23/07/2012

ENTREVISTA DA SEMANA: Kleberson Davide

Atleta nogueirense representará o Brasil nas Olimpíadas de Londres

“Estou prestes a realizar o maior sonho de minha vida” (Kleberson Davide)

………………………………….

Alex Bússulo 

Kleberson Davide Krasucki é um nogueirense nato. Nascido em Conchal por uma simples questão de maternidade, o atleta viveu em Artur Nogueira até os 24 anos, depois mudou-se para Valinhos onde vive com a esposa, que também é atleta.

Hoje, aos 27, completados ontem, 20 de julho, se prepara para um dos maiores desafios de sua vida: as Olimpíadas de Londres.

De origem humilde, o nogueirense deixou os pomares de laranja, onde trabalhava com a família, e se dedicou ao atletismo. Escolha que rendeu bons frutos. Em 2007, conquistou prata nos Jogos Pan-Americanos. Em 2011, em Guadalajara, no México, o brasileiro repetiu a dose e trouxe mais uma medalha prata para a nação verde e amarela.

É patrocinado pela Caixa Econômica Federal, Oakley, Nike e Esporte Clube Pinheiros.

Mas o orgulho do atleta está no Troféu Brasil, no qual é campeão consecutivo desde 2007. Neste ano, além de vencer a competição e garantir a vaga nas Olimpíadas para a modalidade dos 800m rasos, o atleta também bateu o recorde do Troféu, mantido há nada mais nada menos do que 26 anos.

Na entrevista desta semana, recebemos em nossa redação o atleta nogueirense. Em uma conversa de cerca de duas horas, Kleberson fala sobre Artur Nogueira, esporte e Olímpiadas. Confira.

Como o atletismo entrou em sua vida? Na minha adolescência, eu estudava e ia para a roça colher laranja com meus pais e irmãos. Até que em um dia descobri que a prefeitura estava oferecendo treinamento para futebol. Interessei-me e comecei a treinar. Sempre me destaquei na corrida. Nunca fui de marcar gol [risos]. Ficava correndo que nem um louco de um lado para o outro no campo. Era treinado pelo Lebrinha, que me levou para fazer um teste no atletismo na Funilense e passei. Na segunda, quarta e sexta eu treinava futebol, nos outros dias ia para o atletismo.

Teve incentivo da família? No início do esporte ganhava cinquenta reais por mês treinando. Imagina só, eu trabalhava o mês todo para chegar em casa e dar cinquenta reais para meus pais. Dinheiro que não dava para nada. Hoje, meu sucesso e minhas conquistas eu devo e agradeço muito à minha mãe, que sempre me incentivou. Mesmo com todas as dificuldades do mundo, ela me motivou a seguir em frente e nunca desistir.

Como foi o começo? No início não levava o negócio a sério. Era moleque. Ia treinar um dia, no outro faltava. Foi muito difícil porque eu não tinha dinheiro para nada, nem para o chinelo, nem para comprar uma roupa. Hoje, graças a Deus, minha realidade é completamente diferente. Eu vivo do esporte, tenho meu carro, minha casa. Tudo conquistado e vindo da dedicação que tive em todos esses anos.

Você pensou em algum momento, que chegaria onde está hoje? Não. Eu sabia que poderia ir longe, mas não aonde eu cheguei até agora. Se hoje eu decidisse parar, com certeza eu já me sentiria realizado. Com o atletismo aprendi muitas coisas. Aprendi que o que importa na vida é a dedicação e a paixão que você coloca naquilo que você acredita. Aprendi que ganhar sempre deve ser uma consequência do seu esforço. O respeito aos adversários também é muito importante para quem deseja ter sucesso.

Antes da largada, naquele momento em que todos esperam o tiro, o que passa por sua cabeça? Você não fica nervoso? Sim. Muito [risos]. Principalmente no Troféu Brasil. Um dia antes da competição eu mal consigo dormir. Deito na cama, rolo para um lado e para outro, mas o nervosismo não me deixa pregar os olhos. É muito desgastante. Tanto que depois que passa o Troféu Brasil eu fico quatro, cinco dias sem pensar em correr. O físico e o mental se desgastam muito. Por isso é importante a preparação. No momento da largada passa tudo o que você imaginar em minha cabeça. É uma coisa de 5 segundos, mas a cabeça fica a mil.

Com qual frequência você vem para Artur Nogueira? Adoro essa cidade. Foi aqui que eu cresci, fiz amigos e iniciei a minha trajetória esportiva. Procuro vir aos finais de semana para cá, pois minha mãe e irmãos continuam aqui. Não tem como se desligar dessa cidade.

Como você vê a cidade ‘Berço da Amizade’? É uma cidade que cresce a cada dia, mas em questão de esporte, o prefeito tem muito a fazer ainda, tem muito a melhorar. O povo e os governantes pensam muito no futebol. Infelizmente, isso acontece em todo o Brasil. Não é apenas uma questão de Artur Nogueira. Não existe incentivo ao atletismo. Se houvesse mais incentivo e promoção com certeza hoje teríamos mais nogueirenses representando o município em Londres. Não é apenas uma questão de talento, também envolve a questão da oportunidade e incentivo. Se você analisar, Artur Nogueira estará levando dois atletas para as Olimpíadas em Londres. Tem cidades muito maiores do que Artur que não terá nenhum atleta. E o pior, aposto que nem o prefeito daqui sabe disso.

Como foi bater o recorde no Troféu Brasil, que pertencia ao atleta Zequinha há 26 anos? Foi muito legal. Um dia antes da prova eu assisti uma entrevista do Zequinha e ele disse que achava muito difícil alguém conseguir bater esse recorde. E quando foi no outro dia eu consegui bater o recorde dele. Não fui para a prova com a intenção de bater o recorde, mas quando eu passei pela primeira volta já senti que se continuasse naquele ritmo, além de ganhar, conquistaria o recorde.

Você vence Troféu Brasil há seis anos consecutivo. Como lida com isso? Quando eu coloco uma coisa na cabeça eu não tiro até alcançar. Neste ano eu estava sentindo que poderia aparecer um novo atleta e conseguir vencer a prova, afinal de contas hoje, o Brasil possui muitos atletas bons. Eu não fiz nenhuma pesquisa, mas acredito que eu seja o maior ganhador do Troféu Brasil na modalidade dos 800 metros. Em 2006 também era para eu ter vencido a prova, me preparei para a competição e tinha tudo para conseguir um bom resultado, mas uma semana antes meu pai faleceu, o que acabou me abalando emocionalmente e fisicamente.

O que foi melhor: vencer a prova ou bater o recorde? Os dois me deram muita alegria e satisfação. Como já havia vencido o Troféu Brasil, a quebra do recorde teve uma emoção maior. Não que eu tenha ido para a prova para quebrar recorde, fui com o objetivo de dar o melhor de mim. A vitória, o recorde, foram consequências do meu esforço e da minha dedicação.

A sua esposa, Franciela das Graças Davide Krasucki, é atleta e também estará representando o Brasil nas Olimpíadas? Sim, inclusive ela já está em Londres. Conheci a Franciela em 2003 em Valinhos, éramos amigos. Começamos a treinar juntos, depois começamos a namorar e resultou em nosso casamento. Ela é a mulher da minha vida. E por também ser atleta ela entende e me motiva a ir em frente. Ela compete no revezamento 4x100m.

Se você fosse convidado para dar uma palestra motivacional em alguma escola pública de Artur Nogueira, você aceitaria? Com certeza! Amo minha cidade e acredito, como já disse, no potencial da garotada que vive aqui. Acho que não cabe, a mim, bater na porta de uma escola e me oferecer para falar com os alunos. Você não consegue imaginar o quanto uma criança vibra quando pega nas mãos uma medalha. Isso é motivador para qualquer um.

O que você falaria para aquelas crianças que moram em Artur Nogueira, vivem uma realidade parecida com a qual você tinha antigamente e que gostariam de ser como você? Eu digo que todo sonho pode ser realizado desde que haja dedicação e esforço. Eu nunca imaginei que chegaria aonde cheguei. Por isso é importante ter garra e foco. Humildade também é essencial. De nada vai adiantar você conquistar o sucesso se não tiver humildade com as pessoas a sua volta.

Como é a sua alimentação? Tenho acompanhamento de uma nutricionista, que me orienta no que comer. Mas eu não sigo muito a risca o que ela passa [risos]. Amo comer o pastel da feira de Artur Nogueira. Todo domingo que posso eu venho para cá só para ir à feira.

Você é uma pessoa religiosa? Sim, acredito e confio muito em Deus. Sempre antes das provas tiro um momento para falar com Deus e pedir proteção.

Além de tudo, você também é terceiro sargento do Exército? Sim, eu e a minha esposa. A Comissão de Desportos do Exército (CDE), do Rio de Janeiro, busca atletas que têm um bom desempenho para participarem nos Jogos Militares Mundiais. Onde eles buscam militares para representa-los. Por isso, eu e minha esposa somos terceiros sargentos do Exército. E isso traz uma grande responsabilidade e conduta.

No próximo dia 30, você vai embarcar para Londres. Sente-se preparado para as Olimpíadas? Sim. Sinto-me mais preparado do que quando participei das Olimpíadas de Pequim, em 2008. Mas o meu resultado depende de vários fatores. Eu posso chegar lá e nem passar do primeiro tiro, como posso ser finalista e trazer o ouro para o Brasil. Tudo pode acontecer. Minha vontade é ser medalhista. Mas é importante eu saber que existem muitos atletas que são ótimos e estarão lá, dando o melhor de si. Para vencer, o atleta tem que estar sintonizado.

Fotos: Quézia Amorim


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.