18/08/2012

ENTREVISTA: Diretor de Segurança fala sobre setor, mudanças e criminalidade

“Aprendi que é mais fácil resolver os conflitos com o coração do que com a violência” (João Robles Filho) ……………………………………… Alex Bússulo Nascido em Botucatu, interior de São Paulo, João Robles Filho sempre teve uma educação disciplinada e conservadora. Filho de ferroviário, aprendeu desde cedo o valor do trabalho. Junto com os cinco irmãos, cuidava […]

“Aprendi que é mais fácil resolver os conflitos com o coração do que com a violência” (João Robles Filho)

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Alex Bússulo

Nascido em Botucatu, interior de São Paulo, João Robles Filho sempre teve uma educação disciplinada e conservadora. Filho de ferroviário, aprendeu desde cedo o valor do trabalho. Junto com os cinco irmãos, cuidava do sítio da família, em Presidente Bernardes – SP.

Aos 17 anos de idade, deixou a roça e partiu para a grande São Paulo em busca de melhoria de vida. Começou a trabalhar em uma mecânica, mas logo descobriu o interesse pelo Militarismo.

Ingressou na faculdade de Direito e, enquanto estudava, começou a trabalhar na Polícia Militar, trabalho que executou por 28 anos, de 1961 a 1989, chegando a ser 2º Tenente PM da Reserva.

Após a reforma [aposentadoria do Militar], mudou-se para Artur Nogueira, cidade que conheceu através da esposa, Marisel Rodrigues de Albuquerque, falecida em outubro do ano passado.

Em 1993, assumiu a Diretoria da Guarda Municipal de Artur Nogueira, onde trabalhou por três anos. Depois foi convidado para comandar a Guarda Municipal de Holambra e, em 12 de março de 2007, foi convidado e assumiu pela segunda vez a Diretoria da Guarda Municipal de Artur Nogueira, cargo que desempenha até os dias de hoje.

Aos 73 anos de idade, o Tenente João se prepara para deixar o cargo. Em uma conversa de aproximadamente uma hora, o diretor Municipal de Segurança fala sobre Segurança Pública, mudança da sede da GM e criminalidade em Artur Nogueira, confira:

Como é comandar a Guarda Municipal de Artur Nogueira? Para mim sempre foi uma missão gratificante. Sempre fui um homem que gostou do Militarismo, da disciplina e do respeito. Todo dia acordo disposto e com vontade de poder contribuir para a melhoria da segurança dos nogueirenses. Quando preciso sair da cidade, por algum motivo, sempre fico apreensivo e preocupado com hipótese de alguma ocorrência de vulto.

Como você define um bom guarda municipal? Para mim, é aquele que é disciplinado. Disciplina é fundamental nesta profissão. Em seguida, acredito que a aplicação no serviço e a honestidade são outras características que marcam um bom profissional na área da Segurança Pública. Cada cidade tem um perfil próprio da GM. Aqui, em Artur Nogueira, adotamos um bom relacionamento com os policiais Civis e Militares. Acredito que todos ganham quando há essa parceria, principalmente a população. Com o nosso trabalho, não querendo classificar quem é melhor, conseguimos com que a Guarda Municipal de Artur Nogueira conquistasse o respeito que ela tem hoje.

Qual é a ocorrência mais registrada pela GM de Artur Nogueira? O índice maior são as drogas. E infelizmente envolvendo os jovens, de 14 aos 24 anos.

Como o senhor vê o problema das drogas em Artur Nogueira? Eu costumo dizer que aqui em Artur Nogueira ninguém planta coca, ninguém refina a droga. Tudo que entra aqui, assim como em outras cidades, é importado de países como a Bolívia e Colômbia. A solução para este problema cabe a nível Estadual e Federal, com a Polícia Federal e com o próprio Exército Brasileiro aumentando a fiscalização nas fronteiras do país. A droga é um mal inicial. Grande parte das outras ocorrências está ligada a elas. Já presenciei muitos casos onde o indivíduo rouba para poder manter o vício. Isso é uma triste realidade, não apenas de Artur Nogueira, mas de todo o Brasil. Acredito que resolveríamos significativamente parte do problema com o trabalho forte nas fronteiras.

Podemos notar que muitos crimes são cometidos por menores de 18 anos, que acabam não respondendo perante a Lei pelos atos. O senhor é a favor da redução da maioridade para os 16 anos de idade? Sim. Acredito que se um indivíduo é capaz de cometer um crime, se ele tem a capacidade de planejar e executar uma ação contra a Lei, ele deve sim responder pelos seus atos.

O que mais te marcou em quase 40 anos de trabalho na Segurança Pública? Foram duas situações que ocorreram na grande São Paulo na década de 60. Eu era da chefia da Zona Sul da cidade e participei de duas ocorrências envolvendo a queda de aviões grandes. Tiveram sobreviventes, mas aquela cena trágica nunca mais saiu da minha mente. Lembro que eu e os colegas estávamos jantando quando recebemos a notícia. Largamos tudo e corremos para o local. O tumulto dos curiosos, familiares buscando por informações e o cheiro forte de carne humana ficaram para sempre em mim.

Mudar a sede da GM para a Estrada São Bento [veja reportagem], próximo ao Itamaraty, não será pior para a Segurança de Artur Nogueira ? Desde quando surgiu a ideia de mudarmos de local, os comerciantes próximos a nossa sede começaram a se manifestar contra a alteração. Sendo bem sincero, fico feliz com essa reclamação, pois isso comprova aquilo que já disse, que é a confiança e o respeito que a corporação conquistou da população. As pessoas sentem-se seguras com a nossa presença. Isso é fato. Significa que estamos fazendo o nosso trabalho bem feito. O espaço que utilizamos hoje é pequeno, faltam salas e a estrutura necessita de melhorias. O local que a Prefeitura nos passou é mais amplo e nos possibilitará a melhor acomodação da estrutura que necessitamos para efetuar um bom trabalho. De tudo isso apenas uma coisa me preocupa: Lá, no novo espaço, ficaremos mais expostos a ações criminosas e de vandalismo. Fica muito mais fácil uma quadrilha passar por nós, atirar contra a sede e fugir pela rodovia. Isso, confesso, me preocupa. Agora, não concordo nem um pouco quanto a reclamação da população que diz que com a mudança do local haverá um aumento da criminalidade. A resposta a esta preocupação é clara, nossas viaturas não ficam estacionadas na base, elas ficam, a todo o momento em ronda pela cidade, garantindo o atendimento a 100% dos nogueirenses. Acredito que nos próximos meses estaremos efetuando a mudança de local.

No mês passado, ocorreram dois tumultos na Festança Julina, realizada no Calçadão da XV de Novembro [veja reportagem]. Um envolvendo carros de som e outro envolvendo bombas. Nos dois casos, a GM de Artur Nogueira teve que solicitar a ajuda de Cosmópolis, Americana e Holambra. Ficou claro que a corporação não está preparada para conter esse tipo de problema, por não possuir armas não letais. Como o senhor analisa esse cenário? É um cenário que necessita de atenção. Nossos guardas possuem armas não letais, como cassetetes e spray de pimenta. Já fizemos a solicitação e para os próximos dias estaremos recebendo balas de borracha. Fizemos uma compra de munição que totalizou R$ 22 mil, já autorizada pelo Exército. Com a chegada desse material queremos iniciar o treinamento dos nossos guardas para o enfrentamento de situações como essas que ocorreram em julho.

Há algum tempo a GM possuía cães treinados, que auxiliavam nas ações dos guardas. Com o tempo, o canil acabou sendo extinto de Artur Nogueira. Por que essa ideia não deu certo? Na verdade, a proposta é muito boa. Ter cães treinados auxilia, e muito, em ações como tumultos e procura por entorpecentes. Nosso problema ocorreu devido a falta de espaço para cuidar dos cães. Com a mudança de prédio, acredito que poderemos retornar essa iniciativa.

Podemos notar que existe um crescente número de ocorrências relacionadas a assaltos em propriedades rurais. O que a GM está fazendo para combater esse mal? Atendendo a solicitação da comunidade rural, começamos a colocar nossas viaturas nas estradas rurais. Durante o dia e à noite temos guardas rondando essas áreas. Adquirimos recentemente um armamento mais pesado, como armas automáticas e a famosa 12. Queremos a partir dos próximos dias iniciarmos a efetuação de blitz e abordagens nos sítios. Acreditamos que com essas ações nosso índice de ocorrências nessas áreas diminuirá.

Hoje podemos notar que não existe plano de carreira dentro da corporação. Isso não seria interessante até mesmo para a motivação dos guardas, pois aqueles que trabalham há mais de dez anos recebem a mesma base daqueles que iniciaram há um ano? Plano de Carreira e Regulamento Disciplinar foram duas das minhas maiores preocupações dentro da GM de Artur Nogueira. Foi encaminhado ao executivo uma minuta para análise e aplicação do Plano de Carreira, mas isso terá que ser votado somente no próximo ano, devido ao processo eleitoral.

Já me disse em outras conversas que independente de política o senhor está prestes a ‘pendurar as chuteiras’. Hoje, aos 73 anos de idade, qual foi a maior lição que aprendeu? Minha profissão me ensinou a ser mais humano. Aprendi que é mais fácil resolver os conflitos com o coração do que com a violência. Minha maior proteção sempre foi Deus. Não gosto de armas. Prefiro a proteção divina. Em minha gestão, algo que muito me orgulha é que nunca nenhum guarda matou ninguém e nenhum guarda foi morto durante uma ação. Isso, para mim, é muito gratificante. Estou saindo da corporação de cabeça erguida, sem ter inimigos. Sabendo que dei o melhor de mim e pude contribuir para a segurança da minha cidade.

 Fotos: Renan Bússulo 


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