03/12/2011

ENTREVISTA DA SEMANA: vereadora Deí da Escola

Conheça a história e o trabalho da merendeira que virou vereadora

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Alex Bússulo

Após dez dias de uma enquete eletrônica, realizada pelo Jornal Nogueirense, Deí da Escola foi considerada a vereadora mais atuante de Artur Nogueira, recebendo 349 votos, 30% dos 1.182 votos contabilizados.

Com seu jeito humilde e descontraído, a vereadora recebeu nossa equipe em sua casa, localizada no Jardim Paineiras. Em uma conversa de mais de uma hora, Deí falou sobre seus projetos, suas ações assistenciais e tentou nos ajudar a entender o resultado da enquete.

Valdeir Rosa da Cruz, popularmente conhecida como ‘Dei da Escola’, nasceu em Feira de Santana – Bahia, em 1961. Veio para Mogi Mirim com a família de 14 filhos, com apenas quatro anos de idade.

Aos sete anos, já era a responsável pela criação dos irmãos menores, enquanto os pais trabalhavam na roça. Com 18 anos se casou, mudou para Artur Nogueira e nunca mais saiu daqui.

No município ‘Berço da Amizade’ colheu laranja, cortou cana, mas foi na Escola Estadual Magdalena Sanseverino Grosso que fez história.

Começou a trabalhar no colégio há 27 anos como merendeira, profissão que tem muito orgulho. “Adoro essa escola, quando me aposentar vou fazer de tudo para continuar trabalhando nela”, afirma.

Nas eleições de 2008, Deí recebeu 704 votos e foi eleita vereadora de Artur Nogueira pelo Partido Verde (PV).

Hoje, aos 50 anos, a baiana se divide entre o cargo do legislativo, a escola e suas ações assistenciais, que conhecemos a seguir. Confira.

Na última eleição muitas pessoas comentaram que se você fosse eleita provavelmente deixaria de trabalhar na escola Magdalena. Após quase três anos, podemos ver que você não deixou o cargo de cozinheira. Eu amo aquela escola. Adoro todos os alunos. As pessoas que estudam e trabalham lá são como minha segunda família. Na época da eleição muita gente deixou de votar em mim porque pensava que eu ia abandonar a escola, perdi uma média de 300 votos.

300 votos? É menino! Os estudantes do Magdalena viviam falando que tinha medo que eu saísse do colégio se fosse eleita. Sempre disse que jamais abandonaria aquelas pessoas e não pretendo abandonar tão cedo. Se eu puder, mesmo quando me aposentar quero continuar por lá.

Por que você entrou na política? Eu nunca gostei desse ‘negócio’ de política. Só entrei nela para conseguir ajudar mais pessoas. Há 25 anos realizo um trabalho assistencialista em Artur Nogueira. Entrar na política foi a forma que encontrei de conseguir ajudar mais. Eu sofri muito na minha vida, conheço o que é viver no sofrimento. Hoje, graças a Deus estou melhor, tenho minha casa, minha família e amigos. Só peço a Deus que me dê forças para continuar com o meu trabalho e ajudar o maior número de necessitados. Quando eu começo a ajudar um doente eu só paro quando ele fica curado ou quando morre. Não importa se é branco, preto, rico ou pobre, se precisar de mim sempre estarei a disposição. Eu nasci para ajudar!

Como é essa ajuda? Eu vou até a casa de uma família, que tem algum doente, levo ao médico, cuido de toda a papelada, vou até a Assistência Social, fico no pé mesmo e faço tudo o que estiver ao meu alcance…

Esse trabalho não seria papel de uma assistente social? Pode até ser que seja, mas não importa se você é vereador, prefeito ou presidente, todos tem que ajudar os necessitados. Em minha opinião, não importa a profissão ou o cargo que você ocupe, sempre tem que ajudar ao próximo. Há muitos anos sou cozinheira e sempre ajudei, agora como vereadora posso ajudar mais ainda.

Você não acha que poderia ajudar ainda mais os necessitados se utilizasse o seu poder de vereadora, criando e apresentando projetos, além de buscar recursos com deputados? Eu faço isso. Apresento projetos na Câmara e também tenho feito pedidos a vários deputados. O que eu quero dizer é que, embora eu continue fazendo esse trabalho assistencialista, também exerço meu cargo de vereadora.

Você pode citar algum projeto de sua autoria? Claro. No começo eu queria muito que o Postinho de Saúde do Planalto funcionasse após às 17 horas, porque havia muitas pessoas que precisavam passar por médicos, mas como trabalhavam durante o dia não podiam ir ou tinham que perder o dia de serviço. Não achava isso justo, então criei um projeto para que a unidade de saúde ficasse aberta até às 21 horas. O projeto deu certo e hoje é uma realidade para a população. Isso sem contar das 12 pessoas que eu consegui ajudar pela Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). Até janeiro, duas pessoas de Artur Nogueira vão receber cadeiras motorizadas.

Como você vê o serviço assistencial de Artur Nogueira? Ele tem ajudado bastante às pessoas carentes do município, mas ainda há muito que melhorar no setor, tem que haver mais atenção com as pessoas. Mas não podemos colocar toda a responsabilidade do assistencialismo no setor municipal. Todos nós, vereadores, prefeito e população devemos unirmos para ajudar a melhorar tanto o desempenho da Assistência Social quanto os necessitados.

O que você achou da criação da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social e da primeira dama, Keli Capelini, ter sido nomeada como secretária? Acho que é uma Secretaria muito importante e que foi criada na hora certa. Quanto a nomeação da Keli, também acho que foi uma boa escolha. A primeira Dama sempre esteve envolvida com projetos sociais e é uma pessoa que gosta de trabalhar, que não tem medo de arregaçar as mangas e correr atrás de benefícios para a população nogueirense.

Qual é o maior problema que o município enfrenta nos dias de hoje? É em uma área da Saúde. Não o setor interno de Artur Nogueira, mas na questão dos encaminhamentos para fora. Artur Nogueira tem a cada dia uma Saúde melhor. O problema está quando o paciente precisa sair daqui e ir para outra cidade. É muito demorado. Se você precisar de um clínico geral em Artur Nogueira, o agendamento acontece em até uma semana, agora quando precisa sair daqui, o ‘negócio’ demora muito. Acho que o prefeito deve tentar melhorar esse atendimento, principalmente quando falamos no Consaúde.

Continue falando sobre suas conquistas como vereadora. Consegui uma emenda com o deputado estadual José Bittencourt (PSD), no valor de R$50 mil, para a aquisição de uma mini UTI para o município, mas o projeto foi alterado e a verba veio para a aquisição de equipamentos para o Pronto-Socorro. Também consegui R$120 mil com o deputado estadual Chico Sardelli (PV) para a construção de uma creche para os idosos, mas como a verba não foi suficiente, a prefeitura alterou, sem a minha permissão, a finalidade da emenda e usaram o dinheiro para recapear ruas, o que eu não gostei, porque eu queria que o dinheiro fosse utilizado na área da Saúde.

O que seria essa Creche do Idoso? Esse é outro projeto que estou correndo atrás e, se Deus quiser, sairá em breve. Já conversei com o deputado estadual Pastor Dilmo dos Santos (PV) e ele vai mandar R$150 mil para a realização desse sonho. A Creche do Idoso vai funcionar igual a uma creche para crianças, só que para os velhinhos carentes de Artur Nogueira. A família vai levar o idoso de manhã e buscar no final da tarde. Com atendimento de médicos, fisioterapeutas, entre outros profissionais, o idoso vai passar o dia todo com a gente. Vai comer, tomar banho, praticar esportes, ter acesso a Cultura e por aí vai. Recentemente, eu junto com a Keli Capelini, fomos para Leme e Itu visitar uma creche desse tipo que deu muito certo. É um projeto que vai beneficiar principalmente aquelas famílias que não tem condições de pagar um profissional para cuidar do idoso e por isso deixa de trabalhar para ficar em casa. O deputado Sardelli também vai mandar R$50 mil, a meu pedido, para a aquisição de um carro para recolher os idosos para a creche.

E quando isso vai deixar de ser projeto e virar uma realidade? Espero a Deus que até meados do ano que vem a creche já esteja funcionando.

Como é a sua rotina? É bem agitada [risos]. Eu vou trabalhar às 6 horas da manhã no Magdalena, onde fico até às 15 horas. Depois saiu, passo em casa, tomo um banho e vou atrás de meus compromissos como vereadora. Visito famílias, vou a hospitais, vou a Promoção Social, falo com deputados, vou para a Câmara, só vou chegar em casa lá pelas dez da noite. Isso todos os dias.

Fala uma coisa boa em ser vereadora? É ser bem recebida em todos os lugares que a gente vai.

E uma ruim? É a demora que levam os projetos. É muita burocracia. As coisas poderiam ser bem mais fáceis e rápidas. Isso me deixa frustrada de vez em quando, porque queremos tudo para o agora.

Uma das funções de um vereador é fiscalizar as ações do prefeito. Você tem feito isso? Opa! Fiscalizo o prefeito dia-a-dia…

E qual a sua avaliação sobre o Governo Capelini? O Marcelo é um prefeito exemplar, mas ainda existem muitas coisas para melhorar, como a pavimentação de alguns bairros de Artur Nogueira.

Que nota você atribui para o trabalho de Marcelo Capelini? Eu só não dou dez para o prefeito por causa de uma coisa boba, porque ele não é de sair e conversar com a população. Minha nota para o Marcelo é nove. Quantas vezes sofremos nas mãos de outros prefeitos que não faziam o pagamento dos salários em dia, cansei de ver homens e mulheres chorando porque não tinham como pagar suas contas, pagar aluguel e por isso até chegavam a passar fome. Isso era uma realidade em Artur Nogueira, que graças ao Marcelo acabou.

Você se considera a vereadora mais atuante de Artur Nogueira? Sim! Porque eu trabalho todos os dias em prol a população nogueirense. Desde que fui eleita eu não sei o que é assistir televisão, não sobra tempo para mais nada. É rara a semana que eu não viro a noite dentro de um hospital, ajudando pacientes. Digo que sou a mais atuante porque além de apresentar projetos e fiscalizar as ações do prefeito, eu sempre estou junto com a população. [Emocionada] Fico feliz por saber que meu trabalho está sendo reconhecido e de ter chegado aonde cheguei. Uma colhedora de laranja, cozinheira, que conseguiu ser eleita e hoje recebe todo o carinho do povo. Eu amo minha cidade e sei que Artur Nogueira precisa de mim.


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