17/09/2011

ENTREVISTA DA SEMANA: João Carlos Fernandes

Nogueirense diz que não participará das eleições do próximo ano

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Texto: Alex Bússulo

 

Triste, decepcionado e decidido. Foi assim que encontramos João Carlos no final da tarde da última segunda-feira, 12. Junto com a sua família, o até então principal pré-candidato do PSDB ao executivo municipal, torna público uma decisão que surpreende amigos, parceiros e eleitores: a desistência de sua candidatura ao cargo de prefeito de Artur Nogueira na eleição de 2012.

Fernandes nasceu em 16 de fevereiro de 1972, em Limeira. Hoje com 39 anos é casado com Gabriela Montoya Fernandes, com quem tem dois filhos: João Gabriel e João Rafael. É formado em Desenho Mecânico e Tecnólogo em Saneamento. Foi o vereador mais jovem de Artur Nogueira, assumindo em 1992 o cargo com apenas 20 anos de idade. Trabalhou nos mandatos de Ederaldo Rossetti e Cláudio Alves de Menezes. Foi chefe de Gabinete de Nelson Stein e Luiz de Fáveri. Hoje, atua como chefe de Gabinete do deputado estadual Cauê Macris (PSDB).

Foi há três anos, em 2008, que o nogueirense ganhou destaque na política municipal. Candidato pelo PSDB ao cargo de prefeito não foi eleito por 334 votos.

Em uma conversa de aproximadamente uma hora, João Carlos confirma sua desistência, explica os motivos que o levou a tomar a decisão e diz o que acha da política nogueirense. Confira.

VOCÊ SERÁ CANDIDATO A PREFEITO DE ARTUR NOGUEIRA EM 2012? Não. Não serei candidato na próxima eleição. Até porque ainda não existem candidatos, o que vemos por aí nesse momento são os pré-candidatos. Mesmo assim a decisão já foi tomada. Eu decidi junto com a minha família que não vou concorrer ao executivo municipal em 2012.

POR QUÊ? Por achar que eu não ia contribuir como gostaria. Com o passar dos últimos dias fui me desmotivando, com algumas pessoas saindo do grupo, buscando outros interesses, acho que acabei perdendo o brilho pela coisa, se há um ano antes da eleição o assédio, a mentira e o jogo pesado já começaram, imagina como será no período eleitoral.

QUE TIPO DE JOGO PESADO? Tudo o que você pensar acontece em uma campanha política. Inverdades, assédio financeiro, oferecimento de cargos, ameaças ao grupo, coisas que não valem a pena levar para frente. Se para conquistar o objetivo, o meu sonho, é preciso entrar nesse jogo sujo eu não estou disposto. Entre a realização de um sonho pessoal, que é o de ser prefeito de Artur Nogueira, e a proteção do meu grupo, dos meus amigos e da minha família, eu não penso duas vezes. O jogo é pesado de todas as formas.

TEM ALGUM FATO QUE ACONTECEU QUE RESULTOU NA SUA DECISÃO? Não. O que aconteceu na verdade foi uma somatória. Desgastes com as mentiras, com pessoas que até então eu pensava que era do grupo que passaram a negociar pelas nossas costas, isso somado a pressão dos companheiros e o assédio, por minha parte decidi dar um basta nisso.

FOI UMA DECISÃO SUA? Da minha família, da minha esposa, do meu sogro, da minha mãe, dos meus irmãos. Que a melhor decisão a ser tomado é esta.

VOCÊ CONTINUA FILIADO AO PSDB? Continuo.

VOCÊ NÃO ACHA QUE ESTA ATITUDE VAI PREJUDICAR O PSDB? Eu não vejo como prejudicar. Até porque eu não era ainda o candidato oficial do partido, eu tinha sim um destaque, até por ter sido candidato na última eleição. Temos excelentes nomes no PSDB, do nosso grupo político, que podem muito bem representar o partido na próxima eleição, tais como o ex-presidente do partido Luiz Henrique, a vereadora Zezé da Saúde, o vereador Cristiano da Farmácia, o Melinho como presidente do PP e até mesmo o senhor Ermes Dagrela. Temos grandes nomes para construir uma ótima campanha. Nessa época, na eleição passada, nós não tínhamos quase nada formado ainda, tínhamos apenas uma ideia. Nem o grupo estava formado. Fomos para a rua, trabalhamos, batalhamos e quase ganhamos a eleição, perdemos por pouco mais de 300 votos. Essa decisão, digamos antecipada, foi justamente para isso, para que o grupo político tenha tempo de escolher e construir um nome.

ISSO NÃO É UMA JOGADA POLÍTICA? Não. Não há hipótese alguma de eu ser candidato em 2012. Essa ideia está descartada, até pelo compromisso assumido com a minha família. Entramos nesse acordo, analisamos e eu não volto atrás. Não é uma jogada política. Sei que para muitos isso será uma surpresa. Avaliamos todos os desdobramentos que a decisão vai ter. Sei que muitos vão dizer que eu amarelei, que fiquei com medo, que me vendi, enfim, eu sei do reflexo que isso vai causar e estou preparado para receber essas críticas. Estou tranquilo quanto a isso. O grupo tem condições de lançar um candidato a prefeito e se dar muito bem.

SERÁ QUE DAQUI A UM MÊS NÃO TEREMOS A NOTÍCIA DE QUE O JOÃO CARLOS DECIDIU ENTRAR PARA CONCORRER AO EXECUTIVO? Isso não vai acontecer, até por respeito a minha família, estou cumprindo com um acordo que fizemos, não vou voltar atrás porque vai contra tudo o que eu assumi com a minha família.

QUANDO VOCÊ TOMOU ESSA DECISÃO? Há alguns dias eu já venho bastante descontente com algumas coisas que já vinham acontecendo com o grupo e elas vêm se somando. A gente vai meio que perdendo o rumo e pede a Deus que nos mostre qual caminho seguir, pede a Deus uma orientação e essa última semana foi uma avalanche de coisas negativas, de parceiros abandonando o grupo sem antes falar com a gente, de assédio, tudo caiu sobre a minha cabeça nessa semana. Aí eu cheguei a um dilema, ou Deus me abandonou ou Ele está me mostrando que não é este o caminho que eu devo seguir, e eu tenho certeza de que Ele jamais me abandonaria. Com isso sentei com a minha família e ponderamos todos os pontos e é uma coisa que você vai somando em quatro anos. A minha pré-candidatura não começou há um mês, eu não sou um aventureiro, eu não estou chegando agora…

NA EXPO ARTUR DE 2008, DIAS DEPOIS DAS ELEIÇÕES, VOCÊ PASSEOU PELO RECINTO DA FESTA COM UM ADESIVO COLADO NA ROUPA COM A SEGUINTE FRASE: “JOÃO CARLOS 2012”. DESDE LÁ VOCÊ JÁ VINHA SE PREPARANDO PARA ESTE MOMENTO. COMO FOI ABRIR MÃO DE TUDO? Foi a escolha entre realizar um sonho pessoal e proteger e resguardar a minha família. Não quero amanhã olhar para trás e dizer se eu não tivesse desistido isso não teria acontecido. Não vou correr esse risco. Prefiro abrir mão de um sonho pessoal e tocar a minha vida normal. Não vou deixar de fazer as coisas que eu gosto, de frequentar os lugares que costumo ir, porque eu nunca fiz isso por política. Eu faço o que eu faço porque eu gosto, sou nascido e criado aqui, minha família é daqui, é aqui que meus filhos estudam, é aqui que eles vão crescer e viver. Vou continuar ajudando como sempre ajudei devido os meus relacionamentos, apenas abri mão desse projeto político para esse momento.

QUAL FOI A REAÇÃO DO PSDB QUANDO VOCÊ ANUNCIOU QUE NÃO CONCORRERIA AO EXECUTIVO MUNICIPAL? Não apenas do PSDB, mas de todo o grupo político, foi uma reação de surpresa, apesar de estarem acompanhando a situação de desgaste. É uma decisão triste porque muitos parceiros até podem se sentir abandonados. Embora todos me apoiem, muitos acham que eu devo repensar, mas o assunto já está decidido.

SUA FAMÍLIA SERIA ATINGIDA DE ALGUMA FORMA SE VOCÊ CONTINUASSE COM SEUS PROJETOS? De certa forma sim, eu acho. Meus filhos estão na escola, já sabem ler e escrever, se faltando um ano a política já está do jeito que está imagina na época. Alguma mentira chegar aos ouvidos dos meus filhos, eu terei que sentar com eles e explicar item por item, falando que aquilo não é verdade, que aquilo é uma disputa política. Avaliamos se iria valer a pena expor a minha família desse jeito por querer ajudar Artur Nogueira. Minha intenção era querer ajudar a cidade. Eu gosto de política, mas se para eu realizar isso tenha que pagar um preço tão caro, eu prefiro não pagar.

COMO VOCÊ ENCAROU SUA DERROTA NAS ELEIÇÕES DE 2008? Eu não encarei como uma derrota não. Se pegarmos a primeira pesquisa feita em 2008, no final de junho, vamos ver que o Junior Barros (PV) estava na frente com 27%, o Marcelo Capelini (PT) com 25% e eu com 8%. Foi uma construção que deu certo, em agosto os candidatos caíram um pouquinho e eu  subi para 18. Não tivemos nenhum tipo de problema, a não serem aqueles apógrafos, de última hora, soltados na sexta-feira contra o Neno, que era meu vice, para me atingir. Fizemos um acordo entre os três candidatos para não poluir a cidade. Foi uma eleição tranquila, limpa até certo ponto. Houve um respeito, mesmo com algumas mentiras que o pessoal contava. Neste ano, quando começamos a discutir a política, minha mãe disse que daria graças a Deus se eu não participasse da eleição, porque é muito difícil para uma senhora já da idade dela ouvir as pessoas me atacando de maneira injusta. Isso pesou muito na minha decisão. Meu sogro disse recentemente… [João Carlos se emociona] que às vezes é melhor a gente dar um passo para trás para depois dar dois para frente. E é bem isso. É hora de recuar.

A FUNDAÇÃO DO PSD EM ARTUR NOGUEIRA CONTRIBUIU PARA SUA DECISÃO? Não. É democracia. Faz parte do jogo político. O partido está sendo fundado em todo o país. O que existe sim é, às vezes, um indivíduo tomar alguma decisão, digamos, precipitada, mas no geral não vejo problema.

COMO VOCÊ ESTÁ HOJE EMOCIONALMENTE? Não é fácil. É uma decisão complicada. Porque para ir conversar e justificar para os parceiros é difícil, cada um tem uma reação. Alguns acham que eu estou brincando, outros até choram. Quando tomei essa decisão eu já me preparei para receber todas essas reações e mesmo assim continuar motivando o grupo. O jogo continua. Nós vamos mudar apenas uma peça do tabuleiro, mas o jogo continua. Da mesma forma que há quatro anos nós construímos um projeto, vamos ter que construir de novo. Eu não vou dar as costas, eu não estou pulando do barco, só estou abrindo mão da minha pré-candidatura. Eu fico pensando também que se eu fosse eleito prefeito haveria uma cobrança de uma transformação na cidade que às vezes a gente também não pudesse fazer, daquilo que todo mundo está esperando do próximo prefeito. A gente começa a colocar na balança, nesses quatro anos e chega uma hora que fica essa interrogação na cabeça.

E DAQUI PARA FRENTE? Vou continuar com a minha rotina. Sou chefe de Gabinete do deputado estadual Cauê Macris, que junto com o deputado federal Vanderlei Macris, insistiu muito para que eu não desistisse, mas conversarmos bastante e aceitaram, além de se comprometerem a ajudar o grupo. No primeiro momento o pessoal recebe aquele baque, mas logo passa. Não temos que reconstruir nada, porque nada foi destruído, temos que continuar, isso é importante, só estamos trocando uma peça do jogo.

VOCÊ ACHA QUE SE FOSSE CANDIDATO TERIA CHANCES DE SER ELEITO? Eu acho. Opa! Chances reais.

E NÃO VALE A PENA CORRER ESSE RISCO? Eu não quero pagar para ver.

COMO VOCÊ VÊ A POLÍTICA NOGUEIRENSE? Tem hora que você pensa que ela está melhorando e tem momentos em que você vê só coisas ruins. Porque infelizmente ainda existem muitas pessoas que só pensam em benefício próprio, que querem saber de cargos. Muita gente quer garantias de receber algo em troca se eu fosse eleito. É complicado. Na última eleição não tínhamos tanto isso, era até difícil fazer algum tipo de parceria, poucos acreditavam, agora com reais chances de ser eleito o cenário mudou. Não quero virar moeda de negócio. Se os outros candidatos fazem isso, eu não estou disposto a entrar nesse jogo. O sujeito fica do seu lado enquanto você tem fortes chances de ser eleito, depois que surgem outras oportunidades você acaba virando moeda de troca, o sujeito chega a mim e diz que se eu não oferecer alguma coisa ele vai para o outro lado. Ninguém pode negociar nada ainda, porque nem candidatos existem ainda. É muito cedo. Artur Nogueira não é exclusiva nisso, os oportunistas estão em todos os lugares. Eu tinha intenção por ter sido candidato a prefeito na última eleição. São novos políticos com métodos antigos. Minha decisão pode até ser prematura, mas se eu decidisse mais para frente poderia prejudicar o grupo na troca das peças. Agradeço a todos que me apoiaram e peço desculpas aqueles que esperavam que eu me candidatasse e repito mais uma vez, eu desisti de um sonho, mas não desisti de Artur Nogueira.

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