24/09/2011

ENTREVISTA DA SEMANA: Gilmara Gomes Barbosa

Supervisora de ensino fala sobre a difícil missão de educar

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Alex Bússulo

Se tem uma pessoa em Artur Nogueira que ama o que faz e se dedica de corpo e alma na missão de educar, essa pessoa é Gilmara Gomes Barbosa. Nogueirense da terra, hoje com 39 anos de idade, 20 de experiência na área educacional, ela vem ganhando destaque em todo o estado de São Paulo, mostrando que a tarefa de educar não é fácil, mas necessária.

Formada em Geografia, Pedagogia e Psicopedagogia, essa educadora já desenvolveu trabalhos na E.E.Escola Francisco Cardona, E.E. Edmo Wilson Cardoso (Jd. Blumenau), E.E. Profª Magdalena S. Grosso, E.E. Profº Armando Falcone, EMEF Ederaldo Rossetti (CAIC), EMEF Francisco Cardona, EMEF Alcídia W. Matheis (Jd Itamaraty), EMEF Aparecida Dias dos Santos (Jd. Laranjeiras), E.E. José Amaro Rodrigues, E.E. Vila Magini (Mauá – SP) e E.E. Cecília Pereira (Campinas Leste).

Hoje atua como supervisora de ensino da Diretoria Regional de Limeira, sendo responsável pelas escolas E.E. Profº Armando Falcone, Colégio Montessori e Colégio Interação e em Cosmópolis nas escolas estaduais Ivete Sala de Queiroz, E.E. Lídia Onélia Aun Kalil (Lokaki) e E.E. Alberto Fierz. Tudo isso além de fazer parte do grupo de Referência da Secretaria Estadual de Educação.

Não poderíamos deixar de citar também a habilidade desta mulher em Concursos Públicos. Ela simplesmente passou em primeiro lugar na região em mais de cinco situações.

Na entrevista desta semana, conversamos com a educadora. Gilmara fala sobre a difícil missão de educar, o segredo para uma escola ideal e sobre sua trajetória. Confira:

Você sempre teve um jeito diferente de administrar uma escola. Quando exercia a função de diretora da Escola Estadual (EE) Magdalena Sanseverino Grosso você praticamente reestruturou todo o colégio. Em sua opinião, como se constrói uma escola ideal? Sim, meu jeito de administrar é bem diferente do que encontramos, é o amor exigente [risos]. Uma escola com qualidade é construída por uma equipe de profissionais comprometidos com suas funções, onde cada um desempenha seu papel com responsabilidade e colabora com os colegas ajudando-os. Quando falamos em escola e aprendizado temos que compreender que o processo envolve uma dinâmica de ações articuladoras entre os diferentes núcleos que a compõem: secretaria, direção e vice, coordenação, professores, funcionários (limpeza e cozinha), alunos e pais, e bem sabemos que algumas ações desenvolvidas até o momento não foram plenamente eficazes na reestruturação dos estabelecimentos de ensino.

Como é viver com a missão de educar? Tenho experiência de 20 anos na rede pública de educação. Com esse tempo, percebi que alguns trajetos nem sempre percorridos devem ser testados para que novas situações sejam a resposta para os desafios educacionais da atualidade. Sabe-se ainda que ao proporcionar situações novas nos deparamos com um ser humano com dificuldade de enfrentar seus próprios erros, enganos, limitações, frustrações e dores, desenvolvendo em si mesmo um certo desequilíbrio que bem dosado gera a iniciativa desafiadora para melhorar continuamente, aprendendo a vivenciar a dúvida, a crítica e se posicionando como aprendiz diante da vida. Daí a visão de equipe, de participação e co-responsabilidade através da conversa franca e ética faz com que esta nova escola comece a tomar forma: [explicando] 1. Equipe de profissionais comprometidos com suas atribuições; 2. Espaço físico pedagogicamente organizado e limpo; 3. Normas bem estabelecidas; 4. Confiança para um diálogo aberto e 5.Coerência na tomada de decisões.

Você foi diretora de uma escola em São Paulo. Qual a principal diferença que notou comparando com uma escola de Artur Nogueira? Sim, fui diretora da E.E. Vila Magini II em Mauá, no ABCD paulista.

E qual foi a maior diferença? Devido a quantidade de pessoas no mesmo espaço físico com uma diversidade cultural imensa, a maior dificuldade que encontrei foi diagnosticar o perfil do aluno que ali estava. Primeiramente porque ninguém sabe quem é quem e isso dificulta o diálogo “olho no olho” e a solução dos problemas com o próprio indivíduo, necessitando assim aproximar-se mais dos alunos, dos funcionários e dos professores para saber o que realmente acontecia ali, até mesmo porque dificilmente tinha brigas ou fofocas, uma vez que havia um falso respeito entre todos por não saber com quem estava tratando, a “Lei do silêncio” imperava. Já nas escolas de Artur Nogueira tanto alunos quanto professores já me conheciam ou tinham ouvido falar a meu respeito, o que de um lado facilitou pela confiança em meu comprometimento profissional e de outro se tornou difícil por todos conhecerem minhas fragilidades. De forma geral, a experiência de estar na direção numa grande cidade é fascinante, devido a vivencia de algo que nunca tinha experimentado e poder estar numa escola da minha cidade é maravilhoso.

O que é uma boa escola? É aquela que atende a sua função de formadora, onde tudo e todos atendam ao objetivo de formar seres humanos melhores.

E como se alcança esse objetivo? Tendo a visão democrática e a missão de aprender a aprender. A escola deve formar o bom leitor, que utilize a escrita e o cálculo de forma competente, respeitando às diferenças e vivendo os valores básicos de amor, respeito e responsabilidade para desenvolver a iniciativa de resolução de problemas numa aprendizagem permanente através da pesquisa-ação: [explicando] ação-reflexão-ação, transformando assim sua realidade. Dessa forma é fundamental que os parâmetros de organização do currículo, espaço físico, tempo, aula, corpo docente e discente, funcionários e gestores estejam alinhados com essa forma de pensar, bem como atender ao nosso aluno com dedicação e consciência, para dessa forma intervir eficazmente nos processos de aprendizagem.

Qual o papel da sociedade na construção de um ambiente escolar melhor? A sociedade tem o papel fundamental na construção de um ambiente escolar melhor. Aspectos da cultura, hábitos e costumes, de uma sociedade contribui para a conscientizar sobre a importância da escola como referencial de condutas de um grupo, povo e nação, trazendo benefícios para o ser humano possa viver com dignidade, se colocando como parte da construção de uma história viva e dinâmica, onde as consequências das ações sejam a preocupação de se ter uma vida realmente melhor para todos.

Qual é o principal desafio atualmente enfrentado pelos professores dentro da sala de aula? É a indisciplina, causada muitas vezes por hábitos aprendidos durante a infância na vivência familiar e posteriormente na escola. Como diz Içami Tiba [psiquiatra e escritor]: “Pais que não ensinam aos filhos os sentimentos de gratidão, de pedir permissão, de pedir favor não aprende a necessária cordialidade que magicamente movimentam as pessoas: com licença, por favor e obrigado”. Esse famoso escritor diz que pais que não cobram dos filhos as suas obrigações caseiras não vêem motivo para ter que estudar mesmo que seja por obrigação, que a escola poderia formar uma parceria com os pais, através de uma convocação para que estes fossem orientados a cobrarem resultados dos seus filhos em vez de ficarem mimando e querendo adaptar as escolas às inadequações de seus filhos. Isso é real.

O que pode ser feito para aumentar o interesse dos jovens pelos estudos? Quando a escola envolve os alunos em atividades lógicas, com motivo para sua realização e vínculos com o mundo do trabalho estabelece uma relação entre a iniciativa e seus resultados em curto prazo. Assim, tanto os recursos materiais e tecnológicos disponibilizados na organização física do prédio e das aulas precisam ser atualizados para o uso de estratégias diversificadas, ou seja, uma escola para os jovens que contemple o protagonismo.

Como você avalia a educação no Brasil? A educação no Brasil ainda precisa ser equitativa, uma vez que todos sabem da desigualdade do acesso, da permanência e do sucesso do aluno nas diferentes regiões do país. Sabemos aí que as avaliações externas SAEB, PROVA BRASIL E IDEB apresentam índices baixos se comparados com alguns países da América Latina. Assim considero que a educação no Brasil ainda é precária e não atinge a todos igualmente.

O que é mais difícil, educar ou ensinar? Considerando que a educação leva a uma formação integral do ser humano em suas capacidades intelectuais, afetivas, físico motoras, éticas, estéticas, interação e inserção social e que o ato de ensinar é uma visão mais tradicional,  tendo no centro do processo o professor que ensina, detentor de todo o saber e o aluno mero receptor de conteúdos prontos e acabados, podemos dizer que educar é mais difícil, uma vez que exige consciência do inacabado, da educação continuada e permanente.

Qual foi a situação mais complicada que você enfrentou? Foi quando estava como diretora de uma escola em uma favela. Na ocasião, um dos alunos defecou na caixa d’água. Não podia comprovar quem havia feito tal maldade. Após solicitar a uma empresa que fizesse a higienização do local, fui a todas as salas de aulas e falei sobre o acontecimento, explicando sobre o perigo de contaminação que todo corria de contrair hepatite. Para minha surpresa, os alunos sabiam quem havia defecado, mas como sempre nesta escola, não me avisaram, pois o risco era grande. Mas até mesmo os “chefões” do tráfico ficaram a meu favor. De uma maneira geral é complicado quando alguém te expõe a humilhação e a situações discriminatórias, fazendo com que você tenha que provar a todo o momento quem realmente é e quais são seus princípios.

Por que escolheu ser educadora? Sempre gostei de estar com pessoas. Quando tinha 17 anos me convidaram a participar do vestibular para professor e o que foi minha surpresa quando passei em 13º lugar. O sentimento de satisfação foi imediato, não titubiei, até mesmo porque ser educadora a 20 anos atrás era posição de status e ascensão social. Hoje posso confessar que não sei viver sem agir, falar e pensar na educação. Tudo o que faço é pensando na melhor escolha que fiz na minha vida: ser educadora.


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