24/09/2012

ENTREVISTA DA SEMANA: Dr. Sidney Dutra

Diretor do Hospital Bom Samaritano fala sobre maternidade e Saúde

“Queremos construir um hospital de primeiro mundo, mas que seja acessível a todos” (Dr. Sidney Dutra)

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Texto: Alex Bússulo / Produção: Quézia Amorim / Fotos: Renan Bússulo

Para este homem, a saúde é a maior riqueza de qualquer pessoa. Nascido há 51 anos na pequena cidade mineira de Conselheiro Pena, aprendeu desde cedo a valorizar os estudos. Formou-se em Engenharia Eletrônica pela Universidade Federal da Paraíba, depois fez pós-graduação em Economia e Finanças pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Também possui dois títulos de doutor, um em Administração e Liderança pela Universidade Andrews, em Michigan nos Estados Unidos, e outro em Administração pela Universidade de Santo Amaro.

É cidadão paulistano conferido pela Câmara de Vereadores de São Paulo, cidadão capixaba pela Assembleia Legislativa do Espírito Santo e embaixador da Organização das Nações Unidas (ONU).

Casado com a médica Dr. Liliana Deucher Dutra, possui três filhos: Sidney, Andrey e Layse.

Com o objetivo de sair da grande São Paulo, veio à procura de uma cidade no interior. “Quando vi Artur Nogueira foi amor à primeira vista, não tinha quase nada, nem estrada para chegar aqui. Isso foi há quase 20 anos. As pessoas diziam que minha mulher e eu estávamos loucos, pois estávamos há 167 km de São Paulo”, afirma.

Em 2001, junto com a esposa e o sogro, Dr. Zildomar Deucher, criou e implantou o Hospital Bom Samaritano, localizado no Jardim Blumenau, em Artur Nogueira. Hoje, o Dr. Sidney Dutra é empresário e diretor administrativo do Hospital.

No início deste mês, após parceria com o Consórcio Intermunicipal de Saúde (Consaúde), o Hospital Bom Samaritano passou a realizar os partos dos nogueirenses no próprio município de Artur Nogueira. Até o mês passado, as mães precisavam ir até o Hospital de Pedreira para dar à luz.

Na entrevista desta semana, em aproximadamente uma hora de conversa, o diretor administrativo do Hospital fala sobre maternidade, problemas financeiros e Saúde. Confira:

No dia 7 deste mês, a maternidade do Hospital Bom Samaritano iniciou atendimento à população de Artur Nogueira através do Consaúde. Por que isso aconteceu há exatamente um mês antes das eleições? Foi pura coincidência! Esse projeto começou há um ano e dois meses, quando a Secretaria de Saúde do município, juntamente com o hospital, começou as conversas e os entendimentos para cumprir o objetivo. Nós achávamos que o hospital deveria estender o atendimento não apenas às pessoas que tinham condições de ter um convênio de saúde ou pagar um atendimento particular, mas à população que não tinha essa condição. Na época, o secretário de Saúde também tinha o interesse de ter funcionando o equipamento hospitalar a serviço da população. Nós tínhamos uma perspectiva de que em seis meses, no máximo oito, estaríamos funcionando, mas essas coisas não são tão rápidas. O Consaúde precisava aprovar o projeto. Então, não adiantava só o município querer fazer. Agora, o consórcio entendeu dessa forma e o projeto jurídico e financeiro foi viabilizado. Foi um transcurso natural dos fatos de um trabalho de um ano e meio, que culminou agora. Muita gente está achando que isso foi planejado para a eleição, porque um candidato é ligado à área da saúde, mas na época em que começamos planejar isso ele nem imaginava que seria candidato. O projeto foi muito bem elaborado, muita gente trabalhou nele, equipes médicas, técnicos da Secretaria de Saúde, e agora recentemente o Dr. Lindon Marcos, à frente da Secretaria, juntamente com a Taína de Andrade, do Consaúde, firmamos o credenciamento.

Como a população pode ter a garantia de que isso não é uma jogada política e que não terminará no dia 8 de outubro? Como eu já disse, o convênio é com o Consaúde, não é diretamente com a Prefeitura. Evidentemente, não teria acontecido se a Prefeitura de Artur Nogueira não tivesse apoiado, pois atende aos habitantes deste município. O convênio está acima de qualquer ideologia política. Costumo dizer que não existe grávida do partido “A” ou do partido “B”, nem do candidato “A” ou do candidato “B”, grávida é grávida e precisa ser atendida e Artur Nogueira deu esse importante passo para que seja atendida aqui no município. A população deve ficar tranquila quanto a isso, porque o convênio é com o Consaúde e nele não tem eleição, ele continua com o trabalho dele normal. É um convênio de longo prazo e nossa ideia, inclusive, é ampliá-lo.

Por que essa parceria não aconteceu antes? Uma vez que o hospital existe há dez anos no município? Inicialmente, como eu disse, era objetivo nosso que o Hospital também atendesse a população, mas Artur Nogueira tinha outros problemas relacionados à Saúde, como a Saúde básica. O que nós sempre dizemos foi o seguinte: não tinha como montar uma maternidade com aquela realidade, precisava ter um pré-natal bem feito, uma estrutura de atendimento ambulatorial, entre outros. Hoje, Artur Nogueira tem uma das Saúdes, com atendimentos básicos, mais organizados e de melhor estrutura da Região Metropolitana de Campinas. Eu não conheço nenhum município aqui da nossa região que tenha o serviço de mamografia, por exemplo, que normalmente são serviços terceirizados ou estaduais, ou de outros locais que as pessoas têm que viajar, como era em Artur Nogueira antigamente. As parturientes estão sendo todas acompanhadas através do pré-natal, que é realizado pelo estado. Então, existe todo um controle para ter esse atendimento. Não seria possível, nem prudente, abrir uma maternidade sem saber se a parturiente tinha o pré-natal aqui. Hoje está organizado. Nós somos referência e não apenas “portas abertas”. A parturiente vai para o Pronto-Socorro Municipal e é encaminhada ao Hospital, através do Consaúde. Não havia como ser referência sem fazer um serviço que estivesse organizado. Há uns dois anos, a cidade alcançou esse grau de organização e ainda continua melhorando nesse sentido, e o secretário de Saúde da época, achou que era o momento. Nós conversamos e os técnicos analisaram. Saúde é uma coisa muito complexa, tem que conhecer, exige muito dinheiro, locação de verba, muita gente trabalhando para poder acontecer.

Após esta parceria, quantas crianças já nasceram em Artur Nogueira? Em duas semanas já nasceram 16 nogueirenses. Nasceu um menino de 5,250 kg, forte como o povo de Artur Nogueira! Também estamos esperando o nascimento de trigêmeos. É importante dizer, que todas essas parturientes passaram pelo pré-parto humanizado. A parturiente chega aqui e passa por todo um cuidado especial. Ela faz exercícios especiais para relaxamento, toma um banho quente para relaxar. É acompanhada por duas profissionais enfermeiras pós-graduadas em obstetrícia, especializadas na área e, que ficam 24 horas no hospital. Quando chega o momento do nascimento, a mãe e o bebê estão tranquilos.

O convênio assinado abrange apenas os partos? Não. Nós também estamos realizando cirurgias ginecológicas, relacionadas às patologias da mulher. Todos os procedimentos pertinentes da mulher, que não sejam de alta complexidade, também estão sendo realizados aqui. O convênio inclui parto e cirurgia. Temos a previsão de realizar, no mínimo, trinta cirurgias por mês, mais os partos, que também prevemos esse número. Isso para a Prefeitura, em valores vai custar menos de 1/3 do custo normal.

Por que outras especialidades médicas não são oferecidas gratuitamente a população, através do Consaúde, assim como hoje a maternidade atende? Porque a Saúde Pública trabalha com projetos específicos. O primeiro foi a maternidade, agora já estamos com outro projeto em andamento, de cirurgia geral, como a cirurgia de vesícula, que tem uma demanda muito grande da região. Também temos projetos para a Ortopedia. Na Saúde Pública tem que fazer por projetos, o primeiro foi o da maternidade e saúde da mulher.

Em junho do ano passado a Secretaria Estadual de Saúde interditou o Hospital Bom Samaritano. O que ocorreu naquela ocasião? A Secretaria Estadual entendeu que tínhamos que fazer, apesar de o nosso projeto ser moderno, algumas adequações na ala de internação e no Centro Cirúrgico para melhorar o fluxo e questões técnicas. Ela entendeu que isso não poderia ser feito com pacientes lá dentro, então, ela solicitou a suspensão dos atendimentos até que nós realizássemos as reformas. Evidentemente algumas reformas nós achamos que não eram necessárias e outras sim. Na época, a Secretaria de Saúde do município interferiu, no sentido de negociar, o que realmente deveria ou não ser feito. O secretário da época nos ajudou muito no sentido de que reabrisse o mais rápido possível e, nós fizemos todas as adequações. A partir daí, não tivemos problema nenhum. Foi muito importante a atuação da Secretaria Municipal, que fez todo o trâmite e nos ajudou junto à Secretaria Estadual.

Outro problema que algumas pessoas comentam é a respeito do atraso no pagamento dos funcionários do Hospital. Isso ainda acontece? Isso é passado, graças a Deus. Hoje nós estamos pagando antecipado, o nosso funcionário recebe 40% no meio do mês e o restante no final do mês.

O que levou o hospital a passar por dificuldades? Foi uma conjunção de fatores. Fizemos um hospital completo, UTI Adulto, UTI Neo-Natal, centro cirúrgico com alta tecnologia, acomodações modernas, um hospital 100% equipado, pronto para atender medicina primária e terciária sem nenhum problema.

E o que não deu certo? Eu diria que foi uma conjunção de vários fatores. O primeiro deles, infelizmente, foi que no Brasil inteiro houve um achatamento do valor pago pelos convênios. Nos últimos anos aconteceu uma concorrência muito grande entre os convênios de saúde, onde cada um queria oferecer o plano mais barato e com mais vantagens. É evidente que não tem milagre, pois, se você compra um plano de saúde mais barato, terá que usar serviço mais barato. Nós, quando fizemos o projeto, esperávamos que não houvesse esse achatamento. Houve uma redução no pagamento dos médicos, de honorários, e também, no pagamento do hospital por parte de convênios devido à concorrência do mercado. A receita foi menor, esse foi o problema. No início existia um plano de saúde da região com que éramos conveniados e dava suporte, o qual teve problemas e consequentemente tivemos problemas também. Nós não atendíamos todos os convênios. Isso gerou dívidas e dificuldade de pagamento. Até organizarmos e reerguermos demorou um pouco, mas graças a Deus hoje estamos caminhando. O hospital mudou o perfil e atende todos os convênios da região. Voltou a crescer.

Vocês pensaram em fechar as portas? Algumas vezes achamos que não teríamos como continuar, foram nos momentos em que tivemos atraso de salários. Aqui em Artur Nogueira sempre teve gente que acreditou no hospital. Temos um grupo de funcionários antigos, aqui do município, que disseram que iriam ficar até o último minuto. E graças a Deus e a essas pessoas que não nos abandonou, o hospital continuou funcionando. Tivemos atrasos sim, mas não tínhamos o que fazer.

E o que salvou o Bom Samaritano? Deus sempre abriu uma porta aqui, um convênio novo que entrava ali e tal, e a coisa foi melhorando. Foi a persistência das pessoas, funcionários que lutaram com a gente. Nós juntamos e dissemos, vamos ficar aqui até o último minuto e, graças a Deus, esse último minuto nunca chegou. O hospital, com toda essa persistência, mudamos a estratégia, passamos a atender todos os convênios, melhoramos o atendimento e treinamos os funcionários. Nos adequamos a realidade de mercado. O hospital era quaternário, preparado para transplante, e tivemos que voltar ao secundário, tivemos que replanejar o hospital.

Como nasceu a ideia de construir o Hospital Bom Samaritano em Artur Nogueira? O primeiro contato que eu tive com Artur Nogueira foi amor à primeira vista. Minha família é Adventista do Sétimo Dia, o que também pesou, devido a existência do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) aqui, onde meus filhos estudaram. Quando eu vim para cá, o Unasp não era essa potência que é hoje, nem faculdade tinha. Eu atolava meu carro na estrada e não conseguia chegar à escola. Na época, minha esposa foi convidada a ser secretária de Saúde e ela aceitou. Trabalhava como uma das coordenadoras do Hospital da Mulher de São Paulo. Ela disse que seria mais útil aqui, do que em São Paulo, e fez um bom trabalho. Quando chegamos, ela viu que realmente existia uma dificuldade referente aos hospitais na região, haviam poucos hospitais e nenhum em Artur Nogueira. Então, pensamos: se é aqui que vamos ficar e viver as nossas vidas, então vamos construir um hospital. Eu e meu sogro, que morava no Rio de Janeiro e se dizia cansado de lá, juntamos os recursos que tínhamos e construímos um hospital. Como a gente tem mania de fazer as coisas bem feitas, fizemos um hospital caro, modéstia à parte, muito bem feito.

Quais são os projetos para o Hospital? Agora estamos vivendo um momento muito importante, porque pela primeira vez, ele tem um perfil que nós gostaríamos que ele tivesse. É um hospital que atende a clientela que pode pagar um plano médico ou atendimento particular, mas que também, como retaguarda, atende a população que depende da saúde pública. Esse é um hospital ideal, é o modelo de hospital que dá certo em qualquer parte do mundo. Com o convênio e apoio da Prefeitura, tornou-se possível isso. Temos planos para em breve, implantar um Pronto-Socorro Cardiológico. Acredito que, no máximo, entre seis a oito meses, isso vai atender Artur Nogueira, Engenheiro Coelho, Holambra, Cosmópolis. Existe uma demanda grande na região, já percebemos e, com doenças cardiológicas não dá para esperar 40 minutos para chegar a Campinas, a pessoa morre nos primeiros 20 minutos. Nós temos atendido a essas emergências, mas nós vamos especializar nessa área. Queremos construir um hospital de primeiro mundo, mas que seja acessível a todos.


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