04/08/2012

ENTREVISTA DA SEMANA: Paulinho Munhoz

Produtor do Miss Artur Nogueira fala sobre concursos, profissões e vida

“A Wanessa Pamplona é um exemplo pra tanta gente que costuma desistir fácil dos seus sonhos” (Paulinho Munhoz)

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Alex Bússulo

Foi no ano de 1986, com a nomeação do pai José Apparecido Munhoz como diretor da escola José Amaro Rodrigues, que a trajetória de Paulinho Munhoz começou com o município de Artur Nogueira.

Viciado em trabalho, como ele mesmo se define, Paulinho estudou Publicidade e Propaganda, mas não levou a profissão muito a sério. Foi na área da Educação, trabalhando como professor, que ele encontrou a sua realização.

Casado com Helena e pai coruja de Otávio, de 13 anos de idade, o nogueirense enche o peito de orgulho quando o assunto é família.

Produtor de eventos, realiza há 16 anos o concurso Miss Artur Nogueira, que é reconhecido em todo o estado de São Paulo. Foi na edição do ano passado do concurso que Wanessa Pamplona foi eleita a representante do município para o Miss São Paulo 2012, que acontece no próximo sábado (11), com transmissão ao vivo pela Band.

Hoje, aos 44 anos, Paulinho Munhoz faz uma reflexão sobre sua vida, os concursos e as profissões. Confira:

Na próxima semana, Wanessa Pamplona representará Artur Nogueira no Miss São Paulo. Você está confiante que possamos ter uma boa classificação? Eu sempre digo, concursos de beleza, às vezes, podem ser uma caixinha de surpresa. A gente sempre espera uma boa classificação, mas como já “participamos” disto há tanto tempo, já vou preparado pra ganhar ou perder, sabendo que o mais importante já aconteceu: o sonho vivido pela garota e a divulgação do nome de nossa cidade por meio da beleza de suas mulheres.

O que os jurados avaliam no concurso? Em um concurso do porte do Miss São Paulo, o mais importante nem é tanto o dia do concurso. As candidatas ficam confinadas com jurados, produção, equipe de estilistas, cabeleireiros, repórteres, durante dez dias em um mega hotel de São Paulo e participam de uma extensa programação e todos os seus atos, seu comportamento, sua postura, seu modo de se relacionar, tudo está sendo avaliado. É claro que, aliado a tudo isso, a beleza também.

Quais são os pontos fortes da nossa Miss? Devido a essa característica do concurso, de não ser um concurso que avalia só o que acontece na grande noite do evento, eu estou botando fé na Wanessa. É claro que ela é linda, mas é beleza com conteúdo. É inteligente, tem classe, talento, sabe se impor com categoria, tem carisma, fala inglês, é comunicativa e todos sabemos o quanto ela sonhou com esse momento. Tenho certeza que saberá usar suas qualidades para impressionar todos a sua volta.

Uma das características da Wanessa é a persistência, uma vez que ela participou de sete concursos para que finalmente fosse eleita Miss Artur Nogueira. Como você avalia isso? Acho a Wanessa um exemplo pra tanta gente que costuma desistir fácil dos seus sonhos. Ela foi autêntica no seu sonho, não se importou com comentários maldosos e partiu para o abraço, sem medo de ser feliz. Fiquei muito emocionado quando ela venceu, pois sabia que ali estaria alguém que valorizaria cada minuto do seu reinado. E é assim que uma miss deve ser.

A Wanessa já está confinada em São Paulo. Quais foram os conselhos que você deu a ela? E precisava dar conselhos? A moça sonhou com esse momento durante tantos anos e agora ela está simplesmente “vivendo” seu sonho. Eu disse: seja você. Isso basta!

Em setembro de 2010 você promoveu o Mister Artur Nogueira. Por que deixou de realizar esse concurso? Foi a falta de homens? É claro que preferimos lidar com a matéria prima “mulher”, né? Afinal, tem coisa mais bonita e instigante do que a mulher? O Mister Artur Nogueira foi feito atendendo a uma reivindicação dos rapazes que desfilavam pra nós e que queriam participar de concursos masculinos, que já são bastante comuns por aí. Eu fiz em 2010 e não fiz o ano passado, pois achei o concurso estadual muito fraquinho, quase sem divulgação. Eu fico de olho, se o concurso estadual melhorar, talvez a gente possa pensar em realizá-lo de novo no município.

Voltando a falar sobre as mulheres, é fácil promover um evento como o Concurso de Miss em Artur Nogueira? Realizei o primeiro Miss Artur Nogueira há 16 anos. Eu e minha mulher tivemos que praticamente implorar para algumas garotas participarem. As meninas não acreditavam nisso devido a uma série de outros eventos do gênero que já haviam acontecido na cidade e que pecaram na organização e no trato com as participantes. Fizemos o primeiro com 16 moças. O sucesso foi tão grande que no ano seguinte quase nem precisamos divulgar. Foram 27 concorrentes. A partir de então, o concurso é muito bem aceito, pois as candidatas, os pais, os familiares percebem o respeito com que tratamos os eventos, o carinho com que realizamos tudo, para, principalmente, fazer um espetáculo bonito, onde, independente do resultado, a moça sinta orgulho de ter participado, em se ver nas fotos, onde possa relembrar bons momentos e amizades duradouras. O concurso abriu muitas portas para muitas garotas.

Você já deve estar cansado de tanto ouvir aqueles comentários que dizem que o resultado do concurso já estava decidido, que os jurados foram comprados, etc. Você já superou essa crítica ou ela ainda mexe com você?  Esse papo de superei é mentira. Eu fico doido da vida, pra não falar outra coisa! Quando leio ou escuto isso. Caramba! Onde está o dinheiro que as moças pagam pra vencer os concursos? Alguém está desviando verbas aí! E fico chateado também pelos jurados, que não merecem escutar certos comentários. Nos concursos de Miss Artur Nogueira a banca de jurados tem sido formada por especialistas no assunto, os chamados “missólogos”. Eles sabem o que estão fazendo e adoram participar dos concursos em Artur. E assim continuará sendo, pelo menos enquanto eu estiver à frente deles. Agora, agradar a todos, nem Jesus, né, o que dirá este pobre homem que vos fala [risos].

Qual concurso dá mais trabalho para ser promovido: Miss Artur Nogueira, Miss Mirim ou Rainha da Expo Artur? O Miss Mirim é uma curtição total. A gente se diverte muito com as gatinhas e aprende com as crianças, com sua pureza, ingenuidade e inteligência. Alguns pais saem muito bravos com os resultados e as garotas saem dizendo: ano que vem posso participar de novo? É muito legal! O Rainha da Expo Artur é mais pontual, isto é, um concurso realizado para o evento, esse sim, deve dar trabalho mesmo. Agora o Miss Artur Nogueira dá mais trabalho por ser o de maior responsabilidade, afinal, a garota vai levar o nome da cidade estampado em sua faixa durante um ano. E a gente procura fazer com que elas entendam essa responsabilidade. Esse é o propósito. Beleza com conteúdo, atitude, responsabilidade. E outra: o Miss Artur já está tão conhecido, os jurados que aqui vieram elogiam tanto, a produção da Band (realizadora do certame estadual) admira muito nosso trabalho, que a nossa tarefa é tentar torná-lo mais belo a cada ano. E isso não é fácil, pois exige investimento. A propósito: empresários, políticos, compartilhem comigo deste sonho!

No comentário de uma reportagem no Portal Nogueirense você reproduziu um trecho da música ‘Depois’ da Marisa Monte. A letra diz “Já tivemos momentos, Mas passou nosso tempo, Não podemos negar, Foi bom, Nós fizemos histórias, Pra ficar na memória, E nos acompanhar”. O que quis dizer com isso? Eu adoro a Marisa Monte, adoro a boa MPB e tenho mania de, para certos momentos de minha vida, encaixar frases de letras de músicas. Esse comentário foi para responder para meu amigo Johnny W. que implica pelo fato de você [entrevistador Alex  Bússulo] apresentar vários eventos em Artur Nogueira. Ele dizia sobre o Rainha da Expo: “o melhor do concurso foi o Paulinho Munhoz apresentando, pois eu não aguento mais o Alex apresentando todos os eventos da cidade”. Eu achei engraçado, porque sei que o comentário é só pra gerar polêmica. Eu acho o Johnny W. um gênio. E também porque, quando era mais jovem, eu também escutava esse tipo de comentário, dizendo que eu estava em todas, que ninguém mais aguentava ouvir minha voz… Mas nem por isso desisti, pois gostava do que fazia e sei que fazia bem. Assim como você, Alex, faz hoje. É isso que eu quis dizer: esse é o seu tempo. O meu já passou. O que vier é lucro. Agradeço a Deus, pois consegui desta cidade muito mais do que sonhava em termos de reconhecimento e prestígio profissional. Rico eu não fiquei, mas sinto orgulho do que conquistei, trabalhando honestamente. Dinheiro ajuda, mas não sacia. O que sacia são as pequenas coisas da vida, o respeito, a admiração das pessoas, a certeza de um trabalho bem feito, as horas felizes com a família e os amigos. Eu sou um workaholic [pessoa viciada em trabalho] comprovado, com diagnóstico de psicólogos. Se eu não desacelerasse em algum momento, deixaria o trabalho estragar outros segmentos de minha vida, que, hoje, sei, valem bem mais a pena. Agora é hora de curtir os novos talentos que vão surgindo e que, de certa forma, aprenderam um pouco comigo, tiveram alguma referência minha. E quanto a mim, Sr. Johnny W., está na hora de descansar, curtir mais de perto essa fase de transformação do meu filho, de criança para adolescente,  que é um barato,  vibrar com o meu Palmeiras e me espiritualizar cada vez mais. Isso faz um bem danado pra gente.

Você é um homem idôneo, popular e querido por muitos. Nunca passou por sua cabeça em ser candidato político? Já me convidaram e continuam me convidam a cada nova eleição. Minha irmã já foi vereadora e meu pai já sonhou em ser prefeito desta cidade. Mas eu acho que não tenho estrutura psicológica para uma “campanha”. E talvez nem para o cargo. Não combina com meu estilo. Eu tenho um defeito, que talvez possa ser uma qualidade também, sei lá. Eu não sei dizer “não” para as pessoas. Imagina se eu iria conseguir deitar minha cabeça tranquilo no travesseiro, diante de tamanha responsabilidade.

Além de produzir eventos, você é formado em Publicidade e Propaganda. Nunca pensou em entrar de cabeça nesta profissão? No começo, recém-formado, peguei meu portfólio e sai em busca de emprego. Mas eu queria trabalhar na área de criação. As agências aceitavam novos profissionais para a área de contato, de marketing de vendas, mas nada na área de redação e criação publicitária. Eu precisava me sustentar. Pintaram as aulas, pintou o jornal, a assessoria de imprensa e aí fui deixando de buscar espaço na publicidade. Hoje sei que minha faculdade de PP foi totalmente perdida, pois na minha época fazíamos as artes finais com guache, curva francesa, caneta nanquim. Hoje, haja cabeça pra entender de Corel e Photoshop e concorrer com uma geração que já nasceu “tecnológica”. É muito difícil. Mas me realizei profissionalmente dando aulas. O primeiro dia que entrei em uma sala de aula na minha vida eu pensei: “caramba, é muito legal isso aqui!” Desde então soube que minha vocação era ser professor mesmo. Já estava no DNA.

Todo mundo fala que ser professor não é nada fácil. Como você define essa profissão? Adoro dar aulas e faço isso há vinte e três anos. Eu transfiro esse lado publicitário e comunicador para minhas aulas um pouco. E o resultado, creio que tem sido bom. Os alunos falam que minha aula é divertida, descontraída e que eles conseguem aprender desta forma. Eu invento mil e uma coisas: “Corrida do Dado” pra revisar a matéria, “top five” pra anunciar as notas das avaliações, teatro, declamação de poesias, festivais de músicas. Os alunos, que hoje são muito tecnológicos, gostam bastante desse lado lúdico e competitivo que eu pratico em minhas aulas. Eu acho que tenho um bom índice de aprovação entre os alunos. Talvez não chegue perto dos índices que a Dilma vem alcançando como Presidente, mas acho que, no geral, tem sido bom. Você [novamente se referindo ao entrevistador] já foi meu aluno e pode fazer sua avaliação [risos]. Enfim, ser professor, apesar de a cada dia estar mais difícil, continua sendo muito gratificante. Lidar com gente é difícil, mas extremamente enriquecedor.

Defina Paulinho Munhoz em uma frase? Essa é meio batidinha, meio frase de agenda “teen”, mas eu me identifico bem com ela. É do grande Charles Chaplin: “A vida é uma peça de teatro, que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”.

Por quê? Porque sou assim. Sou intenso, passional, transparente. Vivo intensamente minhas emoções, me exponho sem medo, e isso, às vezes, não é tão bom. Adoro realizar, marcar presença, rio, choro, me emociono, acredito nas pessoas, isso também já me custou umas boas decepções, faço piadas das minhas “desgraças”. Enfim, sou assim e é dessa forma que quero ser lembrado pelas pessoas que tiveram a sorte ou a infelicidade, sei lá, de passarem pela minha vida e me conhecerem um pouquinho melhor.

Envolvendo todas as esferas de sua vida, qual é o seu maior sonho? O que você busca? Hoje eu busco a realização pessoal do meu filho. Busco vê-lo feliz, realizado, pleno. Busco ser um exemplo pra ele. E graças a Deus o Otávio tem sido uma bênção em minha vida. Às vezes eu olho pra ele e não acredito que é aquele pedacinho de gente que o médico me apresentou embrulhado numa trouxinha na Maternidade, todo sujo ainda, quando sua mãe acabara de dar à luz. Nem imaginava que ali estaria alguém que mudaria minha vida pra sempre. Por ele eu penso sempre duas, três, quatro vezes antes de fazer qualquer coisa. Ele pode ter certeza que nunca, por minha própria vontade, farei coisa alguma que possa ser motivo de vergonha para ele. Podem vir tempestades, tentações, decepções, desilusões, mas por ele, não sucumbirei a nada disso. Pra mim, hoje, ser feliz é poder vê-lo feliz, fazê-lo feliz. Espero que nunca o decepcione, enquanto Deus me conceder essa graça de poder tê-lo ao meu lado.

Semanalmente você é colunista no Jornal Mais. Qual foi o Tudo de Bom e o Nada de Bom mais difícil que você já escreveu ou que te marcou? Puxa… Essa eu vou ficar te devendo. Comecei a coluna em um outro jornal, era o “Aplausos para” e o “Vaias para”. Depois me transferi para o Mais, agora com o “Tudo de Bom” e o “Nada de Bom”. São nove anos escrevendo semanalmente, dando opiniões sobre assuntos diversos, de acordo com o que acontece em nossa volta, nas mais variadas esferas. Acho que se reunisse todos os meus comentários, desde o 1º feito, há nove anos, daria um bom livro, uma boa crônica sobre a vida contemporânea. O engraçado é que, às vezes, eu escrevo coisas banais, bobas e são essas que as pessoas mais comentam. É imprevisível, mas muito gostoso. É uma espécie de desabafo, de sessão de terapia [risos]. Você sabe que tem um conteúdo nas aulas do Anglo onde ensino meus alunos a emitirem uma opinião (tese) e defendê-la com argumentos. E eu distribuo pra eles protótipos da minha coluna, no jornal, com o Tudo e o Nada de Bom em branco e digo: “hoje vocês serão os colunistas, terão que dar sua opinião sobre qualquer assunto e defendê-la, como se estivessem escrevendo pra minha coluna”. É um barato, eles adoram. E escrevem com muita propriedade, colocam, além de sua opinião, o estilo de escrita despojado que eu imprimo nos comentários também.

Quem é o seu maior ídolo? Meu pai. Quantas vezes me perguntarem, serão as vezes que eu responderei. Não conheci ninguém nessa minha vida mais inteligente, sensível, iluminado do que o meu “Professor Munhoz”. Ele era um profundo conhecedor da alma humana. Sua sabedoria me encantava. Se eu conseguir ser para o meu filho, 10% do que meu pai foi pra mim, já estarei satisfeito. Olha, vou te falar uma verdade: ele morreu cedo, pois não era desse mundo, mas, infelizmente, não deu tempo dele realizar o sonho de ser prefeito dessa cidade. Artur Nogueira não faz ideia do quanto perdeu com isso.

Se sua vida fosse um filme, qual seria? São tantos filmes com os quais me identifico, mas tem um em especial, que aliás, me foi apresentado pela minha mulher. Chama-se “O Presente” (The Ultimate Gift). É sobre mudanças, recomeços, perdas e ganhos, valores morais, enfim, me emocionei muito com o filme e recomendo: é uma lição de vida, num mundo hoje, tão voltado para a conquista do poder, para o sucesso a qualquer preço. É muito bom!

Diga um livro que te marcou. Adoro ler. Hoje estou na fase dos livros que fazem refletir. Mas adoro romance, suspense, biografias. Admiro Machado de Assis, Jorge Amado, Monteiro Lobato, Marcos Rey, Stephen King (o mestre do terror), Sidney Sheldon, Irwing Wallace, Zíbia Gasparetto, Augusto Cury. Sou eclético mesmo em matéria de leitura. Livros bons sempre me marcam. Eu fecho a última página como se estivesse me despedindo de verdade das personagens, meio como que agradecendo por eles terem feito parte de minha vida durante os momentos em que estivemos juntos, compartilhando um tipo de magia que só a leitura pode trazer.

Fotos: Renan Bússulo 


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