensos que provocam, e que sejam cada vez mais intensos sim, mas apenas nos tumores. Que fique claro que o câncer de mama tem cura quando detectado precocemente e corretamente conduzido em seu tratamento.

Qual a importância do Outubro Rosa? Mais do que uma mudança de cor, uma mudança de atitude. Brilhante! Precisamos ter uma mudança de atitude. Não bastam só as campanhas de esclarecimento, é preciso que cada mulher assuma uma mudança de atitude quanto a este esclarecimento e faça o uso deste conhecimento. Que aprenda e faça o auto exame, que procure tirar as suas dúvidas com o profissional da saúde que a atende, que mude e tome atitude em relação aos seus hábitos de vida, preservando assim a sua saúde como um todo, que troque seus hábitos alimentares como uma atitude de mudança (nada fácil, mas necessária), que beba mais água, descanse, se beneficie da luz solar, pratique uma atividade física (caminhar é excelente) e que por fim, se apegue a Deus, que poderá oferecer forças para esta mudança de atitude.

Fotos: Schermen Dias

Drª. Liliana

Dra14
Caricatura: Tomás de Aquino


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