26/11/2011

ENTREVISTA DA SEMANA: Michele Pedroso

Conheça a bailarina que está colocando os nogueirenses nas pontas dos pés

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Alex Bússulo

Ela nasceu em Campinas, mas veio para Artur Nogueira aos oito anos de idade e nunca mais deixou a cidade ‘Berço da Amizade’. Hoje, com 36 anos de idade, Michele Pedroso se dedica há mais de 15 anos ao balé e dá aulas no Clube Recreativo Floresta e na entidade Casa do Caminho. Também se prepara para uma parceria com a Divisão Municipal de Cultura para a partir do próximo ano começar a dar aulas gratuitas no Centro Cultural.

Formada em Balé Clássico pelo método Royal Academy of Dance, Michele se prepara para mais uma apresentação que promete emocionar o público nogueirense. Com o tema do personagem Shrek, as alunas do Clube Floresta vão se apresentar no Teatro Municipal em três dias da próxima semana, com coreografias exclusivas.

Na entrevista desta semana, conversamos com a bailarina. Em um bate papo de mais de uma hora, Michele fala sobre as dificuldades, preconceitos e benefícios vindos do balé. Acompanhe.

Como foi que o balé entrou em sua vida? Foi na infância que descobri minha paixão pelo balé. Naquela época não havia curso em Artur Nogueira, então eu tinha que ir para Holambra, o que era um pouco difícil porque eu ia de ônibus e como os horários disponíveis na rodoviária eram poucos, bem diferentes de hoje em que você pega circular de meia em meia hora, e tinha que ficar esperando horas para o curso começar, o que foi desgastando um pouco. Levei essa vida até os meus 15 anos, depois parei.

Mas voltou… Sim. Por causa da minha filha. Quando ela tinha quatro anos começou a praticar e como nós tínhamos que sair de Artur Nogueira e eu tinha que ficar esperando para ela fazer o curso, acabei voltando para a academia e não parei mais.

Quando você se tornou professora? Enquanto fazia as aulas junto com a minha filha, a professora vivia dizendo que eu levava jeito com crianças e que deveria investir na área do balé. Foi aí que eu fui para São Paulo estudar e conhecer o método Royal Academy of Dance.

Como é esse método? Na verdade ele é um programa de Londres, gradual de treino planejado por renomados professores de balé, que já está em mais de 83 países. O Royal Academy of Dance inclui, além das técnicas clássicas, outros segmentos importantes como as danças de caráter encorajando o sentido de ritmo dando ao corpo e a cabeça uma forte postura, e os elementos do movimento livre. É um programa menos técnico que a sessão clássica, que ajuda a desenvolver a beleza e a liberdade dos movimentos, relaxamentos e a utilização do espaço.

Hoje, você é professora formada por esse método? Sim, depois de mais de 15 anos de academia e estudo sobre o balé comecei a dar aulas como estagiária no Clube de Holambra e depois fui contrata para dar aulas no Clube Recreativo Floresta, em Artur Nogueira, onde estou até hoje.

Como o balé é visto hoje no Brasil? Antigamente o balé era apenas para a elite, só fazia balé quem tinha dinheiro, hoje o que vemos é que ele está implantado em outras camadas sociais. O que é muito legal, porque ele se tornou mais popular. Para falar a verdade, eu até admiro o número de pessoas que se interessam pela dança…

Por quê? Porque rebolar é muito mais fácil! O balé exige técnica e persistência.

Quais características uma pessoa deve ter para entrar no balé? Para ser bailarina de palco, ou seja, profissional, é preciso ser magra, ter flexibilidade e muita força. Agora, para aqueles que só querem praticar a modalidade o único requisito é ter força de vontade, porque tudo não passa de coordenação motora, de treinamento.

Por que força? Vou dar um exemplo, o aluno tem que levantar a perna o mais alto que conseguir e sustentar a postura. Não é igual a ginástica olímpica que o aluno levanta a perna, mas pode segurar com a mão. Sem contar a técnica de ficar nas pontas dos pés. Tudo isso exige da pessoa muita força física.

Uma pessoa que nunca praticou balé precisa de quanto tempo de academia para conseguir ficar nas pontas dos pés? Aproximadamente quatro anos para ela adquirir a força necessária. Já naquilo que chamamos de ‘meia ponta’, que não é tão difícil, em um ano de prática, a pessoa já consegue se apresentar, claro que a partir da idade certa de cada aluno.

O balé sempre foi associado a uma modalidade exclusivamente feminina, o que é um engano. Hoje, ainda existe esse preconceito de que balé é só para meninas? Sim, existe muito preconceito. Artur Nogueira por ser uma cidade pequena acaba aumentando ainda mais esse preconceito. Eu conheço muitos meninos e homens que adorariam praticar, mas tem vergonha do que os amigos vão falar. Hoje eu tenho mais de cem alunos que fazem balé, nenhum é homem. O preconceito fala mais alto.

Por que isso acontece? Porque é uma modalidade que aparenta ser feminina por causa dos gestos e coreografias. Esse preconceito existe em todos os lugares, não é só aqui em Artur Nogueira não. Em uma turma grande, de 200 alunos, só dois, três são homens. O que é muito ruim, porque em apresentações sempre precisamos de um príncipe, que normalmente temos que contratar de outras companhias de dança.

Além de ser uma modalidade artística, quais benefícios o balé pode trazer para uma pessoa? Muitos consideram o balé como uma verdadeira terapia, uma ligação entre o corpo e a mente. Não é como uma academia de ginástica que você vai todo dia levantar peso. O balé é um desafio a cada dia. Eu mesmo, como professora, ainda tenho muito a aprender. É igual a vida, parece que quanto mais você aprende, mais vê que menos sabe.

No filme Cisne Negro, a atriz Natalie Portman interpreta um bailarina que vive o drama do balé profissional. Em algumas cenas são abordadas o sofrimento das pessoas que chegam a se sacrificar física e psicologicamente para conquistar um determinado papel no palco. Isso realmente acontece na vida real? Acontece sim. Nos grandes balés são exigidos muito esforço e superação. Existem alunas que fazem de tudo para conseguir um papel importante. Já vi muitas meninas saindo das salas de ensaio chorando.

Além de dar aulas no Clube Floresta você também é voluntária na Casa do Caminho, atendendo mais de 40 crianças. Qual é a principal diferença entre esses alunos? Nem sempre eu consigo ensinar para as alunas da entidade o que a idade delas permitiria. O aprendizado chega a ser um pouco lento, mas em compensação o interesse e disciplina das alunas da Casa do Caminho são indescritíveis. Elas se dedicam muito e dão mais valor.

No próximo final de semana, dias 2, 3 e 4 de dezembro, será realizado no Teatro Municipal René Marcos Posi a oitava edição do Festival de Balé do Clube Floresta, que traz como tema a turma do Shrek. Como será o evento? Como você já disse, estamos na oitava edição do festival. Depois de já termos apresentados temas como A pequena Sereia e A Bela e a Fera chegou a vez do Shrek. A escolha do tema foi para inovar as apresentações, fugir um pouco dos contos de fadas tradicionais. O ogro traz uma mensagem muito bonita, que ninguém precisa ser lindo para ser feliz. Também vamos usar as músicas do filme, que serão bem animadas.

Quem vai interpretar o Shrek? Será o vereador Leandro Queiroz, o Gugu.

E o burro? Será o Celso Lauro. Os dois foram emprestados do Movimento Cultural Brincantti. Quem for assistir vai adorar. Eu garanto.


 


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