26/08/2011

MARCOS MARTINS: o inimigo do amianto

Nossa reportagem falou com o deputado estadual sobre política, sua luta contra o amianto e seu relacionamento com o município de Artur Nogueira

_________________________________________________________

Alex Bússulo

Ele foi eleito pela primeira vez deputado estadual com 71.474 votos no ano de 2006. O petista tomou posse do cargo em 15 de março de 2007. Em seis meses de mandato no parlamento paulista, Marcos Martins foi apontado como um dos deputados mais atuantes na Assembléia Legislativa, em pesquisa realizada pela ONG Voto Consciente. Em 2010, foi eleito, pela mesma ONG, um dos dez deputados mais atuantes de São Paulo.

O parlamentar foi reeleito em 2010, ao seu segundo mandato, desta vez com 80.131 votos.

No segundo mandato, o deputado foi escolhido para ser presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa.

Ao longo destes dois mandatos, Marcos Martins aprovou importantes projetos de Lei. Destaque para a Lei n°12.684/07, que proibiu o uso do amianto no estado de São Paulo, e a Lei n° 14.481, que classifica a visão monocular como deficiência física. Neste período, apresentou outras propostas que estão em discussão na Alesp, como a inclusão de psicólogos e assistentes sociais no quadro de profissionais das escolas públicas, a assistência técnica gratuita de engenheiros e arquitetos para população de baixa renda, a disponibilidade de nutricionista na rede pública de ensino, criação do curso superior de restauro, entre diversos outros.

Atua há mais de 30 anos no movimento sindical e foi um dos fundadores da Regional do Sindicato dos Bancários de São Paulo na cidade, da qual se tornou coordenador em 1979.

Administrador de empresas, casado e pai de três filhos, é um dos fundadores do PT. Cumpriu cinco mandatos como vereador em Osasco, sendo o parlamentar do PT mais votado em quatro eleições.

Indicou Artur Nogueira para receber recursos em vários setores, tais como a aquisição de uma ambulância, revitalização da Lagoa dos Pássaros, reforma e ampliação da UBF do Itamaraty e recapeamento de algumas ruas da cidade.

Nossa equipe se encontrou com Martins em sua sala, em São Paulo. Na conversa de cerca de uma hora, o deputado falou sobre política, sobre sua luta contra o amianto e sobre seu relacionamento com o município de Artur Nogueira.

COMO VOCÊ ENTROU PARA A POLÍTICA? Eu comecei a me interessar por política quando tinha apenas dez anos de idade. Na época eu trabalhava na roça, lá no Paraná. Vivíamos um verdadeiro dilema na agricultura. Quando a gente plantava, a mercadoria não tinha preço e quando a gente não produzia tinha que comprar e pagar caro pelos alimentos. Eu trabalhava durante todo o dia e à noite ia para a escola. Eu não achava justa aquela situação, trabalhávamos muito, mas parecia que ainda não era o suficiente. Aquilo foi mexendo comigo de tal maneira que eu queria encontrar uma solução, e sem eu saber já começava a praticar política. Depois veio o Golpe Militar de 64 e passamos a nos interessar a democratizar o país e derrubar a ditadura. Aos 19 anos de idade me mudei para Osasco, mas eu já tinha uma consciência política, uma consciência de que eu precisava me interessar por política, porque ela soluciona nossos problemas.

MAS QUANDO FOI QUE REALMENTE VOCÊ ENTROU PARA A VIDA PÚBLICA? Eu fui bancário, depois fui trabalhar no sindicato. Ajudei a fundar o PT em Osasco. Tentei ser eleito deputado estadual, mas não consegui. Em 1988, fui eleito vereador. Ao todo, fui eleito vereador por cinco mandatos consecutivos. Sempre sendo um dos mais votados da bancada.

QUAL É A SUA DEFINIÇÃO PARA POLÍTICA? Política é uma ciência para ajudar a solucionar os problemas da população.

E ELA AJUDA NOS DIAS DE HOJE? Ajuda claro. Isso também depende do grau de participação das pessoas. Se a população quer ser ajudada, elas participam da política. Aí todos ganham. É bom ressaltarmos que política não é sinônimo de sujeira. Sinônimo de sujeira é outra coisa, é politicagem. Muitas escolas ensinam política. Que são os desafios de governar. Utiliza-se política em times de futebol, associação de moradores ou entidade filantrópica. Tudo é política, até em um ato de se recusar a discutir política nós estamos fazendo política. Como já dizia um poeta alemão: ‘o pior analfabeto não é aquele que não sabe ler ou escrever, mas sim o analfabeto político, aquele que se recusa a discutir política, a se interessar por política. Da ignorância política nasce a miséria, a exclusão, o desemprego, isso é fato.

MESMO COM TODOS OS ESCÂNDALOS POLÍTICOS QUE PRESENCIAMOS VOCÊ AINDA ACREDITA QUE HOUVE UM AVANÇO NA POLÍTICA? Sim. Porque se hoje a população toma conhecimento de ações, de prisões, podemos observar quem está fazendo isso, através da Polícia Federal e da mídia. As ações que são feitas hoje a população toma conhecimento porque existe total liberdade na imprensa. Antes, quando os militares governavam o país, também existia corrupção, mas não havia liberdade nenhuma na imprensa e a população não tinha conhecimento do que acontecia. As ações eram muito mais para proteger do que para fiscalizar ou corrigir como acontece agora. Hoje nós vivemos em um estado de direito, e os problemas de desvio de dinheiro e corrupção ocorrem em todas as áreas. Nunca a Polícia e o Governo Federal agiram tanto quanto agora.

DE TODAS AS AÇÕES QUE VOCÊ JÁ FEZ EM SUA VIDA, DOS PROJETOS E EMENDAS, DE QUE VOCÊ TEM MAIS ORGULHO? Posso destacar minha dedicação às vítimas do amianto. Ajudei muitas pessoas a enfrentar o problema do produto cancerígeno que mata milhares de pessoas no mundo.

O QUE É O AMIANTO? É um mineral, uma rocha, que se extrai uma fibra utilizada para produzir um monte de produtos, mais de três mil aplicações, tais como aquelas caixas de água antigas, as telhas, fios cirúrgicos, giz de cera, lonas, pastilhas de freios, divisórias de paredes, uma quantidade imensa. As pessoas em contato com esse material podem se contaminar. E como a maioria da população não tem conhecimento do perigo acaba se contaminando.

E O QUE VOCÊ FEZ? Minha luta contra o amianto é antiga. Eu fiz um projeto de Lei enquanto ainda era vereador para proibir o uso. Ajudei as vítimas da cidade de Osasco, que tinha uma fábrica da Eternit lá, que deixou um monte de pessoas contaminadas e foi embora. Saíram por questões econômicas, para ganhar mais dinheiro, deixando um monte de trabalhadores desempregados e contaminados. Nessa época nós ajudamos na criação da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea), para se mobilizar e reivindicar seus direitos. Passei a registrar nos anais da Câmara todos que morriam. Eu registrava o nome e colocava ‘mais uma vítima do amianto’. Dava nome das vítimas para praças e ruas, tudo para conscientizar sobre o perigo do produto.

MAS AS PESSOAS E A MÍDIA PARECEM QUE NÃO SE IMPORTAVAM MUITO COM O ASSUNTO, NÃO É MESMO? O lobby do amianto era muito grande e poderoso, e se formos analisarmos bem, eles são até hoje. Quem quiser conhecer a extração do minério eles fazem questão de levar até as minas e falam que tudo é automatizado, que existe um tal de amianto branco que não faz mal, mas não é bem assim. As consequências do amianto vêm em longo prazo. Não é coisa de meses não. A contaminação pode mostrar suas sequelas depois de até quarenta anos do contato. Uma única fibra do minério pode produzir a doença.

MAS SUA LUTA NÃO PAROU POR AÍ… Primeiro eu fiz uma lei municipal. Depois eu assumi o compromisso com as vítimas do amianto e com a associação de que se eu fosse eleito deputado estadual, o primeiro projeto que eu apresentaria seria a proibição do minério em nível de estado. E assim foi feito. Com seis meses de mandato, eu apresentei e foi sancionado o projeto. Aí entramos em uma guerra jurídica, sofrendo ações do lobby da indústria do amianto. No final a lei foi aprovada e sancionada.

E ATUALMENTE COMO ESTÁ A SITUAÇÃO DO AMIANTO? Hoje das 160 empresas visitadas no estado de São Paulo pela Vigilância Sanitária e pelo Ministério do Trabalho, que utilizavam o amianto como matéria prima, 158 trocaram esse minério por outro. Cerca de seis estados brasileiros proibiram o amianto e estamos trabalhando para que o Brasil também proíba, assim como mais de 60 países já fizeram. Agora temos um aliado nessa luta que é o senador Suplicy (PT), que entrou com um projeto pedindo a proibição da comercialização, mineração, importação e exportação. É um projeto que proíbe a nível nacional o uso do amianto.

COMO VOCÊ VÊ O MUNICÍPIO DE ARTUR NOGUEIRA? É uma cidade hospitaleira, amiga de todos. Aliás, tenho muitos conhecidos e amigos paranaenses que moram lá. Sempre tive uma simpatia pela cidade. Hoje posso dizer que temos um comprometimento com esse município.

FOI ATRAVÉS DE UMA EMENDA QUE VOCÊ CONSEGUIU A CONSTRUÇÃO DA PISTA DE SKATE EM ARTUR NOGUEIRA. QUAL A IMPORTÂNCIA DO ESPORTE NA VIDA DE UMA PESSOA? Nós temos muitos desafios. Atualmente vivemos uma luta contra as drogas. Todos já se deram conta da gravidade do problema das drogas em todo país. Se houvessem investimentos na ocupação dos jovens já há algum tempo, direcionando os jovens para a educação, cultura ou esporte não viveríamos esta realidade. O esporte pode ajudar e muito no combate contra as drogas. Por muito tempo o país tratou os skatistas com muita rejeição. O skate não era visto como um esporte. Quando a pessoa não pratica algo, não faz algo para se ocupar, ela acaba ficando excluída da sociedade. E ao ficar excluída sempre haverá apelos para incluir naquilo que não é bom. Incentivar no skate e em outras modalidades é um incentivo a educação e ao desenvolvimento e não apenas no esporte.

VOCÊ LIBEROU A VERBA PARA COMPRA DE VÁRIOS INSTRUMENTOS MUSICAIS PARA A CORPORAÇÃO MUSICAL 24 DE JUNHO E TAMBÉM ESTÁ INCENTIVANDO O PROJETO ‘NA ROTA DA VIOLA’. COMO VOCÊ VÊ ESSE APOIO? Minha origem é sertaneja. Nasci no interior, trabalhei muito tempo na roça, minha cultura está na terra. Incentivar a Cultura da música de raiz é resgatar nossas origens. Nosso folclore. Assim como é importante investir no esporte, falar e valorizar a cultura, a arte, é uma maneira eficaz de contribuir com a melhoria do país.

EM 2006, VOCÊ TEVE 19 VOTOS EM ARTUR NOGUEIRA. JÁ EM 2010, OBTEVE QUASE 700 VOTOS. O QUE ACREDITA QUE TENHA ACONTECIDO PARA ESSE AUMENTO? Justamente o trabalho, pela relação estabelecida com os militantes do município. Com o tempo o povo nogueirense foi conhecendo e reconhecendo o nosso trabalho. Eu já estive várias vezes em Artur Nogueira e todas as vezes fui muito bem recebido pelas pessoas de lá. Gosto muito da cidade. E nós vamos continuar nessa trilha. Com essa parceria. No final todos saem ganhando.

___________________________
Comente com responsabilidade! Clique aqui e leia nossa política de comentários.


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.