17/12/2011

ENTREVISTA DA SEMANA: Edson Croife, o escritor

Conheça a vida do maior contador de histórias de Artur Nogueira

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Alex Bussulo

Certa vez li uma frase, de autoria desconhecida, que diz que para uma pessoa entrar para a eternidade ela deve fazer uma dessas duas coisas: escrever histórias dignas de serem lidas ou então fazer coisas dignas de serem escritas. Edson Croife fez as duas.

O nogueirense lançou na última semana o livro ‘As nossas histórias’, que reúne aventuras e fatos que marcaram a vida do autor.

Nascido de parteira em Artur Nogueira, Croife é um daqueles homens que vive sorrindo e sempre disposto a uma boa e gostosa conversa.

Já foi vereador, candidato a prefeito e até já foi contratado para fazer locução de amor. Na entrevista desta semana, o escritor fala sobre seu livro, suas aventuras e sobre a estranha história de ter nascido morto e ressuscitado pelo próprio pai. Confira.

Fiquei sabendo que ‘Croife’ não é um sobrenome, mas sim um apelido. Como assim? Meu nome é Edson Luiz de Oliveira, mas se você sair perguntando por esse nome ninguém vai saber quem é. Croife surgiu de uma brincadeira. Em 1974, eu estava jogando bola na escola Amaro e Pedro, meu primo, passou e gritou ‘Vaaaaai Croifeeee’, me comparando ao ex-jogador holandês Johan Cruijff. A quadra inteirinha ficou em silêncio com o berro que ele deu e logo em seguida todos começaram a dar risada. Daquele dia em diante todo mundo começou a me chamar de Croife.

Você esperava aquela quantidade de pessoas no dia do lançamento do seu livro? Olha, aquilo foi muito emocionante. Foi o dia mais feliz da minha vida. Muitos amigos, pessoas queridas, que marcaram minha vida estavam lá. Eu chorei demais.

Eu tive a honra de ser convidado por você para fazer o cerimonial do lançamento. Até brinquei que havia chegado atrasado porque tinha deixado o carro lá atrás da igreja Matriz porque não tinha encontrado vaga para estacionar. [Risos] Eu realmente não esperava tanta gente. Teve pessoas aqui da cidade que acharam um absurdo quando eu disse que esperava 400 pessoas no lançamento. Naquela noite passamos de 600, por isso você não encontrou vaga para estacionar [risos]!

Como surgiu a ideia de escrever um livro? Eu estava conversando com a Marilei Barbosa e disse meio que brincando que iria escrever um livro. Ela tirou uma foto minha e publicou no jornal. Daí não teve mais jeito. Tinha feito um compromisso. No começo queria escrever um livro de poesias, mas com o passar das semanas achei que seria um desperdício se não contasse as histórias que aconteceram comigo.

No final de seu livro, há várias poesias de sua autoria. Com qual delas você mais se identifica? Uma que está na página 265, de título ‘Papai Noel não é pobre’. Gosto muito dessa porque ela retrata a minha infância. Uma história que aconteceu comigo mesmo.

[Neste momento Croife abre na página da poesia e pede que eu leia; atendo o pedido]

Na véspera daquele dia / canções pairavam no ar / de todos uma voz se ouvia / o Natal irá chegar, / Um menino me contou / que do céu veio um velhinho / que por sua casa passou / e lhe deu um aviãozinho, / Coloquei meu sapatinho / tendo na sola um buraco / pra ganhar um presentinho / na janela do barraco, / A noite logo chegou / iludido e ansioso esperei / mas quando o sol raiou / sem esperanças fiquei, / O velhinho com a carruagem / passou de manhã bem cedo / não deixou sequer uma mensagem, / muito menos um brinquedo, / Vendo outras crianças brincando / dei alguns passos decepcionado / e algumas lágrimas fui derramando / com meu peito angustiado, / Pra tristeza disfarçar / peguei meu velho pneu / e comecei logo a rodar / o único brinquedo meu, / Hoje cresci e sei o que aconteceu / ele só entra em casa de nobre / e na minha não apareceu / porque PAPAI NOEL não é pobre…

Emocionante! Foi uma fase que passei em minha vida, que nunca esqueço. Sou de família muito pobre. Minha maior alegria naquela época era quando meus tios em minha casa e levavam pão seco para a gente comer. Morávamos no meio do lixão da prefeitura e catávamos lixo para sobreviver. Nossa manteiga era banha derretida.

Qual foi a parte mais emocionante de escrever? Foi bem essa mesmo, da minha infância. Logo no primeiro capítulo retrato meu nascimento. Por incrível que possa parecer até hoje não sei ao certo o dia do meu aniversário…

Como assim? Na minha certidão de nascimento consta que eu nasci à zero hora e zero minuto do dia 4 de março de 1958. Como vou saber ao exato se não nasci um minuto antes ou um minuto depois? É um dilema que me acompanha até os dias de hoje [risos].

Nesse mesmo capítulo você conta que nasceu morto. Como é essa história? Minha mãe já havia estourado a bolsa e precisava fazer o parto urgentemente. A dona Balbina Rodrigues era parteira e se atrasou um pouco para chegar em casa. Quando finalmente ela conseguiu fazer o parto eu não estava respirando e já estava com a pele um pouco escura. Aparentemente estava morto.

E daí? Instruído por Deus, meu pai, que nunca havia ouvido falar de respiração boca a boca foi até mim e começou a assoprar no meu nariz. Depois de algumas tentativas, dei meu primeiro choro. É claro que só fui saber disso mais tarde. É o capítulo que mais me emociona no livro.

Se uma pessoa sem tempo pegasse seu livro e pudesse apenas ler uma página, qual você sugeriria? [Pensativo] Pediria que ela desse uma olhada no ensaio filosófico que fiz na página 276. É apenas uma página, que fala sobre o preço do orgulho das pessoas, que desta vida nada levamos além de boas recordações.

Percebo que seu livro tem muitas histórias bonitas, algumas tristes, mas também está recheado de fatos engraçados, não é mesmo? É verdade. Teve uma situação que publiquei que narra uma das minhas travessuras de garoto. Naquela época havia muitos pára-quedistas que pulavam aqui em Artur Nogueira e eu, iludido da vida, quis fazer igual. Então peguei um guarda-chuva, subi em cima de um pé de jatobá e pulei com tudo [risos]. É claro que eu me machuquei todo. Coisas de crianças… Essa história eu quase não coloquei no livro, mas achei que seria interessante.

Teve alguma história que você não colocou no livro? [Pensativo] Teve sim, uma que eu esqueci. Em uma época eu trabalhava com carros de som, propagandas, e um empresário da cidade me contratou para ir às seis horas da manhã fazer uma declaração de amor para uma mulher no Jardim Blumenau. Eu fui. Chegando lá liguei o som nas alturas e comecei a declaração. Eu achava que estava arrasando, quando os vizinhos que tinham acabado de chegar do trabalho na Teka e queriam dormir começaram a me xingar [risos]. Eu continuei a homenagem e os caras começaram a tacar pedras em cima do carro. Tive que acelerar e terminar logo, se não o pessoal ia sair correndo atrás de mim. Essa história eu não contei.

Você também já foi locutor de rádio. Como foi que entrou nesse trabalho? Tudo começou depois de um desfile que eu fui convidado, de última hora, para apresentar em Holambra. Fui sem saber o que fazer. Estava de terno e gravata e suava muito por causa do nervoso. Mas tudo deu certo. No final algumas pessoas vieram me parabenizar e me incentivaram a continuar. Diziam que eu tinha a voz muito boa. Foi na época também em que eu fazia o som nas praças da Fonte e do Coreto em Artur Nogueira. Nos finais de semanas muitas pessoas se reuniam no local e ficavam curtindo nossas músicas e recados. Com isso fui pegando gosto pela coisa e fui fazer um teste na rádio Jornal de Limeira. Passei e comecei a fazer o programa ‘Artur Nogueira é Notícia’. Em três anos recebi mais de 20 mil cartas de fãs. Foi uma época muito boa.

Foi nessa época que você entrevistou famosos que podemos ver em fotos no livro? Foi sim. Tive o prazer de entrevistar muitas pessoas famosas. Conversei com a Xuxa, com o cantor Roberto Carlos, Chitãozinho e Xororó, Tião Carreiro e Pardinho, Zezé di Camargo e Luciano, João Paulo e Daniel, Moacir Franco entre muitos outros.

Pelas fotos percebi que você usava um gravador enorme para fazer as entrevistas. Não havia menores naquela época? [Risos] Eu tinha um menor, mas o som não era bom, ficavam muitos ruídos nas gravações. O meu era bem grande mesmo, parecia um tijolo, mas tinha um som que era perfeito, parecia que estávamos em um estúdio.

Em 2002, você sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). De lá para cá o que mudou em sua vida? Eu tirei o pé do acelerador. Até então eu trabalhava de mais e só queria juntar e guardar dinheiro. Com o AVC fiquei 15 dias de ‘molho’ no hospital e em casa. Com isso comecei a valorizar aquilo que realmente é importante na vida da gente. Hoje, continuo trabalhando, mas sem aquela ganância. Quando sobra um dinheirinho eu pego minha família e faço uma viajem. Tem coisa melhor? Não tem! O que a gente leva dessa vida são os momentos. Conheci muita gente boa de grana aqui em Artur Nogueira, donos de empresas e casas, que morreram sem conhecer o mar, deixando tudo para os outros. Isso sim é triste.

Quantos livros já foram vendidos? Eu fiz mil exemplares e já vendi cerca de 700! Já está acabando. Quem ainda quiser adquirir o livro é só ir até meu escritório, localizado na Avenida Dr. Fernando Arens.

Depois que acabar esses 300 livros você pretende fazer uma reedição? Não. Serão apenas esses mil mesmo. Mais para frente pretendo escrever outros livros, para contar as histórias que ficaram fora desses.

Fotos: Renan Bússulo


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