21/01/2012

ENTREVISTA DA SEMANA: Lino Rodrigues

Conheça a história do maior colecionador de Artur Nogueira

 

“Coleciono filmes, relógios, perfumes, entre outras coisas, tudo vindo do lixo”

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Alex Bússulo

Ele é um nogueirense nato. Nasceu há 50 anos, de parteira, em uma casinha no centro de Artur Nogueira, onde mora até hoje com os pais. Adelino Aparecido Rodrigues, mais conhecido por Lino, já trabalhou como síndico de um prédio e até como projetista de cinema, mas foi na tarefa de catador de materiais recicláveis que descobriu sua paixão em colecionar objetos.

O que para muitos pode parecer lixo, para Lino pode se tornar uma de suas preciosidades. O nogueirense coleciona de tudo: cartões telefônicos, revistas, filmes, câmeras fotográficas, relógios, brinquedos, troféus, perfumes, entre outras coisas – tudo vindo do lixo.

Com renda mensal de aproximadamente mil reais, Lino sobrevive não apenas da coleta, mas da vontade de completar suas coleções.

Na entrevista desta semana, conversamos com o catador. Em um bate papo de mais de uma hora, Lino fez questão de nos mostrar suas ‘relíquias’. Confira.

Como foi que você começou a colecionar todos esses objetos? Foi há cinco anos. Depois que o cinema de Cosmópolis fechou fui mandado embora e tive que arrumar outra renda. Foi aí que comecei a coletar materiais recicláveis pelas ruas e casas de Artur Nogueira. E claro, que no meio do lixo, acabei encontrando algumas coisas que acabaram ficando comigo.

Mas são muitas coisas! Para você ver. O povo joga muita coisa boa no lixo. Já encontrei muita coisa cara que foi descartada como lixo.

Qual foi a coisa mais preciosa que você já encontrou? [Nesse momento, Lino abre uma das gavetas de seu armário e mostra uma grande quantidade de relógios] Olha só isso. Todos esses relógios estão funcionando perfeitamente, só precisavam de bateria quando os encontrei.

Eu fiquei sabendo que você também tem uma coleção de CDs de músicas. Tenho sim e todos também foram encontrados no lixo. Hoje, tenho mais de 500 títulos originais, sem contar dos filmes em DVDs.

Também gosta de filmes? É minha grande paixão. Sempre gostei de assistir filmes, tanto que em meu quarto tenho três televisões [risos]. Quando trabalhava no cinema fazia questão de assistir a todos os filmes que chegavam, mais que um trabalho, era uma diversão para mim. Hoje, só me restaram os DVDs. Confesso que tive que comprar alguns, mas boa parte também veio do lixo. Hoje, calculo ter quase dois mil títulos. Sem contar da minha coleção de cartazes. Tenho mais de mil pôsteres, todos de filmes que chegavam no cinema. Eu pegava tudo, nenhum ia para a lixeira.

De todos esses, qual é o seu filme preferido? Ah, é difícil falar um só. Tenho três filmes que, em minha opinião, são os melhores. Gosto muito do Mar em Fúria, Navio Fantasma e 102 Dálmatas. Já assisti várias vezes e não enjoo.

E aquilo, o que são? [pergunto me referindo a uma gaveta cheia de aparelhos pretos] São máquinas fotográficas! Tem de todos os tipos e marcas. Também gosto de fotografia, e decidi guardar todas as máquinas que encontrei. Já deu para encher a gaveta com todos os achados. Sempre que acho uma dessas máquinas eu as levo em um fotógrafo aqui da cidade para que ele faça testes para ver se estão funcionando. Todas que estão aqui estão ótimas. É só colocar pilhas e sair fotografando.

Você também coleciona cartões telefônicos? Sim. Mas essa coleção tem uma história diferente. Eu sempre ia até a casa de uma senhora aqui de Artur Nogueira coletar materiais. Ela era muito simpática e bondosa e sempre separava objetos para mim. Até que um dia, em uma de minhas passagens, ela chegou a mim e disse que se mudaria da cidade, mas que gostaria de me dar um presente. Na hora nem imaginei o que era. A senhora entrou em sua casa e retornou com várias pastas, todas cheias de cartões telefônicos. Ela disse que sabia que eu gostava dessas coisas e que me daria para nunca mais me esquecer dela. Claro que eu aceitei feliz e estou com a coleção até hoje. Ao todo são quase cinco mil cartões! Essa eu não dou, nem vendo para ninguém!

Um passarinho me contou que você tem uma coleção de revistas da Playboy, que quase ninguém tem. É verdade? [risos] Você acredita que até mulher pelada o povo joga no lixo! Já encontrei muitos livros, gibis e revistas Playboy nas lixeiras. Hoje, tenho uma coleção grande com várias mulheres famosas que posaram, mas tem uma que é muito especial…

Qual? [Lino se levanta, vai até seu guarda-roupa e pega outra revista] Essa daqui eu tenho certeza que você nunca viu. É a revista da Xuxa! Isso daqui é uma verdadeira relíquia! Não dou, não empresto, muito menos vendo. É minha!

E esses perfumes? Tudo achado no lixo. Nunca comprei perfume! Como você pode ver tem quase cinquenta vidros de fragrância de todas as marcas que você pensar.

Qual foi a coisa mais esquisita que você encontrou no lixo? De objeto já encontrei de tudo. De relógios a dinheiro. Mas teve uma vez que eu levei um baita de um susto que nunca mais vou esquecer!

O que aconteceu? Fui abrir um saco de lixo e levei uma bicada na mão. Não sei como ela foi parar lá dentro, mas quando eu enfiei a mão uma pomba saiu voando para cima de mim! Chegou até cortar o dedo! Agora, toda vez que vou mexer em algo assim tomo mais cuidado.

Como é que você faz a coleta pela rua? Tem algum carrinho? Que nada! Saio com minha bicicleta mesmo. Coloco uma sacola em cada lado e vou enchendo de coisas. No total, tenho dez bicicletas novinhas, que saio pela cidade, cada dia com uma.

O que dá mais lucro na coleta de materiais? Sem dúvidas, o que mais dá dinheiro é a venda de alumínio e plástico. Por mês, consigo arrecadar mais de meia tonelada de material. No final das contas compensa e dá pra sobreviver!

Qual é o seu maior sonho? Em toda minha vida eu sempre quis conhecer a Eliana. [Lino pega uma pasta com recortes e fotografia da apresentadora de televisão] Tenho mais de mil fotos da Eliana. Em 2002, eu fiz uma coisa que nem ela acreditaria se eu mostrasse. Durante todo o ano eu assisti a todos os programas apresentados por ela. E todo dia eu anotava a roupa que ela estava usando.

Você está brincando! Não olha aqui [o colecionador pega outra pasta, desta vez apenas com páginas escritas à mão e alguns desenhos de blusas e camisetas]. A cada dia escrevi um trecho detalhando o que a Eliana vestia. Tenho fotos do casamento dela, de filmes que ela atuou, além de pôsteres. Eu tenho certeza de que um dia terei meu sonho realizado e vou conhecer a Eliana.

O que você aprendeu trabalhando como catador? Aprendi que tem muita coisa boa, que são desperdiçadas pelas pessoas e acaba indo para o lixo. Se todos se conscientizassem e pensassem melhor, muitas coisas que são jogadas dariam para serem consertadas e recicladas. As pessoas poderiam reaproveitar muita coisa boa.

Arte: Renan Bússulo


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