12/05/2012

ENTREVISTA: Pe. Élcio Roberto Medeiros fala sobre padroeira e sua vocação

“Hoje não consigo me ver sem o sacerdócio” (Pe. Élcio Roberto Medeiros) ……………………………………….. Alex Bússulo  Ele está em Artur Nogueira há dois anos e dois meses e já conquistou o coração dos nogueirenses. Pároco da Matriz de Santa Rita de Cássia, no Jardim Planalto, Pe. Élcio Roberto Medeiros, de 30 anos, é atualmente responsável por […]


“Hoje não consigo me ver sem o sacerdócio” (Pe. Élcio Roberto Medeiros)

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Alex Bússulo 

Ele está em Artur Nogueira há dois anos e dois meses e já conquistou o coração dos nogueirenses. Pároco da Matriz de Santa Rita de Cássia, no Jardim Planalto, Pe. Élcio Roberto Medeiros, de 30 anos, é atualmente responsável por sete comunidades católicas no município: Matriz de Santa Rita, São Benedito, São José, Santa Luzia, Nossa Senhora Aparecida, Santo Antônio e Santa Cruz.

Natural de Porto Ferreira – SP, decidiu entrar para o seminário aos 19 anos, deixando namorada e um emprego. Filho de dona Rita de Cássia [sim, o mesmo nome da padroeira] e de José Roberto, Pe. Élcio teve uma infância normal.

Na entrevista desta semana, Padre Élcio fala sobre o Dia da Padroeira, comemorado no próximo dia 22, a história de Santa Rita e sobre como decidiu ser padre. Confira.

Como foi a sua nomeação para vir para Artur Nogueira? Eu já estava com a ordenação marcada para o dia 7 de março de 2010. Nós éramos em quatro diáconos. Artur Nogueira estava com suas comunidades na responsabilidade de um único padre. Já estava na hora de dividir as tarefas. E o padre Eder Justo [da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, no centro de Artur Nogueira] já sabendo disso começou a preparar a Paróquia de Santa Rita, a setorizar aquela igreja, que passou a ser o setor Santa Rita de Cássia da Paróquia Nossa Senhora das Dores. O padre Eder não sabia qual padre viria para cá, ninguém sabia, mas deixou tudo pronto para a minha chegada. A quem sou profundamente grato. Foi ele que começou a dar uma característica própria de Matriz para a Igreja de Santa Rita, deixando uma secretaria, uma sacristia, sala de atendimento, resumindo, ele preparou a casa.

Quando ficou sabendo que viria para esta cidade? O Dom Vilson [bispo Diocesano de Limeira] me chamou no dia 14 de dezembro de 2009 e anunciou que eu ficaria responsável pela paróquia de Santa Rita de Cassia em Artur Nogueira. Até então, só havia vindo para Artur uma única vez. Em 2008, eu vim para comemorar o Dia Nacional da Juventude. Mas foi um passeio de ônibus, que chega no ginásio e depois voltar para o ônibus. Sem oportunidade de conhecer realmente a cidade.

O que sentiu quando ficou sabendo que desenvolveria o ministério sacerdotal em Artur Nogueira? O primeiro sentimento é justamente o de insegurança. Ao mesmo tempo em que a gente aceita o desafio com muita alegria, vem a dúvida de como é que realmente vai ser. Mas eu me sentia respaldado pelo apoio de Dom Vilson. Um dia após o Natal, em 26 de dezembro, após já ter recebido a nomeação, recebi um convite do Padre Eder para uma conversa. Foi um encontro muito agradável e produtivo, em que me lembro de que o padre contou toda a história da igreja de Santa Rita de Cássia. Ele soube colocar muita beleza na cidade e no povo de Artur Nogueira. Após três meses, no dia 13 de março de 2010, voltei para a posse e para minha primeira missa aqui.

Como foi a primeira missa celebrada em Artur Nogueira? Não foi na igreja de Santa Rita. A primeira missa aconteceu na Igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, no bairro Laranjeiras. Foi muito desafiante porque era a minha quarta missa como padre, as três anteriores aconteceram em minha própria cidade, com a presença do Padre Osmar, que é o pároco de Porto Ferreira. Aqui tive que celebrar a missa sozinho. Cheguei a ter medo da rejeição que poderia receber. Mas tudo ocorreu de forma tranquila e acolhedora.

O senhor frequenta academia e torce para o Santos. No ano passado celebrou a missa para os torcedores, neste mês realiza um passeio ciclístico. Pergunta: você se considera um padre esportista? Não [risos]. Esportista é uma palavra muito profunda, sendo para aquela pessoa que se dedica muito ao esporte. Na comunidade, procuro valorizar e incentivar uma atividade física na vida das pessoas.

No próximo dia 22, comemora-se o Dia da Padroeira da comunidade. Qual é a história de Santa Rita? É uma história muito bonita e inspiradora. Ela nasceu em 1381, e desde muito jovem sempre foi muito religiosa e devota a Jesus Cristo, tanto que ela pretendia seguir esse caminho de fé como Irmã religiosa. Mas como era na época e também há pouco tempo atrás, a família já confiava em casamento uma filha a outro. Assim ela foi confiada a Ferdinando, que era de uma personalidade violenta e agressiva. Dentro de um prazo de aproximadamente 20 anos de convivência, Rita em Cássia conseguiu transformar a personalidade de seu marido em uma pessoa mais compreensiva, pacifica e de fé. Ele acabou morrendo assassinado porque não queria fazer aquilo que algumas famílias estavam impondo a ele. Queriam que ele fosse vingativo. Quando ele se negou a fazer foi morto, como uma “queima de arquivos”. Para refletirmos, morreu porque se converteu, morreu porque mudou de postura, mudou de vida. Nesse momento Santa Rita tinha dois filhos, que juraram vingança pela morte do pai. Conta o costume que Rita pediu em oração que preferiria ver os filhos mortos ao invés de vê-los como assassinos. E em pouco tempo, Rita também perdeu seus dois filhos, assassinados pela mesma família que matou seu marido. Mesmo ao meio de tanta dor e sofrimento, a esposa e mãe ainda perdoou os assassinos de sua família.

Foi nesse momento que ela entrou para o convento? Antes disso, ela passou por um momento de crise pessoal, onde se viu sozinha no mundo, abandonada. Imagine a sua situação. Hoje, ficamos tristes com a morte de uma pessoa próxima, imagina enfrentar e entender a morte de toda sua família. Mesmo assim ela não negou amor a Deus. Depois disso, ela tentou entrar para o convento, mas não foi bem recebida, devido alguns paradigmas da época, como a virgindade, e ela já estava casada há quase 20 anos. Mesmo sendo viúva, ela encontrou muita resistência. Conta a tradição, que Rita desceu em um campo gramado, deitou-se no chão, dormiu e quando acordou estava dentro do convento. Essa história é contada com muita veracidade pelos moradores daquela região. E desde então ela ficou naquele local. Viveu até os 76 anos de idade.

Ela possui um estigma na testa. Qual o significado desta marca? Em uma Sexta-feira da Paixão, Santa Rita, ao participar da celebração e ouvindo o sacerdote narrar sobre o sofrimento de Jesus, ela se comoveu e desejou participar da paixão de Cristo. Conta a história que neste momento um espinho que estava na imagem de Cristo crucificado saiu e atingiu a testa de Rita. A ferida não cicatrizou e teve que ser cuidada até o dia de sua morte.

E o milagre da rosa? Era inverno na Itália, e como todos sabemos, as rosas não brotam nessa época do ano, seu ciclo natural de florescimento acontece na primavera. Rita já estava enferma e desejou que uma das irmãs fosse até o jardim do convento e colhesse um rosa. A irmã mesmo contrariada, pois sabia que era impossível uma flor nascer no meio da neve, saiu e, inexplicavelmente, encontrou uma linda rosa no local. Hoje, Santa Rita é atribuída como a Santa das Rosas. A rosa ficou como um sacramental de sua presença.

Hoje, após mais de 500 anos de sua morte, o corpo de Santa Rita permanece incorrupto dentro de uma urna no santuário de Cássia, na Itália. Como se explica esse fenômeno? É a graça de Deus. A ciência em si não consegue explicar o fato. Um corpo jamais conseguiria resistir a tanto tempo sem contar com nenhum tipo de química.

Qual é a principal mensagem que Santa Rita nos deixa? É a santificação da vida no cotidiano. Muitas vezes acreditamos que para sermos santos precisamos fazer alguma coisa extraordinária, fora do comum. Ela nos mostra que a santidade é dada no dia a dia, amando as pessoas a nossa volta, perdoando suas adversidades, seus limites. Santa Rita viveu profundamente o amor cristão, enfatizo e admiro sua capacidade de perdão aqueles que mais a prejudicaram. É nisto que reside a verdadeira vivência da fé cristã. Juntamente com a sua vida dedicada ao amor a Cristo e aos irmãos é que Santa Rita santificou-se na vida.

Mesmo nascida em outro país, Santa Rita tem muitos devotos no Brasil, inclusive em Artur Nogueira. O que se deve a isso? Acredito que exista uma identificação do povo brasileiro, que passa por situações de sofrimento na família, semelhante aos sofrimentos vividos por Santa Rita com seu esposo. Ela sofreu em seu casamento e, hoje, quantas e quantas mulheres não se veem no dever de santificar seus esposos, que estão desvirtuados. O sofrimento que ela sentiu está presente em muitos lares.

A matriz recebeu no domingo (6) uma relíquia de Santa Rita. Que objeto é esse? Em maio do ano passado o Padre Vilson, de Americana, passou por nossa paróquia e disse que iria para a Europa e tentaria trazer uma relíquia da santa para Artur Nogueira. E como prometido, ele foi e de fato conseguiu a relíquia, que é um pedaço do hábito usado por Santa Rita de Cássia. É bom deixarmos claro que essa relíquia não é comercializada em nenhuma forma. Normalmente é distribuída às comunidades que a tem como padroeira.

Podemos notar que a Matriz de Santa Rita está a cada dia mais cheia de fieis. Existe algum projeto para aumentar o tamanho da igreja? Realmente estamos limitados ao espaço físico do local. Aquela igreja foi construída para ser uma comunidade, não uma matriz. Ela foi adaptada. No momento, não existe nenhum projeto para aumentarmos a igreja. O que temos são duas casas ao lado, que carinhosamente chamamos de ‘casinhas de Santa Rita’, que em um futuro queremos construir um Centro Pastoral, para abrigarmos os encontros de catequeses e pastorais.

Aos 19 anos de idade, o senhor decidiu que seria padre. Como foi esse processo? Na época eu trabalhava e namorava. Tinha uma renda fixa e um relacionamento sério. Eu trabalhava na linha de montagem, era montador de interruptor elétrico em uma empresa de grande porte. Minha decisão não nasceu do dia para a noite, houve um processo. Meu interesse surgiu participando da Pastoral da Juventude. Minha vocação nasceu de uma crise, onde percebia pouco apoio ao grupo de jovens, logo comecei a pensar: “Se eu fosse padre, eu faria assim com a juventude, promoveria tal evento, agiria de um modo mais afetivo, próximo”. Apesar de não ter sido um jovem que frequentava as Celebrações eucarísticas, sentia muito o chamado de Deus em minha vida. Comecei a frequentar a Igreja já com 15 anos, tanto que eu fiz minha primeira eucaristia com 17 anos. Minha família sempre foi Católica, mas não tinham aquela frequência dentro da igreja. Eu tive uma adolescência comum, fui um jovem normal, ia para as festas, para as baladas, namorava, trabalhava. Realmente a vocação era esta, pois hoje, não consigo me ver sem o sacerdócio.

Mas houve apoio de seus pais? Minha mãe reagiu de uma maneira insegura. Honestamente dizendo, sempre tive seu apoio, mas ela sempre falava que eu deveria pensar bem antes de tomar qualquer decisão, que eu deveria pensar se era isso mesmo que eu queria. Meu pai já foi mais objetivo, disse que se eu tivesse certeza era para ir em frente e, se por alguma ocasião algo desse errado, as portas de casa sempre estariam abertas para mim. Não me esqueço disso.

E a namorada? Ela compreendeu muito bem. Até porque ela também acompanhou todo o processo. Nós dois participávamos da Pastoral da Juventude. Foi minha ex-namorada que me levou para a igreja.

Qual é o melhor presente para o Dia das Mães? Acredito que é sempre ter o carinho e o reconhecimento dos filhos. Esse é o melhor e mais digno de todos os presentes.

Fotos: Renan Bússulo

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