21/04/2012

ENTREVISTA: Luiz Paulo Chiodi; presidente do Conselho Municipal de Cultura

Presidente do CMCAN fala sobre Cultura, Teatro Municipal e Expo Artur

“Nossos maiores desafios são popularizar e incentivar a produção cultural em Artur Nogueira” (Luiz Paulo Chiodi)

…………………………………………….

Alex Bússulo

Ele tinha tudo para ser um publicitário famoso em São Paulo. Trabalhou por dez anos como estilista, elaborando e desenvolvendo calçados na grande capital. Tinha uma vida corrida e mal conseguia tempo para comer e descansar. Era daqueles que viajavam todos os dias para chegar até o trabalho.

Mas chegou um dia que decidiu mudar. Largou a profissão e o emprego e se mudou com a família para Artur Nogueira, para cuidar do sítio do sogro.

Deixou o lápis e os projetos para plantar e cultivar laranja. No entanto a paixão pela comunicação o fez retornar ao trabalho criativo.

Hoje, aos 55 anos, Luiz Paulo Chiodi representa todos os segmentos da Cultura nogueirense, do teatro às Manifestações Populares. Na última terça-feira (17), foi eleito pela terceira vez presidente do Conselho Municipal de Cultura (CMCAN).

Na entrevista desta semana, Chiodi fala sobre a produção cultural no município, reforma do Teatro Municipal e Expo Artur. Confira.

Você trabalhava e era bem sucedido no ramo da Publicidade em São Paulo. Mas decidiu largar tudo e morar em Artur Nogueira. Como foi isso? Em 1995, meu sogro, que tinha um sítio aqui em Artur Nogueira, sofreu um acidente de trator e me pediu ajuda para cuidar do sítio. Eu estava trabalhando em uma fábrica de calçados com um amigo, mas minha vida estava um verdadeiro terror, não era mais aquela coisa gostosa. Eu viajava horas para chegar até meu trabalho, não tinha hora para jantar, vivia em uma correria! Quando meu sogro me convidou, eu aceitei.

Largou a Publicidade para trabalhar no sítio? Na roça mesmo. Mas as coisas não foram tão boas como planejei. Cultivávamos laranja e o preço não estava nada bom. Trabalhei na produção capinando, roçando, pulverizando, plantando, mas só deu prejuízo. Para falar a verdade eu adoraria que tivesse dado certo. Porque eu gostaria de estar no sítio até hoje.

E depois? Como a roça não deu certo precisei arrumar outro emprego. Fui trabalhar como vendedor e após seis meses fui convidado para trabalhar no atendimento de uma agência de Publicidade em Holambra, foi ai que eu voltei para o mundo da Comunicação.

E a Cultura, como foi que ela entrou em sua vida? Sempre fui apaixonado por arte. A própria publicidade trabalha isso. Adoro teatro e já participei de algumas peças como ator. A paixão de fazer e de interessar por Cultura já nasceu comigo. Foi natural.

Podemos afirmar que a Cultura de Artur Nogueira funciona? Funciona, claro. Eu acredito que a atual administração conseguiu dar espaço, não apenas para a Cultura, mas para todos os seguimentos organizados da sociedade. Se analisarmos, nunca nossa cidade teve seus conselhos tão fortes, apesar de eu achar que a maioria deles ainda são fracos, porque falta participação. Nós fomos o primeiro conselho do município a não ser paritário, ou seja, do conselho apenas dois são funcionários públicos, o restante representam a sociedade civil. A Cultura de Artur Nogueira funciona sim porque existem muitas pessoas aqui interessadas em fazer Cultura. Começamos em 2011 as oficinas culturais, que foram conquistas que o conselho vinha buscando há muito tempo. Hoje, oferecemos cursos de Balé, Teatro, Música, Dança, que não existia até dois anos atrás.

Como funciona o Conselho Municipal de Cultura? O conselho é formado por grupos que representam segmentos da Cultura, são eles: Música, Literatura, Artesanato, Artes Plásticas, Manifestações Populares, Artes Cênicas, Áudio Visual e Patrimônio Histórico. São eleitos dois membros de cada segmento, um titular e um suplente, e entre os titulares se elege o presidente. Basicamente é essa a estrutura. O CMCAN foi o primeiro no município a ser deliberativo e consultivo, em outras palavras, quem administra aonde vai ser gasto o dinheiro da Cultura é o conselho, junto com a Divisão Municipal de Cultura.

Qual é o papel do conselheiro? É trazer a demanda de cada segmento para dentro do conselho, que vai discutir dentro das reuniões sobre aquela demanda, criando as políticas públicas de Cultura para o município.

Nota-se que muitos conselheiros participam das primeiras reuniões, mas vão desistindo ao decorrer dos meses. O último conselho, por exemplo, terminou com a participação de apenas quatro pessoas. Por que isso acontece? Todas as pessoas que não conhecem as atividades administrativas de um município se desgostam, porque o andar da administração é muito diferente do que gostaríamos que fosse. Existe uma demora natural, se vamos reformar temos que fazer licitação, esperar uma quantidade de dias, fazer projetos, quando você vê passou um mês, um ano e a coisa ainda não se concretizou. É necessário ter paciência e muitos não tem.

A Prefeitura fechou o Teatro Municipal Renê Marcos Posi, mas até o momento não iniciou nenhum reforma. O que está acontecendo? O Teatro estava em más condições de uso. No início desta administração foi dada uma arrumada geral no espaço, só que ele necessita de manutenção periódica, o que não acontecia com a frequência necessária. Esse é um problema que não atinge apenas o prédio do Teatro, mas outros prédios públicos. Chegou um momento que não deu mais para aguentar, porque quando chovia molhava tudo lá dentro. Tivemos apresentações em que a chuva invadiu e molhou poltronas, banheiros, palco, enfim, a situação estava crítica. Pessoas alérgicas sofriam com a situação do local. Depois de seu fechamento, estudamos sua reforma e a dividimos em dois momentos…

Quais? A primeira etapa resolverá os problemas técnicos do local, ou seja, trocar o telhado, fazer uma nova instalação elétrica, consertar as paredes e o piso, além de arrumar o palco. A segunda etapa envolve as poltronas, que até então não conseguimos. As poltronas chegam a custar R$ 80 mil reais, dinheiro que não temos atualmente. Estamos atrás de algumas emendas parlamentares para conseguirmos realizar tudo o que precisa ser feito. Agora, a reforma está nas mãos da Engenharia para dar início as obras.

O prefeito Marcelo Capelini anunciou recentemente a inauguração da Escola Modelo, que possui um anfiteatro com mais de 300 lugares, praticamente o dobro do que tinha no Teatro Municipal. Você não acha que após essa inauguração, o Teatro Renê Marcos Posi, incluindo sua reforma, pode ser deixado de lado? Nós não temos público para encher o anfiteatro da Escola Modelo. Até hoje, o maior número que eu vi no Teatro assistindo peças foi de 130, 150 pessoas, com uma média de 80. Se você colocar 80 pessoas na Escola Modelo, o anfiteatro vai ficar vazio. Aqui no Teatro esse número já fica mais expressivo. Vai chegar um momento também que as oficinas de Teatro, Dança, Música, vão precisar de um palco para realizar seus ensaios, exercícios e apresentações.

Você está querendo dizer que o anfiteatro não é importante? Não! Pelo contrário, ele é um grande presente para a Cultura de Artur Nogueira. Um grande ganho. Sem dúvidas! E que também será muito utilizado. Quando, por exemplo, trouxermos uma orquestra, um cantor ou uma peça com certo nome, a apresentação tem que ser lá na Escola Modelo, isso não se discute. Em algumas situações, nós abrimos mão de trazer apresentações para Artur Nogueira porque não tínhamos estrutura. Realidade que vai mudar em breve. Nós vamos continuar precisando e utilizando o Teatro Municipal, até porque ele é considerado por muitos, embora não seja oficializado, como um Patrimônio Histórico de Artur Nogueira.

Como você avalia a produção cultural do município? Se não fosse o esforço do Movimento Cultural Brincantti, que faz teatro, oficinas e outras apresentações, talvez nós tivéssemos altos problemas. Temos outros grupos na cidade, mas são poucos. Nossos maiores desafios são popularizar e incentivar a produção cultural em Artur Nogueira. As oficinas culturais são um passo para isso.

Por que, em uma cidade que existem problemas, é importante investir em Cultura? Porque infelizmente o Brasil separou Educação de Cultura. Dá-se muita atenção a Educação, que eu acho importante, mas se esquece que o cidadão tem que ter uma base cultural para ser alguém. Se nós conseguirmos promover Cultura, vamos resolver muitos problemas, inclusive o da criminalidade.

Há um ano, em 10 de abril de 2011, você chorou e não conseguiu discursar durante a inauguração do Centro Cultural Tom Jobim e da Réplica da Estação Ferroviária de Artur Nogueira. O que aconteceu? Aquilo foi o meu desabafo. Eu sou um cara emotivo pra caramba, choro assistindo televisão, às vezes assistindo Luciano Huck despenco a chorar [risos]. Na inauguração, me veio à mente todos os desafios que enfrentamos para aquela conquista. O próprio Marquinhos da Cultura [chefe da Divisão Municipal de Cultura] começou a chorar. Porque, cara, não foi fácil. Enfrentamos vários desafios para chegar naquele momento. Foi uma luta para iniciarmos a obra e outra para terminar. Eu sempre defendi e vou continuar defendendo o direito à Cultura que a sociedade tem. Minhas brigas com a Expo Artur é um exemplo. A administração entra até hoje com uma verba para realização do evento e eu vejo pouco retorno para o município. A minha briga sempre foi em cima disso. Em 2009, 2010, não me lembro, me indispus com quase todos os vereadores porque eu nunca achei justo o repasse daquela verba.

Você é contra a Expo Artur? Não. Eu sou contra a verba pública que é destinada ao evento todos os anos.

Mas, a Expo Artur não é um evento que incentiva a Cultura, o Turismo da cidade? Não. Não consigo enxergar dessa forma. Ela é um rodeio. Não consigo ver retorno. Acho que o Encontro de Motociclistas dá mais retorno do que a Expo Artur. Podem argumentar dizendo que o evento torna a cidade mais conhecida na região e coisa parecida. Talvez. Por uns dois meses. Dinheiro público não pode estar em evento particular.

Fotos: Renan Bússulo

Sugira as próximas entrevistas do Jornal Nogueirense. Clique.


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.