11/11/2012

ENTREVISTA: Sociólogo Luiz Rossi fala sobre família, educação e valores

“Pais que não colocam limites criam filhos sem limites” (Luiz Rossi) ……………………………. Alex Bússulo Luiz Augusto Rossi é natural de Araras e morador de Artur Nogueira há mais de 30 anos. “Passava sempre por aqui quando vinha de Jundiaí para Conchal, isso entre 1972 a 1974. Sempre achei uma cidade linda e acolhedora. Neste tempo […]


“Pais que não colocam limites criam filhos sem limites” (Luiz Rossi)

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Alex Bússulo

Luiz Augusto Rossi é natural de Araras e morador de Artur Nogueira há mais de 30 anos. “Passava sempre por aqui quando vinha de Jundiaí para Conchal, isso entre 1972 a 1974. Sempre achei uma cidade linda e acolhedora. Neste tempo a estrada era de terra. Tinha que torcer para não chover, senão tinha que dormir em Campinas e esperar o outro dia para seguir. Era um tempo maravilhoso, porém, muito difícil em tudo. Como não conhecíamos coisa melhor nem ligávamos para as dificuldades”, afirma.

Formado em Ciências Sociais, possuí opiniões fortes e verdadeiras que se colocadas em prática mudaria, e muito, a sociedade. Atualmente, o nogueirense trabalha na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e também no Conselho Tutelar de Artur Nogueira.

Na entrevista desta semana, o sociólogo fala sobre a importância da base familiar, educação no lar e na escola e a transmissão de valores e princípios. Confira:

De quem é a responsabilidade de educar? A responsabilidade de educar é sem dúvida nenhuma da família. Temos que ter a formação moral, adquirir conceitos, respeito e principalmente princípios, dentro de nossa própria casa. Estamos vivendo em uma sociedade onde estes valores estão sendo banalizados e esquecidos pelos pais ou responsáveis. Em tempos antigos os filhos, embora criados de forma mais rígida, aprendiam principalmente o respeito e as regras impostas pelos pais. Já nos primeiros anos de vida eram ensinados os valores éticos e morais que eles guardavam para o resto de suas vidas. As famílias como primeira meta, inseriam os filhos na religião seguida por seus membros e assim, conseguiam já transportar o valor e o respeito. A benção era dada várias vezes por dia ou quando este filho, ao acordar, ir para a cama ou se ausentar por curtos ou longos períodos, sempre a pediam aos pais, avós ou algum membro familiar que ela devesse respeito e carinho maior. Os valores familiares eram focados em princípios que passavam de geração em geração. Os jovens tinham por meta, somente, a total devoção e amor aos pais e familiares e o respeito aos seus iguais e mais velhos.

E o que acontece nos dias atuais? A formação atual esta focada no individualismo e no capitalismo. Os filhos são criados em escolas particulares e creches, para que pai e mãe possam trabalhar. Estas instituições são maravilhosas no ponto de vista de cuidados e proteção, porém, por mais que os profissionais que lá atuam, não podem formar a personalidade das crianças que lhes são confiadas de forma individual e completa. Os pais saem cedo para o trabalho e à tarde vão buscar seus filhos nestes locais e simplesmente, tomam banho e vão para frente da televisão e nem ‘boa noite filho’ são capazes de dizer. Não estou generalizando. Temos famílias de princípios e que tratam seus filhos da forma correta em princípios. Estamos falando de uma grande maioria que só lembram dos filhos quando estes estão doentes ou aprontam alguma travessura. Quando estão já em idade escolar os filhos tem que se virarem sozinhos num mundo cheio de armadilhas. Estes filhos quando são soltos, encontram um mundo cheio de armadilhas e não possuem ferramentas para desarma-las. Não possuem a receita do que é bom ou mal, do que pode ou não fazer. Muitos são reflexos perfeitos do que os pais fazem dentro e fora de casa.

Por isso é importante os limites dentro de casa? Sim. Pais que não colocam limites criam filhos sem limites. Não se preocupam em acompanhar seus filhos e depois choram os que estão em caminhos errados, presos ou mortos. Preocupam-se com nada e depois tentam culpar todos por problemas que eles teriam que resolver. Esquecem de plantar a semente básica e deixam que a rua plante. Não sabem o que seus filhos fazem nas redes sociais e depois procuram a polícia para relatar o desaparecimento de seu filho ou filha, exigindo providencias urgentes. Não acompanham as reuniões escolares e depois, culpam os professores pelas notas baixas e reprova de seus filhos. Não os acompanham a festas e depois culpam as autoridades por ter deixados que seus filhos entrassem em determinados lugares. Quem deu o dinheiro foi ele! O filho dele estava no lugar errado a na hora errada porque ele nunca acompanhou seu filho para saber a realidade de uso do dinheiro que “ELE” deu. Ao invés de refrigerante, os filhos estão alimentando o mundo das drogas. Depois vem chorar providencias do setor de saúde, praticamente obrigando-os a curar o filho deste vício. Por isso a responsabilidade de educar é inteira das famílias. Cabe a elas cuidar do que é seu enquanto é tempo.

Quais critérios podemos utilizar para definir um bom professor? Um bom professor é o que ama sua profissão e que busca acima de tudo compreender as necessidades de seus alunos. O professor, não lapida seus alunos, ele apenas dá o polimento. Não lapida por não saber a forma que o aluno quer para seu futuro. O bom professor é aquele que vai para a escola com vontade, alegria, mesmo sabendo dos desafios que lá vai encontrar. Nossa tarefa está se tornando a cada momento mais desafiadora e cheia de espinhos. Devemos calçar sapatos fortes todos os dias para atravessar este caminho. O professor tem que ser exemplo e não cópia. Tem que ser espelho e não pedra. Tem que ser paciência e não discórdia.

E um bom pai e uma boa mãe? São os que sempre estão presentes. Os que ensinam princípios. Os que fazem o máximo para plantar a semente certa. São os que mesmo não tendo posses, investem em seus filhos com amor. São os que trocam minutos de seu tempo “não livre” em favor da atenção aos filhos. São os que vão perguntar e não esperam as notícias. São os que têm conhecimento de sua responsabilidade e não a delegam a ninguém.

Qual a diferença entre educar e ensinar? Educar é dar princípios. Ensinar é fazer com que os alunos dominem determinado assunto, de forma completa.

Podemos notar, observando as últimas décadas, que a família sofreu mudanças na maneira e metodologia de educar os filhos. Qual foi o motivo que ocasionou essas mudanças?  O ritmo imposto pela atual situação financeira e principalmente pelo capitalismo crescente. Para manter o emprego os pais tem que se preparar cada dia mais, através de cursos e atualizações que são exigidos a todo o momento. A facilidade de crédito é o principal vilão de tanto trabalho. As mudanças na comunicação e a rapidez que tudo acontece, tira cada dia mais os pais de dentro de casa. O individualismo, o confinamento dentro de casa por motivos de segurança, o avanço da internet e da telefonia são os grandes responsáveis por estas mudanças. Antes, os pais ensinavam uma profissão, hoje dão um computador. Antes davam carinho, hoje um celular. Antes davam respeito, hoje um cartão de crédito. Isso tudo contribuiu para que as mudanças acontecessem.

Como motivar e inserir os pais no ambiente escolar dos filhos? Se não conseguimos motivar os alunos a ficar na escola, como podemos incentivar os pais? Enquanto os métodos não mudarem e a escola não se tornar a continuidade da casa dos alunos e deixar de se tornar punição e não prazer, nunca conseguiremos.

Como o senhor vê o interesse por parte dos alunos nos estudos? A grande maioria não tem interesse algum. Só vão para a escola por imposição dos pais. O ensino fundamental é obrigatório em todo território nacional e as crianças têm que frequentá-lo ou os pais serão punidos. A escola é uma obrigação e não uma necessidade, isso cresce na cabeça das crianças e eles ficam desmotivados para estudar. A escola virou apenas um ponto de encontro e bagunça.

Qual é a maior barreira que um professor enfrenta nos dias de hoje? A maior barreira, além da falta de respeito e o vandalismo, é o número muito elevado de alunos em sala de aula. Trabalhamos com mais de 40 alunos quando o ideal seria 25. Temos tantos problemas em sala de aula que às vezes não somos professores e sim mediadores de conflitos. Salas muito numerosas tornam-se ambientes insuportáveis para os profissionais e para os alunos. Ter o controle em sala leva muito tempo e este é um fator que não temos a nosso favor. Focamos tanto tempo em controlar os alunos que não querem aprender que acabamos por esquecer os que querem.

Como resolver esse problema? Não adianta construir mais escolas se não há profissionais para atuar. Primeiro, temos que ampliar a rede de profissionais. Só que muitos não se interessam pela profissão, por saber o que vão enfrentar e os salários que vão receber. Para mudar este quadro é preciso investir seriamente na carreira de professor e atrair mais profissionais para o magistério. A maioria dos cursos voltados para as áreas da educação não estão formando turmas, devido a este problema. Depois de valorizados, os profissionais vão retornar para a sala de aula e só depois poderemos pensar em construir prédios para acolhê-los.

O aluno sai do Ensino Médio preparado para ingressar em uma faculdade? Como eu disse anteriormente, a quantidade de alunos em sala de aula não nos permite prepará-los da forma devida. Muitos se interessam e conseguem passar em vestibulares em faculdades estaduais e federais, outros vão à escola por pura diversão ou para ver a namorada ou os colegas e tratar onde será a balada no final de semana. O ensino oferecido é muito bom. Os profissionais, guerreiros, são muito bem preparados o que falta para muitos alunos é vontade e responsabilidade.

A metodologia aplicada na sala de aula é adequada para a atualidade? Em um mundo que os computadores imperam, o uso do giz é arcaico. Temos muitos livros na biblioteca, muito material de excelente qualidade para utilizar e os alunos não querem mais o papel e sim o mundo digital. As aulas poderiam ser mais completas se tivéssemos um sistema mais avançado de demonstrar aos alunos os temas de nossas aulas com mais abrangência e que gerasse interesse. Figurinhas em livros e antigos mapas amassados já não chamam mais a atenção. A era digital, venceu a batalha.

Se continuarmos no ritmo atual, qual será o futuro da escola? Em um futuro não muito longínquo, a escola será também curso a distância. Haverá um sistema de senha para provar a presença diária e o aluno acessará o sistema na hora que der na telha e assiste a aula com o fone de ouvido, com a música que quiser e o Facebook ligado e depois fará uma prova em um local determinado, eliminando as matérias. É este o futuro da educação. Na verdade, o que falta é só a aula no computador, o resto já está acontecendo.

O que os governos municipal, estadual e federal podem fazer para melhorar a Educação? Viver no século XXI. A educação ainda está no século XIX. Enquanto muitos países já utilizam meios modernos, em nosso País ainda utilizamos a TV em aula. As escolas municipais já investiram em tecnologia e possuem lousa digital em todas as escolas. Não estou apenas falando das lousas e sim da tecnologia que pode transformar uma aula em uma missão mais agradável e atrativa. Eles devem viver o presente e investir nas novidades que os alunos estão acostumados.

“Vivemos em um mundo onde o errado é aceito de tal forma, que quando alguém faz alguma coisa certa, as pessoas estranham” – está frase foi dita pelo subtente da Polícia Militar de Artur Nogueira, Marcelo Ribeiro, durante uma entrevista ao Portal Nogueirense. O presidente do Conselho de Ministros Evangélicos de Artur Nogueira (Comean), pastor Cleverson do Valle, também disse que estamos “vivendo em uma sociedade cujos valores estão invertidos”. O senhor concorda com esses homens? Concordo plenamente com os dois. Ouvimos isso todos os dias. Os valores estão realmente invertidos e o que não presta, vira exemplo para muitos. Temos hoje o pior como espelho para os pequenos e a corrupção exemplo para os maiores. Todos querem sempre tirar vantagens de tudo. Os conceitos de honestidade, educação e hombridade estão do lado errado. Fazem completamente o contrário. Hoje, o bandido é o herói e o mocinho é o vilão. Os valores estão invertidos. Um bom exemplo disso vemos todos os dias, cidadãos presos e meliantes soltos, policiais tendo que se esconder em folgas para não ser alvo. Está tudo errado. De quem é a culpa? Nossa! Não sabemos votar!

Por que os jovens entram para o mundo das drogas? Falta de berço, estrutura familiar e “amigos”. A curiosidade matou o gato. Muitos jovens têm as ruas como professora e as noitadas como companheira. As drogas estão em todo lugar, só esperando alguém. Isso é um comércio e tem que ter lucros. Como os jovens não tem opção e nem base, são alvo fácil destas porcarias. Não adianta campanhas milionárias feitas pelo governo, temos que investir nas famílias. Temos que investir na estrutura dos lares. Se prepararmos os pais, os filhos saberão o que é bom ou não para eles. A Polícia Militar tem o Proerd que é um programa maravilhoso, porém, quando a criança volta para casa, só encontra desunião e brigas e ela vai se abrigar na rua e, aí, o programa vai por água a baixo. Muitos utilizam a droga como forma de demonstrar “força” e muitos por fuga da realidade. Quem pode viver bem se seu lar está destruído?

A rua tem uma influência maior do que a escola? A rua é “maravilhosa”, ela não cobra nada, só dá prazer. É isso que a maioria pensa. A escola é chata, tem que ficar lá e assistir aqueles professores só falando abobrinha, “mano”. Ouvimos isso todos os dias. Enquanto os métodos de ensino não mudarem, a rua vai vencer. A escola não oferece mais atrativo aos alunos. Eles consideram a escola como uma punição e não como necessidade.

O senhor é a favor do trabalho na adolescência? Sou! “Cabeça vazia, oficina do diabo”. Temos grandes profissionais que só podem ser formados pela escola da experiência. Em breve não teremos mais açougueiros, padeiros, marceneiros, etc… É muito bom, receber o pagamento pelo mês de trabalho e poder comprar o que queremos. Ter responsabilidade com horário, aprender a receber ordens, aprender respeitar regras. O jovem que trabalha e estuda é o melhor aluno e melhor filho. Eles têm interesse em crescer na profissão que estão exercendo e se interessam mais. Uma coisa é complemento de outra.

Nesta semana, um adolescente foi detido pela Guarda Municipal de Artur Nogueira por porte ilegal de arma. [clique e veja a reportagem] O senhor é a favor da redução da maioridade penal? Isso melhoraria nossa sociedade? Não adianta você reduzir a maioridade penal, sem rever as leis. Se isso for a solução teremos que a cada ano, reduzir ainda mais e logo teremos crianças de dois anos presas. Elas são usadas para o crime por não serem punidas, e servir de escudo para os maiores. Se reduzir para 16, eles contratam os de 12, se baixarmos para 12 eles vão aliciar os de 9 e assim sucessivamente. Temos que modificar as leis e repreender de forma mais rígidas os autores e os aliciadores. Modificar as leis para que os crimes sejam punidos de forma verdadeira. Dar a Polícia, poder de Polícia e dar ao infrator o lugar de infrator.

Fotos: Renan Bússulo 

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