23/12/2012

ENTREVISTA: Padre Édson Tagliaferro

Pároco que substituirá Padre Eder fala sobre religião e Natal


“No Natal, não há problema em dar perfume, camisa, brinquedo. O problema é parar nisso, ou resumir a vida a isso” (Padre Édson Tagliaferro)

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Alex Bússulo

Após treze anos à frente da Paróquia Nossa Senhora das Dores, em Artur Nogueira, o Padre Eder Doniseti Justo deixará o município. A notícia foi divulgada nesta semana pela Diocese de Limeira e veiculada na última quinta-feira (20) no Portal Nogueirense.

A partir de 2013, Padre Eder será o responsável pela Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Araras. Com a saída, quem assumirá a paróquia nogueirense será o Padre Édson Adélio Tagliaferro, de 47 anos de idade, que hoje responde pela Paróquia Jesus Crucificado, de Iracemápolis.

Durante pesquisas para a realização desta entrevista, entramos em contato com a matriz de Iracemápolis. Pelo telefone, obtivemos a primeira impressão do novo padre. “Artur Nogueira receberá uma joia rara. Vocês têm sorte!”, dizia a voz da secretária da paróquia, se referindo ao Padre Édson.

O encontro com o padre aconteceu na quinta-feira, após uma missa na Matriz São Pedro, de Engenheiro Coelho. Nossa primeira conversa com o novo padre foi muito boa. Encontramos um homem tranquilo, de palavras pausadas e amorosas. Jeito humilde e extremamente atencioso.

Edson Adélio Tagliaferro nasceu na cidade de Conchal. Aos cinco anos de idade mudou-se com a família para Cosmópolis, onde ficou até os 21 anos, idade em que partiu para o seminário. Estudou Administração, mas foi no caminho religioso que encontrou sentido na vida. Hoje, considera ser um homem muito apegado à família, ainda sofre a perda do pai, que morreu há quatro meses.

A partir de fevereiro, Padre Édson passará a ser o pároco da Paróquia Nossa Senhora das Dores. Na entrevista desta semana, você é convidado a conhecer a vida, os pensamentos e a história do novo padre que Artur Nogueira se prepara para receber, além de fazer uma reflexão sobre o que é mais importante neste Natal. Confira.

Como o senhor reagiu no momento em que ficou sabendo que assumiria a Paróquia Nossa Senhora das Dores, em Artur Nogueira? Bem, a notícia de que teria que sair de Iracemápolis já foi muito dura e me fez sofrer muito. A saída de um lugar onde você se sente muito feliz, com boas amizades e bom trabalho pastoral realmente “tira o chão da gente” e você não vê sentido algum em que tenha que ser assim. Mas quando soube que seria Artur Nogueira senti mais segurança, pois eu queria um lugar mais perto possível de minha mãe, que mora em Cosmópolis. Além disso acredito que Artur Nogueira tem um perfil de paróquia que é mais o meu jeito de ser padre.

Como espera que seja a primeira missa em Artur Nogueira? Nunca tive a oportunidade de celebrar uma missa em Artur Nogueira. Já realizei um batismo de uma sobrinha neta na Matriz Nossa Senhora das Dores no ano passado, mas nunca uma missa de fato. Confesso que fico um pouco com medo, afinal de contas é tudo ao vivo. Não posso errar! [risos] Estou acostumado com um ritmo em Iracemápolis. Não dá para saber como será em Artur Nogueira. Espero que corra tudo bem. Mas a insegurança é inevitável.

Percebo que o senhor é um padre muito querido em Iracemápolis e que deixará muitas saudades nesta cidade. O senhor se considera um padre carismático? Não. Sou apenas humano, demasiadamente humano. Aprendi com Jesus a “ler” a vida das pessoas com misericórdia e ser um com elas. Foi isso que cativou, em Iracemápolis, pessoas de todas as idades.

Como descobriu sua vocação para ser padre? Minha família é muito católica. Meus avós, descendentes de italianos, e meus pais eram bem religiosos. Isso ajudou muito a ter amor pela Igreja e viver o cristianismo pela fé católica. Um grande impulso foi em 1980, com as missões redentoristas. Participei intensamente do tempo da missão em Cosmópolis e fiquei encantado com o trabalho deles. A partir deste momento eu me aproximei muito da Igreja e comecei a discernir a possibilidade de ser padre.

Com qual idade decidiu trilhar este caminho? As missões aconteceram quando eu tinha quinze anos. Mas eu me formei até em curso superior antes de ingressar no seminário, que ocorreu quando eu tinha vinte e um anos.

O que o senhor seria se não fosse padre? Eu havia prestado vestibular para Biologia, que é uma área me atrai muito. Mas devido a dificuldades financeiras para fazer o curso em Campinas acabei fazendo Administração de Empresas, em Americana. Talvez tivesse seguido a carreira de administrador em alguma empresa.

Qual é a sua trajetória religiosa? Fiquei em Campinas no seminário por seis anos, e neste período fiz estágio por um ano na pastoral em Cosmópolis, dois anos em Limeira e três anos em Iracemápolis. Depois fui ordenado diácono e fiquei novamente em Limeira por mais um ano. Após a ordenação presbiteral fui enviado a Araras, para a paróquia São Francisco de Assis, onde eu fiquei por mais de seis anos. Depois vim para Iracemápolis onde estou há onze anos. Como padre, especificamente foram duas paróquias apenas.

O senhor perdeu o pai há quatro meses. Como enfrentou essa perda? Você sabe que embora eu seja um padre e lide com a morte todos os dias, perder alguém próximo não é nada fácil. Já tive pessoas que morreram em meus braços, em hospitais, já estive em vários velórios, mas não é fácil perder um pai, mesmo a gente acreditando na vida eterna. Uma das coisas que me deixou feliz na transferência foi que ficarei mais perto de minha mãe, que mora em Cosmópolis. Meu pai faleceu vítima de infarto. Ele estava com 78 anos de idade. A morte chegou de repente. Passei um dia inteiro com ele e à noite recebi a notícia de que ele havia partido. Eu sou um homem muito ligado a minha família. Você sempre vai ver pessoas da minha família nas missas que farei em Artur Nogueira. Tenho uma irmã que mora em Holambra, um irmão que está construindo uma casa em Artur Nogueira. Gosto de estar perto deles, principalmente de minha mãe neste momento.

O senhor é devoto de qual santo? Sou grande admirador da vida dos santos e santas e há muitos que tenho com carinho no coração. São Francisco de Assis, Santo Inácio de Loyola, São João da Cruz, Santa Tereza d’Ávila, Santa Josefina Bakita, Santo Alberto Hurtado, Santa Giana Bereta Mola. Contudo, inspira-me particularmente São Bento, com a espiritualidade beneditina.

Como o senhor poderia definir um bom padre? São João Maria Vianney dizia que o “sacerdote é o amor do coração de Jesus”. Creio que um bom padre é quem fez uma profunda experiência de Deus, que é amor, e consegue traduzir esta experiência com uma vida de oblação no amor ao próprio Deus que encontro a cada dia na vida dos irmãos e irmãs.

Qual a importância da religião na vida de uma pessoa? Ela ajuda a pessoa a se conhecer melhor e trabalhar seus limites “organizando suas paixões desordenadas”, como dizia Santo Inácio de Loyola. Ela ajuda a criar uma consciência moral e com isso permite que se tenha uma vivência melhor na família e na sociedade (Vaticano II). Ela ajuda no enfrentamento das situações adversas da vida com sua espiritualidade e ainda nos possibilita um horizonte de fé e esperança que nos abre à transcendência de Deus, o que nos ajuda a sermos mais humanos, nos preocuparmos com os outros e colocar nossa vida em sintonia com a eternidade, ajudando a romper este círculo vicioso do consumo desenfreado que é posto a nós hoje como sendo o sentido da vida.

Vivemos em uma sociedade repleta de distrações e futilidade que, às vezes, podem ser mais atrativas do que a própria Igreja. Como pretende atrair os fiéis nogueirenses para as suas missas? Não existe fórmulas mágicas para isso. Pretendo ser eu mesmo e viver minha identidade sacerdotal como tenho feito nos dezoito anos que sou padre. É claro que pretendo fazer o melhor possível para que as celebrações sejam agradáveis e que respondam à busca que os fiéis fazem de Deus, mas com simplicidade e humildade, reconhecendo minhas limitações.

No Natal muitas pessoas festejam e se reúnem com a família. Trocam presentes entre si, bebem e comem a vontade. O que percebemos é que a celebração muitas vezes é a única festa de aniversário em que o aniversariante, no caso Jesus, não está presente. Por que isso acontece? Creio que seja o sistema contemporâneo em que vivemos. Pessoas vazias de sentido acham que vão encontrar razões para existir consumindo cada vez mais. Isso tem gerado uma sociedade estranha e culturalmente defasada. Por exemplo: falar de Deus na escola não pode porque a sociedade é laica. Portanto temos que respeitar quem não crê em Deus ou as diversas maneiras de crer. Agora, falar de Papai-Noel pode falar, assim como se vestir como ele, pedir para crianças mandar cartinhas pelo correio para ele, isso pode. No entanto, este nós temos a certeza de que não existe.

Os pais poderiam transmitir de uma forma mais sábia a essência do Natal aos filhos? Os pais tem um papel fundamental na formação dos filhos. Todos temos muito do que recebemos de nossos pais. Os pais podem sim ajudar os filhos a compreender melhor o sentido do Natal, embora estejam inseridos num mundo de apelos muito fortes que afetam a vida das crianças, principalmente em épocas como esta.

Qual é a essência do Natal? O mistério de um Deus que esvazia-se de sua divindade para se tornar um de nós. Quis entrar na nossa história pela porta da cozinha, assumindo nossa humanidade. Caminhar conosco, sentindo nossas dores, angústias, alegrias, enfim, conhecendo-nos pela proximidade do amor, não da imposição. Somente quem aprende a amar assim, como Deus, é que dilata seu coração de tal forma que caiba nele o tão grande mistério.

Então, qual é o melhor presente de Natal? Não há problema em dar um perfume, uma camisa, um brinquedo. O problema é parar nisso, ou resumir a vida a isso. Esta alegria do presente passa com o tempo. Junto com o presente tem que ter o abraço fraterno, o carinho, o tempo para o diálogo, a escuta do outro, a solidariedade com os pobres, o sonho compartilhado de que juntos, como comunidade, podemos trabalhar melhor pela construção do Reino de Deus.

Em dezembro se vê uma grande mobilização de atos de solidariedade, tanto das igrejas quanto da sociedade. Por que isso só acontece no Natal? Isso é puro desencargo de consciência. Quem se torna solidário com a dor do outro somente um dia do ano, não encontrou verdadeiramente a Jesus, que está o ano inteiro no rosto dos pobres e dos que sofrem.

Fotos: Renan Bússulo


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