13/08/2011

VANDERLEI E CAUÊ MACRIS… Tal pai, tal filho

Uma conversa com os deputados sobre política, partidos e uma cidade chamada Artur Nogueira

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Alex Bússulo

Difícil saber quem tem mais orgulho um do outro, se é o pai do filho ou se é o filho do pai. Vanderlei e Cauê parecem falar a mesma língua. Um complementa o outro. Chego à Americana na tarde de sexta-feira, 5, acompanhado do fotógrafo. No escritório dos políticos, localizado em uma residência na Vila Medon, somos recebidos pelo ex-vereador de Artur Nogueira e atual assessor dos deputados, João Carlos Fernandes. Entramos e aguardamos cerca de 20 minutos. Depois somos encaminhados à outra sala. Entramos e nos acomodamos. Não demora muito entra o filho seguido pelo pai. Alguns assessores permanecem na sala.

Vanderlei Macris é americanense nascido em maio de 1950. Ainda muito jovem iniciou sua história na política, eleito vereador na cidade de Americana. Vanderlei exerceu o mandato por dois anos e, em 1974, decidiu sair candidato a uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado, sendo eleito deputado estadual com 24.296 votos. O trabalho executado como deputado foi reconhecido pelos cidadãos paulistas, que o credenciaram a ser eleito por sete mandatos. Vanderlei participou ativamente da fundação do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) com Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro, Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. Em 1999, foi eleito presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo. Em 2006, foi eleito deputado federal. Após todo esse tempo, Vanderlei viu realizar um grande sonho junto com seu filho, Cauê Macris, que foi eleito deputado estadual com 64.412 votos, com apenas 27 anos. Paralelo a isto, Vanderlei lutou pela reeleição na Câmara Federal e com mais de 111 mil votos assumiu seu 10º mandato como deputado.

Cauê também nasceu em Americana e sempre acompanhou o pai em seus trabalhos na Assembleia e nas reuniões no Palácio dos Bandeirantes. Em sua primeira disputa ao Poder Legislativo, em 2004, foi o oitavo vereador mais votado em Americana, com apenas 21 anos. Em 2008, foi reeleito vereador. Desde 2010, exerce seu primeiro mandato como deputado estadual, sendo escolhido para ser o vice-líder da bancada do PSDB.

Acomodo-me em um sofá da sala. No outro pai e filho se ajeitam. Para início da entrevista olho para Vanderlei e pergunto:

COMO A POLÍTICA ENTROU EM SUA VIDA? [Vanderlei] Poxa, é melhor fazer essa pergunta para o Cauê, que é mais recente [risos]. Foi há aproximadamente 40 anos. Naquela época a cidade era dividida politicamente por duas famílias e nós montamos um grupo de jovens para articular e mudar a realidade daquele momento. Eu tinha pouco mais de 19 anos, ninguém da minha família era político ou tinha sido candidato a alguma coisa. Eu fui o primeiro. Fui eleito vereador e nosso grupo conseguiu eleger um prefeito. Dois anos após me candidatei para deputado estadual e fui eleito. De lá para cá nunca mais parei.

CAUÊ É CLARO QUE VOCÊ TEVE E TEM INFLUÊNCIA DE SEU PAI. COMO É SER FILHO DE VANDERLEI MACRIS? AJUDA, PREJUDICA OU NÃO FAZ TANTA DIFERENÇA ASSIM? [Cauê] Eu acho que não prejudica, pelo contrário, ajuda e muito. O que de fato acontece é o aumento da cobrança. Ter um pai que construiu uma vida pública e que alcançou o sucesso na missão que escolheu trilhar, só faz aumentar a responsabilidade. Você não entra apenas como um deputado que se elegeu, existe uma comparação. Trabalhamos pelo bem comum, mas temos perfis diferentes, meu pai é mais calmo e eu sou mais atirado.

DA MESMA FORMA QUE SEU PAI, VOCÊ TAMBÉM ENTROU NA POLÍTICA JOVEM… [Cauê] Com a mesma idade dele, com 21 anos tive minha primeira candidatura.

[Vanderlei interrompe e demonstra orgulho do filho] Já é o terceiro mandato dele. Ele já foi vereador, presidente da Câmara e agora atua como deputado estadual.

VANDERLEI, COMO O SENHOR ENXERGA A POLÍTICA? Política é um instrumento de conquistas da sociedade em relação ao Estado. Você só conquista mudanças de rumo na sociedade somente através da política. Nós somos instrumentos da política que movimenta essa mudança.

E PARA VOCÊ, CAUÊ, O QUE É POLÍTICA? Primeiro é importante refletirmos o que é a política em geral. Ela nada mais é do que uma ferramenta que você tem de representatividade. Você não tem condições de tomar todas as decisões gerais, coletivas da sociedade, ouvindo todas as pessoas a todo o momento. Por isso se cria um mecanismo que são os mandatos parlamentares, executivos, que você fala e toma as decisões pelo povo.

É ISSO QUE VEMOS NA REALIDADE OU A DISPUTA ENTRE OS PARTIDOS FALA MAIS ALTO? [Cauê] Política sempre é lutar para o bem comum. A diferença entre os partidos é como chegar até esse bem comum. Não tenho dúvidas que o PT luta por um bem, assim como os outros partidos também lutam. A diferença é como eles enxergam o caminho para se chegar até esse ponto. Com cargos de confiança, colocando amigos no poder, é assim a visão de administração do PT. É o que eles fazem na prática.

MAS E O PSDB? [Cauê] Nós não! Enxergamos a máquina pública de uma maneira totalmente diferente do PT. Temos a visão de que o poder público deve ser visto da mesma maneira que uma empresa privada. Gerenciando com o menor custo para você chegar ao maior lucro, que é o bem-estar social. Essa é a diferença na administração do PSDB e a do PT.

COMO VOCÊ VÊ A POLÍTICA NACIONAL? [Vanderlei] Bem, esses oito últimos anos do governo petista no Brasil estão fazendo com que o país perca a oportunidade, em um momento favorável, em função do crescimento mundial, do país crescer com mais sustentabilidade. Esse foi o ponto da nossa divergência com o PT, que olha o Estado como uma propriedade, com uma postura patrimonialista. O PSDB, como disse o Cauê, olha o Estado como um instrumento de luta da sociedade, ou seja, um Estado mais profissionalizado e não aparelhado como eles fazem. Com isso o PT faz crescer a máquina estatal de tal forma que hoje nós temos uma incapacidade de gestão. Veja a questão da infraestrutura brasileira que está totalmente comprometida. Portos, aeroportos, eu não sei como nós vamos atender as demandas da Copa e das Olimpíadas, porque o Brasil não está investindo em infraestrutura.

MAS O PAÍS VAI ACABAR INVESTINDO, NÃO? [Vanderlei] Eu acho que vai sim, mas de uma forma totalmente capenga e a um custo social muito pesado para o país. Veja como exemplo os Jogos Pan-americanos. Uma obra que era para custar R$800 milhões e acabou custando R$3 bilhões, porque deixaram para última hora.

EM UMA ENTREVISTA PASSADA, VOCÊ, CAUÊ, CRITICOU O GOVERNO DA DILMA QUANTO ALGUMAS QUESTÕES NO ESTADO DE SÃO PAULO, PRINCIPALMENTE REFERINDO-SE A COPA DE 2014… Quando eu me refiro a isso não estou dizendo que a presidente não goste do Estado de São Paulo. O que de fato acontece é que não existe nenhum trabalho e interesse por parte do Governo Federal em trazer a abertura da Copa para São Paulo, que é o Estado ‘locomotiva’ do Brasil. Hoje, existe um Estado que movimenta todo o país, que é o nosso Estado! Eu defendo a nossa nação, mas eu tenho que puxar a sardinha para São Paulo, que é onde vivo.

POR QUE ISSO ACONTECE? [Vanderlei] Porque eles são incompetentes para gerenciar o Estado. Não tem competência de gestão. É isso que eu vejo no dia a dia. Eles são muito bons no marketing, bons na propaganda, mas são ruinzinhos de gestão…

[Cauê complementa o pai] Um exemplo claro disso é aquele programa ‘Minha Casa, Minha Vida’. Primeiro, o Governo Federal não está dando casa nenhuma. Na verdade as pessoas tem que comprar as casas. Quem financia é a Caixa Econômica Federal, que é um banco. Mesma coisa se as pessoas financiassem um financiamento no Bradesco, no Banco do Brasil ou em qualquer outro. E nem com todas as propagandas que eles fazem é possível ter a quantidade de casas que eles prometem, aí vem e lançam o ‘Minha Casa, Minha Vida 2’. Na parte de propaganda eles são ótimos. Outro ponto importante é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que é empréstimo. É BNDS! O Governo Federal diz que investiu milhões e milhões em determinados lugares, mas na verdade é o Governo Municipal que vai pagar isso.

O PAC ESTÁ SENDO A GRANDE ESPERANÇA DE ARTUR NOGUEIRA. [Vanderlei] Nós estivemos em Artur Nogueira recentemente. O Estado ia liberar o dinheiro para o ‘Água Limpa’, mas o prefeito preferiu ir para o PAC, que é empréstimo. Ao contrário de Conchal que assinou e vai receber R$11 milhões para tratamento de esgoto.

NESTE CASO VOCÊS ACHAM QUE A PREFEITURA DE ARTUR NOGUEIRA DEVERIA TER ACEITADO ESSE DINHEIRO AO INVÉS DO PAC? [Cauê] Claro, o município não ia precisar devolver o dinheiro!

[Vanderlei complementa] O programa ‘Água Limpa’ é dinheiro a fundo perdido, não é empréstimo. O prefeito de Artur Nogueira não aceitou por causa da bandeira política. Se ele tivesse aceitado seria mais uma obra do governador Geraldo Alckmin. O PT não aceita isso. E quem paga é a população.

EM ALGUM MOMENTO VOCÊS SENTIRAM-SE IMPEDIDOS PELA ADMINISTRAÇÃO CAPELINI PARA FAZER ALGUMA COISA POR ARTUR NOGUEIRA? [Vanderlei] Nos últimos anos, antes mesmo do Cauê se eleger deputado, eu venho tendo uma parceria permanente com o município de Artur Nogueira. Nesse tempo nós atuamos em vários pontos. Normalmente não precisamos passar pela prefeitura, por exemplo, recuperamos, apenas em 2008, três vicinais: Artur Nogueira -Limeira, Artur Nogueira – Mogi Mirim e Artur Nogueira – Cosmópolis.

O QUE MAIS VOCÊS FIZERAM POR ARTUR NOGUEIRA? [Vanderlei] Só para esta cidade conseguimos nos últimos anos recursos para aquisição de três veículos e equipamentos para a Casa do Caminho, para o Grupo de Assistência Social de Artur Nogueira (Sasan) e para a Instituição Evangélica Filadélfia de Artur Nogueira (Iefan), da Vó Nair. Recursos para a ampliação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e para ampliação da sede do grupo da Melhor Idade ‘Vida Nova’. Construção de um Posto de Saúde no Sacilotto ll. R$100 mil para compra de uma ambulância totalmente equipada. Construção da Academia ao Ar Livre no Jardim Blumenau. Recursos para aquisição de veículos para a Assistência aos Idosos Desamparados de Artur Nogueira (Aidan). Além da Escola Estadual que será construída entre o Jardim Carolina e o Itamaraty, com 12 salas. Este convênio foi assinado e a primeira parcela depositada nos cofres da prefeitura, que já deve estar licitando a obra.

[Cauê] É bom explicarmos que o deputado, seja ele federal ou estadual, não consegue viver os problemas e soluções diárias de Artur Nogueira, de Americana ou de qualquer outro município, devido as atribuições e outras coisas. Quem nos ajuda a identificar essas carências são nossos parceiros. O meu assessor, a pessoa que coordena toda a minha estrutura política, é o João Carlos Fernandes, que mora em Artur Nogueira. Ele me informa junto com os outros vereadores do PSDB, a Zezé da Saúde e o Cristiano Conde, o que podemos fazer em prol ao município. E são eles que defendem um projeto quando é necessário, pois as benfeitorias são para o povo e não para o prefeito.

[Vanderlei complementa] Nosso compromisso é com a comunidade, com os moradores do município.

O QUE VOCÊS TÊM A DIZER SOBRE OS VALORES COBRADOS PELAS PRAÇAS DE PEDÁGIOS? [Vanderlei] Pedágio é uma questão muito polêmica. Ninguém gosta de pagar e quando paga espera que o valor seja justo. É bom lembrar que os primeiros contratos de concessão foram feitos em uma época totalmente diferente da de hoje. Um projeto iniciado há aproximadamente 15 anos pelo ex-governador Mário Covas (PSDB). Naquela época não era interessante tirar dinheiro da Saúde, da Educação e de outros lugares para investir em estradas, que eram usadas por poucos. É uma lógica que faz sentido. Só que esse contrato foi feito com base no Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), que hoje está totalmente fora de uma lógica, mas que está dentro de um contrato e que não podemos chegar de uma hora para outra e romper. Atualmente, essa lógica está sendo discutida pelo governador Alckmin. O projeto do pedágio realmente funcionou no Estado. Tanto é que quando você sai de São Paulo até parece que está em outro país. Se pegarmos as dez melhores estradas do Brasil, nove estarão no Estado de São Paulo, o que realmente deve ser revisto, e já está sendo, é a questão da cobrança. O Cauê pode explicar melhor…

[Cauê dá continuidade] Faço parte da Comissão dos Transportes e estou trabalhando de uma maneira bastante efetiva nesse assunto. O governador do estado mandou rever todos os 18 contratos de concessão, que estão sendo juridicamente analisados, com intuito de determinar se está havendo desequilíbrio econômico, que mostrará se alguma das duas partes está perdendo, em nosso caso, o Estado. Em um segundo momento, Alckmin determinou que houvesse uma alteração nos índices e uma negociação com as concessionárias. Criamos recentemente o Gesa, um grupo de estudo que tem como objetivo discutir os valores e trabalhar a viabilidade sobre a cobrança não mais por praças de pedágios, mas sim por quilômetros rodados. Uma ideia que já teve bons resultados em outros países.

COMO ASSIM? Um exemplo, se você andar por um quilômetro, vai pagar somente por esse quilometro rodado, ou seja, quem sai de Artur Nogueira e vai para Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) vai pagar um valor muito mais baixo e acessível do que se paga nos dias de hoje. É um sistema muito mais justo.

O QUE ARTUR NOGUEIRA PODE ESPERAR DOS DEPUTADOS CAUÊ E VANDERLEI MACRIS? [Cauê] A população pode continuar a contar comigo, pois me considero um deputado de Artur Nogueira, assim como de outras cidades da região.

[Vanderlei] Enquanto eu tiver o apoio do povo de Artur Nogueira, assim como eu sempre tive, sempre trabalharei pelos nogueirenses. Esse é o nosso compromisso.


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